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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Fotos da Vida-Francisco Cândido Xavier-Augusto Cezar

 

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Fotos da Vida

Chico Xavier

Augusto Cezar

Ambição

Era noite.

O mentor Silvério Pires recomendou-me esperá-lo por instantes.

Em seguida, veio a mim explicando:

Augusto, temos serviço urgente. Venha comigo. Trata-se de um pedido de mãe devotada, em apoio de um filho enfermo.

Obedeci, de imediato, mesmo porque o orientador é um desses professores diletos a que nos vinculamos por afetuoso reconhecimento.

Alguns minutos voaram e atingimos um palacete de primorosa estrutura, cercado por jardins que brilhavam ao luar, dentro da noite.

Entramos.

O mentor parecia familiarizado com os mínimos recantos do solar, enriquecido de tapetes e telas raras.

Em aposento próximo, mobiliado segundo os hábitos portugueses do século XVIII, um homem, aparentando cinqüenta janeiros, escrevia e escrevia...

Porque estacássemos, de repente, perguntei surpreso ao meu condutor:

- Onde está o doente?

O amigo fez um gesto de proteção, sobre a cabeça do homem que me era desconhecido e acentuou:

- Este é o irmão Celestino que nos requisita assistência.

Fitei o desconhecido, da cabeça aos pés e não lhe notei qualquer anormalidade.

Entretanto, o mentor solicitou-me:

- Tome papel e lápis e copie a carta em andamento.Trata-se de um estudo que nos cabe fazer.

Sem vacilar, passei a escrever o texto que o desconhecido produzia à nossa frente.

Era uma carta que ele provavelmente endereçava a algum irmão distante, e assim dizia:

"Meu caro Aprígio:

Segure os cinqüenta mil sacos de arroz no armazém número dois e aguardemos mais preço. Os dez mil litros de óleo para cozinha, mantenha você em estoque e os dois mil sacos de café em grão guarde no armazém quatro. Não venda bulhufas. Mais algumas semanas e estaremos numa boa. Tudo isso terá preços altos, nos próximos dias.

E olhe: Não dê migalha alguma a ninguém. Religiosos têm vindo aqui a me pedir socorro. Dizem que os tutelados deles estão em carência. Até freiras já vieram aqui com petitórios. Não atenda a ninguém se você for procurado. Esse negócio de religião e caridade já era. Um certo amigo chegou a me dizer que a minha fazenda pela qual suei tanto, pertence a Deus e a mim, que eu não passo de sócio. Eu queria que esse maluco visse os meus terrenos quando Deus estava aqui trabalhando sozinho. Era mato e cobras em toda parte. Fique tranqüilo e nada de coração mole. Espero estar aí na próxima semana.

Até quinta-feira.

Um abraço do seu irmão

Celestino"

Celestino, pois esse era o nome de nosso anfitrião, colocou a caneta em lugar adequado e, logo após, levou a mão ao peito. Gemia. Afigurava-se-me que ele sentia muita dor.

Em dado momento, pressionou o botão de uma campainha e estirou-se em larga poltrona.

Um servidor apareceu.

Celestino pediu um coronário-dilatador e a presença do seu médico particular.

O cardiologista surgiu com presteza e determinou a remoção do doente para um hospital.

Pires sentenciou:

- Devemos acompanhá-lo. Esta é a última noite de nosso amigo na vida física.

Internado, Celestino estava submetido a minuciosos exames.

Silvério se dispôs à retirada e disse-me simplesmente;

- Veja você. Tanta ambição e dentro de poucas horas o nosso amigo estará desencarnado, sob a suspeita de enfarte. Amanhã viremos buscá-lo.

Nada mais acrescentou e eu fiquei a meditar sobre a lição recebida.

Cobiça

Ataliba Gouveia, aos trinta e dois janeiros, fizera-se ativo homem de negócios, especializando-se no comércio de drogas.

Contratava farmacêuticos zelosos e seguros, cercava-se de cooperadores amigos e acabava de comprar um estabelecimento em movimentada esquina de cidade grande.

Estimava agora varar as tardes, na farmácia nova, ouvindo companheiros ou seguindo os movimentos apressados do povo.

- Muito bem, Ataliba, você fez uma aquisição excelente.

A nova vinha de Neca Fragoso, amigo de muito tempo que o visitava.

Depois do abraço cordial, veio o diálogo aberto.

- É isso – confirmou o proprietário – as condições favoreciam e não vacilei.

-Ótimo ponto! – observou o interlocutor.

-Embora a intromissão de pedestres, a situação do estabelecimento me satisfaz.

- Dizem que essa esquina é perigosa – acentuou Fragoso com seriedade – muitos desastres por aqui, mormente com motoristas afoitos.

- Sabemos, mas o sinaleiro está perto.

E Ataliba continuou:

- Já estamos aqui, há dois meses e, diante de carros batidos, com pessoas nervosas, exibindo escoriações, instalei um ambulatório para serviços de emergência. Aliás, temos dois médicos amigos no prédio ao lado...

- Muito bem –tornou o amigo – a sua idéia foi bem inspirada. Um ambulatório é um recanto providencial para socorro e caridade.

Ataliba fez um sorriso irônico e ajuntou:

- Caridade? Isso é que não. Aqui, qualquer serviço é no dinheiro vivo. Beneficência em esquina de luxo não dá pé. Tenho trabalhado sem descanso e, além disso estou casado,tenho um filho, a conta cinco anos. E ele não conhecerá as dificuldades que atravessei na meninice. Trabalho à maneira do burro, sob cangalha pesada, mas ao pensar que meu filho crescerá rico e feliz, consolo-me das canseiras. Não temos atividade gratuita. E se qualquer pessoa surgir aqui em necessidade, sem dinheiro, que vá bater noutra freguesia.

A noite descerra apresada.

Fazia frio.

O relógio marcava dez minutos para as sete.

A conversação entre os dois prosseguiu, quando uma senhora chegou espavorida, carregando uma criança nos braços.

- Senhor, - dirigiu-se a Ataliba, por indicação de um balconista - esta criança desgarrou-se da ama e correu pela rua afora... Vi quando foi atropelado por um carro que seguia em alta velocidade... Corri ao encontro do menino que gemia no chão. Enrolei-o em minha blusa, mas a cabecinha sangra muito e o corpo todo deve ter sérias contusões... Venho pedir socorro... Soube que o Senhor tem aqui um ambulatório...

-A senhora tem dinheiro suficiente para as despesas? – perguntou o proprietário com indiferença.

- Ah! Isso não...Sou arrumadeira e estava a caminho do ônibus para o meu bairro.

- Então passe bem, minha senhora. Não temos aqui serviços gratuitos.

- Senhor, tenha piedade! Creio que esta criança está quase morta... Estou agindo pelo coração... Em nome de Deus, rogo socorro... Não posso abandonar este menino infeliz... Eu também sou mãe de dois filhos pequenos que me esperam em casa...

E para melhorar a respiração do menino que lhe fizera imóvel nos braços, retirou-lhe do rosto o lenço ensangüentado com que tentava estancar-lhe o sangue da boca.

Ao contemplar a face triste da criança, agora morta, Ataliba Gouveia transfigurou-se.

Abraçado a Fragoso que acompanhava o realismo daquele quadro de dor, caiu em pranto a clamara para o companheiro:

- Fragoso!... Fragoso!... O que será de mim?!... Este é o meu filho...

Doações Tardias

Amigo, você nos solicita indicar o destino mais aconselhável para os seus bens, depois de sua libertação do corpo físico.

Indaga você:

"Se devo facear a sobrevivência, diga, por obséquio, qual o melhor modo de deixar os recursos que acumulei? Tenho algum dinheiro, ações em companhias diversas, terrenos vagos, dois sítios caprichosamente montados e alguns apartamentos para alugar. Será mais justo entregar esse patrimônio a determinados amigos, através de testamentos e recomendações especiais? Ou será mais razoável confiar meus bens a instituições de beneficência?".

A sua consulta nos falou ao coração e aqui estamos para a resposta possível, que você não é obrigado a aceitar.

Usufruindo a luz da prece, você mesmo obterá a inspiração dos benfeitores espirituais que o assistem, a fim de adotar a melhor conduta.

Esquecer o seu livre arbítrio, seria privá-lo da liberdade de escolha.

Entretanto, permitimo-nos recordar um episódio, que se perde nos acontecimentos históricos do segundo milênio que estamos terminando no mundo.

O rei de Bizâncio, Manuel I, da dinastia dos Commenos, mantinha os seus assessores e soldados numa guerra civil contra os persas, que se defendiam ardorosamente.

Na batalha última em que seus súditos encontraram pesada derrota, o próprio rei foi atingido no peito por fina lâmina ajustada à ponta de uma flecha. O sangue lhe jorrava do tórax, quando foi cautelosamente retirado da alimária que o servia; mas deposto no chão, eis que o soberano pressentiu a própria morte e encontrou forças para falar em voz alta:

"Companheiros e soldados amigos; temos vinte canastras na expedição, transportando ouro e prata, jóias e pedras preciosas, em quantidade suficiente para enriquecer-vos a todos. Retirai de minha armadura as chaves capazes de abri-las e apossai-vos de toda a riqueza que vos entrego por brinde de amizade e gratidão."

Num momento, as chaves trabalharam movendo as complicadas fechaduras e todo um montão de preciosidades surgiu aos olhos deslumbrados de todos os circunstantes.

O monarca estava agora inerte, chamado que foi ao reino da morte e aqueles que o seguiam passaram a partilhar da fortuna de que se reconheciam detentores.

Os inimigos, porém, se mantinham vigilantes e caíram sobre os vencidos e, em minutos breves, os herdeiros do rei acordaram para a realidade, sendo muitos deles degolados ou escravizados.

Nem um só dos companheiros do rei escapou do massacre ou da escravidão, enquanto que os adversários, além da vitória fácil, surrupiaram todos os bens que se lhe revelavam à vista.

Rogo-lhe atenção para este tópico da verdade histórica, para que observe quão difícil se faz a previsão, com respeito a benefícios marcados para depois da morte...

O rei Manuel I, que viajava conduzindo grande tesouro, efetivamente fez a doação de tudo quanto possuía, à frente da morte, com a desvantagem de colocar os amigos sob a ira dos adversários que os arrasaram e espoliaram à vontade, sobretudo para satisfazer os apetites de ambição e pilhagem de que se sentiam acometidos.

Em vista do exposto, se você deseja beneficiar pessoas ou instituições, não deixe as sua providências para depois, quando as suas riquezas entrarem no campo dos inventários, difíceis de serem deslindados.

Se o prezado amigo já despertou para a grandeza do bem aos semelhantes e quer fazer essa ou aquela doação, não deixe isso para amanhã. Faça isso agora.

Episódio em Caminho

A história não é nossa. É um fragmento do folclore dos primeiros amigos de Jesus, a fim de que observemos as dificuldades do Cristianismo nascente.

O Mestre, seguido por Simão Pedro, fora visitar alguns docentes nos arredores de Bethânia.

Os enfermos se multiplicavam pedindo-lhe socorro e a noite desceu sobre a região, coberta de nuvens densas. E era preciso voltar a Cafarnaum, onde Pedro mantinha a própria moradia.

Fosse pela jornada a pé ou pelas tarefas executadas, a verdade é que Jesus demonstrava grande cansaço. Pedro notou-lhe a fadiga e sustentou a marcha vagarosa, conquanto temendo as nuvens que se adensavam, prenunciando aguaceiro próximo.

Ao longe, no escuro da noite, os viajantes lobrigaram um ponto de luz.

Seria uma estalagem? Não lhes seria lícito tentar o refúgio por ali?

Para lá se dirigiram a passo lento.

Pedro, desenvolto bateu à porta e um homem rude atendeu.

Não, aquilo não era estalagem e sim uma casa isolada, mantida por jogadores de Sephoris, para distrações casuais.

Simão Pedro implorou abrigo para ele e o companheiro.

O áspero anfitrião voltou ao interior para consulta e retornou com a resposta.

Os chefes da casa somente dispunham de um leito largo, formado de almofadões.

Se os viajores aceitassem... poderiam descansar ali por uma noite.

Em vista da chuva iminente poderiam aceitar o oferecimento. Era somente para aquela noite difícil.

Jesus e Simão entraram, naturalmente acanhados.

Os jogadores tentavam a sorte, numa espécie de dados da atualidade, com grande alarido.

Os dois recém-chegados, porém, recolheram-se ao quarto onde se achavam os almofadões, com evidente humildade e dormiram quase que de imediato.

Depois de algumas horas, um dos homens de Sephoris exclamou com ênfase:

- Será que pusemos dois vagabundos dentro de casa?

- Serão ladrões? – perguntou um dos circunstantes.

Um mais afoito se adiantou:

- Apliquemos um surra em um deles, como advertência.

- Um deles, qual? – inquiriu um jovem presente.

Alegou um outro:

Arrastem para cá aquele que estiver à beira dos almofadões.

Esse era Simão que foi acordado com desrespeito e trazido à sala, em que dois dos anfitriões lhe aplicaram golpes de azorrague.

Simão tudo aceitou em silêncio e, após a inesperada agressão, regressou ao leito, onde choramingou, narrando a Jesus o sucedido.

- Conserva a paciência, Simão – pediu-lhe Jesus – a paciência é uma luz perante o Pai Celestial.

E, com muito cuidado, alojou Pedro no canto dos almofadões, onde o Mestre acreditava fosse o lugar mais acolhedor.

Pedro acomodou-se, Jesus veio para a beira da cama.

Decorridos alguns minutos, um dos jogadores reclamou:

- Com respeito a estes hóspedes, nossa medida não foi justa. Tragam o vagabundo que está no canto do leito para que se lhe apliquem algumas bastonadas. Não é razoável que a advertência seja dirigida a um só.

Simão foi arrancado, de novo, do recanto em que jazia e, embora gemendo, tomou várias bastonadas que lhe machucaram as pernas.

Voltou à cama, a lamuriar-se e Jesus lhe repetia:

- Simão, tenha paciência. A paciência é registrada nos Céus...

Pedro lamentando-se em voz baixa, nada respondeu.

Ao amanhecer pagaram pequena taxa a um moço de serviço e colocaram-se a caminho de Cafarnaum.

Jesus, procurando quebrar o silêncio, disse a Pedro que manquitolava penosamente:

- Simão, pense em nossos compromissos. Você foi agredido, apanhou e sofreu, mas é justamente assim que o Pai que está nos Céus, manda tratar os meus seguidores...

Simão lançou em Jesus um olhar estranho e falou com evidente desagrado:

- É por isso, Mestre, que vós os tendes poucos...

Esportes do Espírito

Prezado amigo.

Em resposta à sua indagação sobre os esportes e a Vida Espiritual serei breve com alguns apontamentos.

As atividades esportivas, no campo do Espírito, podem começar para qualquer um, na próxima existência terrestre.

Exemplos.

Aí mesmo na Terra, ser-nos-á possível praticar a ginástica dos pensamentos nobres contra as tentações de ordem inferior, utilizando a barra do silêncio.

A corrida até os lares infelizes, disputando-se os primeiros lugares no auxílio aos irmãos em penúria.

O salto sobre as ofensas, com o esquecimento do mal.

A natação no suor do trabalho.

O xadrez da reflexão, a fim de que se aprenda a raciocinar para o concurso da solução dos problemas domésticos.

A disciplina sistemática para abstenção dos alcoólicos e similares.

A contribuição possível, ajustada com segurança ao cesto da beneficência.

O treinamento da respiração que nos obrigue à calma, de modo a que se evite o agravo de discussões e antagonismos, onde estejamos.

O alpinismo do sacrifício para a conquista dos cimos da elevação.

Os remos do serviço que nos reequilibrem as próprias forças.

As excursões pacíficas que nos ensinem o endereço dos que sofrem, a fim de reconforta-los.

A limpeza da própria moradia com as melhores notas de higiene.

Qual você poderá observar, aí estão algumas regras para a iniciação.

E não podemos esquecer o nosso futebol das boas ações. Cada prestação de serviço ao próximo é um destaque a mais para o time a que você pertence.

Nessa base, temos diariamente as melhores oportunidades de exercício e competição.

É muito fácil reconhecer a nossa posição nos escores de qualquer um dos esportes do Espírito.

Se o assunto realmente nos interessa, todos os dias, ser-nos-á possível observar quem serve mais.

Feliz Dia das Mães

Querida Mãezinha.

Hoje deixei de lado o material do cronista anônimo que tenho sido, nem me interessei pela pena e pelo papel, de que me utilizo, a fim de escrever no endereço dos outros.

Sinto meu coração de tal modo ligado à lembrança do seu carinho, que não saberia gravar outros pensamentos que não sejam de saudade por viver aparentemente distante e de profunda alegria ao reconhecer que permaneço em sua própria alma, no aposento da memória...

Torno a encontrá-la em minha infância feliz.

Vejo-a ao lado de meu pai, dirigindo os serviços da casa, quando um garoto da Vila entra em correria para comunicar-lhe:

- Dona Yolanda, o Augusto quebrou a vidraça do vizinho, atirando uma pedra...

Relembro o seu olhar de vigilante amor, depois de perguntar-me:

- Você fez isso, Augusto?

Respondi:

- Eu não senhora.

Volto a escutar as suas palavras, dirigindo-se ao mensageiro:

- Saia daqui, mentiroso! Meu filho não é moleque. Pobre criança! Esteve estudando, pela manhã inteira!...

E fazendo um gesto expressivo, deu a ordem definitiva ao pequeno intruso:

- Saia daqui de uma vez...

O colega de brincadeira se afastou de imediato.

Então, comecei a chorar.

Lembrava-me de haver atirado a pedra à janela do vizinho, mas não sabia que violentara a vidraça.

Corri para o seu lado e coloquei a cabeça em seu colo, tentando enxugar as lágrimas.

Acontece que você, com a intuição das mães, penetrou nos meus recônditos pensamento, admitindo a minha culpa provável, e, afagando-me os cabelos, acrescentou com carinho:

Seja o que for que haja acontecido, não chore mais. Aqui estou, meu filho, para defender você!...

O quadro se me fixou nas reminiscências e o carro da vida avançou nas rodovias do tempo.

Alcancei a juventude, abraçando o esporte e as festas sociais.

Você, porém, nunca me censurou as decisões e nem me reprovou as companhias.

Vivíamos no clima da felicidade, quando a força da vida me parou o coração, estabelecendo a distância entre nós.

A morte!... Ah, Mãezinha, quem resistirá a esse estranho poder?

Creio que a saudade que passou a empolgar-me, era a mesma que lhe apunhalou o coração.

Trabalhamos nós dois, ferozmente, construindo o túnel para o reencontro, até que chegou o dia em que lhe pude falar da vida imperecível.

Começaram nossos diálogos, de coração para coração, e consegui transmitir-lhe as minhas impressões, quanto ao amparo e carinho que devíamos aos filhos de outras mães, segregadas nas linhas da penúria. Roguei o seu apoio, em favor delas, nossas irmãs desvalidas e busquei segui-la, quando a vi, abandonando o conforto de nossa casa para se colocar, ao encontro dos sofredores, acreditando em minhas palavras nas quais pusera tanto empenho.

Seguimos juntos e, com a cooperação das companheiras que lhe consagram especial estima, descobrimos os lares sem lume, o refúgio de criaturas consideradas perdidas, as viúvas relegadas ao esquecimento, as mães sofredoras e os enfermos sem ninguém...

Iniciamos os serviços em que você me fez o mais feliz de todos os filhos, reconhecendo em todas as crianças necessitadas de amor, os companheiros que Jesus nos deixou, especialmente consagrados à nossa atenção e carinho.

É por isso que considero o Dia das Mães o mais belo dia do tempo. E é ainda por isso que me encontro aqui nesta noite para dizer-lhe:

Mãezinha querida, eis aqui o seu filho!... Com alegria e saudade, venho até aqui desejar-lhe um Feliz Dia das Mães!...

Feminismo

Pergunta-me você o que seja feminismo, talvez supervalorizando a minha capacidade de resposta.

O assunto, no entanto, me fez lembrar uma história, aliás, repetida por vários cronistas, interessados nas tradições populares.

Dou-lhe esta explicação para que você não me considere plagiário com adjetivos jocosos e zombeteiros.

Conta-se que Jesus, acompanhado por alguns discípulos, seguia, dos arredores de Jerusalém, demandando a cidade de Jericó. O Mestre alterara o plano da excursão, através de muitas veredas, a fim de visitar necessitados e doentes.

Em dado instante, o grupo não soube acertar com o verdadeiro caminho e apareceu acalorada troca de opiniões.

Nisso, salientou-se, não longe, a figura de um viandante cuja presença pareceu providencial aos companheiros da Boa Nova.

Notando que o desconhecido se abeirava dos circunstantes, Simão Pedro barrou-lhe a frente e interpelou-o:

- "Amigo, acaso poderá a sua bondade informar-nos quanto ao exato caminho para Jericó?"

O desconhecido trancou a face que lhe evidenciava o descontentamento e replicou em seguida:

- "Quem lhe falou que sou guia de vagabundos? Tenho mais que fazer. Não me arrisco a contato com malfeitores e ladrões. Sigam para onde quiserem...".

Dito isso, afastou-se, estugando o passo e Pedro, desapontado, dirigiu-se a Jesus, comentando:

- "Mestre, viu só que insolência? Não é justo suportar desaforos! Decerto que o Céu castigará esse brutamontes, impondo-lhe a punição que faz por merecer...".

O Cristo ouviu, apreensivo, e ponderou:

- "Pedro, não julgue ninguém sem o conhecimento preciso... Quem será esse homem? Talvez seja um doente ou um desesperado...".

A expectativa reapossava-se dos apóstolos, quando surgiu, à frente deles, bela jovem carregando um cântaro de água na cabeça.

Simão adiantou-se, interpelou-a repetindo a petição que fizera ao viandante agressivo e exasperado.

- "O melhor caminho para Jericó?" – indagou a moça sorrindo.

De imediato, depôs no chão o vaso que trazia e passou a explicar com gentileza de que modo atingiriam a cidade sem obstáculos maiores. Além disso, encorajou os apóstolos à caminhada, com expressões de encantador otimismo.

Terminado o diálogo, ei-la retomando o vaso transbordante de água límpida, seguindo estrada afora...

Simão aconchegou-se a Jesus e lhe falou com intimidade.

- "Mestre, notou a diferença? O bruto que nos desconsiderou e essa menina generosa se parecem a um animal e a uma flor...".

Ante o Senhor, que se fizera pensativo, Pedro insistiu:

- "Senhor, qual será a recompensa que o Céu concederá a essa jovem que nos prestou um serviço tão grande?".

Jesus sorriu e falou ao apóstolo em voz alta:

- "Sim, Pedro, essa jovem será recompensada; e o prêmio dela será casar-se com o homem brutalizado que passou por aqui, a fim de que consiga educá-lo para Deus e para a vida."

Surpresa geral encerrou o assunto.

É isso aí, meu caro. Se a mulher nos abandonar à própria sorte, negando-se a cumprir a missão que o Céu lhe atribui, com certeza, nos todos, os homens vinculados ainda à Terra, estaremos perdidos...

Julgamentos

Amigos, você nos solicita algumas notas, mesmo ligeiras, sobre os julgamentos precipitados e trago à memória um fato simples, no entanto, capaz de acordar para a sensatez, com relação à análise de atitudes alheias.

Acompanhei, certa feita, dois amigos que deliberaram participar de um leilão beneficente.

Em praça enorme, adensava-se pequena multidão, interessada na aquisição fácil de prendas, muitas delas valiosas, que se expunham numa espécie de coreto, no qual o leiloeiro anuncia a peça e o preço provável que essa mesma peça atingiria na oferta de quem desejasse adquiri-la.

Os dois amigos, aos quais me referi, tentavam colher o melhor do extenso material, ali depositado pela generosidade popular, quando notaram que certa senhora oferecia sempre um preço muito alto e obtinha os brindes que brilhavam ante a curiosidade dos circunstantes.

Bastava que o leiloeiro apresentasse o elemento a ser disputado, para que a dama, evidentemente muito pobre, ofertasse uma importância difícil de ser superada por algum dos presentes, recebendo os objetos arrematados, ao lado de um rapazinho que a seguia de perto. Considerando que ela já havia gasto verdadeira fortuna,em pleno leilão, os amigos aos quais me reporto passaram ao diálogo em torno do que viam,

- Não entendo que uma senhora vestida de trapos, possa apresentar parcelas de um capital assim tão valioso – comentou um deles.

Atalhou o outro:

- Penso que se trata de uma vigarista. Naturalmente se traja mostrando penúria, a fim de aproveitar o empreendimento que se realiza, de modo a transformar-se no socorro a mendigos em necessidade e desvalimento.

- Sem dúvida, estamos à frente de mulher estranha, tão pobremente trajada e esnobando finança gorda.

Os dois, então, resolveram interpelá-la.

Um deles, principiou, afirmando-lhe matreiro:

- A senhora nos surpreende, conquistando os seus brindes a preço tão elevado. Acaso, trabalha para alguma casa de quinquilharias?

Ela replicou, humilde:

- Esse leilão de hoje se verifica uma só vez por ano e guardo todos os recursos que me sobram das despesas pessoais, de maneira a incentivar esta obra que se destina a socorrer aleijados e velhinhos doentes, mães sofredoras e acidentados sem ninguém que os ampare. Pense neles e faço o possível para prestigiar a festa de que os necessitados recebem preciosas migalhas...

O amigo prosseguiu, indagando:

-Mas a senhora não tem ligação com o comércio varejista, ao qual a senhora entregará todos esses brindes, com vasta margem de lucro?

Com grande surpresa para os meus companheiros, ela apenas respondeu:

- Meu senhor, eu também sou cega e, por isso mesmo, devo compreender a necessidade dos outros...

O assunto foi encerrado e todos nós que assistimos ao curioso diálogo, em grande silêncio, conseguimos entesourar a valiosa lição.

Mocidade de Augusto

Jair Presente

Mocidade de Augusto

- Caminho sempre justo.

Mocidade de Pinda

- Seja bem-vinda.

Mocidade a cantar

- Segurança do Lar.

Mocidade – esperança

- Proteção à criança.

Mocidade que sente

- Amparo ao doente.

Mocidade primavera

- Atitude sincera.

Mocidade que avança

- Trabalha e não descansa.

Mocidade – harmonia

- Paz, bondade e alegria.

Mocidade seresta

- Conforto na festa.

Mocidade - beleza

- Louvor à natureza.

Mocidade da arte

- Brilha em qualquer parte.

Mocidade em flor

- Mensagem de amor.

Mocidade de fé

- Nunca faz marcha-à-ré.

Mocidade – benfazeja

- Deus a proteja.

Mocidade – contente

- Sigamos em frente.

Mocidade – luz

- Nosso amor a Jesus.

(Homenagem do consagrado autor espiritual Jair Presente à Mocidade Espírita Augusto Cezar de Pindamonhangaba-SP).

Numa Festa de Aniversário

Com as nossas felicitações ao amigo Augusto, registramos com satisfação que os ideais da Doutrina de Paz e Amor que esposamos não nos retiram da necessidade de estudar os problemas humanos, a fim de resolve-los.

Batuíra

Para Augusto os nossos sinceros votos de progresso espiritual.

Oscarzinho

Augusto aniversaria.

Pois não se esqueça você

De que esta festa nos lembra

As festas de Tietê.

Cornélio Pires

Ao estimado irmão Augusto Cezar, o nosso abraço fraterno por mais um aniversário, augurando um futuro brilhante na condição de construtor do bem.

Américo Montagnini

Ao querido amigo Augusto trazemos as flores do nosso agradecimento e de nosso afeto, pedindo a Deus abençoá-lo para a vitória do bem.

Anália Franco

Augusto, felicitações para você. O seu aniversário nos pede a oportunidade de afirmar que a solidariedade humana em qualquer projeto de beneficência será ação.

Patrício Miranda

Os parabéns para o Augusto nos provam que, quando reencarnados na Terra, é nosso dever fazer o melhor, pela prática do bem.

José Mendonça

É festa de aniversário

Consagrada em grande escala.

Verei se melhoro a mim mesmo,

Na freqüência desta sala.

Lulu Parola

Sem prestígio e sem dinheiro,

Mas por humildade e verdadeiro,

Jesus conseguiu amar

Amparando o mundo inteiro.

Luiz de Oliveira

Parabéns ao nosso amigo Augusto Cezar. Com sua simples companhia, orienta-nos o pensamento para o nosso próprio dever.

Rapaz feliz! Começou

Com gentileza e bondade

E pode trazer mais luz

Ao campo da Humanidade.

Fidelis Alves

Saudade em Augusto e Yolanda,

Dupla de paz verdadeira,

Lembra a rosa em plena festa

Agradecendo à roseira.

Meimei

Se perguntar ao amigo

Como achar felicidade,

Augusto responde: "Querido,

Começa na caridade."

Erminda Gnocchi

Ouvindo o coral de Augusto,

Sinto tão grande emoção,

Que me volto para dentro

Buscando o meu coração.

E feliz na melodia,

Nesse amor que me acaba,

Acabo gritando em prece:

Pindamonhangaba,

Pindamonhangaba,

Pindamonhangaba,

Pindamonhangaba.

Jair Presente

Referência à Mocidade Espírita Augusto Cezar de Pindamonhangaba-SP)

(Esta mensagem, tecida com retalhos de tocantes manifestações de cumprimentos ao Augusto Cezar, foi recebida na data do seu natalício – 27 de setembro)

O Inesperado

O sanatório ficava a quase meio quilômetro da estrada, através da qual realizaríamos a visita.

Batuíra, o veterano servidor de Jesus, o orientador de nossa diminuta caravana de três pessoas: ele e nós dois, os aprendizes que o acompanhavam.

A excursão estava esquematizada, desde a véspera, e o chefe do instituto nos recebeu cordialmente. Sentamo-nos ao lado dele que nos pareceu um homem sofrido e inteligente, a falar da organização, erguida no Mundo Espiritual, a fim de acolher os irmãos portadores de complexos de culpa e, por isso mesmo, positivamente vistos na condição de alienados mentais, depois da morte do corpo físico.

De quando em quando, ouvíamos exclamações quais estas, que passamos a enumerar e que vinham até nós, do grande pátio de confraternização dos doentes a que nos referimos:

- Por que não fiz?

- Não suporto este inferno!...

- Como adquiri tanta dor de consciência?

- Por que sou maldito, qual me vejo?

Já me sentia intrigado, com o que escutávamos, quando o diretor nos liberou a curiosidade, autorizando:

- Podem os amigos indagar, à vontade, quanto a qualquer aspecto de nossa moradia...

Então, volvendo a pedir o consentimento de Batuíra, através do olhar, perguntei:

- Os alienados mentais, cujo tratamento o senhor superintende, procedem de lugares ou situações determinadas?

Se enfermaram o cérebro com estados de culpa, teriam sido eles grandes criminosos do gênero humano? Neste milênio, em vias de terminar, chefes insensíveis, religiosos sem amor, políticos que fomentaram a guerra, inteligências que se transviaram para seduzir as próprias vítimas e massacrá-las... Que pode o senhor nos dizer a respeito disso?

O paciente mentor, que ali dirigia vasta plêiade de médicos, especialmente psiquiatras, psicólogos e analistas, mostrou-me paternal sorriso e explicou:

-Meu filho, a sua indagação é oportuna. Devo, no entanto, esclarecer que nosso sanatório, um dos muitos que funcionam com os mesmos objetivos, nestas regiões, acolhe especialmente aqueles companheiros que conheciam as lições de Jesus, que as ouviram com aparente piedade, que não guardavam qualquer dúvida quanto à legitimidade dos ensinamentos do Divino Mestre e que até mesmo sustentavam ardentes discussões com os outros, de modo a defender-lhe o prestígio; eram faladores exímios, mas não moveram sequer uma palha para auxiliar a ninguém.

Acreditavam e aceitavam Jesus, no entanto, viviam exclusivamente para si, confinados ao círculo doméstico, sem despenderem uma hora para aliviarem um doente e nunca sacaram do bolso um só vintém em auxílio a boas obras...

Viverem no mundo como entendiam, sem a mínima disposição para servir e chegam à Vida Espiritual em que nos achamos, desorientados com o espírito de posse a lhes atazanar a cabeça e com a força da culpa a lhes pressionar os pensamentos.

A princípio, choram arrependidos, recordando o tempo que perderam, do qual nunca retiram a mais ligeira parcela, a fim de prestarem apoio a quem quer que seja. Criam, em seguida, uma espécie de doença mental de etiologia obscura e estamos investigando caso a caso, para descobrir a terapia mais adequada ao respectivo tratamento. Abraçavam as idéias e exemplos de Jesus, entretanto, andavam no mundo qual se o desconhecessem.

Depois que alguns reconquistarem o equilíbrio espiritual, passaremos a analisar-lhes a personalidade com as respectivas conexões sobre as pessoas, terras e haveres que deixaram na Terra.

Escutei a resposta e assustei-me.

Batuíra manteve silêncio.

O meu colega estava pálido...

E, agradecendo a Jesus ter voltado, ainda cedo, da existência física para aprender a trabalhar e servir, na Seara do Bem, calei qualquer nova indagação e comecei a pensar...

Oficinas de Assistência

E porque nós outros – um grupo de rapazes – nos acercamos do Mentor, indagando que opinião era a dele sobre as oficinas de assistência aos necessitados, nas realizações cristãs, ele nos respondeu cortesmente:

- O assunto é do maior interesse. A propósito, desejo contar-lhes a experiência de um companheiro.

Um amigo, que foi batista na Terra, chegou à Vida Espiritual com grande prestígio pelos serviços prestados à Causa do Senhor. Conduzido por devotados benfeitores à grande cidade da Vida Maior, passou a visitar os setores de trabalho que o empolgavam. Tomando a companhia de um professor, entrou a movimentar-se.

Na seqüência de suas excursões, viu-se diante de vasto sanatório, em cujo interior e em todas as dependências se notava tremenda algazarra. Impropérios, acusações mútuas, insultos e rixas. A balbúrdia era enorme.

Impressionados, ele e o acompanhante, perguntaram a um dos diretores da instituição se ali estava algum setor da zona infernal, ao que o interpelado replicou humildemente:

- Sim, a nossa casa pode ser considerada uma região de inferno, onde alguns de nós, irmãos acordados para a vida, devemos treinar abnegação e tolerância.

Nosso amigo inquiriu:

- Poderá nos informar se aqui vivem alguns batistas?

- Muitos, foi a resposta.

E o diálogo prosseguiu:

- E presbiterianos?

- Grande quantidade.

- E católicos?

- Número imenso.

- E luteranos de outras interpretações?

- Igualmente muitos.

- E espíritas?

- Legião incalculável.

Nosso companheiro considerou:

- É uma lástima! E como se comportam na comunidade?

- Infelizmente – esclareceu o diretor – os religiosos que se acham aqui são espíritos cristalizados nos enganos que abraçaram. Foram, todos eles, homens e mulheres, habitualmente discutidores e intimamente revoltados. Agarrados aos próprios pontos de vista, são rebeldes, indiferentes, vaidosos e intolerantes. Viveram no mundo físico em teorias e anátemas, mergulhados em preguiça mental, a ponto de muitos deles não aceitarem a realidade da vida espiritual em que se encontram...

- E quando estarão libertos de tanta cegueira?

O diretor explicou:

- Quando demonstrarem a renovação espiritual precisa, a fim de merecerem o privilégio de aprender a servir.

Indiscutivelmente, os visitantes saíram dali desolados e depois de alguns quilômetros surpreenderam grande colônia espiritual, de cujo interior se irradiavam luz e harmonia.

Pararam observando...

Em seguida solicitaram a um dos guardiões da porta, a presença de alguém que lhes pudesse prestar os informes que julgavam precisos.

Veio um diretor e repetiram a indagação sobre a natureza e finalidade daquele instituto.

O amigo respondeu:

- Aqui somos todos uma só família; todos os que residem aqui são aqueles que acreditaram em Jesus e seguiam-lhe os passos, trabalhando e servindo, por amor aos semelhantes. Não há denominações religiosas que nos diferenciam, até porque temos conosco muitos ateus que se consagraram espontaneamente ao bem do próximo, ignorando que estavam acompanhando o Divino Mestre. A prestação de serviço aos outros, sem idéias de recompensa, nos proporcionou a felicidade de estarmos todos juntos em Cristo.

Foi então que compreendi melhor o valor das oficinas de assistência aos necessitados. Aí, nesses recantos abençoados, é possível estudar as Lições do Senhor e segui-lo verdadeiramente no rumo das alegrias imperecíveis.

Somente os que aprendem a trabalhar e a servir, com esquecimento de si mesmos, acham-se no rumo exato da felicidade real, de vez que nada valem as preciosas argumentações vazias de boas obras, porque, sem as realizações do amor ao próximo, não teremos senão a alternativa de tudo recomeçar, aprendendo, por fim, a fazer o melhor de nós e de nossa vida, para que possamos justificar o privilégio de conhecer.

Oração e Resposta

Amigo, você nos solicita algum texto que lhe fale ao íntimo, quanto ao significado da oração.

Responderemos com um apólogo antigo que qualquer iniciante nas letras pode apresentar em sua própria versão.

É o que me permito fazer em louvor da prece.

Um incêndio começou a lavrar em floresta isolada, quando certa andorinha de um telheiro em abandono começou a tarefa que se lhe figurava como sendo a salvação do mundo verde. Colocava no bico algumas gotas de água que tomava em regato próximo e varava pequena distância, a fim de despejá-las sobre as labaredas, no intuito de extingui-las.

Toda a passarada fugia para longe e animais diversos desertavam das tocas, no entanto, aquela ave pequenina não se entregava ao descanso. Prosseguia em sua faina, atirando gotas d'água sobre o fogo, quando quatro patos selvagens se lhe aproximaram numa de suas ligeiras pausas no trabalho e lhe disseram com zombaria:

- "Ridícula é a sua pretensão de acabar com o incêndio, usando gotinhas do regato". – disse o primeiro.

- "Isso é mania de virtude" – falou o segundo.

- "Tolice e loucura" – acentuou o terceiro.

- "Puro exibicionismo" – adiantou o último deles.

A andorinha considerou com humildade:

- "Creio que se todos nós, cada qual por si, trouxesse algumas gotas d'água sobre as chamas, o incêndio desapareceria".

Riram-se os patos e se foram.

As labaredas se ampliavam e a ave continuou em suas idas e vindas de esperança.

Surgiu, porém, determinado instante, em que à beira do córrego, ela se aquietou, qual se estivesse fatigada, e passou a orar, suplicando o auxílio de Deus.

Vendo-a quase inerte e informados de que a operosa trabalhadora entrara em prece, voltaram os patos a alvejá-la com ironias.

- "Deus não te ouvirá na imensidão dos Céus" – chasqueou o primeiro.

- "Não perca tempo com petições vazias' – acrescentou o segundo".

- "Deus não se incomodará com o incêndio num pedacinho da Terra, menor do que nós" – aduziu o terceiro.

- "Largue mão disso e vá descansar" – complementou o último deles, alardeando superioridade.

Os quatro grasnaram ruidosamente e se afastaram.

Mais alguns minutos e o firmamento se repletou de nuvens pesadas que se derramaram por inesperado aguaceiro.

Aqui tem você numa história quase infantil, que lhe posso dar por hoje, quanto ao valor da oração.

Em nossas dificuldades, imitemos, meu Amigo, a andorinha diminuta e veremos que o Pai Misericordioso não nos deixará sem resposta.

Prece de Gratidão

Senhor Jesus!

Eterno Amigo!

Venho agradecer-te a concessão que me fizeste, neste recanto de paz, permitindo-me fossem escritas as páginas do livro que se faz um reflexo da tua presença de luz!...

Em Peirópolis, agradeço-te a casa de oração que nos acolhe;

os amigos que lhe dirigem as tarefas;

os irmãos que estruturam a equipe de fraternidade, assegurando-lhe a harmonia das reuniões;

as preces que nos entretecem o ambiente de esperança;

as palavras abençoadas dos companheiros mais experientes;

os cânticos da alma juvenil;

as vozes das crianças;

o vento suave que balsamiza os caminhos;

as árvores generosas;

o perfume das flores;

o fulgor das alvoradas e as tintas do entardecer;

o clima de meditação e repouso;

os pensamentos nobres que nos insuflam coragem e alegria;

as mãos devotadas ao trabalho;

os corações que pulsam para a execução do bem;

as lições de simplicidade e de amor;

a solidariedade em que sentimos a presença de todos por um e de um por todos;

as aves amigas;

os animais prestimosos;

a felicidade da comunhão espiritual;

as sugestões de paciência e entendimento...

E, enquanto te falamos, de coração aberto, com as nossas lágrimas de reconhecimento e de júbilo, mais uma vez te agradecemos as árvores acolhedoras que, em todas as noites inesquecíveis de oração e serviço, se despedem de nós, agitando os braços ramalhosos, como a dizer-nos: sigam com Deus! Sigam com Deus!... Sigam com Deus!...

Questionário

Nathan, um inteligente rapaz israelita, estimava escrever rolos rápidos, ao tempo de Jesus, para venda a leitores ávidos de notas e informações ligeiras, qual ocorre aos nossos repórteres da atualidade.

Apressado, o nosso noticiarista alcançou grande ajuntamento de povo, e, encontrando um amigo, o colega Efraim, perguntou-lhe se Jesus de Nazaré estava ali.

O companheiro confirmou, acrescentando:

- Temos aqui, na multidão, nesta periferia de Jerusalém, três mestres de Israel que estão partindo, em direções opostas, atendendo a fé viva que divulgam e sabemos que um deles é um homem fanático e agressivo, considerado louco e difícil. Você observe...

Nathan não esperou por novos esclarecimentos e adentrou na massa popular, tentando satisfazer os próprios objetivos, quando fitou Jesus, não longe e, fascinado pela personalidade do Senhor, achegou-se a ele, indagando curioso:

- Rabi, qual é o primeiro mandamento da Lei de Deus?

O Cristo respondeu, com paciência:

- Amará o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda atua alma e de todo o teu entendimento.

- E como nos cabe amar a Deus?

O Mestre replicou, aceitando o diálogo:

- O amor de Deus, na essência, abrange todos os homens, induzindo-nos a amar o próximo, como a nós mesmos.

- E quem é o meu próximo?

- É qualquer criatura de Deus, especialmente as que se encontrem mais infelizes.

- Como saberei isso?

- O discernimento te mostrará quem deve receber a tua cooperação.

- Mas, habitualmente, todos temos inimigos. E se algum inimigo, em provação, dispensar-me de qualquer auxílio?

- Encontrarás com discrição os meios precisos para auxiliá-lo no anonimato.

- Rabi, além desse tipo de adversários, surpreendemos aqueles que francamente nos perseguem e caluniam. O que nos compete fazer nessas condições?

- Perdoá-los sem restrições.

- Mas, se na hora do insulto, o agressor atingir algum irmão seu, chegando a matá-lo?

- Perdoar e orar por ele.

- E se a vítima for meu pai?

- Perdoar sempre, rogando a Deus que o abençoe.

- Então a desforra não é justa?

- Não. Antes de tudo, precisamos preservar a paz.

- E se a nossa família, por perseguição, estiver prejudicada?

- Fazer silêncio e perdoar.

- Silêncio? Como sustentar isso, se os seguidores de Moisés, na Lei Antiga, nos recomendavam cobrar dente por dente?

- Moisés ensinou-nos lições que devemos respeitar, no entanto, agora estamos na Lei do Amor que estabelece o perdão para as faltas alheias, não apenas uma vez, mas setenta e sete vezes.

- E como proceder para reconstituir o patrimônio familiar?

- Trabalhando sempre.

- E devo trabalhar inclusive para os que me feriram?

- Sim e sempre.

- Rabi, e como agir, se recuperar a posição financeira dos meus?

- Naturalmente, retirarás a quantia que te for necessária à sustentação e o dinheiro desnecessário aplicá-lo-ás em obras de beneficência ou saberás distribuí-lo com os teus irmãos em tribulação e penúria.

- Então, não posso acumular o que é meu, considerando o futuro?

- O futuro pertence a Deus e não seria justo acumulares o que não te pertence, já que todos os bens de que dispomos pertencem originalmente a Deus.

- Rabi, é uma falta grave ser rico?

- Não. A riqueza vem de Deus por empréstimo aos homens, com o fim de estender as boas obras e se algum dia tiveres a fortuna nas próprias mãos, tens a obrigação de administrá-la sabiamente.

- E mesmo rico, precisarei trabalhar?

- Trabalhar e servir sempre.

O entrevistador sorriu e despediu-se, procurando Efraim.

Ao encontrá-lo, observou:

- Onde estão os outros mestres de Israel?

O amigo esclareceu:

- Já partiram.

Nathan coçou a cabeça e falou, sarcástico:

- Desta vez perdi a minha intuição, porque se o Rabi que interroguei agora é Jesus de Nazaré, ele está positivamente louco.

Teste Difícil

A história, aliás, autêntica, se desenrolou, na fase terminal de um bazar de caridade, promovido por uma instituição espírita com finalidade assistencial.

A festa desdobrava-se ao ar livre, num pedaço de campo, cedido por família ligada ao grupo que se esforçava no máximo de atividade em benefício da promoção.

A reunião alcançava o fim da alegria que reinava em todos os corações, quando uma jovem, primorosamente vestida, foi convidada a comparecer no palco improvisado para comentar o empreendimento.

Muita gente. Música de câmara. Ambiente de paz e meditação.

A oradora, apresentou-se com esmero, exibia vários brilhantes raros, nos brincos, na pulseira e em outros enfeites a lhe adereçarem o fino vestido azul.

Usando expressões fascinantes, a comentarista explanou com segurança sobre a caridade, enfatizando o imperativo do amor ao próximo, por fator de harmonia entre os homens.

Depois da famosa alocução, a palavra livre foi concedida a todos os presentes que desejassem complementar as idéias que a jovem expendera.

Alguns minutos de silêncio e, logo após, um homem, ainda moço, pediu permissão para externar-se e, sendo atendido, dirigiu-se particularmente à oradora que havia suscitado grande empolgação no público e falou com sarcasmo:

- "Moça, você pregou a caridade a nós todos, os seus ouvintes, e mostrou a excelência dessa virtude, mas a sua apresentação é um contra-senso. Sou auxiliar de serviço em uma joalheria e sei que você está usando brilhantes autênticos. Isso não lhe dói no coração? Falar com tanta beleza sobre a caridade e parecer uma vitrine de jóias,exaltando a beneficência?...

A comentarista não se deu por molestada e respondeu, graciosamente:

- O senhor não me conhece. Já fui pior. Meu pai é negociante de pedras, classificadas em alto preço e a minha apresentação de hoje chega a ser humilde, porquanto, em muitas ocasiões, aparecia em público, ostentando brilhantes, considerados os mais caros. A Doutrina Espírita é que está garantindo a minha renovação. Estou deixando o uso de jóias aos poucos, até que não me veja atraída por elas. Penso que, muito breve, estarei mais comedida em meus contatos com os amigos que me ouvem ".

Destacaram-se aplausos em geral e os companheiros foram festejar o êxito da iniciativa na residência de um dos irmãos de ideal, não longe da instituição.

A jovem oradora, dirigindo o próprio carro, chegou em casa, na cidade grande, lá pelas onze horas da noite.

Guardou o veículo, convenientemente, e voltou ao jardim que precedia a entrada da mansão.

Preparava-se para girar a chave da porta que lhe daria acesso à intimidade doméstica, quando um homem mascarado abeirou-se dela e intimou-a a lhe entregar todas as jóias em uso.

Muita calma, a oradora da tarde começou a desatarraxar os próprios brincos de modo a entregá-los ao assaltante, quando um guarda, armado de revólver, apareceu na cena e, com a melhor presença de espírito, ela disse ao mascarado:

- Alfredo, retire o seu disfarce. O policial pode pensar que estamos agindo seriamente."

O assaltante, colhido de surpresa, diante da arma que o recém-chegado lhe apontava, desfaz-se da máscara e a moça reconheceu nele o mesmo homem que lhe havia reprovado o uso dos brilhantes, no entanto, com invejável serenidade, explicou ao policial:

O senhor, por obséquio, nos desculpe. Estamos, o meu primo e eu, ensaiando uma cena de comédia, em que ele faz o papel de lobo mau... Desejo, porém, esclarecer ao senhor que este meu primo atirou-se a tamanha dívidas de jogo que estou oferecendo a ele as minhas jóias que lhe darão a cobertura necessária."

E, à frente do guarda espantado entregou ao assaltante todas as suas jóias do momento, uma por uma, e lhe falou em tom significativo:

Veja, primo, estes brilhantes são seus, como se pertencessem a uma festa de caridade."

O guarda boquiaberto acompanhava toda a cena e o assaltante se retirou de carro, lançando àquela jovem corajosa e digna, um inesquecível olhar, qual se estivesse falando a ela, através dos olhos, que jamais esqueceria aquela inesperada lição.

Tóxicos

Durante dois anos o Juiz da comunidade recebia acusações constantes. Certa mulher trabalhava ativamente com tóxicos, criando as maiores dificuldades para a mente infanto-juvenil.

Queixavam-se os pais, pedindo providências contra a atitude infeliz da mulher que lhes viciava os filhos menores.

Intrigado com tantas denúncias, o magistrado colocou agentes na solução do assunto e acabou detendo a mulher que traficava, em vista dela própria se isolar em recanto suspeito, numa sala iluminada por esquisita penumbra, para atender os clientes.

O Juiz assumiu as medidas cabíveis a fim de verificar a extensão do problema, enquanto muita gente se aglomerou diante do foro, no intuito de conhecer os resultados.

O Juiz estreitou as providências e exigiu que a mulher se descobrisse.

A multidão rompeu em tremenda exclamação, pois reconheceu nela, de pronto, a filha do alto representante da justiça.

Sufocado de pranto, o elevado funcionário perguntou à mulher:

"Pois é você, minha filha, a infeliz que nos agita a cidade?".

Cabisbaixa, a pobre criatura deu alguns passos na direção do pai e ambos se abraçaram em lágrimas, enquanto, acompanhando diversos amigos que se afastavam, também eu me retirei do recinto, recolhendo-me ao quarto, a fim de pensar.

Virtude Sobre Virtude

... E o mentor amigo nos contou com alegria e espontaneidade.

Tendo Jesus terminado uma de suas preleções, ao entardecer, junto às águas do lago, entrou em conversação com os discípulos, perguntando a eles qual seria a virtude que avançasse além dela própria.

- É a paciência...- replicou Bartolomeu.

E o diálogo prosseguiu.

- Bartolomeu – elucidou o Divino Mestre – a paciência é integra. Não se elastece,

- É o amor ao próximo – aventou Simão Pedro.

- O amor ao próximo é um dever inarredável. Não se modifica.

- É o espírito de serviço - aventurou Mateus.

Jesus sorriu e explicou:

- Entretanto, o espírito de serviço expressando boa vontade e benevolência, é uma obrigação que não se altera.

- É o perdão das ofensas – disse João, acanhado.

- João, já aprendemos que o perdão das ofensas deve ser repetido setenta e sete vezes.

- É a fé – adiantou Tiago.

- A fé, porém, é um estado de sublimação da alma que não se desloca.

- É a brandura no trato com os nossos semelhantes – sugeriu André com timidez.

A brandura pra nós, no entanto, é uma atitude compulsória.

O silêncio caiu sobre a turma, qual se os acompanhantes do Mestre estivessem confessando a própria impossibilidade para formular uma resposta à altura da indagação.

Depois de alguns minutos de expectação, o Cristo lançou compassivo olhar sobre os presentes e arematou.

- Meus amigos, a virtude que se desdobra além de si mesma será sempre o ato de perdoar aos bons, quando os bons aceitam a infelicidade de errar...