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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Atendimento Fraterno-Divaldo Pereira Franco

 

Índice do Blog

ATENDIMENTO FRATERNO

PSICOGRAFADO POR DIVALDO PEREIRA FRANCO

DITADO PELO ESPÍRITO MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA

APRESENTAÇÃO

Em sendo o Espiritismo uma doutrina possuidora de respostas

elucidativas para as questões desafiadoras da vida, de instrumentos práticos

capazes de ajudar aos que sofrem, desde que, honestamente, queiram ajudar-se

e ser ajudados, é natural que um número crescente de pessoas busquem-no

com o propósito de solucionar seus problemas e dificuldades existenciais.

Segundo a FEB — Federação Espírita Brasileira (1), “o Centro Espírita

deve criar condições para um eficiente atendimento a todos os que o procuram

com o propósito de obter esclarecimento, orientação, ajuda ou consolação.”

O Atendimento Fraterno é a concretização dessa recomendação Febiana,

fundamentada no Evangelho, objetivando assistência individualizada aos que

sofrem, através do diálogo espontâneo, confidencial e privativo.

Trata-se de atividade também conhecida no Movimento

(1) Federação Espírita Brasileira

12 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

Espírita como “entrevista”, não devendo ser confundida com as técnicas

conhecidas como “relações de ajuda”, embora o conhecimento dessas

técnicas, e de outras das áreas da Psicologia ou da Comunicação, possa

facilitar o trabalho de quem se dedica a tão nobre labor.

Este Livro se propõe oferecer reflexões sobre o tema, que é do interesse

de todos os espíritas, além de um pequeno roteiro para quantos se disponham

a implantar o Atendimento Fraterno nos Centros Espíritas, ou com essa

atividade se envolver.

Nele reunimos a palavra tão experiente quanto inspirada de Divaldo

Pereira Franco, a quem entrevistamos, a contribuição sempre abalizada de

Suely Caldas Schubert, ampliando matérias já por ela tratadas na apostila da

Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora sobre o assunto, e nossa própria

experiência nas atividades do Centro Espírita Caminho da Redenção, de

Salvador-Bahia, que vai examinada principalmente na segunda parte do Livro.

Faz parte ainda do conteúdo da Obra uma síntese de assuntos por nós

estudados para compor um mínimo de fundamentos técnicos e doutrinários

indispensáveis à execução da atividade.

De maior relevância, porém, para o propósito deste modesto trabalho, são

os luminosos pensamentos do Codificador e dos Bons Espíritos, em especial

da Benfeitora Joanna de Ângelis, que bondosamente o prefaciou.

Do Codificador levantamos as origens espiríticas do Atendimento Fraterno

ao evocar o seu vigoroso discurso aos espíritas de Lyon e Bordeaux, quando

gravou este lapidar depoimento, que pode servir de lema para os atendentes

13 Atendimento Fraterno

fraternos: “Coloco em primeira instância o consolo que é preciso oferecer aos

que sofrem, erguer a coragem dos caídos, arrancar um homem de suas

paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime! Não vale

mais isto do que os lambris dourados?” (Grifamos)

Faz bem, e muito bem, refletir no que Allan Kardec falou na mesma

ocasião: “Homens da mais alta posição honram-me com sua visita, porém

nunca, por causa deles, um proletário ficou na antecâmara”.

Mais adiante ele adiu: “Guardo milhares de cartas que para mim mais

valem do que todas as honrarias da Terra e que olho como verdadeiros títulos

de nobreza”. (Cartas que, certamente, ele respondeu para levar a esperança

aos aflitos que lhe buscaram o concurso seguro e afável).

Em Jesus temos o Atendente Fraterno perfeito que, além de ter ensinado

às multidões, através de Seus inolvidáveis discursos, deixou-nos preciosas

lições dialogadas, através das quais o Seu verbo de luz socorreu os indivíduos,

cada um conforme a sua necessidade: o Moço Rico, a Samaritana, a Mulher

Equivocada, Zaqueu, Joana de Cusa e tantos outros, libertando a todos, que se

fizeram heróis no futuro.

Se o Divino Mestre disse: “Vinde a mim todos vós que estais aflitos e

sobrecarregados”, também propôs:

“Que vos ameis uns aos outros”. Isto como a dizer-nos assim: “Se estiverdes

em condição, vinde diretamente a mim pelos caminhos formosos da oração,

mas se vos sobrecarregardes a ponto de não achardes o caminho emocional

14 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

da prece, recorrei a vosso irmão pois que através dele eu vos ajudarei”.

Apoiando-se nessa proposta os primeiros apóstolos da Palavra, no

Cristianismo Primitivo, após suas pregações, ainda tocados pelas “línguas de

fogo” inspiradoras da oratória finda, se punham à disposição para ouvir e

aconselhar os irmãos de caminhada, encorajando-os para a luta.

Eis o Atendimento Fraterno, ontem, hoje e sempre.

Salvador, agosto de 1997

A Equipe do Projeto Manoel Philomeno de Miranda

15 Atendimento Fraterno

PREFÁCIO

Terapia do amor

As patologias da alma — violência, ódio, ciúme, ressentimento, amargura,

suspeita, insatisfação, dentre outras muitas — respondem por incontáveis

aflições que aturdem o ser humano.

Alma encarnada, nela se encontram as matrizes do bem como do mal em

que se compraz, dando campo ao seu desenvolvimento.

Como efeito, as alegrias e as dores que se exteriorizam somente podem

ser erradicadas quando trabalhadas nas suas raízes causais.

Interpenetrando todas as células e assenhoreando-se dos equipamentos

orgânicos, que passa a comandar, a alma ou Espírito encarnado imprime nos

elementos físicos os conteúdos vibratórios que lhe são peculiares, característicos

do seu estágio de evolução.

Os sofrimentos humanos de qualquer tipo são manifestações dos

distúrbios profundos que remanescem no ser espiritual, desarticulando os

sensores emocionais e a harmonia vibratória que vige nas células, o que

faculta a instalação das enfermidades.

O ser humano é, em qualquer situação, aquilo a que

16 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

aspira, a irradiação do que sente, os interesses que cultiva.

Aferrado à conduta primitiva, reagindo mais por instinto do que agindo pela

razão, permite que as deficiências internas se expressem em forma de

problemas que se exteriorizam perturbadores.

O valioso contributo da Medicina acadêmica, quando não acompanhado

por um bom relacionamento médico-paciente, resulta incompleto para atingir as

causas excruciantes das doenças e angústias.

Certamente, na maioria das vezes, minora a dor, aparentemente

vencendo-a; mas, porque não alcança a alma enferma, eis que ela reaparece

sob outras expressões, produzindo sofrimentos.

O conhecimento do ser imortal, da sua preexistência ao berço e

sobrevivência ao túmulo, torna-se indispensável para qualquer cometimento

terapêutico em relação aos problemas e dores humanos.

Por isso mesmo, a terapia do amor é de vital importância, envolvendo o

paciente em confiança e ternura, ao mesmo tempo esclarecendo-o quanto à

sua realidade e constituição espiritual.

*

O atendimento fraterno tem como objetivo primacial receber bem e orientar

com segurança todos aqueles que o buscam.

Não se propõe a resolver os desafios nem as dificuldades, eliminar as

doenças nem os sofrimentos, mas propor ao cliente os meios hábeis para a

própria recuperação.

17 Atendimento Fraterno

Apoiando-se nos postulados espíritas, o atendimento fraterno abre

perspectivas novas e projeta luz naqueles que se debatem nos dédalos das

aflições.

Mediante conversação agradável, evitando-se atitudes de confessionário,

o atendente fraternal deve saber desviar os temas que incidem nos vícios da

queixa, da lamentação, da autopunição, demonstrando que o momento de

libertação e paz está chegando, mas a ação para o êxito depende do próprio

paciente, que deve iniciar, a partir desse momento, o processo de autoterapia.

Concomitantemente, o atendimento fraterno, em razão dos propósitos que

persegue e das circunstâncias em que ocorre, faculta aos Espíritos nobres

adequado socorro ao cliente, que deverá permanecer receptivo ao mesmo.

Nessa ocasião, tem início a ação fluídica, o auxílio bio-energético, a

inspiração, que lhe propiciarão a mudança de clima mental, de psicosfera

habitual, facultando-lhe a transformação interior para melhor e a rearmonização

da alma que interagirá na aparelhagem orgânica.

Preparar-se bem, psicológica e doutrinariamente, faz-se imprescindível

para o desempenho correto do mister a que o atendente fraterno deseja

dedicar-se.

Ao lado desses requisitos cabe-lhe desenvolver o sentimento de amor,

embora vigiando-se para evitar qualquer tipo de envolvimento emocional,

jamais esquecendo a fraternidade gentil e caridosa como recurso hábil para a

desincumbência da tarefa a que se propõe.

O atendimento fraterno na Casa Espírita é de vital

18 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

importância, para que todo aquele que lhe busque a ajuda, seja orientado com

equilíbrio, guiando-o para o labor de auto-iluminação.

*

Encontramos, neste livro, diretrizes sábias e cuidadosamente

estabelecidas para um correto desempenho da atividade fraternal no

atendimento aos necessitados e desconhecedores da Doutrina Espírita,

oferecendo-lhes apoio e esclarecimentos lúcidos para o autodescobrimento, a

autolibertação.

Confiamos que esta contribuição dos companheiros estudiosos que

constituem o Projeto Manoel Philomeno de Miranda, atinja a finalidade a que se

destina, auxiliando aos trabalhadores sinceros do Movimento Espírita, que se

candidatam a ajudar, na Instituição onde mourejam.

Salvador, 15 de dezembro de 1997

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco na sessão

mediúnica da noite de 15/12/1997, no Centro Espírita Caminho da

Redenção, em Salvador, Bahia)

19 Atendimento Fraterno

PRIMEIRA PARTE

ATENDIMENTO FRATERNO

21 Atendimento Fraterno

1

ENTREVISTA COM DIVALDO FRANCO (*)

José Ferraz: — Qual a utilidade doutrinária do serviço de Atendimento

Fraterno na Casa Espírita?

Divaldo: — Receber as pessoas, orientando-as quanto às possibilidades

de que a Casa dispõe em forma de recursos que são colocados às ordens

daqueles que vêm até ao núcleo de iluminação espiritual, encaminhando os

que têm problemas para receberem as respostas pertinentes às suas

necessidades e, por fim, fazendo o trabalho educativo e fraternal de bem

conduzir todos aqueles que batem às portas da Instituição Espírita.

João Neves: — É benéfico para as pessoas que recorrem à terapia dos

passes serem, antes, assistidas e orientadas

(*) A presente Entrevista foi proposta e realizada no transcurso de

reunião pública do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,

Bahia.

22 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

pelo atendente fraterno?

Divaldo: O Atendimento Fraterno é uma psicoterapia que modifica a

estrutura do problema no indivíduo que se acerca da Casa Espírita com idéias

que não correspondem à realidade.

Pode-se dizer que, desse contato pessoal que antecipa o passe, muitas

vezes o cliente já se beneficia, sendo até mesmo desnecessária a aplicação da

bioenergia.

Vivemos numa sociedade que padece conflitos psicossociais, sócioeconômicos,

comportamentais, cujos individuos têm necessidade de fazer

catarse. Como o atendimento psicanalítico é muito caro e muito prolongado, no

Atendimento Fraterno o indivíduo tem a oportunidade de abrir a alma ao bom

ouvinte, que o pode orientar com segurança e demitizar o significado do passe.

Como é natural, a desinformação atribui ao passe um caráter de natureza

miraculosa, o que tem levado algumas pessoas menos esclarecidas a

estabelecer o número deles para a solução de certos problemas, o que não

deixa de ser um equívoco, porque se poderá aplicá-los em número infinito e, se

o paciente não se transformar interiormente, de nada adiantará a terapêutica.

Se ele não se abrir para assimilar as energias, faz-se semelhante a uma pedra

granítica que, apesar de estar mergulhada em águas abissais por milhões de

anos, ao ser arrebentada encontra-se seca interiormente.

José Ferraz: — Quais são os requisitos indispensáveis para que uma

pessoa, na função de atendente fraterno, possa sintonizar com os Bons

Espíritos?

Divaldo: — A condição essencial é a boa moral. Do

23 Atendimento Fraterno

ponto de vista espiritista o requisito moral do indivíduo é relevante,

imprescindível. Utilizamo-nos de um brocardo popular: “Diz-me quem és e eu te

direi com quem andas; diz-me com quem andas e eu te direi quem és”.

Ir a Deus através da prece é outra condição, pois se abrem os canais

psíquicos para uma perfeita sintonia com o Mundo Espiritual que nos assiste no

atendimento às criaturas da Terra.

Além desses caracteres essenciais, além dos valores morais, é

imprescindível o conhecimento da Doutrina Espírita.

Não se pode propiciar um bom atendimento fraterno na Casa Espírita, sem

que se conheça o Espiritismo, o que seria paradoxal, falando-se de uma coisa

com a qual não se está identificado.

O conhecimento amplo da Doutrina Espírita é um requisito que tem caráter

primacial, porque a pessoa irá falar a respeito daquilo que é a essência da

Doutrina a fim de que o cliente recém-chegado se inteire do que pode

conseguir.

Um bom tato psicológico é necessário. A capacidade de saber ouvir é

valiosa, porque o cliente, normalmente, quer falar. Na maioria das vezes, não

deseja ouvir respostas, quer “desabafar”, como muitos o afirmam, porque, na

falta de uma resposta para o problema, ele necessita de alguém que o ouça.

Então, o atendente

24 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

deve possuir esse tato psicológico para dar oportunidade ao visitante de

liberar-se do conflito. Evitar, quanto possível, que ele fale de questões íntimas,

de que se arrependerá depois, quando passar o problema.

O Atendimento Fraterno não é um confessionário. Como o próprio nome

diz, é um encontro, no qual se atende fraternalmente àquele que tem qualquer

tipo de carência.

Com tato psicológico pode-se desviar, no momento oportuno, uma questão

que seja inconveniente e interromper o cliente na hora própria, a fim de que

não se alongue demasiadamente, gerando um “élan” de afinidades entre o

terapeuta do atendimento e aquele que o busca, evitando produzir-se o que, às

vezes, ocorre entre o psicoterapeuta convencional e o seu paciente.

O atendente fraterno deve manter-se em condição não preferencial por

pessoas, numa neutralidade dinâmica, como diria Joanna de Ângelis, porque

todos são iguais — diz a Justiça — perante a Lei. A todos, então, que tem

problemas e nos buscam, deveremos atender com carinho, sem preferências,

sem excepcionalidades e sem absorvermos o seu problema, para que ele não

se torne um paciente nosso e não transfira todos os seus desafios para nossa

residência. Não poucas vezes, o mesmo perguntará: — Quando eu tiver um

problema posso telefonar-lhe? — Não — será a resposta — em casa eu tenho

outros compromissos; você virá quando necessitar, aqui ao Atendimento.

João Neves: — Pessoas há, que embora interessadas nas orientações do

Atendimento Fraterno, estão tão presas

25 Atendimento Fraterno

às idéias fixas, que dificultam a absorção da orientação. Como fazer, para

ajudá-las a desviar essas fixações?

Divaldo: — Deixar, primeiro, que falem. O primeiro encontro é sempre

muito difÍcil. A pessoa vem com muitas idéias que não correspondem à

realidade; ou vem céptica, e fala com certa indiferença; ou vem fascinada pela

hipótese de ter o problema resolvido no primeiro encontro. Então acha que pelo

fato de estar numa Casa Espírita, os seus problemas já não mais irão afligi-la.

Essa pessoa, no momento em que começa a falar, deveremos deixá-la

expor a sua dificuldade por alguns instantes e, logo depois, interrompê-la,

informando-a: — Agora você vai me ouvir.

Se a pessoa insistir, afirmaremos: — Você não veio para me doutrinar,

mas sim para pedir conselhos, que eu vou lhe dar. Agora vai depender de você

aceitá-los ou não — evitando assim, que a pessoa transforme o Atendimento

Fraterno num rosário de queixas. Poderemos dizer também: — Até aqui a sua

vida foi dessa forma; neste momento abre-se-lhe uma etapa nova. É

necessário que voce me ouça, para poder ver as possibilidades que estão ao

seu alcance. Agora pare, e ouça as sugestões que tenho e que são induções

simples. Joanna de Ângelis, a nossa Mentora, diz o seguinte: — Tudo começa

no pensamento. Toda vez que um pensamento for perturbador, substitua-o por

outro que seja positivo.

Se a criatura disser: — Mas, eu não posso...

Responderemos: — Você não quer; mas é o quanto nós lhe podemos dar;

além disso, não lhe prometemos

26 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

nada. Não lhe oferecemos aquilo que não podemos doar, porqüanto não

estamos aqui para enganar as pessoas.

Evitar-se, ao máximo, essas expressões de natureza prodigiosa, que

martirizam o paciente, dando-lhe informações que ele não tem capacidade para

digerir.

Diante de uma pergunta: - Será que eu sou obsidiado? — responda-se

com honestidade: — Não sei.

— Será que existem comigo obsessores?

— Eles só estão em contato conosco, porque estamos em sintonia com

eles...

Evite-se, tanto quanto possível, aumentar-lhe a carga de aflições com

informações indevidas ou que podem não corresponder à realidade.

José Ferraz: — Os bons Espíritos ajudam as pessoas que buscam o

Atendimento Fraterno? De que forma? Fale, particularmente, sobre a

desobsessão na nossa Casa.

Divaldo: — Todo aquele que sobe a um planalto, mesmo que não se dê

conta, aspira oxigênio puro; quem desce ao vale, onde existem pântanos e

matéria em decomposição, mesmo que o não perceba impregna-se de

miasmas. A Casa Espírita é o planalto no qual podemos comungar com Deus.

É o oásis refrescante na severidade adusta da terra sáfara. É a ilha generosa

no oceano tumultuado das paixões. Quando alguém se adentra pela Casa

Espírita — e aqui fazemos uma generalização, estendendo

27 Atendimento Fraterno

a qualquer templo de fé religiosa — é amparado pelos Espíritos que têm ali a

tarefa de preservar o nome de Deus, o Seu valor diante das almas e, no caso

específico do Cristianismo, a presença de Jesus, que prometeu nunca nos

deixar órfãos.

Quando chegamos à Casa Espírita, as Entidades benevolentes e caridosas

dispõem de Espíritos outros que se encarregam de vigiar, de proteger o recinto

humano e o espiritual. Fazem programas, utilizando-se de Entidades com

capacidades magnéticas para impedir a entrada de outras, perturbadoras,

obsessoras, assim também de pessoas que causam transtorno, tumulto e

generalizam desequilíbrios, o que é patente em nossas Casas, como noutras

congêneres.

A nossa Instituição tem as portas abertas a quem quer que sej a, e todos

somos testemunhas de que jamais aconteceu qualquer coisa desagradável,

face à massa que a freqüenta, e que pode trazer psicopatas, dependentes químicos

de drogas, de álcool, desajustados, porque as defesas magnéticas

estabelecidas, de alguma forma impedem-lhes a entrada, da mesma forma que

as defesas espirituais impossibilitam a penetração de Espíritos perversos que,

às vezes, estão acompanhando os seus hospedeiros. Eis porque, aí já começa

a desobsessão...

A presença dos bons Espíritos e o atendimento que fazem logo modifica a

estrutura psíquica dos pacientes, afastando as Entidades malévolas que os irão

aguardar àsaída, fora dessas defesas magnéticas.

Quando os visitantes saem tumultuados, ansiosos para voltar a casa e

recuperar os pensamentos negativos

28 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

com os quais vieram — e momentaneamente os deixaram, ouvindo a palestra

ou recebendo a orientação — volvem às viciações psíquicas, e assim atraem,

de retorno, os seus comparsas, prosseguindo o problema.

Essa é uma desobsessão coletiva.

Nas conferências, nas aulas, em quaisquer instruções dignificantes,

enquanto o público se concentra na proposta elevada, os bons Espíritos

aplicam energias corretivas, libertadoras, naqueles que estão vinculados à

idéia superior, realizando, desse modo, igualmente, a terapêutica

desobsessiva.

Em nossa Casa, em particular, e em outras, no sentido genérico, os

Benfeitores, ao verem o paciente que veio para o Atendimento Fraterno,

observando a sua carência real, a sua angústia, a sua honesta necessidade de

mudar, anotam quais os perseguidores que os afligem, e trazem-nos, em

particular e discretamente, às sessões mediúnicas para tratamento

desobsessivo.

Eles me apresentam verdadeiros livros onde registram os endereços das

pessoas que pedem visitas, e as atendem. Determinam Espíritos que

acompanham aquelas que pediram socorro, e que permanecem por longo

período ao lado delas. Mesmo que qualquer uma mude de idéia, o seu

acompanhante continua dando-lhe assistência até o momento em que o quadro

se modifique.

Aquele Espírito assistente torna-se o comunicador das Entidades que

mourejam na Casa Espírita e que passam a ter conhecimento de como vai o

processo de recuperação do cliente, que antes veio pedir socorro.

Isso começa, portanto, quando nos adentramos na

29 Atendimento Fraterno

Casa Espírita ou noutro templo de fé, mais particularmente quando nos

encontramos em atendimento fraterno, porque os bons Espíritos estão

acompanhando-nos e, percebendo a gravidade, maior ou menor, de nosso

problema, removem aqueles Espíritos perturbadores e os trazem à

doutrinação.

Ocorre, com muita freqüência entre nós, essa doutrinação sem a presença

do paciente, o que é perfeitamente compreensível. Estar ali participando não é

necessário para a sua recuperação, impondo-lhe assistência à reunião mediúnica.

Desse modo, o Atendimento Fraterno também tem o caráter de

desobsessão lúcida, porque o atendente funciona como doutrinador e o

paciente como beneficiário.

João Neves: — Na sua experiência tão vasta de atendente fraterno, quais

as causas preponderantes que desencadeiam as aflições humanas?

Divaldo: — O egoísmo, seria a resposta de Allan Kardec.

O egoísmo é o câncer da sociedade, porque é ele que desencadeia outros

distúrbios em nossa área espiritual. Éo egoísmo que responde pela nossa

agressividade, porque ele nos leva ao egocentrismo, ao direito de crer que

somos o centro do Universo, e de merecermos tudo e todos, tornando-nos

soberbos. O ciúme também é causa infeliz, porque nos faz pensar que somos

proprietários

30 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

uns dos outros, dos objetos, das ocasiões e das circunstâncias; o ódio a todo

aquele que não concorda conosco e nos agride é fator dissolvente e

desprezível; a revolta e, conseqüentemente, a cólera fulminante, que abre

espaço ao ódio, constituindo-se elemento pernicioso.

Graças a esses fatores, as enfermidades se nos alojam com mais

facilidade, porqüanto o egoísmo produz enzimas destrutivas, que vêm perturbar

o metabolismo e facultam campo para a instalação de doenças degenerativas.

Ao mesmo tempo, torna-nos distônicos, e passamos a ter problemas

psicológicos, abrindo ensejo para a vinculação com as Entidades perversas,

malévolas, tendo início aí os processos de obsessão.

A Psico-neuro-imunologia identificou que possuimos na saliva uma enzima

que protege o nosso organismo de infecções viróticas — a imunoglobulina.

O egoísta é introspectivo, apaixonado, indiferente aos problemas alheios.

Produz toxinas que impedirão a fabricação da imunoglobulina, deixando-o

a mercê das doenças.

Por isso, Jesus ofereceu como terapia fundamental o amor, porque,

quando se ama, sai-se de si para poder tornar-se ütil; o individuo esquece seus

próprios problemas para contribuir pela diminuição dos alheios.

Quando começamos a amar, a vida iridesce a paisagem, que se apresenta

enriquecida, e as nossas pequenas dores tornam-se menores diante do volume

de aflições que desgovernam o mundo.

Jesus sintetizou tudo isso de uma forma muito bela, quando os discípulos

afirmaram que Ele sempre atendia

31 Atendimento Fraterno

as criaturas tomado por compaixão. Não esse sentimento de piedade vulgar,

mas, com a paixão de ternura, com o desejo veemente de modificar aquela

situação. É esse sentimento de amor que ajuda e faz que se entesoure os

recursos para diminuir os sofrimentos humanos.

José Ferraz: Esta pergunta foi elaborada por Suely Caldas Schubert:

Como conduzir a orientação a uma pessoa que já tentou o suicídio

algumas vezes e persiste na mesma idéia? Deve-se, de alguma forma, dizerlhe

quais as conseqüências funestas do seu ato infeliz ou ser-lhe compreensivo

e consolador?

Divaldo: — A melhor maneira de consolar é advertir quanto aos riscos que

advêm como conseqüências dos nossos atos impensados.

Consola-se, quando se esclarece.

A melhor forma de consolar alguém é arrancá-lo da ignorância, educá-lo.

Allan Kardec faz uma abordagem, em “O Livro dos Espíritos”, que é

excelente, ao referir-se à tarefa da educação, elucidando que os males

humanos decorrem da predominância dos instintos agressivos, que se sentem

repelidos, como diria o psicanalista Alfredo Adier, e devem ser superados

através dos métodos morais disciplinadores.

Allan Kardec se reporta à educação moral. É necessário

32 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

dizer ao paciente que ele tem o direito de interromper a vida física, mas que

esse ato lhe trará tais e quais conseqüências inevitáveis.

Ele está sofrendo hoje angústia, desesperação, sente soledade,

incompreensões, como colheita dos atos imprevidentes de ontem. Se complicar

a atual existência com uma atitude de revolta contra Deus, a sociedade e a si

mesmo, as suas penas e aflições serão muito maiores. É, portanto,

perfeitamente lícito e necessário dizer-se com doçura, para não parecer que

lhe estamos prometendo um castigo — como fazem algumas doutrinas do

Deus terror — que o agora é colheita de uma sementeira infeliz, e que ele está

tendo a opção de superar o drama ao invés de entregar-se ao suicídio, uma

opção cujas conseqüências serão muito mais funestas.

João Neves: — Diga-nos uma postura adequada a assumir diante das

pessoas que se vêem assinaladas por desvios da sexualidade, conflitadas com

essa problemática.

Divaldo: — A postura da bondade, mas não da intimidade; compreensão,

mas não conivência; espírito fraternal, mas sem estímulo ao prosseguimento

do comportamento que não corresponde à ética estabelecida pela Doutrina

Espírita.

O indivíduo tem direito à sua opção sexual ou a qualquer outra, pois este é

seu livre-arbítrio, mas não tem o de nos obrigar a concordar com ele, de exigir

que estejamos ao seu lado, a fim de que tenha uma escusa para continuar no

vício.

A proposta do Espiritismo é erguer, jamais de contribuir

33 Atendimento Fraterno

para que se venha permanecer numa atitude cômoda, sem esforço, e de

grandes prejuízos para o ser espiritual que somos, na jornada carnal em que

estamos.

A continência e a fidelidade aos outros; o que não gostaríamos que nos

fizessem, não lhes façamos.

Assim, a melhor atitude para acabar com o erro, é a conservação da

virtude.

O melhor caminho para fazer cessar a agressividade social, é a paz de

espírito, que luariza a violência e modifica a estrutura do agressor.

Seja qual for, portanto, o tipo de desvio do comportamento sexual, moral,

ético, espiritual, que nos seja apresentado, a nossa atitude é terapêutica, sem

conivência, repito, sem anuência, sem reproche, porque o indivíduo tem o

direito de fazer da sua vida o que lhe aprouver; mas temos o dever de mostrarlhe

o caminho correto que deve seguir.

José Ferraz: — É recomendável sugerir tratamentos médico ou

psicológico para o atendido? Em que circunstâncias?

Divaldo: — Quando o paciente traz um problema na área da saúde, a

primeira pergunta deve ser: — Está recebendo assistência médica? — Porque

o Espiritismo não é uma Doutrina que combate a Medicina, como muita gente

pensa, e como durante um largo período os médicos

34 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

supuseram, face ao comportamento irrelevante de alguns indivíduos que se

diziam espíritas ou curadores e ficariam melhor colocados como curandeiros.

Allan Kardec escreveu que: “O Espiritismo marcha ao lado do progresso,

aceita tudo quanto ele comprova, mas não se detém onde a Ciência pára,

porque a Ciência estuda os efeitos e o Espiritismo remonta às causas”.

A função do Espiritismo não é curar corpos, mas animar o homem, a fim de

que se autocure espiritualmente, e a saúde seja-lhe uma conseqüência da

própria transformação moral.

Daí, é perfeitamente válido, e mesmo compreensÍvel, que o atendente

pergunte: — Tem recebido assistência médica? — quando o mesmo se

encontre enfermo — e dizer-lhe mais: — Não abandone o seu médico, porque

o Espiritismo irá também ajudá-lo, através dele, a resolver o problema.

Nos casos de natureza psicológica, nos distúrbios comportamentais, nos

transtornos neuróticos e psicóticos, é justo que se pergunte também: — Já

consultou o especialista? — Porque pessoas há, que ficam muito magoadas

quando falamos as palavras psiquiatra e psicólogo.

Se ele indagar: — De que especialidade?

Responder-se-á: — Do problema que o está afligindo: o psicólogo, o

psicanalista, o psiquiatra, porque, hoje a Psiquiatria, a Psicologia e a

Psicanálise não têm somente a exclusiva finalidade de tratar doentes, mas de

evitar as doenças que lhes são pertinentes.

Sendo possível, todos deveremos, periodicamente,

35 Atendimento Fraterno

consultar um psicólogo, um psiquiatra. Da mesma forma como realizamos um

“check-up” para o organismo fÍsico, deveríamos fazê-lo também para o

comportamental, o psicológico, o psíquico, evitando determinados distúrbios

que começam sutilmente e que se podem agravar, até mesmo na área da

senilidade, quando ultrapassamos determinada faixa de idade.

É válido que se sugira assistência médica, mesmo porque, em caso de

agravamento do problema, ninguém pode culpar-nos de havermos

negligenciado com os deveres da assistência especializada.

João Neves: No Atendimento Fraterno temos observado um medo

acentuado nas criaturas humanas: medo de doença, medo da morte, medo de

feitiço, medo de assumir compromissos mediúnicos em clima de

respeitabilidade. Fale-nos um pouco sobre isso.

Divaldo: — A desinformação é inimiga do progresso. A desinformação é

pior do que a ignorância total, porque a informação equivocada, a meia

verdade são mais perigosas do que a mentira. Infelizmente, grassa em nossos

arraiais a meia verdade. Existem aqueles que se comprazem em transformar a

mediunidade em um instrumento divinatório, O fato de ser médium dar-lhe-ia o

poder de saber tudo, de entender tudo e de resolver tudo. E uma meia verdade,

O médium, como o nome diz, é instrumento, aquele que se encontra no meio.

Quando assimila a informação de que se faz objeto, torna-se instrumento

lúcido; quando apenas transmite sem consciência, é instrumento automático

que não lucra, que não se beneficia com a oportunidade de que desfruta.

36 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

Alguém, um dia, me disse: — Conversando com Chico Xavier, notei que

ele é muito culto, que fala escorreitamente, que não comete erros gramaticais

nem prosódicos, e que tem informações muito seguras; no entanto, dizem que

ele tem apenas o curso primário.

Respondi-lhe: — É verdade. Ele fez o curso primário dentro da proposta

convencional, mas consideremos que, desde criança, ele dialoga com os

Mestres, os Espíritos nobres que vêm à Terra, e não apenas se expressando

na língua brasileira, porque viveram aqui no país, mas também Espíritos de

escol nas áreas da Ciência, da Filosofia, das Artes... É toda uma existência de

constante aprendizagem. Quando psicografa, filtra a mensagem dos Espíritos,

depois a lê, a datilografa, relê, envia-a em livro, que termina por receber,

voltando a inteirar-se do seu conteúdo. É natural que aprenda.

Ele não pode ser tão rústico quanto nós. Se aprendemos o que os Espíritos

escrevem por seu intermédio, lendo-lhe os livros, é óbvio que ele próprio os

lendo muitas vezes, conhece-os mais do que nós. Ademais, ele interroga aos

Autores, que lhe apresentam adenda, que lhe trazem esclarecimentos mais

complexos, e que lhe dizem coisas que não estão escritas. Desse modo, Chico

Xavier não é somente uma pessoa bem informada, é um sábio, porque oculta a

sua sabedoria, evitando constranger a nossa ignorância.

37 Atendimento Fraterno

É natural, portanto, que nesse trabalho do Atendimento Fraterno

procuremos iluminar a própria consciência, quanto possível, oferecendo aos

indivíduos uma visão qualitativa, principalmente do que a Doutrina Espírita é,

do que lhes está reservado, para que, naturalmente, esclarecidos, mudem de

comportamento para melhor.

Essa conquista iluminativa podemos haurir no estudo da Doutrina, na

convivência com os Bons Espíritos, nos diálogos que mantemos uns com os

outros, e ademais, na sintonia permanente que deveremos preservar depois

que o Atendimento Fraterno termina e vamos para casa.

José Ferraz: Como conduzir a orientação para uma senhora casada que

adulterou e arrependeu-se; no entanto, o seu parceiro continua com a atitude

persistente de dar continuidade à ligação irregular, inclusive, ameaçando-a de

contar ao marido.

Divaldo: Todos desfrutamos do direito de errar, mas temos o dever de

recuperarmo-nos. Se a pessoa não teve resistências e assumiu um

compromisso extraconjugal, ao despertar do problema, que tome a atitude

rigorosa de interrompê-lo. O Evangelho fala com clareza que, caindo em si,

Simão Pedro percebeu o grande erro de haver negado Jesus. Reabilitou-se

entregando-Lhe toda a vida; e caindo em si, Maria de Magdala identificou o

abismo em que se encontrava, e ergueu-se, tornando-se a grande mensageira

da ressurreição; e caindo em si, Judas não teve resistência, cometendo um

crime pior: o suicídio...

A pessoa que caí em si, deve assumir as conseqüências

38 Projeto Manoel Phi/omeno de Miranda

do seu ato, e não voltar a tombar.

Não se trata de uma teoria; é uma terapia.

Se houver ameaça por parte do explorador, diga-se-lhe: - Muito bem, que a

cumpra, e se fique em paz, evitando-se prosseguir na fossa da degradação,

pois que, o chantagista, além de venal, é perverso.

A mulher estava enganada e despertou, não mais entrando na sombra.

Nossos erros poderemos resgatá-los hoje, amanhã ou mais tarde. sempre

é tempo de fazê-lo. Se o adúltero levar ao conhecimento do esposo, e ele

cobrar, que ela tenha a lealdade de dizer: Infelizmente, é verdade até

determinado ponto; agora não é mais. — Tome ele a atitude que lhe convier,

porque ela já tomou a sua: mudar de vida para melhor, com o direito de

reabilitar-se.

Se o ofendido a abandonar, o problema, agora, será dele.

Porque se esteja sob ameaça, não é justo continuar corrompendo-se mais.

João Neves: Como atender a uma pessoa que esteja no limiar entre a

lucidez e o desequilíbrio? Têm acorrido à nossa Casa pessoas nas suas

últimas resistências.

Divaldo: — Dizer que, quando queremos, podemos. Estimulá-la a mudar

de paisagem mental.

Todo aquele que está fraquejando emocionalmente. fixa em demasia os

seus conflitos, gerando uma psicosfera de autocompaixão. A autocompaixão é

um drama

39 Atendimento Fraterno

tão grande, quanto a indiferença de sentimentos, porque, na autocomiseração

o indivíduo somente vê a sua desgraça e não a contribuição dos valores que

estão ao seu alcance, aguardando-o.

Na área da Psicologia, fala-se que há uma tendência muito maior de

conservar a tristeza do que a alegria, a dor ao invés do bem-estar. E um

comportamento masoquista.

As nossas alegrias são muito rápidas e as nossas tristezas muito

demoradas, porque nós gostamos mais da tristeza. As nossas alegrias

parecem que não nos saciam e queremos mais. Determinada coisa de impacto

ou de felicidade, algumas horas depois, já não nos preenche tão plenamente.

Mas, uma contrariedade, um insucesso, marca-nos tão profundamente que

ficamos a reneti-lo mentalmente. o que faz que se imprima cada vez mais em

nosso inconsciente profundo.

Quando passarmos a coletar as alegrias e a não dar valor aos

desconfortos, às vicissitudes, enfrentaremos os problemas com mais

naturalidade. Achamos, porém, que vida feliz é a daquele que tem dinheiro,

que vive o prazer. Isto, no entanto, é uma vida sensualista, no sentido de gozo

incessante.

Na hora em que compreendermos que gozo não é felicidade, e que prazer

é uma questão que diz respeito às sensações, sendo felicidade aquilo que

afeta às emoções profundas, encararemos as vicissitudes como acidentes de

percurso, porque a nossa meta é a plenitude.

Marcam-nos mais a tragédia, o sofrimento, do que a felicidade e a

harmonia.

Observe-se que o indivíduo,

40 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

portador de uma vida extraordinariamente correta, ao cometer um erro, isso é o

que passa a ressaltar nele a partir daí. Um grande cantor, como Pavarotti ou

outros, amados no mundo inteiro, se um dia, num concerto, criaturas humanas

que são, tiverem qualquer distúrbio de voz, um erro de compasso, a nota não

alcançada, perdem todo o valor, como se eles fossem robôs sem direito de se

permitirem fragilidades. Assim, também, todos somos medidos, não pelas

nossas virtudes, mas pelos nossos erros.

A imprensa, a mídia, vive disso, porque raramente se apóia nas

ocorrências felizes, sustentando-se com a divulgação das questões que

corrompem o coração.

Temos que dizer à pessoa: — Você está no limiar, o que é bom, porque

ainda não caiu. Você se encontra no mínimo das suas reservas, o que é muito

bom sinal, ainda tem reservas; considere aquele que já tombou...

Joanna de Ângelis sempre me diz: — Quando vires alguém com os pés

sujos de lama, não acuses o descuidado, pois que ele acaba de sair do

pântano. Preocupa-te com aqueles que têm os pés limpos, correndo o perigo

de se adentrarem nele e enfrentarem dificuldades para sair.

Então, digamos a essa pessoa: — Você está quase entrando no pântano.

A prova que você tem força é o desejo de continuar caminhando.

Particularmente, procuro fazer o que me é possível para me desincumbir

das tarefas. Chega o momento em que eu digo: — Agora, meu Senhor, é com

o Senhor, porque a minha parte já fiz; e tiro da cabeça o problema. Se Ele não

o resolver, é porque não deveria ser resolvido. Não vejo motivo para me

amargurar.

Lembro-me do Abade

41 Atendimento Fraterno

Pierre — o que fundou as Comunidades de Emaús — que elegeu o seguinte

“slogan”: “Eu sempre pensava, nas horas de perigo e de problemas, que

chamando por Deus e Ele ouvindo, ia chegar cinco minutos depois da tragédia.

Mas sempre que passava o desafio, me dava conta que Deus chegava,

pontualmente, cinco minutos antes

Digamos a essa pessoa: — Chame por Deus! Vá para casa, pensando que

tudo vai dar certo, e, se não der de imediato, continue pensando que irá

acontecer, porque sempre há uma nova oportunidade.

Certa feita, atendi a uma paciente que me disse:

“Senhor Divaldo, a pior coisa que me poderia acontecer era morrer, e eu acho

que eu vou morrer!”

Respondi-lhe: — Aleluia! Felicidade para você. Imagine se você fosse

eterna nesse corpo... Claro que você vai morrer, vai se libertar desse corpo,

qual ocorrerá comigo e com todos. É a melhor coisa que lhe vai acontecer.

Agora, a pior coisa que nos pode acontecer é matar alguém, porque é crime.

Mas, você morrer, é perfeitamente normal.

A pessoa redarguiu: — “Sabe que eu não tinha pensado nisso?”

E conclui: — Está na hora de começar a pensar.

José Ferraz: — Deve-se atender pessoas alcoolizadas, drogadas ou em

desequilíbrio mental? Como proceder nesses casos?

Divaldo: — Não se deve atender tais casos nessas circunstâncias. A

pessoa não tem

42 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

como absorver respostas. Dialogar com a família, oferecer ao familiar

acompanhante as técnicas de como conduzir o paciente, e, quando o mesmo

estiver em condições de ouvir, que venha ao diálogo. Porque, no estado de

consciência alterado por drogas, álcool ou por alucinações outras, ele não tem

a menor possibilidade de assimilar palavras ou energia, ou alguma proposta

terapêutica; mas, o acompanhante, sim.

Normalmente, nesses casos, digo: Gostaria de falar com uma pessoa da

família, para que a mesma oriente o enfermo. Porque o contato conosco será

breve, mas, no lar, se fará demorado.

Então é necessário instruir o familiar, a fim de que possa ministrar a

orientação, assim prolongando-a.

João Neves: — O Atendimento Fraterno é uma relação de ajuda que está

presente em todas as atividades da vida. Na família, na rua, no trabalho. Falenos

alguma coisa que seja do interesse geral para todos nós, e aproveite para

concluir este trabalho, porque esta é a última questão.

Divaldo: — Somos modelos, queiramos ou não. Todos somos exemplos

uns para os outros. Nossos pensamentos, palavras e atos são mensagens que

dirigimos e que são captados por aqueles que se encontram na mesma faixa

mental, atraindo-os. “O nosso pensamento — disse-nos Joanna de Ângelis,

ontem à noite, em uma mensagem psicográfica — é um dínamo gerador de

forças”. De acordo com o teor ou a qualidade da sua mensagem, produz asas

que nos alçam ao infinito ou pesos que nos chumbam às paixões.

43 Atendimento Fraterno

O Atendimento Fraterno é uma área de semeadura perante a vida.

Estamos sempre oferecendo mensagens de alegria ou de tristeza. Essas

mensagens podem tornar-se verbais, depois de mentalizadas, e podem ser de

movimentos, de postura e de interesses outros.

É necessário compreender que estamos no mundo para nos desincumbir

de uma tarefa essencial, que é a construção de uma nova sociedade, que será

resultado da edificação de nós próprios no nosso mundo íntimo. É muito

comum, àqueles que amam, terem o cuidado de não transmitir suas aflições às

pessoas queridas.

No Atendimento Fraterno, nesse intercâmbio amigo, as vibrações irão

encharcar ou aliviar aquele que tem facilidade de captá-las. Estamos na Terra

para este mister — ajudar — e é por isso que o Centro Espírita, utilizando-se

desse inter-relacionamento pessoal, elege pessoas credenciadas, para que,

tecnicamente, apliquem o Atendimento Fraterno de maneira edificante.

Somos mensagens vivas, transparentes; estamos sempre emitindo ondas

e captando-as, porque somos antenas transceptoras. De acordo com o tipo de

mensagem que emitirmos, receberemos resposta idêntica, sendo por essa

razão que o Evangelho nos adverte: Vigiar e orar para não cair em tentação;

vigiar, é pôr-se numa atitude positiva, dinâmica, de construção do bem dentro

de si mesmo. Não se trata de uma conduta mística, alienada, que não seja

compatível com o progresso da cultura nem da civilização hodiernas. Orar não

é estar a repetir palavras, porém, agir.

Alguém reage contra mim, problema dele; quando

44 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

eu reajo contra alguém, problema meu. Então teremos a capacidade de agir,

porque somos seres que raciocinamos, e toda vez que reagimos, voltamos à

faixa do instinto agressivo. Só reagimos porque nos sentimos feridos,

magoados, egoisticamente alcançados. Quando agimos, nos realizamos,

porque, mesmo diante do malfeitor, daquele que nos agride, assumimos uma

postura de paz, sabendo que a nossa mensagem vai fecundar...

— Mulher, ninguém te condenou? Perguntou Jesus àquela que foi

surpreendida em adultério e levada à praça pública.

Ela, olhando em derredor, deu-se conta que já não havia ali nenhum dos

acusadores, que se afastaram na ordem decrescente de idade, dos mais

velhos para os mais jovens, já que o Mestre propusera que aquele que estivesse

isento de culpa ou de pecado que atirasse a primeira pedra. Como os

mais velhos, por certo, deviam ter mais pecados que os mais novos, eles, os

mais idosos, se foram, e ante a sua surpresa, que não mais estava sendo

acusada por eles, nem condenada por Jesus, interrogou-O: — “E agora,

Senhor?”

— Vai e não tornes a equivocar-te; não voltes a emaranhar-te no cipoal

das paixões, porque até há pouco ignoravas a verdade, tinhas pouca

responsabilidade, mas, a partir deste momento, sabes, és consciente, e as tuas

responsabilidades são muito maiores.

Na proposta de Jesus, diante da mulher surpreendida

45 Atendimento Fraterno

em adultério, Ele não anuiu com o erro, não reprochou, porque a sua tarefa não

era a de perdoar ou de condenar, mas a de orientar, educar. E foi exatamente

o que Ele fez, pedindo que ela não voltasse a pecar.

Assim, a Doutrina Espírita nos propõe o despertar da consciência, para

que, com a consciência lúcida, não repitamos as nossas insensatezes, os

nossos erros, porque a vida real, legítima, é a espiritual.

Informam-nos os Espíritos nobres, sem nenhum masoquismo da parte

deles ou da nossa, que vale a pena sofrer um breve período para desfrutar de

plenitude por uma larga etapa. As dores da Terra, por mais longas, são sempre

muito curtas, no relógio da eternidade. Um corpo vencido por enfermidades

desgastantes, dilacerado por processos degenerativos, é uma bênção de Deus,

e, mesmo quando ultrajado e vencido, é o instrumento da nossa elevação. Uma

vida social de desafios, de dificuldades econômicas, de exílio na comunidade, e

até mesmo na solidão, é o caminho reparador, a nossa oportunidade de ascese

através de cujo roteiro atingiremos o planalto da sublimação.

Não estamos na Terra por acaso. A nossa vida é programada. O

psiquismo Divino está dentro de nós. Ele se desenvolve, ele se agiganta. O

Deotropismo nos atrai; a Misericórdia Divina espera por nós, e, à medida que

nos vamos conscientizando, cumpre-nos o dever de realizar a transformação

íntima, a fim de lograrmos a realização para a qual estamos encarnados.

Bendigamos pois, as dificuldades que nos visitam; aceitemos os desafios

do sofrimento que nos chega e procuremos

46 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

uma maneira dinâmica para mudar a estrutura dos acontecimentos, a fim de

que paire, em um momento que não está muito distante e que certamente não

será de imediato, a presença do amor que nos alará aos Cimos de onde

desfrutaremos paz, onde reconstruiremos a família feliz, e seremos, a nosso

turno, igualmente felizes.

*******************************************************************************************

****

Prece

Divino Benfeitor!

Chegamos ao momento de dizer-Te graças, já que Te louvamos no

contexto desta emoção, destas palavras.

E como não sabemos louvar e agradecer sem pedir, suplicamos-Te que

nos leves de volta à intimidade doméstica, que nos conduzas de retorno ao lar

em clima de harmonia, de esperança, reconfortados, reencorajados para a luta.

Amigo de nossas vidas!

Recebe-nos, como somos, com o que temos interiormente, e abençoa-nos

para que o nosso logo depois seja enriquecido de bênçãos libertadoras,

diferindo do momento que temos sido até aqui.

Segue conosco no rumo do nosso lar e conduz-nos nos dias do futuro

conforme nos guiaste do passado até este presente.

Que a paz de Jesus, generosa e reconfortante, permaneça conosco, meus

irmãos, agora e sempre!

Assim seja!

47 Atendimento Fraterno

2

ÂMBITO DE AÇÃO

A Equipe do Projeto

Os problemas que aturdem as criaturas humanas, nos dias de hoje, são os

mais diversificados possíveis e vão, desde a necessidade pura e simples do

conhecimento, às angústias superlativas dos que se encontram sobraçando os

mais pesados fardos. Nesta variada gama está a clientela que busca o

Atendimento Fraterno dos Centros Espíritas.

Uns perderam entes queridos e não conseguiram superar a dor dessas

perdas; outros, não alcançando um relacionamento estável na vida afetiva ou

familiar, transferem para o convívio social os seus conflitos, desajustando-se e

fracassando nas metas programadas; alguns, pedindo por outros, tocados de

compaixão ou incomodados pelo desequilíbrio daqueles com quem se

relacionam; há os vitimados pela pobreza, pelo desemprego, cuja problemática,

conquanto de ordem material, tem raízes e

48 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

implicações mais profundas; também, entre essa clientela, se incluem os

viciados, vitimas de si mesmos mas, de um certo modo, atingidos pelo meio

hostil de uma sociedade ainda não transformada pelas luzes do Evangelho;

incluem-se os doentes de toda ordem: da mente, do corpo e da emoção, em

processos demorados de inadaptação social; por fim, os que, de uma hora para

outra, se vêem a braços com desafios superiores às suas forças. Todos pleiteando

soluções específicas e encaminhamentos adequados para suas

dificuldades.

Em síntese, poderíamos dizer que o alcance do Atendimento Fraterno

engloba as diversas nuances do sofrimento humano e diretamente os

problemas engendrados pelo ego personalístico, que propelem os indivíduos

àutilização incorreta do livre arbítrio.

Destaque para a problemática da obsessão a doença do século, ainda

pouco considerada — pois de permeio com muitos desses conflitos humanos

estão as interferências espirituais variadas, gerando alterações do comportamento

e da emoção de ampliados riscos e conseqüências.

É o Centro Espírita um campo de trabalho, entre tantos outros, onde o

Cristo espera que a distribuição de Sua misericórdia seja prodigalizada.

Todavia, a atividade de ouvir e orientar-dialogando está presente em todo

lugar, é parte da vida, podendo e devendo ser exercida onde se esteja. Não há

quem não se recorde que, em algum momento da existência, precisou ser

ouvido e auxiliado por outrem a encontrar um rumo, a solucionar um conflito

interno. Esse alguém pode ter sido o pai, a mãe, um professor,

49 Atendimento Fraterno

um amigo ou mesmo um estranho que se aproximou, providencialmente, a

partir daí fazendo-se o benfeitor a favorecer com elementos decisórios

importantes para o existir.

Propomos, a seguir, algumas situações ou oportunidades onde o

Atendimento Fraterno se impõe como dever daqueles que disputam a honra de

ajudar e servir.

NO LAR

Esteja atento ao comportamento psicológico do seu familiar. Registrando

algo de anormal na sua convivência com ele, induza-o a abrir o coração.

Possivelmente ele está precisando de uma palavra de conforto moral, um

roteiro orientador para uma problemática iniciante, que poderá ser contornada

em tempo hábil mediante o apoio no seio da família. Lembre-se, sempre, que

Deus ajuda à criatura através de outra criatura.

Quando notar, no seu filho, os primeiros sinais da conduta anti-social e

anti-fraterna, aborde-o com bondade austera, evitando que a repetição da

ocorrência crie o hábito infeliz. Erradique no nascedouro as raízes do mal, não

permitindo que a falta de atenção lhe tolde a visão do que é mais essencial

para a sua própria vida: os deveres que o amor impõe no cuidado e zelo com

as plantas tenras que Deus lhe confiou.

Notando que alguém do círculo familiar vive dificuldades ásperas, inerentes

ao carreiro evolutivo, adiante-se para oferecer sua contribuição de ajuda,

tornando-se solidário. Conquanto não deva assumir por ele os deveres que a

ele compete, contribua, de algum modo, passando as suas experiências e

dando, com ele, os passos

50 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

necessários para que se sinta seguro e amparado.

Receite, incessantemente, o tônico preventivo do amor, ensinando dentro

do lar os caminhos de Deus e da retidão de caráter, através do próprio

exemplo, antes que o “fermento” deteriorado das influências alheias arraste os

filhos dalma para o corredor escuro das viciações.

Ensinamentos sonegados no lar, colheita de êxitos diminuída.

NO TRABALHO

Não se isole do companheiro que divide com você as horas estafantes de

sua jornada de trabalho. Estando emocionalmente a ele ligado, em surgindo na

vida do colega a dificuldade moral e o momento inquietante, eis o seu instante

de compartilhar-ajudando, extravasando sentimentos fraternais em ondas de

amizade pura. O verbo, utilizado a serviço da compreensão, é como gotas de

remédio oportuno para minimizar aflições e abrir horizontes alentadores de

otimismo e de esperança. Se hoje você ajuda, mais adiante poderá ser aquele

que necessita ser ajudado.

Esforce-se para conservar o bom-humor, para que não seja você o

interruptor a desligar o circuito da alegria, destoando dos demais. Porém, a

pretexto de estar bem com todos não comungue com o anedotário vulgar e a

conversação vazada em termos maledicentes e depreciativos. Todos acabarão

se acostumando com o seu jeito de ser e respeitando os valores morais de seu

caráter reto. Essa é uma mensagem de auxílio que você passa silenciosamente.

Ante o rastilho de pólvora da desconfiança e da competição

51 Atendimento Fraterno

inescrupulosa. sejam seus a palavra sensata, a atitude fiel e o comportamento

recatado quanto nobre. E de real valor a presença de alguém que se pronuncie

com eqüanimidade e justiça onde medra a discórdia. disfarçada ou nao.

Defenda princípios de cooperação, valorizando o esforço de todos. Não

explorar nem se deixar explorar é atitude educativa que abre, sempre,

possibilidades para trocas de qualidade superior.

Passe uma mensagem não verbal que traduza a sua alegria de viver,

mantendo-se organizado e disponível. Uma decoração personalizada em sua

sala de trabalho, uma mensagem otimista, emoldurada num quadro de parede

ou sobre a sua carteira, pode ser o toque de sua presença falando à intimidade

das outras pessoas.

NA VIA PÚBLICA

Talvez seja coincidência um encontro inesperado, na rua, com uma pessoa

desconhecida; mas pode ser alguém trazido à sua presença, por Deus, a fim

de que você exercite a capacidade de amar ao próximo. Cumprimentando-a,

gentilmente, ouça-a com a devida atenção. a fim de que possa ser útil e (quem

sabe?) ajudá-la na solução de alguma dificuldade. Suas palavras, envolvidas

por um sentimento empático, podem redirecionar aquela mente, se atribulada,

abrindo espaço para que encontre resposta adequada.

*

Um ídolo do voleibol citadino percorria despreocupadamente a via pública,

dirigindo-se ao treinamento diário,

52 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

quando, inesperadamente, ouviu alguém chamar-lhe. Voltou-se, curioso, para

identificar o apelante e deparou-se com um adolescente que, de imediato,

declarou-se seu admirador incondicional.

Conversaram durante alguns minutos, o suficiente para que o atlético

desportista notasse o rosto do rapaz coberto de feias cicatrizes, dando-lhe uma

aparência muito desagradável. Inquirindo, veio a saber que ojovem sofrera um

atropelamento que redundou naquele ser deformado que estava, agora, diante

dos seus olhos, fragilizado e infeliz.

Fizera oito operações plásticas de efeitos benéficos diminutos. Na semana

seguinte iria submeter-se à nona intervenção e encontrava-se muito

angustiado.

A sua família não lhe dava a atenção desejada e, naquele encontro casual,

estava recorrendo a um estranho para rogar apoio, compreensão, amizade.

Sim, estava pedindo que lhe fosse feita uma visita ao hospital geral da cidade,

onde seria operado, pois a sua convalescença seria muito difícil de enfrentada,

como das vezes anteriores, sem a presença dos familiares.

Sabendo da impossibilidade de atender àquela solicitação, em decorrência

dos compromissos profissionais do clube que defendia, o astro, religioso que

era, aproveitou o ensejo para estimular o rapaz, dizendo-lhe da excelência da

fé em Deus, que a ninguém desampara. Que ficasse tranqüilo porque tinha

certeza que, daquela vez, os resultados da cirurgia seriam exitosos.

Incutiu naquela mente juvenil as bênçãos do otimismo, da esperança, e já

ia despedir-se, quando o adolescente

53 Atendimento Fraterno

segredou-lhe:

— “Não fosse este encontro com você e, talvez, eu desse cabo da minha

vida, pois estava desesperado”.

NO TRANSPORTE COLETIVO

Verifique, sempre, quem está sentado ao seu lado, familiarizando-se com

aquela fisionomia que lhe parece desconhecida.

Pense: “Poderá ser alguém que esteja enfrentando as dificuldades naturais

da existência, carregando, nos ombros, difíceis problemas íntimos; senão,

poderá ser um amigo que a vida está me trazendo de volta”.

Tente auscultar o que transita na mente da pessoa, mantendo uma

conversação amistosa; aborde um assunto agradável para sondar-lhe a alma e,

notando algum indício de qualquer carência relacionada com a personalidade

fragilizada, fale da necessidade da comunhão com o Criador, que sempre dá

sinal de Seu amor pelas criaturas através de uma infinidade de meios, e, em

particular, pelos fios invisíveis do pensamento quando, em prece, a Ele nos

ligamos.

Demonstre o seu interesse por aquilo que ele fala pois, assim, terá a

oportunidade de prender a atenção do novo amigo para o que você lhe quer

transmitir. E passe-lhe pequenas notas de compreensão e de interesse, construindo,

a partir daquele instante, vínculos novos de amizade fraternal.

É a sua oportunidade para, discretamente, aplicar os recursos de uma

construção de ajuda, sem interesses subalternos. Introduza, nos sentimentos

dessa pessoa, que lhe parece um estranho, a força estimulante da sua

afetividade,

54 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

qual o bom samaritano que usa dos recursos da caridade ao próximo sem a

preocupação de identificar-se.

*

Não se preocupe em tornar-se inoportuno. Fale sem constrangimento,

atirando a semente de bom-humor no solo promissor daquela alma merecedora

de atenção.

Sentado ao lado de um rapaz, visivelmente deprimido, na classe de um

trem suburbano, aquele coração gentil conseguiu saber, através de suas

habilidades inter-pessoais, do grande drama que se escondia naquele coração:

— “Minha prisão envergonhou meus pais. Nenhum dos meus parentes

visitou-me durante os oito anos que passei na Penitenciária Estadual pagando

a dívida que contraí para com a Sociedade.”

O rapaz conjecturava que isso tivesse acontecido porque seus genitores

eram pessoas de poucas letras e sem recursos financeiros para viajar. No

entanto, uma grande interrogação o inquietava a todo instante: “Será que os

meus entes queridos já me perdoaram?”

Para facilitar as coisas, escrevera previamente para eles, dizendo que

colocassem um aviso qualquer onde o trem iria parar, afim de facilitar a sua

decisão de continuar viagem ou regressar difinitivamente ao lar.

Quando o comboio de ferro se aproximou da cidade, embora as palavras

otimistas e cheias de esperança que o amigo inesperado lhe dissera, o jovem

não estava em condições psicológicas de olhar para a janela com o intuito de

verificar a mensagem que os pais tinham para ele.

Seu companheiro de viagem delicadamente ofereceu-se

55 Atendimento Fraterno

para essa incumbência, trocando de lugar com ele e se pondo a observar

através da janela. Minutos depois, colocou a mão no braço trêmulo do exsentenciado

dizendo em sussurro e emocionado:

— Vê, agora.

E o rapaz, com lágrimas incontidas nos olhos, leu a mensagem de boas

vindas:

— Benvindo sejas, filho de nossa alma.

NO CENTRO ESPÍRITA

Ao perceber alguém que chega, por primeira vez, a Casa Espírita a que

você está vinculado por laços de afeição e compromissos de serviços,

aproxime-se, sorria, converse... seja alguém a dar boas-vindas com efusão de

legítima fraternidade. Esse não é um trabalho protocolar e formal da

responsabilidade exclusiva de quem dirige a Casa, mas um impulso

espontâneo de quem está feliz com a convivência cristã e, por isso mesmo,

interessado em expandir sentimentos de amizade.

Lembre-se que uma recepção fria traduz apatia injustificável, e que a

presença de alguém na Casa Espírita, por muito tempo despercebida,

demonstra que os que estão ali albergados se encontram enclausurados em si

mesmos e pouco interessados na expansão da Boa Nova na Terra.

Que seja a sua presença na Casa Espírita uma viagem permanente ao

coração de seu irmão.

Integre-se no espírito da alegria, disputando a honra de trabalhar, com

todos e entre todos, sem preocupações hegemônicas ou dominadoras.

Cordialidade permanente, silêncio a qualquer impulso

56 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

maledicente, o máximo de empenho para o aproveitamento de toda e qualquer

contribuição, sem cobranças, exibicionismos, querelas... lembre-se que, em

parte, depende de você o clima de amizade que atrairá os bons Espíritos.

Se marcas do passado e desafios do presente lhe ameaçam o

compromisso com a postura fraternal, discipline os impulsos e cumpra o seu

dever de trabalhar e servir até que possa amarem profundidade. Não seja você

a pedra de escândalo, nem o ácido dissolvente da amizade, mas, antes de

tudo, um ponto de referência para que o amor triunfe.

Cuidado com a indiferença, o desapreço e as preferências para que tais

atitudes não maculem a sua participação no esforço coletivo.

Se o companheiro se afastou, conquanto não saiba o motivo, interesse-se

por ele; nada custa um telefonema, uma visita, uma conversa estimuladora e,

se enfermo, a sua presença junto a ele. São essas atitudes deveres impostergáveis,

sem os quais a convivência cristã deixa de ter sentido, tornandose

igual a outra qualquer.

As vezes, você deixa de adotá-las, não por descaso, mas por excesso de

trabalho ou preocupações com os seus próprios problemas. Todavia, reveja a

atitude e refaça as prioridades, pois os deveres da solidariedade estão em

primeiro lugar no coração do espírita.

57 Atendimento Fraterno

3

PROBLEMAS DE PERSONALIDADE

Suely Caldas Schubert

É muito importante para o Atendimento Fraterno que o atendente conheça

algumas noções básicas (ainda que bem simples) acerca dos problemas de

personalidade, a fim de evitar-se o equívoco, diante de certos casos,

considerados como processos obsessivos quando, na realidade, expressam

conflitos, desajustes, traumas, transtornos psíquicos, enfim, que têm como

origem o próprio indivíduo, que é um Espírito enfermo, digamos assim.

É propício o esclarecimento de Jorge Andréa a respeito:

“Essas estruturas doentes, do Espírito ou da individualidade, imprimem nas

células nervosas desvios metabólicos a refletirem uma intensa gama de

personalidades doentias, conseqüência de autênticas respostas cármicas.”

A palavra personalidade deriva de “persona”, palavra

58 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

latina que significa máscara. Designava antigamente a máscara usada no

teatro por um ator.

Modernamente, define-se personalidade como o conjunto das

características intelectivas, afetivas e volitivas que constituem o modo de ser e

de sentir de uma pessoa.

A personalidade resulta de uma interação social. ou seja, do

relacionamento do indivíduo com as pessoas que constituem os grupos sociais

de que faz parte: lar, escola, trabalho, lazer.

Em sentido mais amplo pode-se dizer que a personalidade de uma pessoa

forma-se a partir de uma conjugação de fatores genéticos, pela educação que

lhe é transmitida, pelo contexto histórico em que vive, pela interação social, etc.

Em Psicologia há um conjunto muito vasto das Teorias da Personalidade,

com uma diversidade muito grande de pontos de vista.

Quando desejamos a solução de um problema, o primeiro passo é buscar

a sua causa, a sua origem. Qual a origem dos problemas de personalidade?

Segundo Rollo May, a origem “é uma falta de ajustamento das tensões dentro

da personalidade.”

O processo de ajustamento das tensões ocorre continuadamente, por isto

a personalidade nunca é estática. E viva, dinâmica, em constante mutação.

Como ocorrem essas tensões? Sempre que uma pessoa experimente um

sentimento de que “deve” fazer isso ou aquilo, ou um sentimento de

inferioridade, de triunfo ou desespero, as tensôes de sua personalidade estão

sofrendo um processo de reajustamento. Por exemplo: lendo

59 Atendimento Fraterno

um livro ou ouvindo uma palestra toda idéia que nos atraia a atenção e nos

convide a uma reflexão mais profunda provoca um novo ajustamento das

tensões em nossa personalidade.

Portanto, estabilidade ou equilíbrio da personalidade não significa que ela

deva tornar-se estática. Em verdade, viver é ajustar-se, continuamente, a

novas experiências de cada dia.

Para Rollo May, a característica básica da personalidade é a liberdade. Ele

afirma que existem quatro princípios essenciais para a personalidade humana:

liberdade, individualidade, integração social e tensão religiosa. “

Infere-se, pois, que a falta de ajustamento das tensões pode ocasionar

conflitos a manifestar-se sob variadas formas e sintomas, desde a timidez,

excessivo acanhamento, medo de relacionar-se com as pessoas, ansiedade,

angústia, fobias, depressão, até desaguar nos transtornos psíquicos como as

neuroses ou, em casos mais graves, como a esquizofrenia, as psicoses, etc.

Essa dificuldade de ajustamento às injunções do dia-a-dia acarreta um

conflito íntimo prejudicando o relacionamento com o meio social em que o

indivíduo está inserido e, não raro, pode alcançar até mesmo as pessoas mais

íntimas de sua convivência.

Portanto, existe neurose quando os conflitos não podem ser trabalhados,

superados, tornando-se desproporcionais à capacidade do indivíduo de lidar

com eles. Em decorrência, surgem os mecanismos de defesa neuróticos, que

são situações que a pessoa engendra tentando disfarçar ou fugir de seus

problemas interiores. Essa fuga

60 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

passa por uma vasta gama de subterfúgios, como os vícios, por exemplo, que

constituem supostas válvulas de escape, ou o fechar-se em si mesmo,

tentando evitar o confronto com as tensões naturais da vida.

Jorge Andréa elucida:

“Devemos considerar, como personalidade desviada, as condições

dinâmicas que atingem o caráter e cuja intensidade ou grau modificarão a

conduta e conseqüentemente a vida social. Desse modo, estarão enqüadrados

os indivíduos que destoam da média, apresentando tanto agressividade

exagerada como passividade extrema, os desvios sexuais, os alcoólatras, e

uma série de disfunções da personalidade. Geralmente são individuos que

acham que suas reações são mais desencadeadas pelo meio em que vivem do

que partindo deles próprios.”

O ajustamento, a estrutura da personalidade, faz-se pela interação dos

componentes bio-psico-sócio-espirituais.

Esses problemas de origem cármica, cujas causas estão no Espírito

endividado perante as Leis Divinas, encontram nos esclarecimentos da

Doutrina Espírita os recursos terapêuticos imprescindíveis para que alcancem a

própria libertação.

61 Atendimento Fraterno

4

PERFIL DO ATENDENTE FRATERNO

Equipe do Projeto

Uma descoberta importante feita por profissionais da Psicologia foi que a

eficácia da ajuda possível de ser prestada a alguém por um terapeuta não

depende tanto da escola psicológica a que o mesmo está vinculado mas,

sobretudo, a valores subjetivos relacionados com o seu comportamento —

diríamos, seu carisma, o amor que irradia — que o torna uma pessoa dotada

de qualidades inter-pessoais relevantes e qualidades intímas (força interior)

que o credenciam para o trabalho.

Em sendo uma pessoa tolerante (sem ser conivente), expressará um

respeito e uma aceitação incondicionais em relação ao ajudado, separando

sempre o ser, o Espírito, da problemática que o inquieta, que deverá ser vista

como um jugo, um acessório incômodo que a personalidade assumiu e,

portanto, temporário, que nada tem a ver com aquele ser de humanas paixões,

mas de essência divina,

62 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

que lhe cabe amar com todas as veras de seu sentimento.

De posse dessa compreensão terá facilidade em ser autêntico (sem ser

grosseiro), pois no espaço do Atendimento Fraterno não há campo para

dissimulação da parte de quem atende, que deverá expressar sentimentos com

sinceridade e interesse real de ajudar. Quando dizemos sinceridade, não

estamos aconselhando que a pretexto de ser real, se deixe de guardar as

conveniências e o bom tom.

O atendente fraterno será sempre uma pessoa comedida e discreta,

dosando aquela informação cujo teor integral o ajudado não teria ainda

condições de suportar. Somente assim ele inspirará confiança e perceberá

adequadamente os sentimentos e emoções do outro a quem ajuda, recebendo

a inspiração dos bons Espíritos e transformando aquela vivência confusa e

deformada da pessoa a quem atende em algo compreensível e passível de

renovação.

É um dos objetivos do Atendimento Fraterno levar o atendido a essa

compreensão de si mesmo (ainda que em níveis superficiais, no início) para

que ele atendido — seja capaz de flexibilizar suas crenças pouco racionais e

lógicas e alterar os seus valores, a forma de ver a vida e a própria situação,

tornando-se mais otimista, para, a partir daí, fazer uma programação de vida,

traçar um roteiro evolutivo que envolva a superação das dificuldades na

ocasião apresentadas.

Não cabe ao atendente fraterno passar receitas prontas, encaminhar

soluções que saiam exclusivamente de

63 Atendimento Fraterno

sua cabeça. É preciso a adesão, a “cumplicidade” do atendido, que deverá

estar disposto a assumir a rédea da própria vida. Bom mesmo será quando o

ajudado tomar a orientação que recebe (discretamente) como uma descoberta

sua, porque, nesse caso, ele se aplicará com mais energia ao esforço pela

superação de obstáculos. Voltaremos a esse assunto mais adiante, no capítulo

seguinte.

É da responsabilidade da Direção da Casa estabelecer o perfil ideal do

atendente fraterno, que será passado ao Coordenador do serviço que, por sua

vez, se incumbirá de organizar um processo seletivo capaz de identificar esses

valores humanos e incorporá-los ao trabalho.

Digamos que um perfil apropriado englobaria duas ordens de requisitos: os

humanos básicos e os de natureza doutrinária.

Entre os primeiros alinham-se as seguintes qualidades: saber ajudar-se, ou

seja, a pessoa já ter uma equação de vida bem delineada; interesse fraternal

por outras pessoas, que sintetizaremos com a expressão: gostar de gente; bom

repertório de conhecimentos, não apenas do ponto de vista informativo mas

também vivencial; hábito de oração e de estudo — oração para mantê-lo na

sintonia com os bons Espíritos, e estudo para mantê-lo atualizado e em

condição de compreender as pessoas; ser pessoa moralizada, ou seja, estar

conscientemente vivendo mais em função da essência — o Espírito — que da

aparência — a vida transitória do corpo e dos prazeres —; eqüanimidade,

ponderação, equilíbrio emocional, paciência e segurança, que constituem um

leque de conquistas emocionais e psíquicas que o capacitam a lidar

64 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

com situações desafiadoras.

Entre os requisitos doutrinários ou relacionados com a vivência espírita

incluiríamos: integração nas atividades do Centro e conhecimento da sua

estrutura de funcionamento; familiaridade com o Evangelho de Jesus;

conhecimento da Doutrina Espírita — obras básicas da Codificação e obras

complementares sobre mediunidade e obsessão/desobsessão, especialmente

as de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda; obras sobre educação e

comportamento humano — e, por fim, competência para aplicar passes.

No primeiro grupo de requisitos, os referentes às qualidades humanas,

inúmeras outras além das apresentadas poderiam ser aventadas. Em verdade,

toda e qualquer qualidade humana soma para a eficiência do atendimento. A

nossa intenção não é, nem poderia ser, esgotálas, mas levantar o rol das

principais, segundo nossa óptica.

Algumas qualidades e requisitos não foram inclui-dos por estarem

relacionados com o próprio crescimento do atendente na tarefa e que se

adquirem com a prática. Entre estes está a empatia que é o sentir dentro, ou

seja profundamente, a sensibilidade para intuir ou perceber a experiência do

outro. Este tema será objeto de um estudo mais detalhado no capítulo 7.

O Atendimento Fraterno, conquanto seja uma atividade que requer dos

atendentes a posse de habilidades interpessoais, na dinâmica da Casa Espírita

assume um caráter eminentemente inspirativo, em que atendentes e atendidos

são auxiliados pelos bons Espíritos que se vinculam

65 Atendimento Fraterno

à tarefa, os primeiros, recebendo intuições quanto à natureza dos problemas

enfocados e as sugestões a serem fornecidas para a solução dos mesmos e os

segundos, recebendo o apoio emocional indispensável, a fim de que tenham

confiança para se desvelarem.

66 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

5

AS FASES DO ATENDIMENTO

A Equipe do Projeto

Uma questão levantada por psicólogos foi identificar que habilidades

possuem as pessoas denominadas significativas (as que têm jeito para ajudar)

que as tornam interessantes em relação às demais e se essas habilidades

poderiam ser sistematizadas, a fim de ensinadas em cursos formais para

profissionais da ajuda ou, informalmente, para quantos se interessam pelos

outros.

Acreditando ser isso possível, Robert R. Carkhuff definiu os grupos

principais dessas habilidades interpessoais, conforme citadas na Obra de Clara

Feldmam: Construindo a Relação de Ajuda:

ATENDER: expressar de forma indireta (não verbalmente) disponibilidade

e interesse pelo ajudado;

RESPONDER: demonstrar, por gestos e palavras, compreensão por ele,

correspondendo-lhe à expectativa pessoal;

67 Atendimento Fraterno

PERSONALIZAR: conscientizá-lo de que é uma pessoa ativa, com

responsabilidade no seu problema, e capaz de solucioná-lo;

ORIENTAR: saber avaliar, com ele, as alternativas de ação possíveis, de

modo a facilitar-lhe a escolha (que é dele) da ação transformadora.

Estamos denominando esses quatro grupos de habilidades do atendente

fraterno ou ajudador, fases do processo de ajuda, porque elas estão

seqüenciadas e ordenadas de forma invariável. Uma depende da outra, a

primeira sendo pré-requisito para a segunda e assim por diante. Por exemplo:

não se pode orientar sem antes personalizar, ou seja: delinear metas para

ajudar o atendido sem antes levá-lo à compreensão de sua experiência, da

mesma forma que o personalizar depende de um conveniente responder, este

de um adequado atender, tendo-se como certo que a má preparação de cada

uma dessas fases pode comprometer irremediavelmente a fase seguinte e o

próprio atendimento.

Estabeleceu, ainda, o psicólogo americano citado. que a cada grupo de

habilidades (ou fases) referidas corresponde uma reação favorável no ajudado,

que deve ser cuidadosamente observada.

Assim sendo, quando o ajudador (atendente fraterno) atende, e atende

bem, o ajudado envolve-se, ou seja, adquire a capacidade de se entregar,

confiante, ao processo de ajuda. Quando o ajudador responde bem, o ajudado

explora-se, ou seja: adquire a condição emocional para perceber a situação em

que se encontra naquele momento em que pede ajuda. Durante o personalizar

deve acontecer o processo do compreender no ajudado ou seja:

68 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

— ele ir mais fundo no exame de si mesmo a ponto de estabelecer, pela

reflexão, ligações de causa e efeito entre os vários elementos presentes na sua

experiência de vida de modo a definir aonde quer chegar. Por fim, a capacidade

de orientar abre, no ajudado, a possibilidade para o agir, que é o

movimento interno da alma para sair de uma posição psicológica desfavorável

para outra mais adequada e felicitadora.

Essa trajetória, que vai do envolver-se à ação trans-formadora, talvez não

aconteça plenamente num único encontro. Que hajam outros, não

necessariamente com o mesmo atendente fraterno, e, por isso, voltamos a

enfatizar a importância de se dispor, no Centro Espírita, de uma equipe coesa e

que vibre em uníssono sob a regência de idênticos princípios.

Quando nos referimos a um termo para o processo, não falamos de modo

absoluto, porque o processo formal do Serviço cede lugar naturalmente para a

vivência espírita, (quando o ajudado adere ou se vincula) ou para a atuação

social para onde converge, em última análise, o produto do Atendimento

Fraterno. Isto se consubstancia no fato de que um dos efeitos mais salutares

que ocorre naquele que passou pelo Atendimento Fraterno, e honestamente se

permitiu ser ajudado, é a capacidade que adquire de escolher, de futuro, novos

e eficientes ajudadores, acelerando o seu processo de transformação íntima e

crescimento espiritual.

Agora, é de obrigação, para maior clareza, que detalhemos as habilidades

de que se compõe cada grupo ou fase do processo de ajuda:

69 Atendimento Fraterno

ATENDER envolve desde o cuidado com o ambiente físico (decoração,

conforto, pessoal de recepção) ao próprio comportamento de polidez e de

interesse do Atendente, que deverá saber receber, ter postura adequada

durante a entrevista, aproximar-se (não criar distâncias por superioridade ou

excesso de formalismo), prestar atenção (concentrando-se para ouvir bem e

observar as reações do outro).

Queremos particularizar, neste tópico, uma habilidade especial: o saber

ouvir, que, além de impressionar positivamente pelo grau de empatia que

vincula ajudador e ajudado, assegura, através da memorização, a evocação

dos elementos fáticos e opinativos que o ajudado expressa, favorecendo a

orientação.

Nada pior do que um ajudador que não presta atenção e que a cada

momento precisa recapitular com perguntas o que ouviu.

É nessa fase do ouvir que começa a brotar na mente do Atendente a

inspiração dos bons Espíritos, que deve ser guardada para, no momento

próprio, nas fases seguintes, do atendimento, basear a sua orientação.

RESPONDER não significa tão somente a devolução de respostas às

perguntas formuladas pelo atendido. Responder perguntas é só uma parte

desta fase. Responder é identificar e confirmar com o próprio ajudado o seu

problema principal, escoimando-o dos acessórios inúteis de sua mente em

confusão. E expressar com os próprios, os sentimentos do outro. É, enfim,

perceber a linguagem corporal do outro e o que ela representa como

mensagem a ser correspondida adequadamente.

Não há destaque no Atendimento Fraterno para o ato

70 Projeto Manoel Philomeno de Mirando

de perguntar como iniciativa do atendente, porque a ele pouco é dado

perguntar, só o devendo fazer nas seguintes ocasiões:

— Quando não entendeu;

— Quando o ajudado, mesmo estimulado, não consegue se

expressar, não consegue traduzir seus sentimentos ou está perdido no

âmbito de suas divagações.

PERSONALIZAR é o momento do ajudado se descobrir como pessoa,

perceber o fato de que não é um passivo diante de sua experiência mas um

atuante, uma pessoa responsável por seus atos, pensamentos e emoções,

alcançando a compreensão de que os outros podem ser, tão somente, agentes

estimuladores dessas emoções (positivas ou negativas). A partir dai, torna-se

consciência de deficiências que precisam ser alijadas e qualidades a ser

aperfeiçoadas no esforço da reconquista do equilíbrio íntimo.

Este é um processo muitas vezes doloroso, mas necessário, por ser a

antecâmara do autodescobrimento, que só pode ser alcançado pelos caminhos

do amor, quando o atendente é capaz de passar essa chama divina, através de

palavras e atitudes gentis, e quando o atendido é capaz de recebê-la através

de uma entrega confiante e esperançosa.

É por esta razão que se afirma serem as duas fases iniciais do

atendimento, o atender e o responder, praticamente definidoras do sucesso da

ajuda, pois estes são os momentos do contato pessoa a pessoa em que o

amor deve penetrar a alma do atendido prëdispondo-o à transformação. É

preciso que haja uma certa instantaneidade,

71 Atendimento Fraterno

como uma reação química, para que esse fogo divino — o amor — passe de

um indivíduo para outro, sendo esta a razão para o sucesso dos Atendentes

Fraternos carismáticos e afetuosos.

Implantada a confiança pelo amor, o parto do auto-descobrimento se dá,

em níveis mínimos que sejam. compatíveis com o estágio consciencial de cada

um; predisposto estará o atendido para receber a orientação, como um campo

a ser semeado, prenunciando uma colheita futura de bênçãos. Isto porque a

semente — a Doutrina Espírita — é de excelente qualidade.

ORIENTAR será a parte mais fácil, se o Atendente conhece a Doutrina,

cabendo-lhe organizar a sua expressão de forma clara e simples para transferila

para o atendido como informações práticas, a partir das quais se definirá um

plano de ação, que o atendido deverá seguir por iniciativa própria, objetivando

a solução almejada.

Bibliografia:

Clara Feldmande de Miranda.

Márcio Lúcio de Miranda — Construindo a Relação de Ajuda — Edição

Crescer, Belo Horizonte, MG.

72 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

6

O SABER OUVIR

Equipe do Projeto

No desempenho da função do atendente fraterno, um fator muito

importante é a qualidade do ato da audição: —ouvir bem.

Normalmente, as pessoas, embora procurando escutar atentamente, só se

inteiram da metade do que ouvem. No período de minutos conservam somente

um percentual muito baixo daquilo que ouviram. Considerando-se a variedade

e a qualidade de fatores que influem sobre a audição, ouvir é a habilidade mais

descuidada da Comunicação Humana.

Retiramos de texto de autor anônimo os seguintes preciosos

ensinamentos:

“Ouvir é mais produtivo que falar, em todos os níveis. A pessoa que sabe

ouvir é mais simpática, conquista o interlocutor e, acima de tudo acrescenta ao

seu próprio patrimônio cultural, a informação que o outro exterioriza”.

73 Atendimento Fraterno

“Interromper constitui violação do principal objeto da comunicação humana

na audição: fazer com que o outro fale. Observações e comentários podem ser

guardados até o final da exposição, quando sempre haverá tempo para dirimir

dúvidas.”

“Ouvir é renunciar. É a mais alta forma de altruísmo, em tudo quanto essa

palavra significa de amor e atenção ao próximo.”

“O ato de ouvir, exige, de quem ouve, associar-se a quem fala. É

necessário empenho de quem fala para fazer-se compreender.”

“Qualquer pessoa pode melhorar sua capacidade para ouvir. Ouvir é uma

técnica mental que pode ser aperfeiçoada em treinamento e prática.”

Na predisposição para o ato de ouvir influem fatores fisicos e mentais.

FATORES FÍSICOS

- Temperatura: tanto o calor como o frio excessivos prejudicam a audição.

O calor irrita, e a irritação produz mal-estar, indisposição e cansaço. Por sua

vez, o frio excessivo deprime levando a um baixo índice no ato de ouvir.

- Ruído: quando intenso, perturba a audição da mesma forma que o

silêncio absoluto. Foram realizadas experiências com pessoas por técnicos em

Comunicação Humana na área da audição, chegando-se à conclusão de não

existir grande diferença no rendimento do ato de ouvir em ambiente barulhento

ou silencioso, a depender da capacidade de ouvir bem de cada pessoa.

- Iluminação: local demasiadamente iluminado

74 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

perturba a expressão facial e os gestos da pessoa que está falando,

concorrendo para prejudicar a audição. Conveniente evitar-se a meia-luz,

tratando-se de narrativas sérias, como no caso do Atendimento Fraterno,

quando se exige a atenção de quem ouve e um controle e acompanhamento

das expressões corporais do atendido. Iluminação normal, portanto.

- Meio-ambiente: a preocupação com a preparação ambiental é

imprescindível, não somente no seu aspecto físico, mas, sobretudo, no âmbito

da psicosfera do local onde ocorre a relação de ajuda, pois os Mentores Espirituais

do trabalho ajudam os atendentes, através da inspiração e da intuição.

Deve ser, portanto, um local onde não haja o transitar de pessoas, nem

tampouco atividades incompatíveis com tarefas de ordem espiritual.

- Condições de Saúde: a capacidade de atenção de quem está ouvindo é

afetada no processo da Comunicação Humana quando qualquer estado

anormal de saúde física ou psicológica se implanta. Por isso é recomendável

que o Atendente Fraterno abstenha-se da tarefa quando doente ou mal

humorado.

Em se tratando de deficiência auditiva, da parte do atendente ou do

atendido, a relação de ajuda fica comprometida. Por este motivo o aparelho

auditivo deve merecer por parte do Atendente Fraterno uma avaliação periódica.

A deficiência inconsciente exerce influência sobre o sistema nervoso

provocando reações imprevisíveis durante o inter-relacionamento. Quem ouve

mal, e não sabe, irrita-se com facilidade.

FATORES MENTAIS

- Indiferença: o atendente desinteressado não ouve

75 Atendimento Fraterno

bem. Nada pesa mais no auto-amor do atendido do que a indiferença com que

está sendo ouvido. Quando se consegue deixar de lado o egoísmo, com o

objetivo de ouvir, descobre-se que as pessoas merecem a nossa atenção e

têm dificuldades e problemas que pretendem compartilhar conosco.

- Impaciência: o ato de ouvir exige, de quem ouve, associar-se a quem

fala, e vice-versa. Necessário empenho de quem fala para fazer-se

compreendido, e de quem ouve para compreender. Qualquer emoção perturba

o processo da audição. As impaciências são todas emocionais, portanto,

desajustadoras do equilíbrio nervoso de quem está ouvindo.

- Preconceito: o antagonismo apaixonado impossibilita o ato de ouvir

bem. A concordância irrefletida, também. A maior dificuldade na audição está

na pessoa comportar-se objetivamente. Na sua impossibilidade, deve-se tentar

a empatia, fazendo uma projeção imaginativa para colocar-se no lugar de quem

está falando. O preconceito distorce a audição e o ouvinte passa a concentrarse

na procura de detalhes, de minúcias reais ou imagináveis, que lhe permitam

refutar ou aceitar o que ouve.

- Preocupação: a palavra significa ocupação antecipada. Preocupar é

prender a atenção em pensamentos que fervilham na mente da pessoa que

está ouvindo. Com atenção presa a uma ocupação antecipada, não será

possível ouvir bem. A audição é uma ocupação interna e exige atenção total. A

preocupação é intermitente e, por norma, não se deve ouvir o atendido quando

o ouvinte estiver preocupado. Trata-se do silêncio mental que o atendente se

deve esforçar por adquirir.

76 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

- Ansiedade: Um hábito que deve ser corrigido, O ouvinte ansioso para

provar a sua rapidez de conclusão, antecipa as palavras do interlocutor,

dizendo: “Já sei o que você vai dizer”. Como não poderia deixar de ser, equivoca-

se por precipitação, enganando-se quanto ao que iria dizer a pessoa que

faz a narrativa.

Isto demonstra dificuldade de concentração, provocando uma atenção

difusa (e não dirigida) com características de desinteresse, indiferença e uma

série de fatores que concorrem para se ouvir mal, sem que exista na pessoa

que está ouvindo qualquer defeito do aparelho auditivo.

Como as pessoas estão mais propensas a falar do que a ouvir, habituadas

a interromper, acontece um efeito desagradável, quando dois individuos

resolvem falar ao mesmo tempo, convencidos de que se farão ouvir levantando

o timbre de suas vozes.

EXERCÍCIO PRÁTICO

Consiste em um método bem simples, mas de resultados positivos,

promover leituras de textos em voz alta, enquanto os demais concentram-se no

que está sendo lido. No final, cada um dos candidatos é convidado a fazer um

resumo do que se acabou de ouvir.

Os resultados são comparados e comentados entre todos. A experiência é

repetida, até que o nível de compreensão e reprodução seja considerado

satisfatório pelo grupo.

Bibliografia:

J. R. Whitakev Penteado. A Técnica da Comunicação Humana —

Livraria Pioneira Editora.

77 Atendimento Fraterno

7

A EMPATIA

Suely Caldas Schubert

Segundo o dicionário “Aurélio”, empatia quer dizer: sentir o que se sentiria

caso se estivesse na situação e circunstância experimentadas por outra

pessoa.

A palavra empatia vem de einfühlung, termo usado por psicólogos

alemães, que significa, literalmente, “sentir dentro”. É derivada do grego pathos

que quer dizer sentimento forte c profundo semelhante ao sofrimento e tendo

como prefixo a preposição in.

Difere de simpatia que exprime “sentir com”.

A empatia é um estado de identificação mais profundo da personalidade, a

tal ponto em que uma pessoa se sinta “dentro da outra” personalidade. É nesta

identificação que o verdadeiro entendimento entre as pessoas pode ocorrer.

O primeiro passo para que a pessoa alcance essa condição de empatia é a

simpatia, ou seja, sentir com. Assim,

78 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

o Atendente Fraterno deve ter facilidade de simpatizar com as pessoás, de

sentir com cada uma os sofrimentos e dificuldades que atravessam, e, sentir-se

solidário.

A empatia denota um estágio mais avançado e pode-se dizer que é a

essência do amor. Somente aquele que ama ao próximo tem a capacidade de

“sentir dentro”, isto é, de mergulhar no mundo dos sentimentos alheios e captar-

lhes a mensagem silenciosa, os apelos, a busca, e, em profunda doação,

transmitir a palavra certa, permeada desse amor desinteressado e terno que

transcende ao entendimento comum.

Empatia é disposição para transcender as limitações do tempo (“eu tenho

tempo para lhe ouvir”) e os próprios conteúdos emocionais, pessoais do

atendente (“eu me coloco à sua disposição e, nesse momento, você é a pessoa

mais importante e os seus problemas são o centro do meu interesse”). É ainda

a garantia de que o conteúdo das declarações seja absolutamente sigiloso, por

mais trágico, porque significa a verdade de quem fala, verdade essa muitas

vezes dolorosa, terrível ou agressiva.

A pessoa empática é aquela que consegue, ou se esforça para conseguir

evitar que seus princípios e valores interfiram no depoimento de quem fala,

permitindo que esta fala seja integral, atingindo, dessa forma, o objetivo do

Atendimento Fraterno, que é o de oferecer espaço, tempo, atenção e amor

fraternal para que o outro se libere, o mais possível, de seus conteúdos

emocionais negativos.

Alfredo Adler assim se expressa sobre a empatia:

“A empatia ocorre no momento em que um ser humano

79 Atendimento Fraterno

fala com o outro. É impossível compreender outro individuo se não for

possível, ao mesmo tempo, identificar-se com ele... Se buscarmos a origem

dessa capacidade de agir e sentir como se fôssemos outra pessoa, iremos

encontrá-la na existência de um sentimento social inato. Na realidade, ela é um

sentimento cósmico e um reflexo do encadeamento de todo o cosmo que vive

em nós. É uma característica inevitável do ser humano.”

A capacidade de empatizar denota amadurecimento espiritual, que é

progressivo e se desenvolve, cada vez mais, exatamente proporcional à

medida em que a pessoa aprofunda a sua disposição de amar ao próximo e,

em última análise, a vida em todas as suas formidáveis expressões.

A Doutrina Espírita abre perspectivas ilimitadas nessa área, convidando o

indivíduo a exercer a caridade plena, tal como assinala a questão 886 de O

LIVRO DOS ESPÍRITOS, quando os Instrutores da Vida Maior lecionam que a

verdadeira caridade consiste na “benevolência para com todos, indulgência

para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.”

Para os serviços de Atendimento Fraterno o significado da empatia ampliase

e torna-se, realmente, na capacidade de amar ao próximo, consoante o

inolvidável ensinamento de Jesus, que sintetiza tudo isto em plenitude: “Amar

ao próximo como a si mesmo.”

Bibliografia:

Rollo May. - A Arte do Aconselhamento Psicológico.

80 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

8

RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA OS

ATENDENTES

Equipe do Projeto

* Não Prometer Curas ou Estabelecer Certezas Absolutas:

Uma das finalidades do Atendimento Fraterno é ajudar pessoas a

redirecionarem suas vidas em função de uma melhor compreensão das

dificuldades a que estão jungidas, a adotarem atitudes mais favoráveis à

harmonização íntima de que carecem.

O atendente fraterno deve ser positivo, estimulante e animado para

influenciar as pessoas a fazerem as mudanças necessárias à conquista de si

mesmas, avançando no rumo do progresso e da paz.

Porém, deve trabalhar sempre com o relativo, fugindo às declarações

extremadas, carregadas de promessas maravilhosas, que, nem sempre os

atendidos estão em condições de construir ou delas são merecedores.

O Atendimento Fraterno está voltado para a solução

81 Atendimento Fraterno

dos problemas caracterizados por falta de ajustes da personalidade na vida

íntima da pessoa. Jamais o maravilhoso, a revelação com relação ao mágico e

ao místico poderá contribuir eficazmente para a solução de tais necessidades.

Deve-se deixar bem claro, isto sim, que Deus ajuda incessantemente, na

medida do esforço e da boa vontade de cada um, e que nenhuma ação no bem

nem qualquer movimento da alma no sentido de reparação das faltas ficará

sem resposta.

* Recusar Gratificações, Atenções ou Distinções Especiais:

Tais encômios poderiam ser vistos como pagas indiretas. Todos os que

trabalham nas Casas Espíritas, servindo aos propósitos do Consolador, na

Terra, já sabem que o “dai de graça o que de graça recebestes” é regra

insubstituível. A confiabilidade de uma Casa Espírita repousa na observância

desse princípio ético que, não sendo único, é fundamental, como base de apoio

para todos os demais.

* Evitar Opiniões Pessoais:

O suporte para o aconselhamento num serviço de Atendimento Fraterno

de uma Casa Espírita está nos postulados da Doutrina Espírita. Ela representa

hoje, na Terra, a concretização da promessa do Consolador Prometido. As

pessoas buscam o Centro Espírita porque estão sequiosas desse Consolador

que lhes esclarecerá as razões do sofrimento, ao mesmo tempo apresentando

para elas a metodologia capaz de libertá-las desse sofrimento. Sonegar esse

“divino alimento” aos que dele precisam,

82 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

dando-lhes, em troca, opiniões pessoais, pode ser qualificado como traição ou

burla injustificável e de graves conseqüências.

* Não Interferir em Receituários Médicos

Ainda que seja médico, um atendente fraterno não deverá fazê-lo. E se

não o for, mais grave ainda o procedimento, por falta de competência para o

desiderato.

O que leva muitas vezes a se agir dessa forma é a euforia, a confiança na

força transformadora da Doutrina e na eficácia da Terapêutica Espírita.

Essa confiança, que deverá ser mantida, bem se vê, não invalida a

excelente contribuição desempenhada pela Medicina, pela Psicologia e outras

ciências que se envolvem com a saúde humana, dádivas de Deus que são, ajudando-

nos na preservação da vida e na conquista de condições mais

favoráveis para o exercício de nossas funções, e que se somam, isto sim, às

possibilidades da Terapêutica Espírita.

As vezes, o impulso surge na mente do atendente, interessado

honestamente no bem-estar do atendido, para sugerir esse ou aquele

profissional da saúde, de sua preferência. Que se contenha, porque não é da

sua função fazer indicações dessa natureza, muito menos em substituição aos

já escolhidos pelo atendido, porque, nesse caso, estaria interferindo na decisão

do outro e assumindo uma responsabilidade grave que lhe não compete.

* Manter Privacidade, Mas Não Vedação Absoluta da Sala:

A privacidade é da estrutura do próprio Serviço. Um local em que a pessoa

possa falar sem ser escutada e expressar

83 Atendimento Fraterno

suas emoções de forma mais reservada.

Não há necessidade, todavia, de se fechar a porta e mantê-la trancada,

como se estivéssemos guardando “delicados segredos”.

O ato de se manter a porta apenas encostada garante essa privacidade,

ao mesmo tempo deixando-se um certo acesso para alguma providência que

se faça necessária, e o atendido, que vem pela primeira vez, mais tranqüilo,

por não estar totalmente isolado da sala de recepção, das pessoas que ali

estão, dos próprios amigos ou parentes que o trouxeram àquele encontro.

A medida é também uma precaução para o próprio atendente, que não

está isento das ciladas que lhe podem ser armadas através de pessoas em

desarmonia íntima que acorrem ao Atendimento Fraterno. A porta apenas

encostada inibe um pouco as arremetidas do desequilíbrio, permitindo-se que

rapidamente alguém seja chamado para ajudar.

* Falar Com Simplicidade:

O vocabulário do atendente deve ser ajustado à cultura e às possibilidades

de compreensão do atendido. Não é necessário violentar-se, mas proceder de

tal forma que a comunicação se estabeleça, sob pena de comprometer a

própria relação de ajuda. Aliás, a boa técnica da comunicação dita a

necessidade de se verificar, durante a conversação, se está havendo

compreensão de parte a parte, o que poderá ser percebido pelas reações

emocionais, posturas ou mesmo através de perguntas habilmente formuladas.

Nós, espíritas, particularmente, deveremos tomar

84 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

cuidado ao lidar com os não espíritas por causa do vocabulário específico da

Doutrina Espírita.

* Atender o Indivíduo, de Preferência, Sozinho:

São comuns as inibições e constrangimentos que presenças

aparentemente inofensivas provocam. Quantas vezes, pessoas afins (pais,

maridos, esposas, etc.) acompanham os seus afeiçoados aos gabinetes de

Atendimento Fraterno não para ajudarem, mas, para fiscalisarem, colocarem

seus pontos de vista, recalcando os dos seus entes queridos.

O atendente deve sugerir delicada e habilmente que cada um seja

atendido separadamente, porém, em hipótese alguma, recusar-se a fazer o

atendimento em grupo.

Tal recomendação, às vezes, se inverte: quando o atendido não tiver

condições de assimilar a orientação, face às suas desarmonias íntimas, a

presença de um acompanhante poderá ser bastante útil.

* Não Fazer Revelações:

Comentários sobre vidências de Espíritos, revelações do passado, cenas

de outras vidas, etc., são claramente indesejáveis, prejudiciais e

despropositadas na maioria dos casos.

Quando ocorrem tais fenômenos com o atendente (e são extremamente

raros) é para orientá-lo, dar-lhe mais segurança no atendimento e não para que

revele ao seu interlocutor o que está acontecendo.

Cuidados não serão poucos para que o prazer egóico de se colocar em

evidência não estimule semelhante procedimento.

* Não Dizer ao Atendido: “Você Está Obsidiado!”

85 Atendimento Fraterno

Conquanto se perceba, numa entrevista, a obsessão como um fato

evidente e consumado, a colocação do fato nunca pode ser tão enfática, para

não deprimir nem gerar pânico, ocorrências muito prejudiciais a quem já está

fragilizado e dependente.

Pode-se falar, em tese, na ação dos Espíritos sobre as criaturas humanas,

demonstrando que o fato é mais comum do que se imagina e aconselhar-se um

“menu”de providências capazes de preservar o ajudado desse mal e erradicarlhe

as primeiras manifestações.

Caberia, aqui, uma questão: se não se pode ou deve advertir ao atendido

de que é portador desse mal, como tratá-lo?

Encaminhando-o para a Doutrina Espírita (reuniões doutrinárias e de

estudos, livros, laborterapia da caridade, trabalho, etc.) e recomendando a

utilização das terapias espíritas, num Centro sério, sempre que se sentirem em

déficit de forças vitais, desordem emocional ou dificuldade de concatenação

lógica do pensamento. Tais providências representam, propriamente, a

desobsessão, que naturalmente se completará com a doutrinação dos Espíritos

malfazejos nas reuniões mediúnicas, o que ocorrerá por iniciativa dos Mentores

Espirituais, sem a necessidade da presença do assistido encarnado e mesmo

sem o seu conhecimento, independentemente de nossa vontade, mas

conforme a necessidade, mérito e prioridade de cada caso.

Fixar na mente do atendido a idéia da obsessão éfragilizá-lo ainda mais e

colocá-lo no rol dos doentes, quando poderemos colocá-lo entre os

companheiros de

86 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

trajetória.

* Não Doutrinar Espíritos Durante o Atendimento:

Incorporações ocorrem, algumas vezes, através dos próprios atendidos em

situação de descontrole emocional, obsessão instalada ou aforamento de

mediunidade. A postura correta do atendente fraterno é chamar à lucidez o

atendido-médium para que o Espírito se afaste. Pode ser necessária uma

breve exortação austera ao Espírito com este propósito, seguida, em casos

renitentes, de passes dispersivos.

Não se trata de descartar uma presença indesejada mas assegurar a

harmonia de ambos, o Espírito e o atendido-médium, bem como do ambiente.

* Não Utilizar-se de Informações do Atendimento para Orientar

Doutrinadores nem Informações destes para Orientar o Atendimento:

A experiência do Atendimento Fraterno é de uso pessoal para o atendente.

Qualquer julgamento que ele faça não passa de um julgamento, de uma

presunção. Como passar para outrem esse material informativo, que em si

mesmo é apenas uma verdade parcial, relativa, sabendo-se que ele sofrerá

outras tantas adaptações ao serem transferidas para terceiros, deformando-se

mais ainda?

Por outro lado, os médiuns e doutrinadores que atuam nas reuniões

mediúnicas precisam exercer as suas funções em absoluta liberdade, sem

peias, livres das sugestões alheias a fim de assumirem a responsabilidade do

que fazem, imunes de quaisquer sugestões que os induzam

87 Atendimento Fraterno

ao erro.

A discussão desse assunto vem a propósito de práticas dessa ordem que

se vêm vulgarizando e fazendo escola no Movimento Espírita.

Quando é o próprio atendente fraterno que, em sendo médium ou

doutrinador, percebe, nas reuniões mediúnicas, presenças espirituais ligadas a

pessoa por ele atendida, o caso é diferente. As identificações, nessas oportunidades,

que são muito comuns, se constituem ajudas, informações adicionais

valiosas para nortear o seu trabalho.

* Não Encaminhar ou Indicar Pessoas Para Reuniões Mediúnicas:

Já é por demais conhecida a recomendação de que a reunião mediúnica

não é um gabinete de terapia para os encarnados, diretamente, mas para os

desencarnados. Do Atendimento Fraterno para a reunião mediúnica nenhuma

pessoa deve ser encaminhada, sob pretexto algum, nem para receber ajuda

momentânea, tampouco para aferir se a pessoa é médium e, muito menos,

para ser um dos seus membros, o que requer uma preparação bem cuidada,

estudos e integração na Casa Espírita. Ver nossa obra: Projeto Manoel

Philomeno de Miranda - Reuniões Mediúnicas.

* Não Asseverar para o Atendido: “Você é Médium”:

Não raro, pessoas chegam ao Atendimento Fraterno com sintomas

presumíveis de mediunidade em afloramento.

É muito comum que os “entendidos” em se acercando

88 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

delas afirmem, peremptórios: “Você é médium

O Atendimento Fraterno tem por filosofia ajudar o ser a se descobrir. Assim

sendo, todo o trabalho se desenvolverá no sentido de orientá-las para o estudo

da Doutrina Espírita e de si mesmas, de tal maneira que, cada uma, em se

percebendo, diga: “Tudo indica que eu sou médium. Vou criar as condições

para experimentar, como recomendava o Codificador, condição única para se

ter certeza do fato”.

* Não Atender Incorporado (Transe Mediúnico:)

Em nossa proposta, o Atendimento Fraterno é trabalho dos homens para

os homens.

A mediunidade, nesse Serviço, se expressará sob o aspecto da inspiração

e capacidade de intuir, mas, nunca por meio do transe mediúnico. Mesmo

porque, esse é um trabalho de equipe, não se admitindo que uns atendam

ostensivamente mediunizados e outros não.

Há inúmeras referências no Movimento Espírita a atendimentos feitos por

Espíritos incorporados, as tradicionais consultas, que mais não são do que

compromissos pessoais de alguns médiuns, em tarefas de aprendizagem.

(Nesse campo ninguém pára de aprender). Queremos dizer que tais casos não

passam de fases transitórias na trajetória mediúnica do sensitivo, enquanto

adquire confiança para orientar, de forma lúcida, em sintonia apenas inspirativa

com seu mentor. Começam atendendo em transe para prosseguirem, adiante,

quando mais experientes, sob a influência da onda inspirativa, da corrente

mental dos Mentores Espirituais. Ocorre que a estagnação do médium torna-o,

muitas vezes, dependente do transe

89 Atendimento Fraterno

por trás do qual se esconde para não assumir a responsabilidade direta do

atendimento. E porque não confia, retarda o momento de exercer a

mediunidade inspirativa plena a que está fadado. Algumas vezes, a motivação

é oposta: em vez do receio, move-lhe a ânsia do poder místico que a

mediunidade ostensiva proporciona entre as pessoas não familiarizadas com a

Doutrina Espírita para quem falar com Espíritos “é o máximo”.

* Não Estimular Que o Assistido, em Atitude de Queixa, Revele os

Nomes dos Centros Espíritas Por Onde Passou:

Trata-se de uma medida ética, acautelatória, para deixar o atendente livre

de modo a orientar a pessoa com espontaneidade e seguro de não estar

estimulando que se veicule a palavra de descrédito, o conceito desairoso a

respeito de Instituições co-irmãs.

90 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

9

ESTUDOS DE CASOS

CASO 1 - DESAJUSTE PSICOLÓGICO AGRAVADO POR COMPONENTE

OBSESSIVO.

José Ferraz

- NARRATIVA:

Um pai procura o Atendimento Fraterno para solicitar orientação espírita

para um filho.

Depois de acolhido, o apelante expõe o problema, falando

espontaneamente:

“Estou desesperado. O meu filho, que está no 2º ano de Engenharia

Química, está prestes a perder o semestre em decorrência de desajustes

psicológicos intermitentes, de certa gravidade. Depois de muita persuasão,

consegui encaminhá-lo ao psicoterapeuta. Já se passaram vários meses de

tratamento sem um resultado satisfatório. Os sintomas

91 Atendimento Fraterno

continuam: melancolia, inibição, depressão nervosa, com momentos de

agressividade. Depois dessas crises volta ao normal e passa a ter

comportamento adequado. Mas as crises retornam deixando a família aflita.

Somos de família católica, e não temos preconceito religioso. Estou

recorrendo ao Espiritismo como uma tábua de salvação”

- ORIENTAÇÃO:

— “Naturalmente que é para o seu filho, em primeiro lugar, que o senhor

está pedindo ajuda, pois não fora a situação que ele está vivendo e o senhor

estaria bem. E está certo em buscar ajuda, lutar o quanto pode por aquele a

quem ama.

“Pelo exposto, seu filho está acometido de uma problemática cujas raízes

se encontram na mente, agravada por um componente obsessivo — influência

de Espíritos doentes.

Pormenor este que não lhe deve ser passado, por enquanto, para não o

inquietar, piorando ainda mais a situação.

“Devo dizer-lhe que o ideal seria que ele mesmo viesse ao Atendimento

Fraterno para que nós o ouvíssemos, inteirando-nos de detalhes e impressões

que, esclarecidos, poderão ajudá-lo a libertar-se da constrição que o oprime e a

se predispor para o tratamento espiritual que precisa fazer. Ainda porque, em

todo e qualquer processo de ajuda, não se pode prescindir da boa-vontade da

pessoa carente, que deve caminhar nesse sentido.

“O mais importante, no momento, é que o senhor se empenhe, como fez

antes para levá-lo ao terapeuta, a fim de trazê-lo aqui. Nesse sentido, poderia o

senhor mesmo frequentar algumas reuniões públicas em nossa Casa,

92 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

conhecer melhor o nosso trabalho e, assim, passar para ele, nos momentos de

lucidez, as suas impressões. Afianço-lhe, todavia, que o seu esforço de

persuasão tem um limite, pois não haveria benefício algum em trazê-lo sob um

estado de tensão intensa decorrente da resistência em vir, o que determinaria

dificuldades outras para ele ser ajudado.

“Eu me permito a liberdade de sugerir que invista no próprio crescimento,

porque assim poderá ajudá-lo. E ninguém melhor do que um pai para ajudar

um filho. Uma providência importante a ser tomada, seria intensificar a prática

da oração no lar. Embora eu saiba que, como católico, o senhor ora, há uma

metodologia que nós, espíritas, chamamos Evangelho no Lar, que é muito

valiosa para pacificar o ambiente doméstico facilitando o retorno do equilíbrio.

Leve esses apontamentos para a sua reflexão e, se decidir, mais adiante,

implantar o Evangelho em sua casa, nós teremos o prazer de ensinar-lhe como

fazer.

“Deixe o nome de seu filho para as vibrações espirituais a distância, para

que o incluamos em nossas orações. Conserve a sua paz.”

- COMENTÁRIO:

Na questão do Atendimento Fraterno, o atendente funciona como um

facilitador, redirecionando a mente da pessoa com as informações preciosas do

pensamento espírita e dos ensinamentos evangélicos, para estimular o desejo,

que deve prevalecer, de encontrar o caminho de uma construção de ajuda

mediante a iniciativa própria.

A orientação espírita é bem realista: não se pode arrastar

93 Atendimento Fraterno

ou obrigar ninguém a submeter-se a um processo de aconselhamento

psicológico se o interessado não deseja ser ajudado. Aliás, essa é a opinião da

psicoterapeuta Hanna Wolff, afirmando no seu livro Jesus Psicoterapeuta, que

nunca conseguiu êxito fazendo terapias de análise com pacientes induzidos por

terceiros a procurála. Todas as orientações prodigalizadas foram sempre infrutíferas.

Talvez, no fato de o filho do consulente ter ido àterapia psicológica com

grande resistência, esteja a causa do insucesso do tratamento a que ele foi

submetido.

Nesse particular, recorrendo ao Psicólogo por Excelência, Jesus-Cristo,

conforme os registros evangélicos, sempre que O buscavam para a solução de

problemas do corpo e da alma, Ele sempre inquiria: — “Queres ser ajudado?”

Isso significa que o primeiro passo exige iniciativa, vontade e fé, valores que

não se podem transferir a outrem.

Fundamental, portanto, que haja uma decisão voluntária, um mínimo de

compromisso pessoal. É preciso o estritamente necessário, um sentido íntimo,

dizendo: “Eu quero ser ajudado.”

CASO 2- CONCLUSÃO SURPREENDENTE: “A CULPA É MINHA”

José Ferraz

- NARRATIVA

Estava casada há cerca de 15 anos; sempre vivera em clima de

compreensão e entendimento com o marido.

94 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

Tinham 3 filhos menores que completavam a felicidade relativa possível de

conquistar-se na Terra.

E acrescentava: — “Meu casamento foi estruturado dentro de uma

amizade sólida e recíproca. Subitamente continuou a narrativa começaram a

surgir os desentendimentos e discussões por assuntos de somenos importância,

grosserias inoportunas de parte a parte. Os atritos se intensificaram de

tal forma que as ameaças de separação começaram a surgir. Eu estava mais

do que convencida de que tudo que vinha acontecendo era culpa do meu

esposo. Foi nessas circunstâncias que procurei esta Casa e o atendente

fraterno que me recebeu, ouviu-me atentamente, iluminou minha consciência,

salvando-me de desastre iminente. Ele me orientou mais ou menos nestes

termos, prescrevendo-me, verdadeiramente, uma medicação de efeito moral

surpreendente:

“O Espiritismo ensina que durante a existência corporal poderemos adquirir

um hábito muito saudável para o autoconhecimento. No final do dia, antes do

sono reparador, fazermos uma revista nos acontecimentos diários para uma

avaliação do nosso comportamento pessoal de referência aos semelhantes. E

quando tivermos dúvidas quanto ao mérito de algumas de nossas atitudes ou

ações, nos colocarmos no lugar do outro, nosso interlocutor ou da pessoa com

quem nos relacionamos, invertendo os papéis, ficando ele no nosso lugar e nós

no dele. e perguntarmos: “Como eu gostaria que ele procedesse em relação a

nós?” Essa técnica ajuda-nos, e muito — afirmou-me o atendente fraterno — “a

afastarmos as máscaras de nossa personalidade, os disfarces do ego, nem

sempre

95 Atendimento Fraterno

verdadeiro e coerente, ajudando-nos a assumir um comportamento psicológico

mais saudável. Tente — disse-me ele fazer a sua auto-análise, colocando em

foco o relacionamento com seu marido e descubra por si mesma quem está

concorrendo para essa situação preocupante, e até que ponto. Vou encaminhála

para a terapia pelos passes e, se for do seu agrado, freqüente as reuniões

doutrinárias do Centro, onde encontrará o apoio e a inspiração para ajudá-la

nessa transição difícil”.

“Pois bem — rematou aquela senhora: coloquei em prática a orientação

recebida, na sua totalidade, e obtive um resultado magnífico. Com o exercício

de auto-análise comecei a perceber a presença, em minha mente, de pensamentos

desagregadores, hostis, ficando surpresa, sobretudo diante daquele

desejo mórbido, compulsivo de acabar com o casamento, fato inadmissível

para mim, em sã consciência. Tudo isso acompanhado de mal-estar físico e

emocional; à medida que recebia os beneficios dos passes e ouvia as palestras

doutrinárias ia, gradativamente, percebendo que a maior culpa cabia a mim, em

decorrência de reações emocionais incontroladas que, não sei como, se

instalaram em mim.

Passei a fiscalisar os pensamentos, procedi a mudanças de atitude na

forma de tratar o marido e, no momento oportuno, pedi que me perdoasse, pois

descobri que não estive procedendo corretamente. Diplomaticamente, para

aliviar o constrangimento reinante, o esposo também se desculpou e selamos o

término do desajuste conjugal de uma forma muito carinhosa.

“Eu estou exultante de felicidade. Aqui venho para

96 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

agradecer as graças recebidas nesta Casa. Muito obrigada, de coração.”

Eu só ouvia. E, agora, estava ali participando daquele momento feliz, sem

ter nada a dizer, nada a orientar, agradecendo, também, a Deus, a bênção do

serviço.

- COMENTÁRIO

Nesse episódio familiar diagnostica-se com facilidade a presença da

indução obsessiva, aparecendo sem a percepção da hospedeira, caracterizada

por indisposição agressiva contra o próprio marido, sem motivo aparente.

O Atendimento Fraterno se insere perfeitamente como terapia

desobsessiva eficiente para esses casos.

CASO 3 - PRESSENTIMENTO FALSO

João Neves da Rocha

- NARRATiVA

Era casada, o marido ficara paralítico e tinha 5 filhos para criar.

Defrontava-se, agora, com um problema grave de saúde: estava com um

câncer ovariano e, no último exame, fora detectada a metástase.

Estava desesperada, antevendo a possibilidade de morrer deixando os

entes queridos em dificuldade econômica.

Para acrescer a sua ansiedade, estava vivendo um instante de grande

tristeza e amargura, pois, no dia seguinte, seria submetida à cirurgia e tivera

um pressentimento de que não sairia com vida da mesa de operação.

97 Atendimento Fraterno

- ORIENTAÇÃO

As nossas primeiras palavras foram de estímulo, de enaltecimento pela

forma corajosa como aquela mulher assumira as suas responsabilidades até

ali.

“Que ela confiasse em Deus e se entregasse à Sua providência, de forma

total, naquele momento de tanta expectativa e tensão. O Pai saberia amparála,

nada acontecendo de ruim, pois Ele só para o bem age, em proveito de

seus filhos arrematei.

“Naturalmente — explicamos — nos momentos de grande tensão, ante

provas excruciantes, a nossa mente perde o contato com o Divino e se envolve

no manto do pessimismo, pensando só no pior. É por essa razão que você está

assimilando a idéia de morrer. Não se trata de pressentimento algum. É

conseqüência da tristeza e do medo que lhe invadem a alma neste momento

de dificuldade.”

Então, dissemos:

“Você, que tem sido uma batalhadora, infundindo ânimo em seus

familiares em prova, acudindo o marido enfermo, será que Deus a deixaria

desamparada nesta hora? Renove-se na oração para asserenar-se e enfrentar

a cirurgia com coragem e bem disposta”.

Ela esboçou um discreto sorriso, prenunciador de mudanças positivas na

paisagem dos sentimentos, agradeceu, e se dispôs a sair, quando lhe

propusemos: — Deixe o seu nome para as vibrações, nós oraremos por você,

e aproveite as horas que antecedem a cirurgia para tomar passes e se

preparar, mental e emocionalmente, para a intervenção...

98 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

E, lembre-se, quando estiver restabelecida, retorne para dar notícias.

- COMENTÁRIOS

É comum, em momentos de grande tensão emocional, pessoas menos

resistentes se deixarem envolver pela dúvida, desânimo, depressão, fatos de

que, muitas vezes, se servem Espíritos maus e ignorantes para incutirem idéias

pessimistas, gerando um quadro de obsessão simples, de graves

conseqüências, terminando por minar a mente, em momentos decisivos em

que as mesmas precisam do máximo de forças para vencer os obstáculos.

Cabe ao atendente fraterno sacudir aquela tristeza (pelo menos concorrer

para isso) sendo animado e estimulador.

Analisando especificamente o caso apresentado, imaginemos que o

pressentimento que passava pela mente da consulente fosse uma realidade, e

que se tratasse, de fato, de um presságio de desencarnação. De nada adiantaria

o atendente fraterno reforçar aquela idéia que tanto a inquietava, pois isso

só causaria mais desânimo quando, o que a pessoa precisava era de força,

energia, confiança para continuar a sua trajetória, fosse onde fosse.

Por outro lado, uma orientação dúbia, do tipo: “Devemos estar preparados

para o que quer que nos aconteça, conforme a vontade de Deus...” Estaria

indiretamente reforçando a idéia do óbito, conduzindo aos mesmos resultados

de desestímulo e pessimismo que a consulente apresentava.

Ainda que racionalmente saibamos ser a morte uma possibilidade em

casos de tal complexidade, não podemos

99 Atendimento Fraterno

matar o momento de esperança de ninguém, ainda porque ante a falta de

tempo para uma conscientização demorada optamos pelo incentivo, pela

superação do conflito.

No caso, a providência era de emergência. O comando único que se

impunha era estimular e estimular. O que não se pode fazer, de modo algum, é

dar garantias absolutas, prometer curas e maravilhas.

CASO 4 - ORIENTAÇÃO EQUIVOCADA

João Neves da Rocha

- NARRATIVA

Casada, trabalhava fora do lar, tinha três filhos e um marido alcoólatra que

a espancava periodicamente. Freqüentava um Centro Espírita onde participava

de um grupo de estudos da mediunidade para a educação da faculdade de que

era portadora.

Impossibilitada de continuar o compromisso assumido, por não conseguir

conciliar os seus afazeres domésticos e profissionais com as tarefas de

educação da mediunidade, pediu licença ao dirigente do grupo para se afastar,

não sabendo se temporária ou definitivamente. A resposta foi que teria de

desenvolver a mediunidade de qualquer forma, senão seria uma pessoa fadada

à infelicidade.

Posteriormente, passou a ter, durante o sono, pesadelos angustiantes.

Sonhava com a filha caçula sofrendo

100 Projeto Manoel Philomeno de Miramda

vários tipos de acidentes.

Pedia orientação para as suas dificuldades no lar e, também, queria saber

se a afirmativa de seu dirigente tinha sustentação doutrinária.

- ORIENTAÇÃO

Fomos direto ao problema mais grave dentre os que afligiam aquela

mulher: as agressões de que era vítima por parte do marido ébrio.

Ela estava amedrontada e, ao mesmo tempo, conflitada por reconhecer

chegado o momento de tomar providências.

“Em casos dessa natureza — dissemos-lhe — a situação se agrava a cada

hora, caminhando para um ponto insustentável.

“Você não acha que já é hora de agir? Quanto mais rápido o fizer, menos

riscos correrá e mais chances terá de ajudar o companheiro enfermo.

Aproveite-Lhe um instante de sobriedade e de calma, quando o lar estiver harmonizado,

para conversar claramente. Diga-lhe, bondosa, mas com

austeridade: “Não devo suportar mais esta situação para o bem de nós dois.

Caso se repitam as agressões, terei que procurar um advogado para me

orientar nas medidas que devo tomar, a fim de que não mais passemos por tais

constrangimentos. Eu gostaria, sinceramente, que a situação não chegasse a

esse ponto. Estou disposta a dar os passos necessários para ajudá-lo e para

salvar o nosso casamento. O que eu mais desejo é que você volte a ser o

braço forte e amigo com que eu sempre sonhei, a me proteger.”

— Mas, eu já me ofereci para essas providências e ele

101 Atendimento Fraterno

não deu crédito, não se interessou nem um pouco

— Então só lhe restam duas alternativas: tentar mais uma vez ou fazer

como lhe orientamos. Analise e decida. Independente dessa decisão, cuide de

você mesma: continue, na medida do possível, freqüentando as reuniões

doutrinárias, procure tomar passes, ore o quanto puder, a fim de se manter em

sintonia com os Bons Espíritos.

“Vamos, agora, à questão não menos grave da orientação que você

recebeu sobre a obrigatoriedade do desenvolvimento mediúnico, para que não

lhe adviessem desgraças. Devo afiançar-lhe que esta orientação é equivocada,

pois não existem registros entre os postulados espíritas de que a mediunidade

seja fator de desgraça ou infelicidade por ser a mesma, pelo contrário, um

caminho de crescimento espiritual. Os fatores que preponderam no cômputo de

nossos infortúnios são o passado espirituai e a conduta moral na vida presente;

amar, servir, praticar o bem são a forma ideal de reparar erros praticados

contra o próximo e as Leis Cósmicas.

“Tranqüilize-se e ore, pois os pesadelos que vêm ocorrendo podem

desaparecer se feita uma preparação mental cuidadosa antes do repouso

noturno. Faça leituras edificantes, meditação sobre o conteúdo lido, oração

afervorada.

“Antes de sair, deixe o nome de seu marido para as vibrações a distância e

pedido de orientação espiritual”.

- COMENTÁRIOS

O alcoolismo é, sem dúvida, um dos maiores inimigos da criatura humana.

A generalização do uso de álcool vem acarretando circunstâncias dolorosas,

dificultando a

102 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

convivência entre os casais, desfazendo lares e promovendo toda sorte de

danos à sociedade.

O Espiritismo veio revelar um componente agravante desse terrível flagelo:

a obsessão. Ao desencarnar, o alcoólico permanece vitimado pelo vício,

buscando sintonia com pessoas frágeis, temperamentais, violentas, que vivem

no trânsito corporal utilizando-se do processo da sintonia mental e emocional

para prosseguir no consumo do álcool, aspirando os seus vapores e

emanações fluídicas, deleitando-se com o prazer mórbido da embriaguês. Essa

parasitose obsessiva toma-se muito dificil de combatida, considerando-se a

perfeita identificação de interesses e prazeres entre o encarnado e o

desencarnado.

Analisando os pesadelos que a nossa consulente passou a experimentar a

partir da orientação que recebera do seu dirigente, vemos aí uma perfeita

projeção de seu inconsciente, revelando qual seria o objeto perfeito para as

ameaças imaginadas. Que desgraças maiores poderiam advir da interrupção

da mediunidade senão através da filha caçula, o afeto principal e suporte

emocional daquela mulher sofrida? Uma “fantasia” do inconsciente nascida do

conflito, do medo imposto pela sugestão negativa e equivocada do orientador

despreparado.

Por outro lado, não podemos descartar, nesses pesadelos, a influência

espiritual de caráter obsessivo, pois émuito bem sabido que, durante o sono, o

Espírito encarnado, liberto do corpo, encontra os desafetos, que passam a

atormentá-lo ostensivamente por meio da sugestão hipnótica, promovendo

distúrbios inquietantes.

103 Atendimento Fraterno

CASO 5 - PROBLEMA PSÍQUICO OU OBSESSÃO?

Suely Caldas Schubert

- NARRATIVA:

Apresentou-se, na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, de Juiz de Fora -

MG, um casal com o filho de 16 anos, para o qual pediam orientação e ajuda,

visto que o jovem estava com depressão e muito angustiado.

O atendimento foi realizado com a presença da mãe, através da qual

ficamos sabendo que Lincoln (nome fictício) tinha vida normal, era estudioso e

praticava esportes.

“No início do ano em curso, meu marido resolveu tirá-lo do colégio onde

cursava o segundo grau e matriculá-lo em outro. No primeiro dia, no novo

colégio, meu filho passou mal em plena sala de aula, tendo que se retirar

apressadamente, sentindo uma aflição inexplicável, medo e sensação que iria

desmaiar. A partir desse dia, embora tentasse, não conseguiu ir às aulas. O

estado de angústia tornou-se intenso e não teve mais condições de sair com os

colegas antigos, fechando-se em casa, tendo crises de choro, insegurança,

medo e profundo abatimento.”

Voltou a mãe a ressaltar as qualidades de Lincoln:

excelente filho, estudioso, bom gênio, muito educado e de relacionamento

normal com os pais e a irmã mais nova.

A senhora, prosseguindo, comentou que, ao surgirem os primeiros

sintomas, foram aconselhados a levar o filho a um Centro Espírita. Isto não

seria difícil, pois já

104 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

estavam freqüentando o Espiritismo há algum tempo, assistindo palestras em

Casas diversas e lendo obras espíritas.

Durante o seu relato, Lincoln também forneceu alguns detalhes, porém

com certa dificuldade pois emocionava-se até às lágrimas. Era evidente que se

tratava de um rapaz dócil, fino, muito educado, de bons sentimentos (inclusive,

já participara de reuniões de jovens numa das Instituições Espíritas da cidade)

sem vícios, e de excelente conduta.

“Fomos eu, meu marido e Lincoln — continuou a senhora — ao Centro

Espírita que nos indicaram e levamos o caso ao conhecimento das pessoas

incumbidas desse trabalho, sendo por elas orientados de que se tratava de

obsessão grave. A convite, participamos de reunião de desobsessão, na qual

diversos Espíritos comunicaram-se, dizendo-se inimigos ferrenhos do nosso

filho e da família. Ele ficou ainda mais apavorado. Resolvemos tentar outro

local e o fato se repetiu de forma semelhante por mais duas vezes.

Invariavelmente ouvíamos esclarecimentos de que eram obsessores terríveis e

foram feitas “revelações”do passado da família”.

Após o relato da mãe, pedimos ao próprio Lincoln que narrasse, se fosse

possível, os sintomas que o acometiam desde a primeira vez. Ele o fez, com

algum esforço.

Ao procurarmos saber se haviam recorrido a um médico ou psicólogo

responderam que não, pois devido àafirmativa de que era obsessão julgaram

que só através do Espiritismo teriam solução para o problema.

105 Atendimento Fraterno

- ORIENTAÇÃO:

Procuramos explicar que existem certos sintomas que podem ser

confundidos com obsessão, e que, no caso de Lincoln, tudo indicava ser outro

o diagnóstico, embora pudesse haver também um componente de ordem

espiritual negativa (instintivamente pensávamos tratar-se de síndrome do

pânico, mas não o mencionamos para não ferir a ética, já que não temos

formação profissional nessa área). Aos poucos, procuramos evidenciar que

deveriam consultar um médico, no que concordaram, informando-nos que já

estavam pensando em fazê-lo. Acrescentamos que se poderia realizar um

tratamento espiritual simultâneo. E porque ambos, mãe e filho, insistissem em

saber se era um caso de obsessão grave, respondemos que, a nosso ver,

tratava-se de outro problema, coisa que só o médico poderia afirmar. Outro

ponto importante foram as perguntas que fizeram sobre as orientações que

receberam para participarem de reuniões de desobsessão. Esclarecemos que

não eram indicadas, explicando que, infelizmente, existem pessoas, embora

bem intencionadas, que por falta de estudo da Doutrina Espírita, levam outras a

cometerem enganos.

- COMENTÁRIOS:

Lincoln foi a um psiquiatra e teve o diagnóstico de síndrome do pânico,

sendo-lhe prescrita a medicação. Por outro lado, passou a freqüentar a

instituição, três vezes por semana, ouvindo as palestras e recebendo fluidoterapia.

Ao fim de um ano Lincoln estava com a vida normalizada. A medicação

foi sendo reduzida até a suspensão. Voltou aos estudos, aos esportes e ao

convívio

106 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

com os amigos. Prossegue participando das atividades espíritas. Hoje toda a

família é profundamente agradecida à Doutrina pelos benefícios recebidos.

Algumas lições importantes a tirar desse fato:

1) Nem tudo é obsessão;

2) O perigo de se fazer afirmativas nesse campo tão complexo;

3) A inconveniência de se levar pessoas totalmente despreparadas — e o

que é pior: enfermas — para as reuniões de desobsessão.

CASO 6 - INDUZIDA AO ABORTO

Tánia Hupsel

- NARRATIVA

Adolescente de 13 anos, grávida, muito pobre, pensando em abortar.

Baixo nível sócio-econômico, e sem qualquer conhecimento da Doutrina

Espírita. O namorado e familiares querem que aborte, fazendo bastante pressão

nesse sentido. Os pais chantageiam-na, dizendo que se não abortar, não

irão ajudá-la, e a colocarão para fora de casa.

- ORIENTAÇÃO:

Tentando tocá-la pela afetividade, falamos do relacionamento mãe-filho e

que a criança que trazia no ventre deveria estar sofrendo com ela, mas que

ambos sofreriam muito mais se ela o expulsasse. Introduzimos a noção de

reencarnação, do Espírito eterno, que sobreviveria, porém, com as marcas do

fato. Esse filho talvez viesse a ser o seu único arrimo no futuro e, em último

caso,

107 Atendimento Fraterno

ela poderia encaminhá-lo para adoção. “É um Ser vivo, pensante, não um

objeto”.

Relatamos casos de mães que abortaram e se arrependeram, de outras

que experimentaram complicações, até mesmo a morte, e enaltecemos o

exemplo daquelas que, resistindo às pressões, conseguiram modificar as

posturas radicais dos familiares e demais pessoas envolvidas.

Enfatizamos que ela não estaria só, por pior que fosse a situação e a

orientamos para que viesse às reuniões doutrinárias, recorresse ao auxílio da

prece e dos passes. Sugerimos que convidasse os pais e o namorado para

que, também, viessem conversar conosco.

Após recomendar-lhe o pré-natal, indicamos os respectivos departamentos

de auxílio do nosso Centro que a poderiam ajudar (consulta médica, setor de

distribuição de enxovais, etc.).

Pedimos que se tranqüilizasse, em seu próprio benefício e no de seu filho,

pois, sendo menor de idade, estava sob o amparo da Lei, não podendo,

portanto, ser expulsa de casa.

Mesmo esclarecendo quanto às medidas de proteção legal disponíveis

(Juizado de Menores e Conselho Tutelar), demos maior ênfase à afetividade,

oração e confiança na Divindade para o encaminhamento do problema, pois

que o nosso intuito principal era substituir o medo pela confiança na paisagem

de seus sentimentos.

- COMENTÁRIOS:

As estatísticas mostram alto índice de gestação entre as adolescentes

que, sem maturidade espiritual, emocional

108 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

e física desejadas para esta condição e sem apoio familiar ou da sociedade,

recorrem, com freqüência, ao aborto, marcando suas vidas de tal forma que

nem imaginam.

A Casa Espírita pode atuar em vários níveis diante desse grave problema

social — assistencial, educacional e preventivo.

O serviço de Atendimento Fraterno, por ser o primeiro porto de recepção,

orientação e encaminhamento dos casos, tem uma grande responsabilidade,

não se devendo desviar do caminho indicado pela bússola da Doutrina Espírita.

CASO 7 - COMPROMISSO AMEAÇADO

Tânia Hupsel

- NARRATIVA:

“Nem sei como começar. Não estou mais suportando a situação em casa:

meu marido bebe e se enche de dívidas. Ele já prometeu, várias vezes, parar

de beber e não consegue. Estou desesperada. Meus filhos estão vivenciando

todo o problema, mas tenho medo de me separar e me complicar

espiritualmente. Já me disseram que é meu carma e devo agüentar até o fim. O

que eu faço?”

- ORIENTAÇÃO:

Falamos da Doutrina Espírita e do conceito de carma, que é dinâmico e

não determinista, ou fatalista, como erroneamente se pensa. Demos a visão

espírita do Deus-Amor e não Deus-punição e explicamos que a

responsabilidade

109 Atendimento Fraterno

dos nossos atos, através do livre-arbítrio, é uma das maiores provas desse

amor. Falamos da colheita a partir da sementeira, que se dará de acordo com a

nossa capacidade, limites e nível evolutivo; do reencontro de Espíritos através

da reencarnação para novas oportunidades de reparação e crescimento; da

finalidade essencial da vida, que é aprendermos a nos amar, à medida que

evoluimos.

No casamento o compromisso é mútuo — disse-lhe. Sugerimos que se

perguntasse: — “Eu quero, realmente, manter, ou salvar este relacionamento

(e, ou, ajudar o marido)? — Já investi tudo o que podia para que isso aconteça?

— O que eu poderia fazer além do que já fiz, com esse objetivo?” E lhe

orientamos que antes de tomar uma decisão, procurasse harmonizar-se mais

através da oração, freqüência às reuniões doutrinárias, passes; que realizasse

o Evangelho no lar e procurasse envolver o companheiro e a família em

vibrações de paz e mentalizações positivas.

Tentasse o diálogo carinhoso e evitasse o conflito. Pensasse nele como

um doente (sem rancor, mas sim, com piedade) e propusesse-lhe a terapia

médica e espírita. Caso ele não aceitasse, auxiliasse-o, da maneira possível,

independente da decisão de manter ou não o casamento.

- COMENTÁRiOS:

É importante termos sempre em mente durante o atendimento uma de

suas diretrizes: que não nos compete induzir ou tomar qualquer decisão pelo

assistido, respeitando o livre-arbítrio de cada um, fator preponderante na

evolução individual. Devemos oferecer a palavra espírita,

110 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

inclusive esclarecendo quanto a conceitos errôneos, ampliando assim a visão

do problema e oferecendo alternativas de reflexões, que auxiliarão na escolha

(individual e intransferível).

CASO 11- ESTÁ BLOQUEADO, MAS QUER AJUDA

Tânia Hupsel

- NARRATIVA:

— “Estou passando por problemas muito difíceis, mas não gostaria de

relatá-los. São muito pessoais. Eu nem sei por que vim aqui, nunca fui muito

religioso. Será que mesmo assim eu receberia algum tipo de ajuda?”

- ORIENTAÇÃO:

Observando a sua ansiedade, procuramos, inicialmente, tranqüilizá-lo,

afirmando que respeitaríamos a sua opção de não relatar o problema, e depois

o felicitamos por ter recorrido à Casa Espírita, num momento de aflição.

Orientamo-lo sobre como a Doutrina Espírita poderia auxiliá-lo, e, em particular,

esta Casa. E acrescentamos:

Não há necessidade que saibamos o que se passa com você; o

importante é que você saiba, da maneira mais completa possível, pois só então

poderá realizar as transformações necessárias em si próprio e,

conseqüentemente, em sua vida. Você não está só, e, assim como a Divindade

soube trazê-lo até aqui, saberá como auxiliá-lo. Procure dar um crédito de

confiança a você mesmo e à sua

111 Atendimento Fraterno

fonte interna de sabedoria, conectada com Deus.

- COMENTÁRIOS:

Aproveitamos o caso acima, para recordar, nos atendimentos habituais,

que precisamos evitar expor as pessoas a constrangimentos desnecessários,

e, para isso, devemos até desestimular revelações de determinados detalhes

que não seriam úteis para o aconselhamento. Lembremos que muitos dos que

nos procuram são ou passarão a ser freqüentadores da mesma Casa Espírita

e, alguns, poderão sentir-se incomodados ao nos reencontrarem em outras

circunstâncias, arrependendo-se por certas confidências, mesmo sabendo da

nossa diretriz de sigilo.

Durante atendimentos semelhantes ao presente caso, se por algum

motivo sentirmos a necessidade de um melhor esclarecimento para o

aconselhamento, podemos solicitar ao assistido que relate o seu problema de

uma maneira genérica, contudo respeitando sempre a sua decisão.

SEGUNDA PARTE

A EXPERIÊNCIA DO CENTRO ESPÍRITA

CAMINHO DA REDENÇÃO

113 Atendimento Fraterno

10

A EQUIPE

Equipe do Projeto

Uma equipe padrão de Atendimento Fraterno é composta basicamente de

atendentes e recepcionistas liderados por um coordenador.

Exige-se, para que se tenha uma qualidade de serviço razoável, que toda a

equipe compreenda o papel a desempenhar e tenha sido adequadamente

selecionada e treinada para o exercício de suas funções, promovendo-se

avaliações e reciclagens periódicas para troca de experiências, repasse de

orientações úteis além do estudo enfocando temas de Doutrina Espírita e

assuntos correlatos com a atividade.

- COORDENADOR:

É muito próprio e natural que o coordenador do Serviço de Atendimento

Fraterno seja indicado pela Diretoria da Casa Espírita, pois trata-se de uma

função de confiança. Naturalmente que tal indicação deverá ser orientada

114 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

por uma compreensão clara de que essa pessoa deverá ter um conhecimento

prático da tarefa, preferentemente por já tê-la executado ou por ter-se

envolvido em outras de natureza idêntica. Deve pesar na indicação a condição

de liderança natural conquistada perante o grupo, aliada ao conhecimento e

afabilidade para bem conduzir o labor.

O Coordenador tem a importante função de participar da montagem de sua

equipe, escolhendo, ele mesmo, os recepcionistas e dirigindo o processo

seletivo para atendentes fraternos.

Cabe-lhe, ainda, ser ponte entre os atendentes e os recepcionistas e entre

ambos e a Direção da Casa, além de promover e conduzir os estudos e as

avaliações periódicas do trabalho, encaminhando, no final de cada exercício,

os dados estatísticos para a Direção.

- ATENDENTES:

São as pessoas que se encarregam da orientação, acolhendo, ouvindo e

ajudando os que buscam o Serviço. Por estarem mais profundamente

envolvidas com a dor humana devem merecer uma atenção toda especial da

Direção, a começar pelo processo de seleção.

O primeiro passo é determinar o perfil desejável para esses terapeutas, ou

seja: o conjunto de características pessoais e de qualidades intrínsecas que

devem possuir. (Ver capítulo 4)

No Centro Espírita Caminho da Redenção, de Salvador, Bahia, aplicou-se

a seguinte metodologia para a implantação do Serviço, seleção e treinamento

de atendentes fraternos, a qual está produzindo excelentes resultados:

115 Atendimento Fraterno

1) Nomeação do coordenador pela Diretoria da Instituição;

2) Escolha dos recepcionistas pelo coordenador;

3) Instalação de processo seletivo para atendentes fraternos, conforme as

seguintes etapas:

3.1 - Abertura de inscrições nas reuniões doutrinárias;

Deve-se estimular as pessoas que reunam condições para a tarefa, já

integradas nos objetivos da Casa. Trata-se de excelente oportunidade de

crescimento para doutrinadores de Espíritos, evangelizadores e pessoas outras

que lidam com atividade de orientação.

3.2 - Avaliação de candidatos;

A proposta, em verdade, é para uma auto-avaliação. Programam-se

encontros reunindo os candidatos e o coordenador com o objetivo de levar os

candidatos a perceberem, por si mesmos, se estão aptos a exercer a função ou

se têm potencial para assimilá-la.

Nesses encontros são dados os seguintes passos:

a - Apresentação dos objetivos, finalidades e alcance do Atendimento

Fraterno;

b - Elaboração, em grupo, do perfil do atendente fraterno, assinalando as

qualidades e conhecimentos necessários ao exercício da função;

c - Comparação do perfil levantado com o considerado ideal pela Direção

da Casa;

d - Elaboração de um perfil-síntese entrelaçando as duas propostas;

e - Auto-avaliação propriamente dita. Cada candidato

116 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

se declara apto, ou não, comparando o seu perfil pessoal com o perfil-síntese

levantado pelo grupo.

Em nossa experiência, um número expressivo de candidatos desistiu por

se considerar aquém das exigências propostas pelo grupo.

Todos declararam-se muito gratificados pela oportunidade de estudo que

desfrutaram nos encontros realizados, não se registrando traumas nem

expressões de desapontamento ou insatisfação.

3.3 - Entrevista dos pré-selecionados com o Diretor do Centro encarregado

pelo Atendimento Fraterno;

Como resultados dessas entrevistas tirou-se um grupo para assumir

imediatamente a função (conforme o número de vagas), outro para um

cadastro de reserva e um terceiro que se incorporou em tarefas outras da

Instituição, inclusive a de recepcionista.

Depois dessa etapa iniciou-se um treinamento dirigido.

4 - Treinamento teórico dos atendentes aprovados na entrevista;

Feito em casa, por iniciativa própria através de leituras indicadas pelo

Coordenador, conforme diretrizes do capítulo 4.

5 - Treinamento simulado;

Através da análise de casos, reais ou imaginários. Discussão em grupo.

6 - Encontros de avaliação;

Feitos com uma freqüência mensal entre todos os atendentes já em

exercício sob a supervisão do coordenador. Analisam-se as dificuldades,

ajustam-se os procedimentos

117 Atendimento Fraterno

e prossegue-se com o treinamento simulado trabalhando-se, preferentemente,

casos ocorridos no Atendimento Fraterno da Instituição.

- RECEPCIONISTAS

O ambiente onde funciona o Serviço de Atendimento Fraterno deve

possuir uma sala de recepção — ampla, arejada, asseada, agradável e

convenientemente decorada — e tantas salas quantas sejam necessárias para

funcionar como gabinetes de atendimento.

Os recepcionistas trabalharão na ante-sala mantendo o primeiro contato

com o público, organizando o atendimento pelo critério estabelecido,

distribuindo mensagens, informando, operando um aparelho de som ambiental

(se houver), enfim, tudo procedendo para que as pessoas sintam-se

agradavelmente acolhidas enquanto esperam a vez de serem atendidas.

O recepcionista, em nossa proposta, trabalha em função do Atendimento

Fraterno exclusivamente, em local reservado e apropriado para este objetivo.

Não se trata aqui, de uma recepção, para as pessoas que vêm ao Centro pela

primeira vez, à feição de um serviço de relações públicas, mas um serviço que

atende especificamente individuos problematizados e que estão buscando

espontaneamente o apoio do Atendimento Fraterno.

Em nossa experiência de treinamento, muitos candidatos não aproveitados

para a função de atendente fraterno se sentiram perfeitamente adaptados

como recepcionistas.

118 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

11

A DINÂMICA DO ATENDIMENTO

A Equipe do Projeto

É desejável que se mantenha mais de um atendente por plantão,

compatibilizando o número disponível com a demanda de público.

As pessoas a serem atendidas serão encaminhadas por ordem de

chegada, indistintamente, para o atendente que esteja desocupado, não lhes

sendo facultado escolher entre os plantonistas do dia, aquele de sua

predileção.

Esta sistemática tem a grande vantagem de não estimular as preferências

pessoais, valorizando-se muito mais o Serviço, por suas qualidades, do que as

pessoas que o executam. Não queremos com isso dizer que essas pessoas

não sejam importantes — porque, em verdade o são, conforme transparece de

todo esse investimento que propusemos, linhas atrás, para prepará-los — mas

afirmar que o coletivo, a tarefa, o idealismo está em primeiro lugar.

119 Atendimento Fraterno

Não estimulamos o retorno dos atendidos. É claro que qualquer um, em se

sentindo inseguro e necessitado de um novo esclarecimento, poderá voltar

para uma orientação adicional. Mas, ainda nesses casos, se submeterá ao

critério aleatório do trabalho, não podendo exigir que seja ouvido pela mesma

pessoa que o assistiu anteriormente.

Tal critério vai na mesma linha anterior, (de não marcar retorno)

preservando o Serviço dos preferencialismos e os atendidos de dependências

a pessoas, verdadeiras “muletas psicológicas” que, via de regra, se criam à

margem dessas relações demoradas e repetitivas. Nunca ser esquecido que a

Doutrina Espírita, no seu aspecto filosófico, ensina a cada criatura a encontrar

o caminho de sua libertação moral-espiritual sem a dependência de terceiros,

pois cada um carrega a cruz que construiu para si mesmo. Jesus, o Excelente

Filho de Deus, nos deu o exemplo na caminhada para o Calvário libertador: o

Cireneu que o socorreu, em decorrência do peso da cruz que carregava, não a

colocou no seu próprio ombro para transportá-la ao local da crucificação. Foi o

próprio Mestre quem o fez com extraordinário estoicismo.

Não há inconveniente algum em o cliente que retorna, e estando diante de

outro atendente, começar a narrativa de seu problema assim: — “Estive com

fulano, seu colega de atendimento, mas como estou precisando de uma

reavaliação das dificuldades que estou enfrentando, face ao desdobramento

natural dos fatos, aqui estou para lhe pedir apoio”. Ao que o atendente fraterno

responderá com tranqüilidade: — “Pois não: coloque-me a par, resumidamente,

120 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

de sua problemática, e dos passos que foram tomados até aqui, para que eu

me situe e possamos emcontrar juntos uma solução viável”. E tudo correrá num

bom clima, sem qualquer constrangimento.

Naturalmente que este segundo atendente tomará o cuidado necessário

para não emitir julgamento crítico com relação à orientação anterior,

preservando-se das insinuações emanadas dos próprios pacientes, no

desconcerto que ainda os caracteriza.

O tempo de duração de cada atendimento poderá situar-se entre 15 a 20

minutos. Até porque não estamos fazendo um atendimento à feição de uma

sessão de terapia psicológica, porque essa não é a finalidade do Atendimento

Fraterno. Sua proposta, como já vimos, no início, é ouvir e orientar, à luz do

Espiritismo, procurando sempre envolver o atendido no compromisso de

assumir o que for necessário, o que for bom e justo fazer a benefício de seu

despertamento espiritual. Havendo traumas profundos a remover,

necessidades de atendimento nas áreas médica e psicológica, o atendido

poderá ser conscientizado quanto à necessidade de buscá-los, fora do Centro

Espírita, com profissionais especializados.

O que interessa, no Atendimento Fraterno, são os fatos principais e a

definição clara de como a pessoa que busca auxílio está se sentindo para que

comece a descobrir-se e, com a ajuda que se lhe oferece, naquela oportunidade,

abrir-se a um momento novo em sua vida.

Tempo excessivo gasto na colocação de problemas pode redundar em

extravasamento exagerado de emoções, queixas e repetições inócuas,

dificultadoras para a transmissão

121 Atendimento Fraterno

das orientações, sem falarmos nos problemas de ordem prática relacionados

com a ordem do serviço, que deve assegurar oportunidades de atendimentos

para todos. Isso só é possível com a disciplina do tempo para que não se

estabeleçam na sala de recepção a impaciência e a inquietação entre os que

esperam a sua vez de ser atendidos.

Existindo, na Casa Espírita, um companheiro mais experiente (ou mais de

um) e que exerça liderança inquestionável sobre o grupo, que se destaque por

uma qualificação de grande competência e se distinga por valores afetivos e

intelecto-morais expressivos, essa pessoa poderá funcionar como um

orientador especial para quem os casos mais complexos sejam encaminhados,

de acordo, naturalmente, com certos critérios ou ordens de trabalho

adredemente estabelecidos. Constituir-se-á, esse líder, um canal, um recurso

para que se divida um pouco a responsabilidade com o trato das vidas alheias.

Digamos, uma instância superior para a qual se pode recorrer de modo a se

melhorar a qualidade do serviço e minimizar erros. No Centro Espírita Caminho

da Redenção assim procedemos.

Nessa instância especial de atendimento admite-se, esporadicamente, a

recomendação de retorno, a critério exclusivo de quem por ela é responsável, a

título de estímulo e como demonstração de interesse legítimo para aprofundar

a ajuda.

Depois, a relação se deve transferir para o convívio normal do Centro

Espírita, se o atendido conseguir sensibilizar-se com a orientação e vincular-selhe.

122 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

A situação mais comum nas Casas Espíritas que disponham desses

orientadores mais abalizados e seguros, lideranças autênticas (principalmente

quando médiuns) éque esses companheiros sejam procurados por um número

significativo de necessitados, ficando sobrecarregados e impossibilitados de

exercer um bom trabalho, por falta do tempo mínimo que cada caso requer.

A qualidade do trabalhador estimula a demanda, que acaba prejudicando a

qualidade. Daí resultam os constrangimentos das filas, as reclamações, frutos

da impaciência que sempre se exacerba naquele que não está bem e que

carrega na mente o seu problema, que para ele é o maior do que o de todos os

demais.

Criando-se um Serviço em duas instâncias, com um número adequado de

atendentes, em condições de dar assistência preliminar para os casos mais

graves e definitiva para os mais simples, otimiza-se o atendimento, assegurase

assistência de qualidade para o maior número possível de pessoas, cada

uma conforme o seu grau de necessidade.

Cuidados especiais devem ser mantidos para não caracterizar o

Atendimento Fraterno como serviço que exista tão só e exclusivamente para

fazer triagem de casos a serem encaminhados para o companheiro mais experiente

a que nos referimos. Não. O Atendimento deve realmente orientar e

assim ser visto como um serviço que tem, fundamentalmente, esse papel, não

sendo por outra razão que deverá ser executado por pessoas experientes,

respeitáveis e respeitadas no grupo, integradas na Casa Espírita com outras

qualificações que já tivemos a oportunidade de mencionar em capítulos

anteriores.

123 Atendimento Fraterno

O Atendimento Fraterno não tem como finalidade fazer prosélitos. De igual

modo não se deve converter em consultório psicológico, atendendo a alguns de

forma preferencial e exclusivista e, por isso mesmo, dificultando o acesso a

outros que dele têm necessidade. Não há como contemporizar: uma forma de

atender é impeditiva e bloqueadora da outra; se atendemos aos mesmos

sempre, outros ficarão sem acesso ao Atendimento.

O número sempre crescente de pessoas necessitadas de consolo,

orientação e apoio que buscam o Centro Espírita vem-se tornando um desafio

para que ele multiplique os seus serviços, mantendo-se de portas abertas todos

os dias com plantões conjugados de Atendimento Fraterno e de passes.

- REGISTROS

O que registrar, no Atendimento Fraterno, deve ser sempre em função

daquilo que se quer avaliar em termos de pesquisa ou de estatística.

Se queremos pesquisar, teremos que obter dados compatíveis com a

finalidade e natureza da própria pesquisa. Poderemos colocar idade, profissão

ou qualquer outra informação desde que saibamos para e porque estamos

tomando semelhantes dados. Anotar por anotar não tem cabimento.

Se queremos uma estatística numérica para fins de relatório anual, deverá

ser anotado apenas o necessário à quantificação de atendimentos realizados.

No Centro Espírita Caminho da Redenção evitamos o excesso de

burocracia, as fichas complexas e detalhadas.

124 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

Uma coisa é certa: o trabalho do Atendimento tem compromisso com a

discrição e o anonimato, por força de um impositivo ético que é comum a todas

as disciplinas voltadas para a saúde física ou moral da criatura humana. Uma

regra simples a observar: se identificarmos a pessoa, não podemos deixar

gravado o seu problema; se gravarmos o problema, não podemos identificar a

pessoa.

Um cuidado adicional para o caso de termos que tomar algumas notas:

façamo-lo após o atendimento, para não dispersar a nossa atenção e nem

quebrar os liames emocionais da relação estabelecida.

Havendo interesse por parte do Atendente em anotar uma experiência

interessante, num caso rico de lições, com os detalhes necessários, para fins

de estudo nas reuniões de avaliação, que o faça em casa registrando em uma

caderneta pessoal. Para muitos de memória eficiente bastará guardá-los na

mente e no coração.

- RELAÇÃO COM OS PASSES

Colocamos como pré-requisito do atendente fraterno a habilidade para

aplicar passes, isto porque, havendo necessidade, poderá complementar a sua

ação socorrendo o atendido com os passes magnéticos. Deve-se ter em

mente, todavia, que tais fatos serão sempre raros e ocasionais, restritos a

casos em que a pessoa ouvida se encontre num estado acentuado de

desorganização física ou emocional. Ainda assim, é preciso a aquiescência da

pessoa que está sendo atendida, pois não é raro ela desconhecer o que sejam

os passes, principalmente quando não for espírita, e não se sinta confiante o

suficiente para se

125 Atendimento Fraterno

entregar a uma terapia alternativa a que não está acostumada.

Respeito ao outro é básico no Atendimento Fraterno.

No caso de desequilíbrio instalado os passes se tornam indispensáveis.

Quando a Casa Espírita possui um serviço de passes regular, com

plantões periódicos, é de bom alvitre que as pessoas, antes do passe, sejam

orientadas no Atendimento Fraterno, individualmente, durante as entrevistas,

ou em grupo, por meio de reuniões de pequena duração (não maiores que 25

minutos), as chamadas reuniões de assistência espiritual, constituídas de

prece, leitura, comentários, vibrações e passes individuais.

Tal orientação será extremamente benéfica, sob os seguintes aspectos a

considerar:

1º) - Orientação Quanto à Real Necessidade de Tomar Passe:

Não são poucos os que recorrem a essa terapia por hábito, sem realmente

estar precisando dela; muitos afirmam, supersticiosos, que tomam passe como

um preventivo contra os futuros problemas que poderão advir, O atendente

fraterno promoverá uma conscientização e procurará redirecionar o interesse

dessas pessoas para as reuniões doutrinárias e de estudo.

2º) - Orientação Quanto à Conveniência do Tratamento Médico:

Essa é outra conscientização importante a fazer, quando necessária. Os

atendidos não se dão conta disso, às vezes, por julgarem ser o passe

suficiente para restituir-lhes

126 Projeto Manoel Philomeno de Miranda

a saúde e o equilíbrio, negligenciando o tratamento especializado.

3º) - Orientação de Como se Portar Ante o Passe:

Sempre há alguma coisa a dizer àqueles que buscam a terapia pelos

passes, quando nada, ensinando aos neófitos e pessoas desinformadas a

postura correta a se adotar na hora do passe e depois dele - para que os

resultados se façam exitosos. É de fundamental importância essa preparação

através da palavra acolhedora e amiga, que abrirá os campos de força do

paciente para melhor receber os benefícios da bioenergia restauradora.

Não é raro, pessoas assoberbadas de conflitos e inquietações íntimas, que

à Casa Espírita recorrem em busca tão somente do benefício do passe,

abrirem-se a uma conversação edificante, aliviando pressões internas e facilitando,

destarte, a ação da bioenergia que vai, apenas, complementar o

trabalho terapêutico já iniciado.

Com esse procedimento evita-se que seja o passista solicitado, como

algumas vezes ocorre, a dar conselhos, consolar e esclarecer, dentro da sala

onde é aplicado o auxílio, pessoas que não encontraram o acolhimento necessário

de que tanto careciam.

Sabe-se que o silêncio e a meditação devem ser as posturas ideais dos

passistas, cujo envolvimento com os pacientes não deve ir além de um gesto

acolhedor (embora silencioso, repetimos), para não perder a sintonia com os

Benfeitores Espirituais que lhes assessoram o trabalho

1 - Ver livro Terapia Pelos Passes também do Projeto Manoel Philomeno

de Miranda.

127 Atendimento Fraterno

Sala de passes, quando ali estejam se desenvolvendo as atividades da

aplicação de bioenergia, não é local apropriado para conversações e relações

outras que não o próprio trabalho da doação energética. Essa é a função,

repetimos, do atendente fraterno e não do passista.

Fim