Doutrina e Aplicação
("Doutrina e Aplicação", de Francisco Cândido Xavier, por Espíritos Diversos)
01 - União
Emmanuel
ANTE o mundo moderno, em doloroso e acelerado processo de transição, procuremos em Cristo Jesus o clima de nossa reconstrução espiritual para a Vida Eterna.
Multipliquemos as assembléias cristãs, quais a desta noite, em que elevamos o coração ao altar da fé renovadora.
Em torno de nossas atividades religiosas, temos a paisagem de há quase dois mil anos...
Profundas transformações políticas assinalam o cominho das nações, asfixiantes dificuldades pesam sobre os interesses coletivos, em toda a comunidade planetária, e, cima de tudo, lavra a discórdia, em toda parte, desintegrando o idealismo santificante.
Este é o plano a que os nossos discípulos são chamados.
O momento, por isto mesmo, é de luz para as trevas, amor para o ódio, esclarecimento para a ignorância, bom ânimo para o desalento.
Não bastará, portanto, a movimentação verbalística.
Não prevalece a plataforma doutrinária tão somente.
Imprescindível renovar o coração, convertendo-o em vaso de graças divinas para a extensão das dádivas recebidas.
Espiritismo, na condição de mera fenomenologia, é simples indagação. Indispensável reconhecer, entretanto, que as respostas do Céu às perquirições da Terra nunca faltaram.
A Grandeza Divina absorve a pequenez humana em todos os ângulos de nossa jornada evolutiva.
Edificar um castelo teórico ou dogmático, onde a mente repouse à distância da luta constitui apenas fuga aos problemas – evasão delituosa de quem recebeu do Alto os dons sublimes do conhecimento para que a Benção do Senhor se comunique a todos os homens.
Esta, razão que nos compete ao chamamento novo.
A morte do corpo não nos desvenda os gozos do paraíso, nem nos arrebata aos tormentos do inferno.
Nós, os desencarnados, somos também criaturas humanas em diferentes círculos vibratórios, tão necessitados de aplicação do Evangelho Redentor, quanto os companheiros que marcham pelo roteiro carnal.
A sepultura não é milagroso acesso às zonas de luz integral ou da sombra completa. Somos defrontados por novas modalidades da Divina Sabedoria a se traduzirem por mistérios mais altos.
Transformemo-nos, meus amigos, naquelas “cartas vivas” do Mestre dos Mestres a que o Apóstolo Paulo se refere em suas advertências imortais.
Indaguemos, estudemos, movimentemo-nos na esfera científica e filosófica, todavia, não nos esquecemos do “amemo-nos uns aos outros” como o Senhor nos amou. Sem amor, os mais alucinantes oráculos são igualmente aquele “sino que tange” sem resultados práticos para as nossas necessidade espirituais.
Não valem divergências da interpretação nos setores da fé.
Estamos distantes da época em que os filhos da Terra se dirigirão ao Pai com idêntica linguagem, porquanto, para isto, seria indispensável a sintonia absoluta entre nós outros e o Celeste Embaixador das Boas Novas da Salvação.
Reveste-se a hora atual de nuvens ameaçadoras.
Não no iludamos . O amor ilumina a justiça, mas, a justiça é à base da Lei Misericordiosa.
O mundo atormentado atravessa angustioso período de aferição.
Irmanemo-nos, desse modo, em Jesus, para que a tormenta não nos colha, de surpresa, o coração.
Abracemos-nos na obra redentora a derrubar as fronteiras que separam os templos veneráveis uns aos outros.
Nossa época é de ascensão do homem à estratosfera, de intercâmbio fácil das nações e de avanço da medicina em todas as frentes, contudo, é também de lágrimas, reajustamento e luta.
Entrelacemos as mãos, no testemunho da luz e da paz que nos felicitam.
Lembremo-nos de que somos os herdeiros diretos da confiança e do amor daqueles que tombaram nos circos do martírio pro trezentos anos consecutivos.
Espiritismo sem Evangelho é apenas sistematização de idéias para transposição da atividade mental, sem maior eficiência na construção do porvir humano.
Trabalharemos, entretanto, quanto estiver ao nosso alcance, a fim de que o cristianismo redivivo prevaleça entre nós constitua patrimônio indesejável e inútil e para que, unidos fraternalmente, sejamos colaboradores sinceros do Mestre, sem esquecer-lhe as sagradas palavras: _ “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim”
a b
02 - Fundamentos do Espiritismo
Emmanuel
PERGUNTA – Se a Ciência, a Filosofia e o Evangelho são os fundamentos da Doutrina Espírita, como interpreta-los em sua justa significação?
RESPOSTA – Em Espiritismo, a Ciência indaga, a Filosofia conclui e o Evangelho ilumina.
Com a primeira, há movimento de opiniões, com a segunda, temos a variedade dos pontos de vista na matéria interpretativas e, com o terceiro, encontramos a renovação da alma para a Eternidade.
A primeira modifica-se, dia a dia.
A segunda evolui e transforma o seu quadro de conceituação da vida.
O terceiro, porém, é imperecível roteiro de elevação.
A Ciência e a Filosofia são meios, o Evangelho é o fim.
No esforço científico e na perquirição filosófica, o homem pode gastar indefinido tempo à procura das causas profundas do destino e do ser.
No Evangelho, porém, o coração e o cérebro despertam para o caminho da própria sublimação. Dentro dele, não há lugar para ilações provisórias. Resplandece a luz em todos os seus ângulos divinos, compelindo a criatura a humanizar-se, a angelizar-se e a santificar-se para a união com o Pai Supremo.
Em síntese concentrada, reconhecemos que, se a Ciência e a Filosofia são fundamentos indiscutíveis de nossa Doutrina Consoladora, em torno delas, o espírito costuma vaguear longos séculos, ao redor de concepções puramente humanas, enquanto que, no Evangelho, encontra nossa alma a companhia do Amigo Celestial, com quem é possível alcançar o monte da iluminação para a Vida Infinita, sem escalas através das estações de prova desnecessária, com ruinosa perda de tempo e de energia na Obra do Senhor.
a b
03 - Servir em Silêncio
Agostinho
O discípulo do Senhor não é chamado tão somente ao curso verbal.
Aprendizado e aplicação constituem a realização.
Não te prendas, desse modo, à indagação que perde o valor do tempo.
Pensa e age ao padrão de idealismo redentor que abraçaste.
As sementes divinas devem frutificar em nossos próprios caminhos, através do esforço perseverante.
Na fase evolutiva que nos é própria, vemos aqueles que possuem a vida e os que são possuídos por ela.
Os primeiros aproveitam o dia, enriquecendo-se de valores permanentes, no rumo das aquisições eternas.
Os segundos são aproveitados pelas forças que orientam as horas, no jogo das circunstâncias fatais.
Uns criam luz e sabedoria.
Outros descansam e sofrem os conflitos da sombra.
Governando com as diretrizes superiores, convertem-se na instrumentalidade dos Celestes Desígnios.
Submetendo-se às causas de ordem inferior, perseguem a ociosidade, ainda mesmo quando o regalo inútil se lhes apresente aos olhos mortais com rotulagem fascinante.
Necessário se faz marcharmos, com desassombro e serenidade, dilatando a capacidade receptiva, à frente da Majestade Criadora.
O fenômeno nos círculos físicos e espirituais não têm outro objetivo senão acordar a mente para a revelação do Mais Alto.
Provar a divindade em nós- herdeiros da Grandeza Universal – é muito mais que positivar a sobrevivência, além da morte.
Guardar a bondade e o entendimento na direção do Amor Supremo vale mais que o poder de demonstrar a existência dos anjos.
O Reino do Senhor começará no indivíduo ou jamais se estabelecerá na Terra, porque Deus visita o homem e educa-o através do próprio homem.
O processo de auto-aprimoramento, na sublimação do raciocínio e do sentimento transforma-nos em servos da Lei Soberana e Compassiva, constituindo, em nossa esfera de edificações presentes, o ministério maior.
Espiritualizemo-nos, portanto, no caminho da perfeição e prossigamos com Jesus.
Não importa a incompreensão.
Cada criatura vê o horizonte que os próprios olhos podem abranger.
Quem ama não discute.
Serve em silêncio, semeia o bem à distância da preocupação de recompensa e segue adiante.
O trabalho cristão é a nossa alavanca renovadora.
Busquemos a Ciência, realizando a santidade.
Os dias escoam-se apressados.
As formas refundem-se, incessantemente.
A morte que modifica e seleciona, pune e corrige, atinge os próprios mundos.
Detendo o Tesouro do Conhecimento Divino, elevemos nosso coração aos santuários eternos.
Responsáveis pelas dívidas que criamos no passado, com a falsa aplicação das bênçãos recebidas, somos também candidatos à riqueza imperecível do futuro.
Situados entre os séculos que se foram e os milênios que virão, temos um diamante sublime a lapidar para o Supremo Senhor – nosso próprio coração, que dorme ainda no berço de aspirações primárias, bafejado pelos raios de luz celestes.
Aperfeiçoemos o caminho, aperfeiçoando-nos.
Trabalha e auxilia sempre, auxiliando a ti mesmo.
Unamo-nos espiritualmente, em derredor do Cristo.
Gravitemos, felizes, em torno d’Ele.
O sol comunica-se com o verme, a milhões de quilômetros. O Mestre sustentar-nos-á, igualmente, nas profundezas de nossa humildade, abençoando-nos os propósitos de ascensão, com a luz do Seu Inextinguível Amor.
a b
04 - Auto-Libertação
Emmanuel
Uma coincidência de notar entre os quase náufragos da aflição e do afogamento:
Os que se debatem nas águas temendo a morte rogam o socorro de quem lhes estenda as mãos;
Os que se encarcerem no desânimo, receando o desequilíbrio, para se livrarem dele precisam estender as mãos aos outros.
*
Geralmente quando nos confessamos abatidos, muitas vezes queixando-nos contra tudo e contra todos, achamo-nos simplesmente encerrados na masmorra do “eu”, que transportamos conosco, à maneira de fardo muito difícil de carregar.
Este é, contudo, o momento para sair de nós, alongando os braços na direção dos outros, para que os outros arrebatem ao poço da angústia.
Abrir o coração ao encontro de alguém a fim de que alguém nos alivie.
Auxiliar para sermos auxiliados.
*
Se te encontras numa ocasião dessas, de espírito ilhado na solidão, recorda que as portas da alma unicamente se abrem de dentro para fora e busca a liberação de si mesmo.
*
Desnecessário será dizer que a gentileza para com os vizinhos, a visita ao doente, o socorro ao necessitado, o serviço-extra, a carta que se dirige ao amigo distante, o amparo à natureza e todos as formas outras de atividade em que se nos expresse a doação de calor humano são veículos ideais para sairmos de nós à procura da própria renovação.
*
Se te encontras assim, no dia cinzento de mal-estar, não é necessário adotes a transposição do desalento à custa de tranqüilizantes inadequados ou ao preço de aventuras que talvez te marginalizassem nos espinheiros da culpa.
Todos possuímos conosco a clínica espiritual de autotratamento com as faculdades da ação e da criatividade ao nosso dispor.
*
Quanto estejas desse modo no recanto da angústia, se experimentas a fadiga sem causa, trabalha mais e, se trabalhando mais sentires a presença do cansaço compreensível e justo, procura o repouso indispensável ao preciso refazimento e recobrarás as próprias forças a fim de trabalhar e servir mais ainda
a b
05 - Notícias de Bezerra
Irmão X
Conta-se que Bezerra de Menezes, o denotado apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando tristemente quando à maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo.
Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências de natureza material.
Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos, proteção a documentários diversos, propriedades e promoções.
Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido à consolação dos infortunados, porém, fora na Terra um médico espírita e um homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais.
Por que motivo a convocação indébitas de seu nome em processos inconfessáveis? Não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior comunhão com o Senhor? Não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?
Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antonio, desencarnado em Pádua, no ano de 1231.
O herói admirável da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o solilóquio amargo.
Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-lo.
A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo.
O santuário, dedicado ao popular taumaturgo, regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava, sustentando a imagem de Jesus Menino.
O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembléia e o seareiro espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições.
Suplicava-se a Antonio casa e comida, dinheiro fácil e saliência política, matrimônio e proteção. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguição e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos.
O amigo e benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou, bem humorado, ao evangelizador brasileiro:-
_ Observaste atentamente? As petições são quase sempre as mesmas nos variados campos da fé. Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de cônego pelo burel dos frades... Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da vida secular ou na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo, ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje, entretanto, procuram-me através da oração, por meirinho comum ou por advogado casamenteiro...
E, por que Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu?
_ Nosso problema, no entanto, é o de instruir sem desanimar. Jesus no monte sentiu extrema compaixão pela turba desvairada, alimentando-lhe o corpo e clareando-lhe a alma obscura...
Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra. Num círculo de oração, organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado.
Antonio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:-
_ Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo.
Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim, que não bastaria lamentar a atitude dos companheiros invigilantes, mas auxilia-los com todo amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.
a b
06 - Código Divino
Bezerra de Menezes
Outrora, os mártires sofreram nos circos para doar ao mundo a Bênção da Revelação.
Através de fogueiras e sacrifícios, traçaram um roteiro de luz para o mundo paganizado.
Em seguida, quando as trevas da Idade Média consagravam a autocracia do poder, os cristãos livres experimentaram a perseguição, a morte e o anátema para restaurarem a senda luminosa, conferindo à Terra as Luzes da Verdade.
Hoje, porém, meus amigos, os seguidores do Mestre Divino, irmanados em torno da cruz redentora, foram chamados à doação da Fraternidade às criaturas.
Amparados pela evolução dos códigos que se tocaram das claridades sublimes da Boa Nova, através dos séculos, desfrutam de liberdade relativa pra concretizarem a divina missão de que foram cometidos.
Antigamente, dolorosa renunciação era exigida aos companheiros do Mestre Nazareno, de fora para dentro; agora, no entanto, é a luta renovadora do santuário íntimo para o mundo externo.
Não é o circo do martírio que esse abre não na praça pública, nem a fogueira dos autos-de-fé, instalada dentro de povos livres e robustos em nome das confissões religiosas.
Atualidade reclama corações consagrados ao Senhor na esfera de si mesmos.
A fraternidades constituir-nós-á abençoado colima de trabalho e realização, dentro do Espiritismo Evangélico, ou permaneceremos na mesma expectação inoperante do princípio quando o material divino da Revelação e da Verdade não encontrava acesso em nossos espíritos irredimidos.
Formemos não somente grupos de indagação intelectual ou de crítica nem sempre construtiva, mas, sobretudo, ergamos um templo interior à bondade, porque sem espírito de amor todas as nossas obras falham na base, ameaçadas pela vaga incessante que caracteriza o campo falível das formas transitórias.
“Amemo-nos uns aos outros,” segundo a palavra do Mestre que nos reúne, sem desarmonia, sem discussões ruinosas, sem desinteligências destrutivas, sem perda de tempo nos comentários vagos e inoportunos, amparando-nos, reciprocamente, pelo trabalho, pela tolerância salvadora, pela fé viva e imperecível.
Se nos encontramos realmente empenhados no Espiritismo que melhora e regenera, que eclarece e redime, que salva e ilumina, sob a égide de Jesus, recordemos a palavra do Código Divino, para vive-las na acústica de nossa alma, seguindo o Senhor em Sua exemplificação de sacrifício, de solidariedade e de amor: _ “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”; “ninguém irá até o Pai senão por Mim”.
a b
07 - Irmãos, Lembramo-nos Sempre que o Espiritismo
Emmanuel
Outrora, os mártires sofreram nos circos para doar ao mundo a Bênção da Revelação.
Visto, pode se somente fenômeno;
Ouvido, pode ser apenas consolação;
Vitorioso, pode ser somente festividade;
Estudado, pode ser apenas escola;
discutido, poder ser somente sectarismo;
interpretado, pode ser apenas teoria;
propagado, pode ser somente movimentado;
sistematizado, pode ser apenas filosofia;
observado, pode ser somente ciência;
meditado, pode ser apenas doutrina;
sentido, pode ser somente crença.
Não nos esqueçamos, porém, de que Espiritismo aplicado, é VIDA ETERNA com Eterna Libertação.
A codificação trouxe ao mundo uma chave generosa, cuja utilidade se adapta a numerosas portas. Escolhamos com o Apóstolo, que hoje recordamos, o caminho da aplicação.
Trabalho, Solidariedade, Tolerância.
De coração elevado a Jesus, não temos por agora divisa mais nobre a recordar. Vivei-a na fé consoladora. Espiritismo é Sol. Brilhai na sua Luz.
a b
08 - A Árvore do Tempo
Irmão X
Quando o Anjo da Morte cumpriu suas atribuições junto aos primeiros homens que habitavam a Terra, houve grande revolta entre os que eram separados da vestimenta material. O generoso missionário sentiu-se crivado de observações ingratas. No íntimo, as almas guardavam a certeza, relativamente às finalidades gloriosas de seus destinos. Todas haviam sido chamadas à existência para se elevarem ao Trono de Deus; entretanto, nenhuma se conformava com a própria situação.
Debalde o sábio mensageiro procurava lembrar o objetivo divino e esclarecer a excelência de sua cooperação. Os homens, porém, cobriam-no de impropérios, alegando os trabalhos incompletos que haviam deixado sobre a face do mundo. Uns recordavam as famílias ameaçadas sem a sua presença, outros comentavam as nobres intenções com que se atiravam na Terra aos serviços da evolução. E as lágrimas se confundiam com os gritos de desespero irremediável.
Acabrunhado pelos acontecimentos, o solícito missionário, como quem começa um serviço sem o conhecimento de toda a sua complexidade e extensão, suplicou ao Senhor o socorro de seu auxilio divino, de modo a fazer face à situação.
Foi por esse motivo que o Salvador veio al encontro da grande fileira de Espíritos infortunados, acercando-se de suas amarguras com a inesgotável generosidade e sabedoria de sempre.
_ Ah! Senhor _ exclamou um dos infelizes _ O Anjo da Morte nos reduziu à miserável condição de escravos sem esperanças. Sabemos que a nossa marcha se dirige ao Altíssimo; entretanto, fomos subtraídos ao laborioso esforço de preparação na Terra...
_ Existem, porém, outros planos à espera de vossas atividades _ esclareceu o interpelado com bondade carinhosa. _ O planeta terrestre não é o único santuário consagrado à vida. Além disso, o mensageiro da morte não é um tirano e sim um benfeitor que personifica a grande lei de renovação.
A essas palavras, todavia, a pequena turba avançou a reclamar lamentosamente, invocando as razões que a vinculavam ao mundo terreno.
_ Jamais me poderei separar dos filhos idolatrados _ dizia um velhinho de semblante inquieto _ não desejo marchar sem a afetuosa companhia deles! Não me submetais ao sacrifício insuportável da separação!
_ Meu esposo _ bradava uma pobre mulher _ clama por mim, dia e noite!... Meu estado de inquietação é angustioso!... Não creio que possa ser feliz, nem mesmo nas claridades do Paraíso!...
_ E minha fazenda? _ Ponderava ainda outro, em tom de súplica. _ Não permitais que meus trabalhos sejam interrompidos... Assim procedo, Senhor, em obediência ao dever de velar pelos patrimônios que me conferistes!...
_ Nunca julguei _ comentava um jovem, desesperadamente _ que o Anjo da Morte me roubasse o sonho do noivado, quase no instante de minha desejada ventura... Nada mais conservo em meus olhos, senão o derradeiro quadro de minha companheira a chorar... Não haverá compaixão no céu para uma aspiração justa e santa da Terra?...
Nesse instante, o Senhor entrou em grande meditação, mostrando triste o semblante. A pequena multidão continuou revelando o grau de seu desespero em rogativas dolorosas. Dando a entender pelo seu silêncio a importância e a complexidade das aquisições que os Espíritos da Terra necessitavam realizar, prosseguiu por largo tempo em serenas reflexões e, quando se aquietou o ânimo geral, em forte expectativa, tomou a palavra na assembléia e falou solenemente:
_ Conheço a extensão das vossas necessidades, mas não disponho de tempo para velar pessoalmente pela solução dos vossos problemas particulares, mesmo porque não sois os meus únicos tutelados. Se pretendesse convencer-vos pela palavra, não sairíamos, talvez, dos círculos escuros da contendas e, se desejasse acompanhar-vos, individualmente, nas experiências indispensáveis, teria de me acorrentar aos fluidos da Terra por milênios, descurando de outros deveres sagrados confiados ao meu coração por Nosso Pai! Estarei convosco, por todos os séculos, ligado perenemente ao vosso amor, mas não posso estacionar à maneira de um homem. Tenho de agir e trabalhar por todos, sem o capricho de amar somente a alguns.
A presente situação, porém, será remediada. Dar-vos-ei, doravante, a árvore bendita do tempo.
a b
09 - Anotação Necessária
Irmão X
Declara-se você extremamente surpreendido com o tratamento carinhoso que os amigos desencarnados dispensam a determinados amigos do mundo.
A acrescenta: _ “Aqui vemos uns homem de maus propósitos a quem vocês classificam por “meus querido irmão”, ali, notamos a presença de um ladrão medalhado a quem chamam “meu caro amigo” e, acolá, na raro, encontramos um malfeitor confesso, a quem se dirigem, usando as doces palavras “meu filho...”
“Será isto razoável? _ pergunta você, com desapontamento – não será encorajar a má fé e o crime? Por que não convidar semelhantes pessoas ao reconhecimento da nódoas e sombras que lhe afeiam a vida?”
Se você estivesse aqui conosco, no mundo da realidade maior, observaria, decerto, como é difícil manobrar a verdade. Não que a desestimemos, mas, porque a verdade, para nós, traz consigo, com a evidência dos fatos, a responsabilidade de enobrecer o caminho.
Não basta verificar se o fruto está sobre.
É preciso aproveitar a boa semente.
No turbilhão da carne, estreito à visão de superfície, desvaira-se o homem no julgamento insensato.
Aqui, no entanto, renovados pelo elixir do tempo e da morte, acalmam-se os impulsos.
Aprendemos a examinar os outros no espelho da própria consciência e, quase sempre, acabamos tal apreciação levantando os acusados do banco dos réus para aí nos sentarmos, em lugar deles.
Habituamo-nos, dessa forma, a definir uma criatura não através do momento desagradável que lhes compromete a transitória existência humana, mas, sim pelo conjunto das qualidades e realizações, esperanças e sonhos que lhes assinalam a marcha.
Muitas vezes, “os homens de maus propósitos”, “os ladrões medalhados” e os “malfeitores confessos”, de seu enunciado, não são o que parecem.
Em muitas circunstâncias, são doentes e obsediados, requisitando larga dose de paciência e carinho para tornarem a parecer o que são.
Se você sabe agradecer o prato que o sustenta, não desconhece que o lavrador foi constrangido a retirar com muita solicitude os vermes que infestam a lavoura, de modo a não prejudicar a colheita do grão substancioso que lhe supre a mesa.
Na experiência comum, dilaceração não é verdade construtiva, tanto quanto violência não significa progresso exato.
Há que se extirpar o tumor, usando anestésicos para que o doente não venha a morrer da cura.
Não ignoramos, porém, que há pessoas para as quais os chamamentos afetuosos não quadram corretamente.
Procuram o altar da fé, à maneira do animal astucioso ou inconsciente que busca a fonte conspurcando-lhe as águas.
Contudo, ainda assim, não será compreensível que os desencarnados assaquem contra eles insultos e palavrões.
Manda a cortesia que ninguém enlameie a frase com a baba venenosa da injúria.
Todos devemos algo à Lei Divina e a tolerância deve presidir-nos as manifestações uns para com os outros se não desejamos colaborar na extensão do inferno.
Ao demais, segundo admitimos, o trato ameno serve para auxiliar-nos o reajuste próprio.
Recolhendo a consideração respeitosa dos outros, aprendemos a respeitar-nos.
Nesse sentido, há uma lenda indiana que nos vem à memória.
Certo malfeitor, após grande furto, passou a descansar sob árvore veneranda. Procurado por diversas criaturas de sentimento nobre, que se dispunham a aprisiona-lo, ei-lo que toma a atitude de um santo, fingindo-se em profunda meditação. Velhos e jovens que o encontram em semelhante postura, interpretam-no à conta de um mensageiro divino e oram junto dele, abençoando-lhe a presença e tranzendo-lhe leite e mel.
Envergonhado de si próprio, o infeliz reconheceu, em silêncio, que se era alvo de tanto apreço e de tamanho carinho simplesmente porque usara a máscara da virtude, com mais razão seria reverenciado e feliz, se procurasse a senda dos justos. E regenerou-se para sempre, consagrando-se à verdadeira comunhão com Deus.
Como vê, meu caro, um gesto amigo e uma frase bondosa conseguem muito, quando nos dispomos à melhoria da própria alma.
Não nos esqueçamos de que o próprio Jesus gastou liberalmente a caridade no contato conosco, os pecadores impenitentes da Terra.
E, ainda na última hora do martírio, nos tormentos da cruz, disse a um dos ladrões que o cercavam: _ “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso.”
Até hoje, ninguém sabe ao certo que foi fazer Dimas nas Alturas, mas há quem creia que apesar das palavras doces do Cristo, que lhe asseguram preciosos recursos de emenda na reencarnação necessária, o antigo salteador terá subido, preliminarmente, ao Céu para receber uma surra.
a b
10 - Bagatelas
André Luiz
O século é fruto dos dias.
O rio nasce da fonte oculta.
A árvore procede do embrião.
A linha é uma sucessão de pontos minúsculos.
A jornada de cem léguas origina de um passo.
O discurso mais nobre principia numa palavra.
O livro inicia-se com uma letra.
A mais bela sinfonia começa numa nota.
A seda mais delicada é uma congregação de fios.
De bagatelas é constituída a hora do homem.
Todavia, sem que venhamos a executar os pequeninos deveres, quais se fossem grandes, jamais alcançaremos as grandes realizações com a simplicidade que nos deve assinalar o caminho.
a b
11 - Síntese Num Programa
Nina
Meus amigos, continuemos intergrados na realização do bem com Jesus, nosso Mestre e Senhor.
A atualidade, indiscutivelmente, reclama corações que resplandeçam, na Casa da Humanidade, por lâmpadas de renúncia, a benefício da colheita de amor que o Espiritismo Evangélico nos oferece.
A boa vontade será nossa base sólida ou, em verdade, não alcançaremos os fins a quer nos propomos, dentro da ordem de trabalho que a Boa Nova nos impõe, a serviço de nossa própria libertação espiritual, na Terra regenerada.
Teçamos os fios da solidariedade legítima, concretizando os princípios que abraçamos, abrindo novas rotas de elevação.
Servir sem preocupação de recompensa.
Esperar no Senhor, agindo incessantemente, em favor do Evangelho na Terra.
Minorar sofrimento e extinguir incompreensões.
Auxiliar sem distinção.
Nutrir as fontes do bem.
Amparar a extensão da luz.
Esclarecer fraternalmente.
Soerguer a fé.
Preparar o futuro com as lições do Cristo.
Iluminar consciências.
Renovar as bases da vida pelo Conhecimento Superior.
Irmanar corações.
Trabalhar constantemente pela melhoria de nós mesmos e do círculo em que evoluímos.
Amar-nos uns aos outros como Jesus nos amou.
Eis, irmãos, uma síntese num programa singelo pra o nosso ministério santificante.
Que a Bondade Divina nos auxilie a executa-lo a benefício de nossa redenção é o que deseja a irmã apagada e pequenina.
a b
12 - Na Educação Cristã
André Luiz
Preparada a terra e farás a sementeira.
Aduba o solo e terás a plantação.
Lavra a madeira e encontrarás a estátua divina.
Condiciona o barro e a argila dar-te-á o vaso.
Malha a bigorna e o ferro conferir-te-á benefícios.
Estuda e aprenderás.
Auxilia e colherás o auxilio.
Ampara e o suprimento do Céu responderá aos teus apelos.
Irmana-te com todos e todos te estenderão o concurso fraternal.
Ilumina os companheiros da retaguarda e os vanguardeiros do Amor alimentar-te-ão a lâmpada.
Produze bondade e estímulo em torno de teus passos e o incentivo do Mais Alto enriquecer-te-á o celeiro.
Acharás o que procuras.
Colherás o que semeias.
Eduquemos nos padrões de Jesus e o futuro será presidido pela realidade cristã.
Ensinar para o bem, através do pensamento, da palavra e do exemplo e salvar.
Em razão desta verdade o Senhor foi chamado o Divino Mestre, e, é ainda por isto que o Reino de Deus na Terra é obra de educação.
a b
13 - Vingança
Emmanuel
Vinga-te da ignorância, instruindo-a sem alarde e sem pretensão.
Retribui ao que te persegue com a prece do amor que compreende e auxilia sempre.
Responde ao mal com o bem.
Vinga-te das trevas, acendendo a verdadeira luz.
Retribui a maldição com a benção.
Responde à preguiça com o trabalho.
Auxilia ao que te prejudica.
Ampara ao que te abandona.
Lembra-te com bondade daqueles que te esqueceram.
Auxilia aos teus adversários.
Socorre aos que te ferem e caluniam.
Estende mãos amigas aos que te dilaceram.
O bom lavrador vinga-se da terra seca, adubando-a para que produza.
Jesus mostrou ao mundo o tipo de esforço ideal que realmente garante o amor que regenera sem ruído.
Retribui à inquietação dos carrascos com a generosidade do silêncio.
Responde à violência dos crucificadores com a graça de perdão.
Por abandonado e esquecido pelos discípulos mais amados, não se esquece deles, nosso Divino Mestre, e regressa do túmulo em gloriosa ressurreição, não para reclamações e lamentos, mas, sim para auxiliá-los, na redenção do mundo, até o fim dos séculos...
Se algum propósito de vingança te penetra o espírito, nas ocasiões escuras da Terra, comparece com ele à presença do Senhor, através da oração e Jesus te ensinará a praticar, em teu próprio benefício, a silenciosa e celeste reposta do amor.
a b
14 - Nós, Porém
Nina
Efetivamente, o caminho mais fácil para o homem do mundo é:
Seguir as normas estabelecidas;
Nada criar de útil;
Buscar as vantagens imediatas;
Estudar os lucros prováveis;
Selecionar as alegrias;
Colher preciosidades efêmeras;
Perseguir flores passageiras;
Entronizar a fantasia;
Aplaudir a mentira que lhe conquiste prazeres;
Descansar sempre;
Nada fazer no campo do sacrifício;
Prender-se às opiniões convencionais e perder o dia com absoluto desprestígio das Bênçãos Divinas que lhe conferiam a oportunidade da existência terrestre, para, no fim, encontrar-se com a morte do corpo, face a face.
Esse é o roteiro preferido pela maioria das criaturas.
Nós, porém, somos candidatos à Espiritualidade Superior e nosso domicílio não se fundamenta no solo da Terra.
Em nossas tarefas, somos compelidos a começar pela simplicidade da Manjedoura, escalar a montanha áspera do serviço e aguardar a partida através da Cruz.
Não esperemos outro caminho, senão aquele do Mestre Querido que buscamos.
Outra felicidade não interessa ao discípulo fiel e não podemos trair o mandato daquele Senhor, Justo e Amoroso, que nos elevou a preço de seu próprio sangue e de sua própria renúncia.
a b
15 - O Nascimento de Jesus
Irmão X
Rezam tradições do Mundo Espiritual que, anos antes da vinda de Jesus, Hilel, nascido em Babilônia, emigrou para a Palestina, a fim de aprimorar conhecimentos em torno da Tora.
Cercado de discípulos e famoso por haver criado um tipo de rabinismo notavelmente liberal, concomitantemente com as lições que ensinava referia-se, em reuniões íntimas, à próxima chegada do Senhor, para cumprimento das profecias. Em decorrência, aqui e ali, esfervilhavam comentários sobre os novos tempos.
As conversações particulares do patriarca, aliadas aos anseios do povo, suscitavam largos debates na vida palestinense, notadamente em Belém, para onde se voltavam todas as esperança, segundo o texto de Miqueia (1): “ e tu, Belém de Judá, não és assim tão pequena, porque de ti sairá o Guia de Israel, cujas origens se perdem nos dias da Eternidade.”
À vista disso, por muito tempo, antes do nascimento do Cristo, na bela cidade de David, as mais importantes famílias faziam orações e sacrifícios, a fim de receberem o Enviado.
Zabulon, o grande proprietário de terras, endereçava, de semana a semana, petitórias ao Céu, suplicando fosse o Mensageiro Sublime localizado entre os seus, a fim de oferecer-lhe lugar digno no carro da fortuna.
Gad, o negociante de sedas, implorava a Deus viesse o Orientador dos Séculos comungar-lhe o círculo da família, prometendo engaja-lo, desde cedo, entre os parentes prestigiosos, em função no Templo de Jerusalém.
Rubens, o criador de camelos, exortava as bênçãos do Eterno, a fim de que se lhe desse a graça de acolher o Messias no próprio lar, imaginando programas de exaltação para ele, a partir da meninice.
Jonas, o joalheiro dos joalheiros, prometia tesouros ao Santo dos Santos, em retribuição pelo aparecimento do Salvador em sua própria casa.
Ezequias, o rico fornecedor de cavalos, enviava petições incenssantes ao Senhor dos Exércitos, instando para que o Excelso Emissário lhe fosse entregue no berço, de maneira a orienta-lo para a libertação política de sua gente.
Os mais estranhos requerimentos subiam à consideração do Todo Misericordioso.
Planeava-se o futuro do Messias, de vários modos.
Para uns, deveria ele formar entre os maiores orientadores rabínicos de seu tempo, para outros, era certo que tomaria as rédeas do poder, a fim de restituir a Israel a independência esperada, para outros e outros ainda, assumiria a autoridade da cultura e do ouro, fazendo-se invencível comandante de legiões.
Acumulavam-se os projetos pessoais dos poderosos do mundo para Aquele que chegaria na condição de Interventor Celeste...
Dizem que o Pai Supremo estudou longamente os desencontrados apelos que lhe eram endereçados e, conquanto permitiste, confiantemente, que José e Maria sofressem pesadas humilhações na chegada a Belém, determinou que Jesus Cristo nascesse ao pé dos animais, num leito de chão, desvinculado de todos os compromissos da Terra, para que a revelação da Eterna Verdade não ficasse escravizada a ninguém.
(1) Miquéias, 5:2
a b
16 - À Discípula
Nena
Às irmãs da Escola Jesus Cristo
No tempo de Jesus, ao pé do Tiberíades, havia uma mulher humilde e pobre, que havia conhecido o Senhor e se fizera sua amiga devotada, nas horas mais amargas de sua passagem pela Terra.
Conheciam-na como a Discípula de Jesus, vivendo das recordações carinhosas e ternas do Cordeiro.
O Mestre havia expirado na Cruz, seu apóstolos haviam se dispersado no mundo e a Galiléia era, agora, um deserto verde, cheio de sol, onde o lago famoso era uma taça de lágrimas cristalinas, vertida pela natureza, em memória d’Aquele que lhe preferia os encantos singelos, distante das vaidades materiais.
A Discípula, porém, amava ao Messias e estava ali para servi-lo, com a sua dedicação. Peregrinos de longe batiam-lhe à choupana agreste, aberta constantemente às criancinhas e aos desamparados da sorte, com quem repartia o pão minguado de sua existência honesta.
Se as provas eram amargas, Jesus era a claridade confortadora de sua vida.
Anos passaram.
Na sua região, a Discípula era um símbolo de humildade e de trabalho, de caridade e de alegria.
Certa tarde, a filha da Galiléia abandonada sentou-se ao pe de seu casebre triste.
Seu coração, cansado de bater, recordava na sombra as lições do Messias.
Era a hora em que a natureza se aquietava, como ovelhinha mansa, para lhe ouvir a palavra tocada de suava mistério.
Parecia-lhe rever o Senhor, junto do lago extenso. Sentia-se em retorno à mocidade distante e inclinava-se ante a Sua figura Inesquecível.
Em dado instante, contudo, um leve ruído despertou-a. Aproximava-se um mendigo. As sombras do crepúsculo não lhe permitiram divisar seus traços fisionômicos mas, os peregrinos eram tantos, que não constituía surpresa recebe-los, no seu pouso singelo, em todos os instantes do dia.
_ Entra irmão! _ Exclamou a serva de Jesus, com um sorriso bondoso.
O mendigo penetrou o humbral, abençoando-a com um olhar de luz, que brilhava entre os trapos de sua vestidura como uma estrela divina.
A Discípula deu-lhe pão e um tapete humilde para o repouso das chagas dolorosas que lhe sangravam o corpo, encorajou-o com palavras de bondade e lhe falou das bem-aventuranças que o Evangelho do Senhor prometera aos mansos e aos aflitos.
O peregrino escutou-a com atenção.
_ Vives só? _ Perguntou ele, com inflexão de ternura.
_ Vivo com Jesus! _ Respondeu a serva do Senhor, com humildade.
_ E não tens ninguém no mundo?
_ Quem vive na fé do Messias Nazareno trabalha e espera em Sua Bondade, com profunda alegria.
_ Nunca recebeste as felicidades da Terra?
_ Nunca, porque espero as do Céu, onde Jesus nos promete as venturas eternas do Seu Reino.
_ E tens fé?
_ Sim, porque pelo Senhor troquei todas as alegrias materiais.
O mendigo observou-a em silêncio, como se, agora, estivesse absorvido em longas meditações.
_ Tenho sede! _ Disse ele, em tom de rogativa.
A Discípula lhe trouxe a água clara e fresca do cântaro.
_ Doem-me as chagas pela caminhada penosa!... _ Gemeu o peregrino suplicante.
A Discípula preparou um vaso de água limpa para lavar-lhe as úlceras dolorosas. Sua casa, porém, era paupérrima e não teria uma toalha conveniente para a operação necessária. Mas, de repente, lembrou-se que, um dia, observara Madalena enxugando os pés do Senhor com os anéis dos seus cabelos.
Por que não faria o mesmo com o desventurado do caminho? Jesus não recolhera todos os pobres e desventurados da sorte sobre o mundo?
Sem hesitar, depois de banhar-lhe as chagas sangrentas e doloridas, enxugou-lhe os pés com a toalha de seus cabelos abundantes, mas, nesse momento, observou que as úlceras do mendigo tinham sinal dos cravos da cruz!... Surpreendida, levantou o olhar, mas não viu mais o peregrino triste e esfarrapado... Á sua frente, Jesus de Nazaré lhe estendia os braços amorosos, aureolado na luz de Sua Majestade Divina.
_ Mestre!... _ Exclamou a serva humilde, embriagada de júbilo, com a mais forte das emoções a estrangular-lhe o peito oprimido.
_ Vem, filha!... _ Exclamou o Senhor, amparando-a nos braços cariciosos, com o Seu divino sorriso.
A Discípula sentiu que a transportavam a um país misterioso e sublime, onde o seu coração aliviado experimentava o beijo singular de todas as harmonias.
A Galiléia minúscula era pequenina demais para conter os júbilos de sua alma, no perfumado caminho, desdobrado no azul do Infinito, ante o sorriso doce das primeiras estrelas que fulgiam no fundo do firmamento sem fim.
No dia seguinte, em vão, chamava-se a serva de Deus, no seu tugúrio desalentado, e ante o seu cadáver singelo que sorria serenamente, compreendeu-se que a Discípula, conduzida por Jesus, havia partido para as Alegrias Eternas de Seu Reino.
a b
17 - No Serviço do Senhor
Emmanuel
Não basta, meus amigos, converter o Espiritismo num aparelhamento complexo de afirmações doutrinárias para realizarmos a tarefa conferida às nossas mãos nos tempos que ocorrem.
Não basta enfileirar princípios e amontoar teses complicadas no campo da ciência, da filosofia, da religião.
É indispensável viver a Espiritualidade Maior, portas adentro da luta a que fomos chamados.
Não nos encontramos, desencarnados e encarnados, a serviço de programas verbalísticos, de plataformas e promessas sem expressão substancial.
Lamentável seria se fôssemos convocados à mera criação de processos dogmáticos, organizando novos movimentos de separatividade.
O Espiritismo que no reúne os corações e as energias é iniciativa libertadora de consciências.
Nosso lema, ainda e sempre, é aquele novo mandamento do “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
A escola doutrinária está repleta de instrutores e servos, de mordomos e trabalhadores incontáveis, entretanto, Jesus é, acima de tudo, o nosso Mestre Divino.
Não temos, desse modo, outra fonte de lições, outro manancial de princípios fundamentais.
Compete-nos, tão somente, aliar sentimentos e raciocínios, movimentando as nossas mãos a serviço do Supremo Bem.
Descuidados e felizes no refúgio de vossas possibilidades individuais, limitados à esfera imediata onde situais vossas esperanças do momento, mal percebeis a onda renovadora que vos ameaça, tempestuosa e violenta.
O materialismo dissolve os mais sublimes sacrifícios que a Espiritualidade levantou na crosta do mundo.
Subterrânea guerra de ideologias eleva-se em todos os setores da evolução social e doméstica.
Atritos gigantescos, no domínio do pensamento, trazem perspectivas de soçobro, de angústia e crise.
De mãos sangrando ainda, da luta em que perdeu patrimônios sublimes da civilização, a humanidade não ensarilhou as armas do ódio, da vingança, do despotismo.
Nossas palavras permanecem aquém dos mínimos conceitos da realidade moderna.
Entretanto, é neste minuto atormentado que somos trazidos à arena dos princípios, para consagrar-nos à reconstrução do templo sagrado do Espírito.
Não vos iludais. Trabalho enorme aguarda-nos as mão na sementeira de amor cristão, da fé viva e da concórdia.
Não fomos convocados em vão ao movimento libertador.
E, enquanto o intelectualismo da Terra faz o serviço de inteligência dos partidos e da política simplesmente humano, levaremos a efeito o serviço do amor de Jesus, convictos, porém, de que semelhante tarefa exige esforço, sacrifício e renunciação.
Para a execução dessa tarefa salvadora unamo-nos em torno da paz espiritual que semeia com o Cristo para a eternidade.
Certamente seremos defrontados por pedra e lama, espinhos e trevas.
A incompreensão sempre se mantém a postos para destruir os realizadores da Verdade Suprema e do Infinito Bem.
Todavia, irmanados, no templo da Revelação Nova, onde o nosso cântico de adoração é o hino do trabalho incessante, constituiremos com o Mestre Divino aquele “Sal da Terra”, destinado a condimentar a alegria de viver.
Não nos descuidemos no setor de luta onde fomos colocados pelos Supremos Desígnios e firmes no ideal de servir em nome do Senhor, esperemos em sua misericórdia, cooperando no bem e ensinando a verdade, acendendo a luz da esperança e destruindo as sombras do mal, enriquecendo o Céu do novo entendimento e esvaziando o inferno da ignorância, confiantes na Bondade do Supremo Senhor, para cuja Sabedoria Infinita até os cabelos de nossa cabeça estão contados.
a b
18 - Trabalho e Caridade
Claudino Dias
Meus amigos, que o Senhor nos reúna em sua paz.
Comove-me, sobremaneira, a oportunidade de falar-vos, igualmente, nesta noite, rica de emoção e alegria pra nós todos que nos harmonizamos nesta casa de amor cristão na sementeira do Evangelho simples e puro.
Que dizer-nos de nossa expectativa, de nossa esperança? O tempo voa apressado e a luta modifica os aspectos da experiência humana, entretanto, os nossos interesses afetivos da alma são os mesmos.
Guardamos no coração o programa de aperfeiçoamento da primeira hora, programa que se estende além do túmulo, compelindo-nos a ingente serviço de aplicação com o Divino Mestre.
Ah! Se pudesse, meus irmãos, descerrar-vos o véu que vos oculta a verdadeira visão da Vida Imperecível. Não obstante todos os conhecimentos amealhados por minha pequenina inteligência e por meu obscuro coração, a passagem no rumo da Vida Nova me impôs intraduzível reajustamento não no capítulo das convicções, mas, no setor da ação pessoal no aprimoramento íntimo.
Compreendi, aqui, com mais clareza, que Espiritismo sem caridade e sem trabalho é ruinoso esquecimento dos benefícios recebidos do alto, traduzindo endurecimento e ingratidão.
É imprescindível mover nossa mente no espírito de serviço e santificar o coração no amor com que nos cabe empenhar todas as energias no bem aos semelhantes.
Todos vós que me ouvis, companheiros de luta e alegria, irmãos de muitas jornadas na Terra, despertemos nossas forças para a obra individual que o Senhor espera de nosso concurso em sua colheita de amos e luz.
Não aguardemos alheia colaboração, situando alma e pensamento, coração e cérebro nesse abençoado esforço de estender o Tesouro das Bênçãos que nos foi conferido, irradiando de nós mesmos a paz e a bondade, a fraternidade e a regeneração.
Estreito é o caminho de acesso ás Fontes Superiores e curto é o tempo de experiência construtiva no corpo.
O tempo é o campo sublime que não devemos menosprezar.
Atualmente, em nossa condição de desencarnados, para vós outros não passamos de sentinelas, cujo único mérito é o de percalços da senda que nos compete percorrer.
Muita gente acredita, exclusivamente, no conselho de si própria, entretanto, os que sofreram conhecem o caminho com mais precisão e é por isto que nos oferecemos ao serviço de doutrinas espiritual, acreditando que nos relevareis a boa vontade.
Grande, em verdade, é o nosso júbilo identificando-vos os propósitos elevados na direção do Reino Divino, observando o cuidado com que vos consagrais à Obra do Mestre Compassivo e Inesquecível, acompanhando-vos as realizações, a benefício do bem estar coletivo, inspirados pelo Espiritismo Cristão em que nos irmanamos; entretanto, meus amigos, é indispensável cresçamos mais intensamente na academia da Espiritualidade Superior, dentro da qual os discípulos são, eles mesmos, os livros vivos do Infinito Bem, invariavelmente prontos a expressarem nas próprias vidas mensagem de Jesus, sem reclamar recompensa, sem contar lágrimas, sem alinhavar queixas, sem intemperança mental, porquanto não ignoram que uma Justiça Soberana e Salvadora segue, de perto, as lutas de cada aprendiz, ajustando-as aos glorioso imperativos da Lei que manda Conferir a cada homem o resultado vivo de suas obras.
Unamo-nos mais extensamente na doutrina operante e regeneradora.
O trabalho movimenta,
A caridade guia.
O trabalho renova,
A caridade ilumina.
O trabalho instrui,
A caridade educa.
O trabalho modifica,
A caridade socorre.
O trabalho esclarece,
A caridade santifica.
O trabalho alimenta,
A caridade abençoa.
Com o trabalho o homem se engrandece.
Com a caridade o homem se eleva para o Senhor.
Sem trabalho e sem caridade, cada dia, cada hora, cada minuto da vida, não nos aprimoraremos nos santuário que penetramos à procura de amparo e consolação.
Libertemo-nos das forças entorpecentes da inércia espiritual, combatendo-as com duplicado fervor.
Com semelhantes afirmativas, meus amigos muito amados, não desejamos senão impulsionar-vos, com mais calor, para a frente em direção ao Mais Alto.
Aqui se encontram comigo nossos irmãos Franco, Ferreira, Lima e muitos outros que nunca se cansarão de colaborar pelo engrandecimento e prosperidade de nosso querido Grêmio.
Estamos juntos e Jesus Permanece conosco.
Nesta convicção de fraternidade e fé vivificante que mal poderemos temer?
Entrelacemos nossos braços e corações, confiantes no Mestre, em nós mesmos e avancemos, robustos na esperança, diligentes na ação e edificados no dever bem cumprido.
A consciência reta é o nosso templo sublime.
Aí dentro, neste templo vivo de nossa experiência no eterno caminho, aprendamos a amar-nos, sinceramente, uns aos outros e o Senhor nos abençoará para sempre.
E recebereis, com a tolerância e a bondade que vos caracterizam, um abraço fraternal do humilde servidor reconhecido.
a b
19 - Sementeira
André Luiz
Abre-se a floresta até antão intransitável e densa.
Definem-se dificuldades, pântanos, espinheiros...
O semeador, porém, não se confia ao desânimo.
Traça Planos.
Ataca o serviço.
Realiza o milagre.
De início, é o desbravar.
Em seguida, surgem os imperativos de preparação do solo e de seleção dos recursos.
A cova minúscula e escura recebe a semente pequenina, que perde os envoltórios com a colaboração do tempo.
Só então, é possível a promessa do grelo tenro.
Todavia, não param aí os desvelos e as vigílias do semeador.
Hoje, é necessário proteger a plantinha frágil contra o esmagamento; amanhã, é imprescindível furta-la ao assédio dos vermes destruidores.
Agora, pede a lavoura iniciante adequada medida contra a canícula rigorosa; depois, reclama providências que a salvem do aguaceiro.
A fronde, a flor e o fruto representam, no entanto, o precioso prêmio.
Assim também, é a sementeira espiritual.
Nas profundezas da mente inculta caem os princípios da Divina Sabedoria.
Ninguém exija, contudo, o resultado absoluto num instante.
Quantos séculos teremos dispendido, na formação da selva de nossos instintos e de nossos caprichos obscuros?
O serviço de adaptação e educação reclama tempo e paciência para que a colheita do conhecimento e do amor, em cada alma, enriqueça os celeiros da Terra.
Não esperemos que o nosso companheiro de experiência nos ofereça a perfeição impraticável de um momento para outro.
Se procuramos o Cristo, gravemos as lições d’Ele, em nós mesmos, antes de impô-las aos semelhantes.
Adubemos o solo dos corações com a luz do bom exemplo, com a bênção da fraternidade, com flor do estímulo e com o silêncio da compreensão.
Não firamos, onde não possamos auxiliar.
O Sol resplandece sem palavras, curando as chagas do Planeta.
A fonte rola contando, sem acusações, colada ao dorso da Terra.
O vento fecunda a natureza, sem exigências.
Amemos sempre.
O coração que se devota à fraternidade não usa o poder do verbo para denegrir ou dilacerar.
Passemos auxiliando.
Compadeçamo-nos do cardo que ainda conserva aguçados acúleos.
Compadeçamo-nos das ervas envenenadas, que ainda não conseguiram modificar a própria seiva.
Compadeçamo-nos das árvores infelizes, cujos galhos ressecaram pela pobreza do ambiente em que nasceram.
A senda é longa.
A romagem solicita o esforço das horas incessantes.
Sigamos improvisando o bem, por onde passarmos.
Guarde a nossa luta a sublime experiência do semeador.
Compreendamos o cipoal, auxiliemos o chão duro do destino e aproveitemos a lama da estrada para o bem geral, projetando na terra das almas as sementes benditas que o Mestre nos confiou.
E, esperemos o tempo, de vez que o tempo é o patrimônio da Divina bondade que na esteira dos dias, dos anos e dos séculos, nos oferecerá sempre à colheita de nossa vida, segundo as nossas próprias obras.
a b
20 - Segundo Pensamos
André Luiz
Cada consciência é um centro gerador de forças no movimento universal, cuja direção depende de si mesma.
Pensar é criar.
O destino recebe a forma que lhe impusermos, à maneira do vaso que exprime a imaginação do oleiro.
A palavra vem depois da idéia.
A ação é cimento invisível.
A obra é pensamento coagulado.
Renovar o mente no trabalho incessante do bem, cunhando valores positivos, ao redor de nós mesmos, é estabelecer roteiros sempre novos para a vanguarda evolutiva.
O espírito, herdeiro divino do Supremo Senhor, traz consigo todas as sementes do Céu para engrandecer a Terra.
Unidade atuante, irradias-se, através de mil modos, gozando ou sofrendo, em seu cosmo orgânico, a benção ou a reação das energias que projeta e que o elevam ou convulsionam, de acordo com a intensidade dinâmica que lhes é característica.
Cultiva a tua mente, iluminando-a e enobrecendo-a.
Ainda que, por agora, não percebas, a tua alma se expande, em milhões de partículas, que são os agentes de libertação ou de cativeiro elaborados por teu próprio plano mental.
Avança, escolhendo a “melhor aparte”.
Diante do sofrimento e da morte, afirmou o Mestre, certa vez: _ “Não temas, crê somente.”
Segundo pensarmos, assim será.
a b
fim