Leon Denis
O Mundo Invisível e a Guerra
Jacques-Louis David /Juramento dos Horácios
Introdução
I - O espiritualismo e a guerra
II - cenas do espaço; visões reais de guerra e de epopéia
III - As lições da guerra
IV - O mês de Joana d'Arc
V - A justiça divina e a atual guerra
VI - O despertar do gênio céltico
VII - O dia de finados na trincheira
VIII - Ação dos Espíritos sobre os acontecimentos
IX - O espiritismo e as religiões
X - Responsabilidades
XI - A hora do espiritismo
XII - Autoridade e liberdade
XIII - Ressurreição!
XIV - Sursum Corda!
XV - O futuro do espiritismo
XVI - O espiritismo e a ciências
XVII - O espiritismo e a renovação das vidas anteriores
XVIII - O espiritismo e as Igrejas
XIX - O espiritismo e a Filosofia contemporânea
XX - Nascimento de um mundo novo
XXI - O reinado do Espírito
XXII - Hosana!
XXIII - A experimentação espírita. Escritura mediúnica
XXIV - A experimentação espírita. Tipologia.
XXV - A experimentação espírita. Provas de identidade
XXVI - A alma e os mundos, a vida infinita.
XXVII - A grande doutrina
Introdução
De 1914 em diante passou a França muitas horas de cruel angustia e beirou muitos abismos.
Após cinqüenta meses de lutas, de esforços, de sacrifícios, ela saiu da provação, engrandecida, aureolada pela Vitória, regenerada pelo sofrimento. Sem duvida, essa Victoria, ela deve ao apoio dos seus aliados, ao heroísmo de seus soldados, a ciência e talento de seus chefes; mas deve-a principalmente aos poderosos socorros do mundo invisível, que nunca deixou de intervir em seu favor. E essa uma das faces menos conhecidas desse imenso drama para a qual acreditamos necessário atrair a atenção de todos.
Graças a um excelente médium, cuja clarividência e sinceridade estavam para mim acima de toda suspeita, pude seguir durante mais de três anos a influencia dos Espíritos nos acontecimentos e notar-lhe os traços essências. Pela incorporação, meus amigos do espaço e, no numero deles, um espírito eminente, me comunicavam de tempos a tempos suas apreciações sobre essa terrível guerra considerada em seus dois aspectos, visível e ocultos.
Essa pratica me inspiraram, nas datas inclinadas, certas numero de artigos que se encontram reunidos neste volume. Acrescentei outros, inspirados pelas circunstanciais e que eu tinha publicado em diferente revistas. O livro termina por uma serie de paginas inéditas.
O escopo principal destes escritos é orientar o pensamento francês para um espiritualismo cientifico e elevado, para uma crença capaz de colocar nossa nação á altura dos grandes deveres e dos nobres empreendimentos que lhe competem.
E mister que uma farta corrente idealista, um potente sopro moral varram assombras, as duvidam, as incertezas que ainda pesam sobre tantas inteligências e consciências para que um raio das verdades eternas ilumine os cérebros, aqueça os corações e leve consolo àqueles que penam e sofrem.
A educação do povo deve ser completamente refundida, de modo que o todo se comunique à noção dos deveres sociais, o sentimento das responsabilidades individuais e coletivas e principalmente o conhecimento do fim real da vida, que é o progresso, a purificação da alma, o incremento de suas riquezas intimas e oculta.
Cumpre enfim que estreita solidariedade una os vivos aos mortos é que as duas humanidades, da terra e do espaço, colaborem na obra comum de renovação e de progresso.
Demonstramos algures a ação dos poderes invisíveis na Historia, mas nunca talvez essa ação se manifestou com mais esplendor do que queremos nos acontecimentos atuais, em prol do direito e da justiça.
Seria muito para lastimar que tão grave e grande lição se perdesse e que o homem permanecesse indiferente aos apelos e socorros do atém. Devem estes ao contrario, provocar em todos estudos desse mundo invisível ao qual pertenceremos cedo ou tarde, visto ser a morte apenas uma passagem e infinitos os nossos destinos.
O passado da França está cheio de brilhantes períodos e paginas gloriosa; seu futuro, porém, se anuncia com maior esplendor ainda, se lhe iluminar a alma o sopro do Espírito que anima os mundos; se ele regular e dirigir as forças vivas, as forças ascendentes suscitadas pela guerra e que nela vibram, ela poderá realizar obras que excederão em poder e brilho a tudo quanto seu gênio até hoje produziu.
O Mundo Invisível e a Guerra
I - O Espiritualismo e a Guerra
Outubro 1914
Ha alguns meses sucedem fato temerosos. Uma tempestade de ferro e fogo se desencadeou sobre a Europa e abalou os alicerces da civilização. Não são milhares, porém milhões de homens que se embatem em choque formidável, em luta como igual o mundo jamais presenciara.
E tão grande o numero de vidas humanas ceifadas, que o pensamento fica estarrecido. O próprio destino das nações é posto em jogo. Em certas horas trágicas, a França sentiu perpassar sobre ela um sopro de ruína e de morte. Se não fossem os socorros do alto e a legião dos Espíritos sem conta que acudiu de todos os pontos do espaço para sustentar seus defensores, aumentar-lhes a energia, estimular-lhes o animo, inflamar-lhes o ardor, talvez ela houvesse sucumbido.
Em presença desse terrível drama, como em sim pesadelo, inquirimos que lição resulta desse doloroso fato. Notemos, logo á primeira vista, que esses sucessos eram anunciados com antecedência.
Abundavam por toda à parte os avisos, os presságios; sentíamos por nosso lado aproximar-se a procella; um mal-estar indefinível invadia-nos as almas. No dizer de um pensador, os grandes acontecimentos que abalam o mundo projetam para frente a sua sombra.
Entretanto, a massa dos homens permanecia indiferente. Ha vinte anos a França, principalmente, adormecera num sonho de bem-estar, de sensualidade. A maior parte de seus filhos não tinha mais por objetivo senão a conquista da riqueza e os gozos que ela proporciona.
A consciência publica, o sentimento do dever, a disciplina familiar e social, sem as quais não ha nações grandes, entibiavam-se cada vez reais. Processos, escandalosos revelavam um estado de profunda corrupção. O alcoolismo, a prostituição e a parca percentagem de nascimentos que dai resulta, parecia destinar a nação a irremediável decadência. Nossos inimigos consideravam os Franceses um povo exausto, preparava-se para partilhar os seus despojos. Não nos condenavam discussões estéreis á fraqueza? Ora, nossa desunião era apenas vã aparência. Ante o perigo que ameaça a Pátria, todos os corações sabem unir-se para um supremo esforço.
Como em todos os momentos solenes da Historia, como no tempo de Joana d'Arc, o mundo invisível interveio. Sob o impulso do alto, as forças profundas da raça, essas que se achavam sopitadas em cada um de nós, despertaram, entraram em ação e, num ardor renascente, fizeram reapareceu com toda a evidencia ás virtudes heróicas dos séculos passados.
O general Joffre é certamente um estrategista e valor, mas sabemos de fonte segura que. Suas maiores inspirações, sem que ele o saiba, vêm Além.
Nossa nação, que diziam corrompida, coemeada a desaparecer, patenteou ao mundo ombrado que nela se achava em letargo um poder irresistível. Sob o látego da: provação e a vontade superior, a França acordou. Com ímpeto soberbo, resolvida a todos os sacrifícios, ergueu-se contra um invasor sem escrúpulos, cego do orgulho, ávido de implantar no mundo seu domínio bárbaro e brutal.
Pensem o que pensarem os alemães, ha justiça no universo. Não basta ter nos lábios, a cada passo, o nome de Deus, é preferível ter no coração as suas leis imutáveis.
O direito não é palavra vã; o poder material não é tudo neste mundo; as mentiras, a perfídia, a violação dos tratados, o incêndio das cidades, a matança dos fracos e dos inocentes não podem achar desculpas perante a majestade divina.
Todo mal praticado recai com suas conseqüências sobre quem o produziu, a violação do direito dos fracos se volta contra os poderes que o ultrajam. A invasão, a devastação da Bélgica e do norte da França provocaram a indignação geral e determinaram a formidável reação das forças invisíveis. Das regiões devastadas subiu ao céu um grito de angustia: o Céu não ficou surdo esses desesperados apelos. Entraram em ação os poderes vingadores. São ele que soerguem a França e impelem seus filhos ao combate. Atrás dos que sucumbem, outros se erguerão até que o invasor sinta entibiar a resolução e contra ele erguer-se o destino.
Os que morreram volvem ao espaço com a aureola do dever cumprido; o exemplo deles inspirará as gerações vindouras.
A lição que decorre desses terríveis acontecimentos é que o homem deve aprender a levantar os pensamentos acima dos tristes espetáculos deste mundo e a voltar as vistas para esse além donde lhe descem os socorros, as forças de que ele necessita para prosseguir numa nova etapa colimando o fim grandioso que lhe é designado.
Nossos contemporâneos tinham posto o pensamento e as afeições nas coisas da matéria. O fato lhes demonstram que tudo nela é passageiro e precário.
As esperanças e glorias que ela suscita são efêmera.
Não ha bens nem poder terrestres que estejam a coberto das catástrofes; só tem verdadeira duração, riqueza, esplendor, o espírito imortal. Só ele pode transformar as obras de morte em obras de vida. Para compreendeu, porém, esta lei profunda é mister a escola do sofrimento. Assim como o raio de luz precisa refranger-se no prisma para produzir as brilhantes cores do arco-íris, também a alma humana se deve purificar pela provação, para que irradiem todas as energias, todas as qualidades que nela dormem.
E principalmente na desgraça que o homem pensa em Deus. Assim que serenarem as paixões ardentes, quando a sociedade tiver reencetado a vida normal, começará a missão dos espíritos. Quantas lutas por consolar! Que de chagas Moraes por sanar! Quantas almas dilaceradas por confortar! Sob as ações lentas, profundas, eficazes do sofrimento, um sem numero de seres se tornarão accessíveis ás verdades de que somos depositários responsáveis. Saibamos, pois, aproveitar as circunstancias trágicas que atravessamos. A Providencia saberá fazer delas surgir beneficio para humanidade.
Todas as almas fortes, que conservaram o sangue frio no meio da tormenta, pedirão conosco, com toda confiança, que as provações sofridas por nossa nação lhe façam vibrar na alma os sentimentos de honra, de união, de concórdia, que são poderosos meios de ressurgimento.
Esses sentimentos, em sua intensidade, poderiam reagir contra os flagelos da sensualidade, do egoísmo, do personalismo desmedido que se haviam implantado como senhores em nossa França, sufocando os instintos generosos, sempre prontos a reviver nela. Que, de mãos estendidas e de corações abertos, os Franceses, raça inteligentes e nobres e voltem a ser objeto de admiração, exemplo vivo que todas as nações se comprazam em seguir!
II - Cenas do espaço. Visões reais da guerra e da epopéia
Janeiro de 1915.
Eles ali estão, pairando na imensa frente de batalha que se estende das praias do mar brumoso ás cristas dos Voges e ás planície da Alsacia; ali estão os Espíritos de todos aqueles que, através dos séculos e em todos os ramos, principalmente na arte militar, contribuíram para ilustrar a França, para construir-lhe a gloria imorredoura. Eles animam, arrastam, inspiram nossos soldados e seus chefes.
Ha quatro meses, os combatentes quase sepultados, ocultos nos acidente do solo, cercados de redes de arame, prosseguem numa guerra de sapa e de astúcia, em que se apura a paciência e a coragem se esgota lentamente.
Tinha a guerra outrora beleza trágica de grandeza. Lutava-se a peito descoberto, de cabeça erguida, com bandeiras desfraldadas. Hoje, são apenas ciladas, maquinações, insidias. Por toda parte, nas obras da paz bem como nas da guerra, os Germanos desnaturaram, amesquinharam, aviltaram tudo o que foi nobre. A traição, a perfídia, a falsidade são os seus princípios habituais.
Os gênios maléficos, os negros espíritos de homicídio e de rapina, e os pensamentos medievais estão com ele, reencarnados em suas fileiras, ou invisíveis tomando parte em seus combates. Se ele triunfassem, os Europa ficariam escravizados, os fracos esmagados e espoliados os vencidos. Seria uma reversão da humanidade á barbaria.
Os Espíritos ilustres que velam pelos nossos exércitos presenciaram lutas mais nobres, mais generosas. Por isso surpreende-se com essa táctica, com esses processos e se afligem. E por vezes, vendo tantos esforços quase infrutíferos, 'apoderam-se deles a hesitação, o desassossego, e inquirem angustiados qual será o termo dessa terrível pugna.
Quanto sangue e quantas lagrimas! Que de jovens heróis abatidos! Quantos despojos humanos jazem sobre a terra! Verá nossa nação aniquilar-se toda a sua força, toda a sua vitalidade?
Eis que aparece do alto do espaço infinito um novo Espírito; ao velo todas se agitam, todos se comovem. E, entretanto, uma mulher; cinge-lhe, porém, a fronte uma auréola; animam-lhe as feições o entusiasmo e a fé.
Assim que ela surge, um frêmito perpassa por essas legiões de invisíveis; um nome adeja de boca em boca: Joana d'Arc!
E a filha de Deus. A Virgem das pelejas!
Vem reanimar as energias entorpecidas, as coragens entibiadas. Desde o inicio da luta, ela se conservava afastada, entre suas irmãs celestes, no meio desse grupo de seres graciosos e encantadores, seres angélicos cujo comando, após o, martírio, Deus lhe confiou. A sua missão consiste em mitigar os sofrimentos humanos, aplacar as dores Moraes, pairar sobre as almas purificadas.
Soou, porém, a hora. Ao ter ciência dos males que flagelam a Pátria, essa França tão cara, por quem sacrificou a vida, pulsou o coração da Virgem Lorena; apossou-se dela. O desejo ardente de nos socorrer. Acede.
No momento da partida, suas irmãs, companheiras do espaço, inclinam-se ante àquela que veneram, dizendo: Faremos preces pelo trunfo de vossas armas, filha amada de Deus. Ela acode e em torno dela se congregam solícitos os Espíritos heróicos, protetores da França, para saudá-la e servir-lhe de comitiva. Ela, na sua simplicidade, lhes diz: Como nos séculos d'antanho, senti a irresistível necessidade de me reunir àqueles que se batem pela salvação da Pátria. Estar-me-eis em vossas fileiras? E todos, num surto de entusiasmo, exclamaram: Ponde-vos á nossas frentes, marcharão sob vossas ordens!
*
Sucessivas reuniões se realizam por cima de nossas linhas; os que as compõem são portadores de nomes ilustres, cuja reunião sintetiza toda a gloria dos séculos, toda a historia da França! Nelas figura Henrique IV junto de Napoleão; Vercingetorix lá se encontra com os capitães de Carlos VII, os generais de Luiz XIV e os da Revolução, todos os paladinos de nossas lutas de outrora e os libertadores da Pátria. Vêm-se mesmo vários chefes ingleses, pois toda inimizade cessou e ha apenas em todos esses Espíritos um pensamento único e o mesmo sentir.
Todos têm por Joana igual deferência. Ninguém lhe toma a dianteira. Discutem-se gravemente os meios de ataque, os processos necessários a essa guerra de trincheiras. Paira sobre assembléia o pensamento de Deus e quando o Espírito eminente que a preside abre a sessão, invocando-lhe o augusto nome, todos se inclinam respeitosamente. Se a França para muitos se tornou apática, ímpia, entregue a todas as correntes do imoralismo e da sensualidade, ao menos no seio desse supremo conselho, onde se acham reunidos os mentores invisíveis, impera fé ardente. Talvez seja por isso que se atenuaram, até certo ponto, as provações e os acerbos castigos que ela mereceu.
As resoluções tomadas serão transmitidas por intenção e inspiração aos generais aos quais incumbe pólas em pratica. Para esse fim cada um dos espíritos presentes a essas conferencias escolherá entre nossos chefes de exercito aqueles cuja natureza psíquica mais se harmonize com a própria por persistente vontade, os inspirará no sentido o que ficou resolvido. A influencia deles sobre a assa dos soldados se exercerá de modo diverso.
Os Espíritos terão principalmente por mira acrescentar ao ardor, á veemência, que são qualidades naturais da raça, a perseverança, a tenacidade na luta, tão necessárias no momento atual, e que ás vezes nos faltaram.
Tudo isso, pois, o demonstra, as almas dos mortos não são, como alguns o acreditam, entidades vagas e indefinidas. Quando atingiram as altas camadas da hierarquia espiritual, elas se tornam poderes irresistíveis, centros de atividades e de vida, capazes de reagir no seio da humanidade terrestre. Pela sugestão magnética, poder inspirar os que por elas foram eleitos. Fazer neles germinar a idéia mater e impeliu-os ao ato decisivo que lhes coroará a obra. Por essa forma os Invisíveis se envolvem dos vivos, para a realização do mento da justiça eterna.
*
Soará em breve, como festiva fanfarra, a hora da Victoria. Toda a França está de pé; a do presente e a do passado, a França dos vivos e a dos mortos! Os poderes invisíveis, as forças divinas estão em ação, pois é grande e sagrada à luta que se trava. E' a da liberdade, do direito e da justiça, contra a brutalidade armada, contra o despotismo cínico e grosseiro. Por isso a França não pode ser vencida, visto ser a causa que defende a da humanidade. A Victoria da Alemanha seria o recuo da consciência, a apoteose de todos os crimes. Deus não o permitira.
Freqüentemente, através dos séculos, a França se fez campeã das idéias generosas: deu seu ouro e prodigalizou seu sangue na defesa dos fracos e libertação dos oprimidos. Eis porque suas mais ruidosas derrotas foram sempre seguidas de rápido ressurgimento. Apesar de seus erros e faltas a França é necessária á ordem do mundo. Em todas as esferas, mais do que qualquer oura nação. Ela serviu ao ideal até o sacrifício. Seu papel é estético. Mercê da clareza de sua língua da lucidez do seu espírito, os princípios que ela ofende penetram mais fundamente nas inteligências e nos corações e todos os povos vieram haurir nela como em inesgotável fonte. Seu prestigio o porvir será ainda maior: é de seu seio que surgirão os missionários, cujo pensamento fará irradiar o Espiritismo por toda a terra. Poder-se-ia dizer que a França é mulher, visto sintetizar a “beleza e a verdade. Eis porque acima de seus espíritos tutelares paira uma alma feminina”.
Á interferência de Joana d'Arc dará o verdadeiro rumo aos acontecimentos. Ela restituirá á França a consciência de seu papel e de seus magníficos destinos. Por isso, com o aparecimento da virgem Lorena os Espíritos que nos assistem sentiram aumentar-se-lhes a confiança com a certeza da Victoria. Preparam-se numerosos exércitos. Dia virá em que Joana se porá á frente deles e, se bem que invisível, nossos soldados terão a sensação de sua presença, ela lhes transmitira o ardor que a inflama. Com máscula resolução, afrontando o fogo e a metralha marcharão contra o inimigo. E o vento que sopra nas planícies do Flandres, na floresta dos Vosges fará flutuar de novo nossos estandartes vitoriosos. Os filhos da França escreverão com seu sangue as mais gloriosas paginas de nossa historia.
Sangue as mais gloriosas paginas de nossa historia.
III As lições da guerra
Março de 1915
A tremenda luta que se fere entre as nações e as raças, as convulsões que agitam o mundo fazem surgir os mais graves problemas. Em presença do grande drama que se representa, mil questões se apresentam ao pensamento ansioso. Em certos momentos, a duvida, a inquietação, o pessimismo assaltam os mais fortes e resolutos espíritos. Será o progresso apenas vã quimera? Submergir-se-á a civilização na preamar das paixões brutais? Serão improficuos os esforços dos séculos para a realização da justiça, da solidariedade, da paz na Harmonia social? Desaparecerão na tormenta as concepções da arte e do gênio, os resultados do imenso labor de milhões de cérebros e de braços.
O pensador espiritualista sonda sem vertigem esse abismo de males. Do caos dos acontecimentos ele arranca a principal lei que rege todas as coisas.
Antes de tudo, recorda-se de que o nosso planeta é uma morada muito inferior, o laboratório em que desabrocham as almas ainda novas nas aspirações confusas e paixões desordenadas. O senso profundo da vida lhe aparece com as acerbas necessidades que a ela se prendem, é o inicio das qualidades e energias que repousam em todo ser. Para que surjam á tona as forças que jazem desconhecidas e silenciosas nas profundezas da alma o precisas aflições, angustias e lagrimas. Não ha grandeza sem sofrimento, nem purificação sem provação.
Se o homem terreno se libertasse das contingências da sorte e ficasse privado das grandes lições da adversidade, poderia retemperar a caráter, desenvolver a experiência, valorizar as riquezas ocultas de sua alma?
Sendo a mal uma fatalidade do nosso mundo, não haverá responsabilidade para os maus?
Acredita-o seria erro funesto; o homem, na sua ignorância e cegueira, semeia o mal, cujas conseqüências recaem pesadamente sobre ele, bem orno sobre todos os que com ele se associam nas más ações. O que se está provando no momento atual.
Dois poderosos monarcas, um protestante, e outro católico desencadearam a guerra com todos os seus horrores; durante meio século prepararam, calcularam, combinaram tudo para um êxito esmagador.
Intervieram, porém, os poderes espirituais; suscitaram nas nações em perigo resistência heróica; fizeram surgir os tesouros de heroísmo que existências anteriores haviam acumulado no fundo das almas célticas e latinas.
Vede que reviravolta após seis meses de lutas. No inicio da campanha faziam os alemães uma guerra de conquista hoje estão reduzidos combater em defesa própria.
Nas horas amarguradas, de incerteza, surge sempre um homem providencial! No caso, para a França, esse homem é o general Joffre.
Ele tem as qualidades reclamadas pelas graves circunstancias do momento.
Soube deter no Marne o enorme alude germânico e agora, como chefe sábio e prudente, poupando o sangue de seus soldados, prepara pacientemente os meios de rechaçar o inimigo para alem das fronteiras. Acima do tumulto confuso das batalhas, para lá dos clarões sinistros da carnificina e do incêndio, entrevê-se uma como aurora, vêm-se esboçar as linhas de um ideal grandioso. Presentes a obra de moralização que dimana do sofrimento.
Por traz do fumo das paixões que se erguem da terra, sente-se à presença de um tribunal invisível que aguarda o desfecho para reivindicar os direitos da justiça eterna.
Nossos combatentes sentem de modo vago essas coisas; têm a intuição que a causa por ele defendida é augusta e sagrada e essa impressão se propaga progressivamente por todo o pais. A lei está porque a inteligência se tornou mais digna, os sentimentos mais graves e profundos. A tormenta varreu as frioleiras, as leviandades, tudo o que era pueril e mundano em que se comprazia a nossa geração, para só deixar prevalecer o que em nós ha de mais sólido e de melhor.
Sem duvida subsistem muitos germens de oralidade, de corrupção e decadência, tanto por vezes se poderia perguntar se a cruel lição bastante para nos sanear dos nossos vícios. Em compensação, muitas existências fictícias, estéreis desordenadas se tornaram mais simples, fecunde puras.
A vida publica ou privada, a certos respeitos. Sofre transformação radical.
Esta purificação dos costumes e do caráter reta a das letras francesas, do jornalismo, em um palavra, do pensamento expresso sob todas formas. Parece que estamos livres por muito tempo dessa psicologia mórbida, dessa pornografia de baixo calão, venenos da alma, que nos faziam considerados pelo estrangeiro como nação decadência. Qual será, pois, aquele que, tendo honra de se servir da pena, ouse recair em erros? Os escritores, os romancistas do porvir, para as suas obras, assuntos inteiramente diversos, graves e elevados.
Certamente, não perdemos de vista o triste séqüito das calamidades produzidas pela guerra pavorosas hecatombes, a dissipação das vidas, cidades saqueadas ou destruídas, os estupros, incêndios, os velhos, as mulheres, as crianças espoliadas, assassinadas ou mutiladas, o êxodo rebanhos humanos fugindo de seus lares devastados, numa palavra, o espetáculo do sofrimento humano no que tem de mais intenso e pungente.
Mas, qualquer espírita o sabe, a morte é apenas aparência; a alma, em se desprendendo do seu envoltório material, adquire forma maior, percepção mais justa das coisas, e o ser se acha mais vivo no além.
A dor purifica o pensamento, Nenhuma pena se perde, provação alguma deixa de ter compensação. Os que morreram pela pátria colhem os frutos de seu sacrifício e os sofrimentos dos que subsistem lhes depõem nos perispíritos ondas de luz e os germens das felicidades vindouras.
Quanto á questão do progresso, ela se resolve facilmente. O progresso só é real e duradouro com a condição de ser simultâneo em seus dois aspectos material e moral.
O progresso exclusivamente material é apenas uma arma mui freqüentemente posta ao serviço das paixões más. A ciência forneceu aos bárbaros modernos formidáveis meios de destruição: maquinas de todas as formas, explosivos violentos, pastilhas incendiarias, aparelhos para lançar líquidos inflamáveis, gazes asfixiantes, corrosivos, etc. a navegação aérea e submarina ampliou em largas proporções o domínio das chamas. Todos os progressos científicos deixam homem infeliz, quando ele permanece mau. Dar-se-á o mesmo enquanto a educação do povo for falseada e lhe deixarem ignorar as verdadeiras leis do ser, do destino, e o principio das responsabilidades, com as repercussões através de nossas vidas renascentes.
A esta luz, é completa a falências das religiões e da ciência; a atual guerra prova-o exuberantemente.
Quanto ao progresso moral, ele é lento quase insensível na terra, porque a população o globo cresce sem cessar com elementos vindos dos mundos inferiores. Só os espíritos que atingiram neste mundo certo grão de adiantamento evolvem com vantagem para humanidades melhores. Dai provém que o nível pouco Varia e que as qualidades Moraes permanecem raras e ocultas. Os golpes da adversidade serão por muito tempo ainda um dos mais eficazes meios de compelir o homem a se desprender de si próprio, do circulo estreito que o encerra e de obrigou-o a elevar mais alto o pensamento. Ser-lhe- á preciso galgar muitas vezes a rude escarpa do calvário através dos espinhos e das pedras agudas; mas, do escabroso cimo, ele avistará a cintilação do grande foco de sabedoria, de verdade e de amor que ilumina e reanima o universo.
Na ordem psíquica tudo se resume em duas palavras: reparação, elevação!
Os flagelos são o cortejo inevitável das 'humanidades atrasada e a guerra, é o pior de todos; sem ele, o homem que pouco se desenvolveu perderia o tempo com as futilidades da jornada ou se entregaria á preguiça e ao bem-estar.
E preciso o acicate da necessidade, o sentimento do perigo, para o obrigar. A exercitar as forças nele adormecidas, para desenvolver-lhe a inteligência e apurar-lhe o critério. Tudo quanto é destinado a viver e crescer se elabora na dor. E mister padecer para parir: eis o quinhão do melhor ; cumpre padecer para criar
Eis o quinhão do gênio.
E nos momentos trágicos de sua historia que as qualidades viris de uma raça se mostram com maior brilho. Sem duvida, se a guerra desaparecesse, com ela desapareceria muitos males, muitos horrores, mas não é ela também geradora do heroísmo, do espírito de sacrifício, do desprezo do sofrimento e da morte? E é o que faz a grandeza do ser humano, o que o eleva acima do bruto.
O homem, espírito imortal, é um centro de vida e de ação, que, de todas as vicissitudes, de todas as provações, ainda as mais cruéis, deve fazer outros tantos meios, outros tantos processos pelos quais se irradiem cada vez mais as energias que dormitam no intimo de todos nós. As grandes emoções suspendem as preocupações triviais, muitas vezes frívolas, da vida, abrem em nós passagem para as influencias do espaço. Ao choque dos acontecimentos, rasga-se a bruma formada pelos nossos cuidados, pensamentos, inquietações de cada dia e a grande lei, o fim supremo da existência se revelam por instantes a nossos olhos.
Nos mundos mais adiantados, entre as humanidades superiores, os flagelos não têm mais razão de ser. Não existe a guerra, porque a sabedoria do espírito pos termo a todas as causas de conflitos.Os habitantes das esferas felizes, iluminados pelas verdades eternas, tendo adquirido poderes da inteligência e do coração, não têm necessidade desses estímulos terríveis para despertar e cultivar os recursos ocultos da alma.
Na grande escala da evolução, as causas dor se atenuam á medida que o espírito sobe, porque se tornam cada vez menos necessárias a ascensão que prossegue livremente na paz e na luz
O sofrimento é a grande escola dos indivíduos e dos povos. Quando ele se afastam do caminho reto e resvalam para a sensualidade e para a decomposição moral, ele, com o seu aguilhão, os faz retomar o verdadeiro caminho.
Cumpre que o homem sofra para desenvolver em si a sensibilidade e a vida.
E essa uma lei grave, austera e de fecundas conseqüências. E mister sofrer para sentir, amar, crescer, subir. Só o sofrimento põe cobro aos furores da paixão; desperta em nós a reflexão profunda; revela ás almas o que ha de maior, mais belo, mais nobre no universo : a piedade, a caridade, a bondade!
Do banho de sangue e de lagrimas a França sairá rejuvenescida e mais bela, resplandecentes gloria eterna, para prosseguir na missão que lhe apõe a historia.
IV O mês de Joana d`Arc
Maio de 1915
Depois do longo sono do inverno torno, a terra a vestir-se de suas galas.
No vasto jardim publico que se estende sob minhas janelas, às moitas de flores brilhantes alternam com as verdes folhagens. Os cisnes deslizam majestosamente no tranqüilo lençol das águas, e, nos altos ramos, as aves canoras, como que inebriadas, se entregam a intermináveis concertos. Uma suave claridade envolve todos as coisas, enquanto ao longe, na linha de frente, o fumo da peleja rasteja o sol, e encobre o céu.
Estamos em Maio, mês de Joana d’Arc, assim chamados porque nele se reúnem as datas dos mais memoráveis acontecimentos da vida da heroína: 7 e 8, libertação de Orleans ; 24, sua prisão em Compiègne; 30 o seu martírio em Ruão.
Nesta época do ano, meu pensamento comovido se dirige sempre à Virgem Lorena como a um tipo de força e beleza moral. Nela se reúnem as qualidade mais antagônicas na aparência: energia e sensibilidade, firmeza e candura, idealismo e senso pratico. Invoco-lhe o espírito; medito no seu sacrifício.
Nos dolorosos transes por que passa a França, essa invocação toma caráter geral e grandioso; é o supremo apelo de uma nação ameaçado, calcado aos pés por sanguinário inimigo; é o grito de angustia de um povo que não quer sucumbir e que implora o auxilio dos poderes celestes, das forças invisíveis.
Antes da guerra praticava-se, sem duvida, o culto de Joana; numerosos eram os fieis; mas, entre estes, muitos consideravam os fatos de sua vida como coisas vagas, longínquas, quase lendárias, esbatidas pelo remoto do tempo.
As tentativas de monopolização da heroína pelo clero católica tinham levantado contra ela um partido político inteiro.
A proposta de criar uma festa nacional para comemoram-lhe a memória dormia ha mais décadas no arquivo da Câmara. Um enxame de críticos meticulosos e malévolos atirou-se aos pormenores de sua historia, para contesta-os, denegri-los, ou pelo menos lhes empanar o brilho.
Um Anatole France a apresentava aos nossos contemporâneos como uma mística quase idiota; Thalamas chegava mesmo a injuria-a. Hanotaux referia-se a ela mais dignamente, mas queria fazê-la passar por instrumento das ordens religiosas mendicantes, o que era pura fantasia.
O Messias da nossa terra, admirado e glorificado pelo mundo inteiro, chegaram os Franceses a transformar em assunto de polemica e discórdia.
A mutação hoje é completa. Sob a tempestade de ferro e fogo que a esmaga, na angustia que a estrangula, a França em peso volve: o pensamento para Joana e lhe invoca o socorro.
Escoram-lhe que salve segunda vez a pátria invadida.
A esses apelos acudindo do seio do espaço, ela paira sobre nossas misérias e dores para as atenuar e consolar.Faz mais: á frente de um exercito invisível, opera na linha de frente, transmitindo aos nossos soldados a chama sagrada que a abrasa, arrastando-os ao combate, á Vitória.
Entre os espíritos que a rodeiam, há poderosos e bem-aventurados; ela, porém, a todos domina com a sua sublime energia. A filha de Deus tomou a peito a nossa causa. Certa de tal auxilio na terrível luta em que se empenhou, a França não sucumbira.
E sabe-se tudo quanto devem sofrer esses nobres Espíritos com o contacto da terra? A natureza deles, sutil, purificada lhes torna aflitivas a permanência em nosso mundo inferior. Precisam de constante esforço de vontade para se manterem na sua atmosfera saturada de mãos pensamentos e de fluidos grosseiros, agravados ainda pelas vibrações das paixões violentas desencadeadas pela atual guerra.
Acrescentai a isso o espetáculo das chacinas, os montes de cadáveres, os estertores dos moribundos, os gritos lancinantes dos feridos, a vista das medonhas chagas produzidas pelos explosivos por todas as maquinas de morte que consigo acarretam os exércitos modernos.
Que de pungentes emoções por conter, por dominar! Joana presenciou, sem duvida, na idade media, cenas desse gênero, mas em proporções muito menores!
Ela reagirá energicamente contra qualquer falecimento, pois, diz ela, tudo se torna secundário, tudo desaparece ante o fim essencial, o fim por alcançar: a libertação da pátria.
A irradiação da sua força fluídica estende sobre todos, até sobre os ingleses, ora nossos irmãos de armas. Entre os nossos soldados, alguns, dotados de faculdades psíquicas, a vêem passar no fumo das pelejas; todos, porém, intuitivamente, sentem a presença e nela põem a sua suprema esperança. Dai as qualidades heróicas desenvolvidas, qualidades essas que causam decepção aos alemães, assombro a todos os que, não sem razão aferente, acreditavam na irremediável decadência de nossa raça.
*
Assim como dominou ela o décimo quinto século, assim o vulto de Joana d'Arc dominará o nosso tempo. E nela e por ela que se fará à união da pátria. Ontem ainda, como no tempo Carlos VII, a França estava desunida, dilacerada por facções políticas geradas pela cobiça, por apetites inconfessáveis. Na hora do perigo, tudo o se desfez em fumo e calou-se, para deixar que pais fizesse ouvir sua voz e seus apelos aos poderes do alto.
Os próprios sectários do radicalismo, que ainda combatiam Joana d'Arc no Palais-Bourbon, se voltam para ela reverentemente.
A 26 de Abril, o senador Fabre escrevia; Mauricio Barres: Acabo de receber uma carta do Sr. Leon Bourgeois em que me diz: Podeis contar com a minha cordial adesão á festa nacional de Joana d'Arc e acrescentava: Eis, pois, conquistados Hervé, Clemenceau e Bourgeois. Joana d'Arc nos protege. todos.
Certos políticos já vêem próxima a hora em que o governo, apoiando-se em todos os partidos, glorificará em Joana essa sagrada união que tornou possível a obra libertadora. Em compensação, outros objetam que nada se pode dizer nem fazer em honra de Joana enquanto os Ingleses estiverem no solo francês. Para assim se exprimirem, é mister bem pouco conheçam o sentimento de nossos aliados para com a heroína. Desde Shakespeare, ele lhe tributou admiração sempre crescente. Todos os anos, nas festas de Ruão, figura uma delegação inglesa e agora, que ele estabeleceram uma de suas bases de operação nessa cidade, não deixam de manter na praça do « Vieux-Marché», no próprio lugar do suplicio, braçadas de flores atadas por uma faixa com as cores britânicas.
A 16 de maio findo, o Reverendo A. Blunt. Capelão da embaixada da Inglaterra, ao depor uma coroa aos pés da estatua eqüestre da praça alas Pirâmides, dizia:
Vimos, como membros da colônia britânica de Paris, depor algumas flores aos pés da estatua Joana d'Arc, a intrépida guerreira de França. Reconhecemos que seu espírito de patriotismo. Coragem e de sublime abnegação anima o exercito francês de hoje e estamos convencidos de que esse espírito o levará á Vitória.
O grande periódico de Londres, o Times, consagrava á memória da Virgem Lorena, ha alguns dias, um notável artigo que resume todo o pensamento inglês sobre esse nobre assunto.
Não ha em toda a idade media, historia mais singela e mais portentosa, mais dolorosa tragédia do que a pobre pastorinha que, pela fé ardente, ergueu a pátria das profundezas da humilhação e do desespero, para sofrer a mais cruel e a mais infamante das mortes pela mão cruel de seus inimigos. A elevação e a beleza moral do caráter de Joana lhe granjearam o coração de todos; os Ingleses se lembram com vexame do crime e que ela foi vitima.
Não é, porém, nem pelo amor da pátria, nem pela coragem na peleja, nem pelas visões místicas, que o mundo inteiro glorifica Joana Arc, é porque, em época triste e dolorosa, ela provou, por palavras e obras, que o espírito da mulher cristã vivia ainda entre os humildes e os oprimidos e produzia profusamente incomparáveis frutos. Algum dia houve natureza mais reta, terna, mais cândida, mais profundamente piedosa?
Antes mesmo que tivesse tido acesso junto ao rei e que lhe tivesse arvorado a bandeira, o povo, por toda a parte, nela acreditava. A força da vontade, a elevação dos pensamentos, a intensidade do entusiasmo venceram todas as oposições.
E meiga e complacente para com os prisioneiros. Até para os Ingleses sua alma se mostra repleta de piedade. Convida-os a que a ela unam para uma grande cruzada contra o inimigo da cristandade.
E quando, com o auxilio de alguns traidores, que os houve entre seus compatriotas, ele, a colheram numa cilada e a fizeram condenaram á morte horrível, suas ultimas palavras foram de perdão para seus algozes.
Um patriota francês não se exprimiria melhor Com certeza, não, Joana não tinha ódio aos Ingleses; queria simplesmente po-los fora do território da França. Como o diz o «Times», pensava mesmo em associa-os aos Franceses numa grande empresa cuja direção ela tomaria. Escrevia lhes se derdes satisfação ao rei de França, poderá ainda vir em companhia dele, onde quer que os Franceses pratiquem o mais belo feito que jamais foi praticado pela cristandade.
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Sua clara visão, atravessando os séculos, referiria aos sucessos presentes, a essas gigantes luta da civilização contra a barbaria, na qual tencionava intervir?
Pela violência, pelo terror, a Alemanha quis impor ao mondo a sua horrível cultura, essas teorias implacáveis do super-homem, de que Nietzsche se constituiu profeta e que suprimem o que ha de mais nobre, mais poético, mais belo na alma humana, isto é, as dualidades fidalgas e com elas a compaixão, a piedade, a bondade. O Deus do Evangelho, que Jesus nos ensinou a amar, os Alemães quiseram substituía-o por não se sabe que divindade lôbrega e cruel, que muito menos se assemelha ao Deus dos cristãos do que ao Odin escandinavo em seu Vahala maculado de sangue.
A essas concepções de outras eras, onde ao mais grosseiro materialismo se une um misticismo bárbaro, devemos opor, sob a égide da Virgem de Lorena, uns espiritualismos claros e adiantados, feitos de luz, justiça e amor. Esse espiritualismo revelará ao mundo a lei eterna que estabelece a liberdade, a responsabilidade de todos os entes e que lhes impõe o dever de reparar, através de existenciais sucessivas e dolorosas, todo o mal por ele praticado. Depois da expiação ela assegura o ressurgimento e a partilha de todas as alegrias e bens celestes, na justa proporção dos méritos conquistados e dos progressos realizados.
Esta é a doutrina que Joana preconiza; pois não se ocupa somente da libertação da pátria. De há muitos anos coopera também no seu ressurgimento moral. Todos aqueles que freqüentam os centros em que ela se manifesta sabem com que carinho vela por esta doutrina, anima-lhes o defensor e trabalha pela sua difusão no mundo.
Esta virgem inspirada cumpriu outrora missão que, rio decorrer dos séculos, havia de servir de exemplo para todos. Vê-se hoje que o papel da mulher poderia ser o de fortalecer o animo do homem e excitar-lhe a dedicação á pátria. De fato, no seio da família é, sua missão mais modesta: mas a educação que dá ao filho deve despertar-lhe atriz a energia e o valor, aumentarem-lhe o amor por todas as virtudes que dele decorrem. Destarte se verá desenvolverem-se as energias da nação; a fusão dos partidos tornar-se-á mais fácil, bem como a missão de todos, unidos por um nobre ideal comum.
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Desunidos na paz, os Franceses, se reconciliaram ante o perigo. Cépticos ontem, hoje já fazem apelos ás forças divinas e humanas capazes de regenerar a raça, aos bafejos do alto que vivi ficam as almas e despertam as adormecidas qualidades viris.
Estamos certos de que persistirá este estado de espírito. Ha, no atual momento, em a nossa linha de frente, cerca de três milhões de homens que experimentam iguais fadigas e afrontam perigos iguais. E impossível que as provações passadas não constituam poderoso elo e que, unidos pelo coração e pelo pensamento não trabalhem em comum para o ressurgimento da pátria.
Joana os auxiliará na obtenção desse desideratum. Por seu intermédio, afirmamos nós, far-se-á a união de todos os partidos, porque ela não é propriedade de nenhum deles; pertence a todos, pois todos acharão em sua vida razão para a venerar. Os realistas glorificarão a heroína fiel que e, sacrificou pelo rei; os crentes, a enviada providencial que apareceu na hora dos desastres. Os filhos do povo amarão a camponesa que se armou para a salvação da pátria. Os soldados se lembrarão de que, como eles, ela sofreu e por duas vezes foi ferida: os infelizes, que suportou todas as amarguras, todas as provações e bebeu o cálice das dores até a lia. Nela verão todos uma manifestação da força superior, da força eterna encarnada em urra ser humano para executar obras capazes de levantar as inteligências e reconciliar todos os corações.
V - A justiça divina e a atual guerra
14 de Julho de 1915
Há um ano que sobre a França caem às provações de uma guerra sem precedentes. Um véu de tristeza e de luto estende-se sobre os nossos pais e muitos irmãos nossos choram por entes queridos.
A vista de tantos males, é mister volver os pensamentos para os princípios eternos que regem as almas e as coisas.Somente no Espiritismo acharemos a solução dos múltiplos problemas dite o drama atual apresenta: nele é que léus. Buscaremos as consolações capazes de mitigar a nossa dor.
Perturbados pelos acontecimentos que se dão, vários amigos me perguntaram: Porque permitem Deus tantos crimes, tantas calamidades?
Antes de tudo, Deus respeita a liberdade humana, pois que é o instrumento de todo progresso e a condição essencial de nossa responsabilidade moral. Sem liberdade, sem livre arbítrio, não existiria nem bem nem mal e como conseqüência não poderia haver progresso. E o principio de liberdade que constituem ao mesmo tempo a prova e a grandeza do homem, pois lhe confere o poder de escolher e de operar; é a fonte dos esplendores Moraes para quem está resolvido a engrandecer se. Não se tem visto, na presente guerra, uns descerem abaixo do bruto e outros, pela dedicação e, pelo sacrifício, atingirem o sublime?
Sabemos que, para os espíritos inferiores como os que, em maioria, povoam a terra,o mal é a resultante inevitável da liberdade. Mas, do mal praticada sabe Deus, em sua sabedoria profunda e infinita, tirar proveito para a humanidade. Colocado fora do tempo, por isto mesmo ele assiste ao decorrer dos séculos, ao passo que, uma nossa existência efêmera, tem dificuldade de abranger o encadeamento das causas e seus efeitos. Contudo, cedo ou tarde. Soará indubitavelmente a hora da justiça eterna. Sucede que ás vezes os homens, esquecendo-se das leis divinas e do objetivo da vida, resvalam no declive do sensualismo e se chafurdam na matéria. Então, tudo o que era beleza da alma se encobre, desaparece, para dar lugar ao egoísmo, à corrupção, aos desregramentos de toda espécie. O que se verificava de muito tempo entre nós. A maior parte dos nossos contemporâneos já não tinham outro ideal senão a riqueza e os prazeres. O alcoolismo, a devassidão havia secado as fontes da vida. Para tantos excessos só restava um remédio: o sofrimento! As paixões más, sabemol-o, desprendem fluidos que se acumulam pouco a pouco para se transformarem em borrascas e tempestades. (Dai a atual guerra).
Não faltaram, entretanto, avisos; mas os homens perseveraram surdos ás vozes do céu. Deus deixou que ela estalasse, porque sabe ser a dor o único meio eficaz para fazer voltar o homem a vistas mais sãs, a sentimentos mais generosos. Contudo, sofreu o furor do inimigo. Apesar do talento de organização e de um meticuloso preparo, a Alemanha foi detida na execução de seus planos. Sua feroz crueldade, sua desmedida ambição levantaram contra ela os poderes celestes. Depois do lento trabalho de desagregação do antimilitarismo, a Vitória do Marne e o entusiasmo das nossas tropas só podem ser explicados pela intervenção das forças invisíveis. Orar, essas forças estão sempre em ação, e eis porque, Apesar dos sombrios prognósticos do presente, conservamos, inteira a nossa confiança no porvir.
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Do ponto de vista material, podia Deus impedir a guerra, porém do ponto de vista moral, não o podia, visto exigir uma de suas leis supremas que todos nós, indivíduos e coletividades, suportemos as conseqüências de nossas ações. São culpadas, em graus diversos, as nações empenhadas na presente luta. A Alemanha. Pelo seu insensato orgulho, seu culto da força bruta, seu desprezo do direito, suas mentiras e crimes, levantou contra si as forças vingadoras. O desmedido orgulho produz sempre a queda e a ruína. Foi a sorte de Napoleão; será a de Guilherme II. São tremendas as responsabilidades deste ultimo, pois o seu gesto não provoca somente hecatombes sem iguais na Historia; poderia também fazer perder a Europa o cetro da civilização. Ele conseguiu Por muito tempo, iludir a opinião: não sucedera mesmo à justiça eterna.
Quanto a França, nos dissemos, a leviandade, a imprevidência, o amor infrene dos gozos haviam de atraiu fatalmente sobre ela duras provações. Notemos foi no dia seguinte ao de um processo em que a podridão nacional se patenteava em plena luz, que rebentou a guerra. O que entre nós de pior havia não eram os nossos defeitos, era antes esse estado de consciência que não mais distingue o bem do mal. E a pior das condições Moraes. Os laços da família se tinham afrouxado de tal modo que se considerava o filho como uma carga. Por isso, o despovoamento, resultado de nossos vícios, nos colocou enfraquecidos diminuídos, ante um adversário temível. A alma francesa, porem, conservava imensos recursos. Desse banho de sangue e lagrimas ela ponde sair retemperada, regenerada.
Perante a justiça divina, não são somente estas duas nações que se acham carregadas de pesadas dividas. Entre os males que assinalamos, há uns que se estendem a toda a Europa. Por toda parte se nos deparam homens semelhantes aos que encontramos em torno de nós, cuja consciência morreu e que fizeram do bem-estar o fim exclusivo da existência, como certos políticos e homens de estado que tiveram a pretensão de presidir aos destinos de nosso pais.
Para reagir contra essas enfermidades da consciência e esse baixo materialismo, permitiu Deus que as calamidades se revestissem de caráter geral. Se tivessem sido apenas parciais, uns teriam assistido indiferentes aos sofrimentos dos outros. Para arrancar as almas ao letargo moral, a profunda imersão na matéria, era necessário esse raio que abala a sociedade a os alicerces. Ser-nos-á suficiente a terrível lição que nos é dada? Se devesse permanecer vã, se devessem persistir em nós as causas morais de decadência e de ruínas, seus efeitos continuariam a se produzir e a guerra reapareceria com seu cortejo de males.
E mister, pois, que, passada a tormenta, a vida nacional recomece em bases Moraes e que a alma humana aprenda a se desapegar dos bens materiais, a lhe compreender o nenhum valor. Sem o que, todos os sofrimentos terão sido estéreis e a nossa bela juventude, ceifada sem proveito para a França.
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Conseguir-se-á algum dia abolir, apagar os ódios que separam os povo?
Os socialistas o tentaram, mas a sua propaganda internacionalista não teve outro resultado senão a mais estrondosa derrota. Os nobres e inúteis protestos dos pacifistas, seus apelos á arbitragem não nos parecem mais, diante do presente conflito, do que pueris ilusões. Ao sopro de um vento de tempestade, as nações se atiram umas contra as outras sem pensar em recorrer ao tribunal de Haya.
As religiões se mostram não menos impotentes: dois monarcas cristãos ou que na conta de cristãos eram tidos, ou pelo menos místicos e devotos, desencadearam todas as calamidades presentes. O próprio papa não logrou encontrar a expressão forte que convinha para estigmatizar atrocidades germânicas.
Para remediar aos nossos males, seria preciso a renovação completa da educação, um despertar da consciência profunda; cumpriria ensinar a todos, desde a infância, as grandes leis do destino com os deveres e as responsabilidades que a elas se prendem; seria preciso que todos, cedo, ficassem compenetrados de que todas as nossas ações recaem fatalmente sobre nós com suas conseqüências boas ou más, felizes ou funestas, como a pedra lançada ao ar torna a cair ao solo. Em uma palavra, cumpre dar as almas alimento mais substancial e mais vivificante do que com que as alimentaram desde muitos séculos e que atinge a falência intelectual e moral que presenciamos com tristeza. Mas, enquanto o ensino escolar e religioso deixarem o homem na ignorância do verdadeiro fim da existência e da grande lei da evolução que regula a vida através de suas fases sucessivas e renascentes, a sociedade ficará entregue ás paixões más, á devassidão, e a humanidade será dilacerada por violentas convulsões.
Seria ocasião de ensinar ao homem a conhecer-se e a dirigir as forças que nele existem.
Se ele soubesse que todos os seus pensamentos, ações, movimentos hostis, egoístas ou invejosos, contribuem para aumentar os poderes maus que pairam sobre nós, alimentam as guerras e precipitam as catástrofes, mais cuidado teria no seu modo de proceder e assim se atenuaram muitos males.
Só o Espiritismo poderia ministrar esse ensino; infelizmente, sua falta de organização lhe tira a maior parte dos recursos. Resta a iniciativa individual. Ela muito pode, na esfera restrita de sua ação. Todos os espíritas têm por dever difundir em torno de si a luz das verdades eternas e o balsamo das consolações celestes, tão necessários nas Horas de provações que atravessamos.
No meio da procela, a voz dos poderes invisíveis se ergue para dirigir um apelo supremo á França, á humanidade. Se não for ouvido esse apelo, se não provocar o despertar das consciências, se persistir a nossa sociedade nos vícios, no cepticismo, na corrupção, a era dolorosa se prolongará ou se renovará.
Mas o espetáculo das virtudes heróicas decorrentes da guerra nos conforta, enche-nos de esperança, de confiança no futuro de nossa terra que apraz-nos ver nele o ponto de partida de uma re. Surgimento intelectual e moral, a origem de uma corrente de idéias assaz poderosa para varrer os miasmas políticos e estabelecer o regimes que as circunstancias exigem. Então, do caos dos acontecimentos, surgirá uma França nova, mais digna e capaz de grandes obras.
A alma viva da França liberta-te das pesadas influencias materiais, que te detêm o surto e sufocam as aspirações de teu gênio! Neste, dia - 14 de julho - ouvem a sinfonia que se ergue de todos os pontos do território nacional: vozes elos sinos que se escapam em ondas sonoras de todos os campanários, vozes das antigas cidades e dos burgos tranqüilos, vozes da terra e do espaço que te chamam e te convidam a retomar tua marcha, tua ascensão na luz.
*
Soldados que, na linha de frente, opondes ao inimigo a trincheira de vossos peitos e de vossos valentes corações, sois a carne de nossa carne, o sangre de nosso sangue, a força e a esperança de nossa raça. As irradiações de nossos pensamentos e de nossas vontades dirigem-se a vós, para vos animar na luta ardente que prosseguis.
Ouvi, vós também, a harmonia que, neste dia, sobe das planícies, dos vales e dos bosques, das cidades populosas e dos campos recolhidos, unidos aos toques estridentes do clarim e aos acordes vibrantes das Marselhesas! E a voz da pátria. Ela vos diz.
Velai e lutai. Combateis pelo que neste mundo ha de mais sagrado, por esse principio de liberdade que Deus colocou no homem e que ele próprio respeita, a liberdade de pensar e de obrar sem ter que prestar contas ao estrangeiro.
Combateis pela conservação do patrimônio que nos legaram os séculos, pela casa em que nascestes, pelo cemitério em que jazem nossos antepassados, pelos campos que nos alimentaram, por todos os tesouros de arte e de belezas acumulados pelo trabalho lento das gerações em nossas bibliotecas, museus e catedrais. Combateis para conservar a nossa língua, esse falar tão meigo que o mundo inteiro considera como a mais nítida e mais clara expressão do pensamento humano. Defendeis o lar da família, onde gosta de repousar vosso espírito e vossa alma; os berços de vossos filhos e os túmulos de vossos Pais!
Soldados, vós vos engrandecestes no ponto de vista terreno. Pela vossa firmeza na provação, pelo vosso heroísmo nos combates, levantastes aos olhos do mundo o prestigio da França, tornastes mais brilhante aureola de gloria que lhe orna a fronte. E mister, agora, aspirar ao céu; cumpre erguer os pensamentos para Deus, fonte de toda força e de toda a vida!
Não basta, para vencer, armas aperfeiçoadas e poderoso instrumental material. E necessário também o ideal e a disciplina; é preciso, nas almas, a confiança em um futuro infinito, a fé esclarecida, a certeza de que aos destinos de todos nos preside uma justiça infalível.
Ficai de sobre aviso com os negadores de verdades evidentes, com os que vos dizem que a morte é o fim de tudo, que o ser perece completamente, que os esforços, as lutas, os sofrimentos só têm por sanção o nada.
Aprendei a orar antes da batalha, a implorar os socorros do alto. Abrindo-lhes os vossos corações, toar mais intensos, mais poderosos.
Desconfiai dos que vos dizem: não ha fronteiras, a pátria é apenas uma. Palavra, todos os povos são irmãos. Reims, Soissons, Arras é tantas outras cidades podem responder eloqüentemente a essas teorias.
Não foi dessa maneira que nossos pais constituíram a França através dos séculos, que tornaram grande, forte e respeitada.
Cada povo tem seu talento particular e para o manifestar precisa da independência. Dessa diversidade, desses contrastes mesmos é que se origina a emulação, que nascem o progresso e a harmonia.
Soldados ouviram a sinfonia que se eleva das planícies, dos vales e dos bosques, mesclada aos rumores das cidades, aos cânticos patrióticos e ás fanfarras belicosas. Das florestas da Argonne ás gargantas dos Pirineus, das margens floridas da Côte d'Azur aos vergeis da Turena e ás penedias da Normandia, dos promontórios bretões batidos pelas ondas aos Alpes majestosos, a grande voz da França entoa seu hino eterno!
Mais alto ainda se ergue a sua prece, a prece dos vivos e dos mortos, a prece de um povo que não quer parecer e que, na aflição, se volta para Deus, pede socorro, para salvar a independência e conservar intactas a gloria e grandeza!
VI O despertar do gênio céltico
Assim como um lago agitado pela tempestade vê subir á tona as coisas confusas sepultadas na profundidade de suas águas, também o imenso drama que subverte o mundo faz surgir, com as energias latentes, todas as paixões violentas, as cobiças e os furores que dormitavam no fundo da alma humana. Nesta hora cruel é agradável repousar o pensamento nos grandes vultos que guiaram, iluminaram, consolaram a humanidade. Nesse numero está Allan Kardec.
Ha cerca de vinte anos, me percorria as praias da Bretanha, essa terra de granito agitada pelas tempestades, varrida pelos rijos ventos do largo. Lá se erguem os colossos de pedra, os imponentes monumentos megalíticos, erigidos por nossos pais, os Celtas, á beira do Oceano.
E verdade que Camille Jullien e outros sábios lhes atribuem origem ainda mais antiga. Mas, sejam quais forem seus autores, não representam menos por isso um grande pensamento religioso, e os Druidas souberam utilizar se deles para o seu austero culto.
Falarei aqui dos celebres alinhamentos de Carnac, que contavam ainda, na idade media, doze mil pedras do Menhir de Locmariaker, hoje partido em três pedaços e que tinha vinte' e cinco metros de altura.
Falarei dos dolmens que cobrem toda região.
Quantos viajantes passaram perto desses blocos misteriosos sena lhes compreender o sentido quanto a mim, sempre me esforcei por sondar essa gigantesca Bíblia de pedra e ela me revelou as crenças de nossos pais, tão desprezados, tão caluniados pelos catolicismos idolatra: Deus é grande demais, pensavam eles, para ser representado por imagens Só a natureza virgem e livre pode dar uma idéia de seu poder e grandeza. “Toda pedra talhada é pedra maculada. Somente sob as abobadas sombrias das florestas seculares, ou do alto das Penedias de onde olhar abrange os imensos horizontes do mar, se pode entrever o Ser infinito e eterno! Vós o sabeis, eles acreditaram também na pluralidade dos mundos, na ascensão das almas, na estrada vidas sucessivas e praticavam a comunhão augusta dos vivos e dos mortos”.
Foi nessas profundas fontes que Allan Kardec ilustrara seu espírito; foi com meios idênticos que ele viveu outrora. Não na Bretanha talvez, mas antes na Escócia, segundo a indicação de seus guias. A Escócia é habitada pela mesma raça. Monumentos megalíticos lei são numerosos e, hoje ainda, entre as brumas melancólicas do norte. A tradição céltica paira sobre os lagos e os montes.
As faculdades psíquica e principalmente a vidência em muitas famílias são hereditárias. Kardec ali aprendeu a filosofia dos Druidas; preparava-se no estudo e na meditação para as grandes empresas futuras.
Tudo, nele, em a sua ultima existência: caráter grave, amor ardente da natureza, até o nome de Allan Kardec, que escolheu, até este dólmen erigido no seu tumulo por sua expressa vontade, tudo, digo eu, lembra o homem do visco do carvalho, que voltou a esta Gália para despertar a fé extinta e fazer reviver nas almas o sentimento da imortalidade. A crença nas existências renascentes e a estreita solidariedade que liga os mundos visíveis aos mundos invisíveis
E sob esse aspecto, muito pouco conhecido que me apraz considerar-te, Kardec, meu mestre! E em nome dessas recordações comuns que te venho dizer, aspira-nos na realização da obra encetada, guia-nos na senda que teus primeiros esforços abriram.
*
Presenciamos, na presente hora, um dos maiores dramas da historia, uma nova invasão dos bárbaros, mais formidável que as anti as e que ameaça arruinar a obra dos séculos, submergir a civilização.
Despertam, porém, as qualidades heróicas de nossa raça: a intrepidez, o espírito de sacrifício, o desprezo! Da morte. Diante do perigo, os filhos da Gália, os da Grã-Bretanha, da Escócia e da Irlanda, todos os Celtas, numa palavra, se acharam reunidos para deter o ímpeto feroz dos Teutões. Combate com eles o exercito invisível dos antepassados, sustentando-lhes a coragem, incutindo lhes ardor e perseverança no esforço. Este auxilio do alto é segurança de Victoria próxima.
Depois da luta deveremos procurar os meios de levantai moralmente a pátria, de afastar dela o abismo de males em que esteve a ponto de cair. Antes da guerra, o chie fazia aos olhos do mundo a nossa fraqueza e o nosso descrédito era parecermos um povo sem ideal, sem religião. E' verdade nobre, é pura doutrina do Cristo, alterada, desnaturada, mesclada, com o andar dos tempos, de elementos parasitas e estranhos, não nos oferecia mais uma concepção da vida e do destino em harmonia com o conhecimento adquirido do Universo e. de suas leis. Insensivelmente a França descambara Para indiferença, no cepticismo, na sensualidade. Mas, eis que terrível abalo nos detém nesse declive fatal. Nesta hora de desgraça, todos nós compreendemos a necessidade de uma Fé verdadeira, baseada na experiência. Na razão e nos fatos, de uma fé que proporcione a alma à certeza de um futuro sem fim, o sentimento de uma justiça superior com a noção precisa de seus deveres e responsabilidades.
Perguntar-me-ão talvez donde virá essa nova fé. Assim como as qualidades viris de nossa raça preservaram a pátria da ruína e da destruição, também à volta ás tradições étnicas lhe restituirá a força moral. Preparará-lhe a salvação e a regeneração. E então que a obra de Allan Kardec se mostrará no seu papel providencial, em suas incontestáveis oportunidades. Porque o Espiritismo nada mais é do que à volta ás crenças célticas, enriquecidas pelo trabalho dos séculos, pelos progressos ela ciência e pelas conquistas do espírito humano.
Não ha ressurgimento possível. Sem educação nacional que ensine ás gerações o sentido real da vida, de sua missão e de seu fim, sem ensinamento que ilumine as inteligências, avigore os caracteres e fortaleça as consciências, ligando os princípios essenciais, elementares, da ciência, da filosofia e da religião. Estes poderes, até aqui, antagônicos, fundir-se-ão assim para maior beneficio da sociedade. A humanidade ainda espera por esse ensino, que dará ao ser os meios de se conhecer, de medir as próprias forças, de estudar o mundo ignorado que cada um traz em si.
A França, tomando essa iniciativa. Que na sua missão e no seu gênio, se tornaria na realidade a grande semeadora e daria o signo da libertação do pensamento.
O túmulo de Allan Kardec seria assim o berço da Idea nova, mais radiante e mais pura, capaz de guiar o homem através das dificuldades de seu peregrinar terrestre.
O melhor meio de honrarmos a memória do nosso ilustre Mestre é embebermo-nos da sua obra, comungar com o seu pensamento, a fim de nos tornarmos mais unidos, mais firmes, mais decididos ira vontade de trabalhar pelo seu triunfo e difusão no mundo. Não poderá jamais o Espiritismo achar mais favorável momento para manifestar a fonte de verdade, de consolação, de luz gire nele reside.
Não ha. Em derredor de nós inumeráveis dores? Quantas pobres criaturas humanas choram entes queridos! Quantas outras, feridas, mutiladas, privadas da vista para o resto da existência! E que de famílias arruinadas, despojadas, expulsas de seus lares por um inimigo cruel!
Todos precisam de nossas crenças para aceitar as suas provações. A certeza da reunião futura fará menos doloroso para uns o tempo da separação. O conhecimento da lei dos destinos fará compreender aos outros que os nossos sofrimentos são meios de depuração, de ascensão e de progresso. Em todos a nossa doutrina infundirá esperança, valor, confiança! Lancemos, pois, a mãos cheias a semente fecunda, sem nos inquietarmos com as criticas e as zombarias. O que hoje ri dos nossos princípios, terá amanhã a satisfação de ir buscar neles a força para suportar os seus males.
O Allan Kardec! Espírito do grande iniciador, nesta hora em que sobre a nossa pátria chovem as provações, em que a angustia estrangula tantos corações ampara-nos, ampara os teus discípulos, dá lhes a fé ardente que vence todos os obstáculos, comunica-lhes a força de persuasão o calor do sentimento que derrete os gelos do ceticismo e dá a todos a confiança no porvir.
Graças a ti; Kardec, graças á tua obra, após vinte séculos de silencio e esquecimento, a fé: das antigas eras ressurgem na terra das Gália e um raio de luz vem dissipar as sombras do materialismo e da superstição. Druida reencarnado, tu nos revelaste este grande pensamento debaixo de nova forma, acomodadas ás exigências da nossa época.
Filhos dos Celtas, herdeiros das crenças de nossos pais, nós te: saudamos como representante do passado glorioso de nossa raça, vindo a este mundo para restabelecer a verdade e guiar o homem nas suas etapas para a vida infinita.
E vós, irmãos, que, antes de nós, deixastes a terra, legião inumerável dos heróis que morreram combatendo em defesa da pátria, vinde pairar sobre todos os que lutam, não só pela libertação do solo nacional, senão também pelo triunfo da Verdade; vinde estimular a energia é avivar em sentimento profundo da imortalidade.
Mais alto ainda, nossos pensamentos e nossas vozes se elevam a ti, Pai de todos os seres, para dizer-te: Deus ouve o apelo, o grito de aflição e angustia, ouve o gemido doloroso é Dilacerante dize-te sobe da terra de França, desta terra banhada de sangue e lagrimas! Salva a nossa pátria da ruína, da morte, do aniquilamento Dá aos nossos soldados a energia necessária para e eles repelirem um inimigo cruel e pérfido! Não podes permitir o triunfo de uma adversária implacável que, sob a égide de teu nome augusto e venerado, se cobriu de crimes, de mentiras e de infâmia! Não podes deixar sem punição o atentado de Reims! Não podes tolerar que estes principias sagrados, pois de ti emanam, que foram, em todos os tempos, o sustentáculo moral, a consolação. E esperança, o supremo ideal da humanidade, isto e, a justiça, a verdade, o direito, a bondade. A fraternidade seja violada impunemente, calcados aos pés, reduzidos a nada! Por amor de teus filhos, de nossos heróis, de nossos mártires, salva a França de Joanna d'Arc. de S. Luiz e de Carlos Magno!
VII. O dia de finados na trincheira
2 de Novembro de 1916.
Está sombrio o céu. Tristezas imensas envolve a terra.No espaço, em legiões inumeráveis flutuam as almas dos que tombaram combatendo pela pátria.
Nas casas solitárias, mulheres enlutadas choram os que desapareceram.
Os órfãos da guerra, cujos pais repousam, debaixo da terra nas planícies do Flandres ou nos bosques da Lorena, dirige-se lentamente para os cemitérios a fim de enfeitar de flores túmulos das mães que as penas e os desgostos mataram.
Lá ao longe, na trincheira, um jovem soldado vela atento e lança olhos em torno de si. Estão silenciosas as linhas inimigas e o canhão calou-se; a calma da natureza sucedeu ao tumulto da peleja e ás falas ruidosas dos acantonamentos da retaguarda. Aqui o perigo suspendeu todas as conversações ociosas. A proximidade da morte a todos impõem uma gravidade concentrada e os pensamentos profundos sobem dos corações aos cérebros.
Aquele moço é intelectual um sensitivo um espírita. Esta 1 ano na linha de frente. entrou em vários combates, em que viu os camaradas ceifados pela metralha. De que pende a sua própria existencial não é ela como arqueiro uma palhinha no meio da tormenta? E, todavia, ele sabe que se estende sobre a sua cabeça uma proteção oculta e sente que o ampara uma força incógnita.
Como todos àqueles cuja vida interior é intensa, apraz-lhe estar só. A solidão é para ele a grande escola inspiradora, a origem das revelações é nela que se realiza a comunhão ele sua alma com o Divino.
Seus olhos pousam complacentes sobre a floresta próxima, que o outono revestiu com ,as suas tintas de ouro e de púrpura. Chega até ele à canção de um arroio, as colinas que orlam o horizonte esfumam-se ao pálido clarão do poente, Deste espetáculo da natureza se desprende uma paz serena, que nada, nem o pensamento do perigo nem o temor da morte, vem perturbar.
No meio das visões cruentas da guerra, basta uma hora de contemplação para lhe recordar que a beleza soberana da vicia, a beleza eterna elo inundo dominam de muito alto todas as catástrofes humanas, que as hecatombes e os morticínios não têm poder para destruir a menor parcela de embrião da alma.
A noite avança sobre a planura. Nuvens, as estrela lançam sobre a terra os seus raios trêmulos como outras tantas provas de amor, outros tantos testemunhos da solidariedade imensa que une todos os seres e todos os mundos.
Com a paz, a confiança e a esperança lhes baixam ao coração. Certo, ele saberá sempre cumprir o seu dever. Está-se batendo em defesa da pátria invadida, por amor da qual suportara todas privações é todo o trabalho; mas as violência da guerra não sufocaram nele o sentimento maior da ordem,é da harmonia universal.
Da mesma maneira que para os Celtas, maiores, os cadáveres estendidos além do chão são para ele, apenas invólucros despedaçados que a terra se prepara para receber no seu seio maternal. No mais intimo recesso de cada um de nós subsiste um principio imperecível contra o qual nada podem os furores do ódio, nem os botes da força brutal. Dai, esse santuário é que ha de renascer. após a tormenta, a aspiração humana para com justiça, para a piedade e para a bondade.
*
E eis que. No silencio noturno, murmura uma voz ao ouvido do jovem soldado, que é médiuns auditivos, graves e solenes palavras. E o invisível e que, por sua vez, entra em cena.
Escuta, amigo, cujo pensamento chegou até mim e me atraiu. Às vezes perguntas a ti mesmo o segredo desta horrível guerra e a tua razão, e perturba com o espetáculo dos males que ela produz.
Ah! Para que germine a seara sagrada, necessário e que se rasgue o solo inculto com a relha do arado: necessário é que o mordam os dentes da grade; necessário é que o esmague o rolo debaixo do seu peso. Só assim, a seara divina, o grão novo poderá rebentar da terra.
Se a guerra se prolonga, é porque, por meio dela, se preparam e organizam grandes coisas ao aguilhão da necessidade.
Uma guerra demasiada rápida teria apenas tocado de leve a humanidade; a sua longa duração sua crueza, as conseqüências que dela decorrem no ponto de vista social, político, religioso, econômico, criaram em toda a parte novas rodas, meios e molas. Dela decorrerá radical transformação da sociedade, não somente do ponto de vista da vida material, mas também do da idéia espiritualista.
Quantos corações dilacerados, quanta, almas angustiadas virão a nós em busca de consolação e conforto! Quantas inteligências, dadas ás concepções frívolas, virão, conduzidas pela dor. Procurar as grandes verdades! Também nós, impacientes. Desejamos ver terminada esta carnificina, porque se nos despedaça o coração com o espetáculo de males de que apenas conheceis parte e que nos contemplamos em toda a sita extensão!
Sofremos, como vós, com tantas angustiadas misérias, sofremos talvez mais, porque as vemos melhor, mas tem os sobre vós a vantagem de compreender mais nitidamente os fins divinos destas lutas homicidas. Sabemos que a humanidade não poderá salvar-se de uma queda irremediável senão mediante esta crise e vemos já se delinearem as premissas de um brilhante renascer.
Tende, pois, confiança em nossa França imortal e não choreis os seus mortos. Esta Luta é dos espíritos celestes contara as potencias do mal. Dos espíritos da luz contra as legues tenebrosas, saídas do abismo.
Não; Guilherme. O grande mo invocador de Odin não triunfara da França que. Não obstante seus erros e faltas, sempre volta os olhos para o ideal e para a luz.
Os vossos mortos são vivos: ainda combatem pela pátria, pela humanidade. Eles vêm ás trincheiras animar seus camaradas, inclinam-se sobre os feridos abandonados nos campos de batalha. Para lhes adormecer os padecimentos e dulcificar os horrores da agonia; vão consolar pela ação de seus fluidos reconfortantes os que eles deixaram neste mundo.
A França quase que sucumbiu no Marne e em Verdun. Salvou-se, entretanto, quando o monstro se achava em plena posse de todos os seus poderes e de toda a sua força; agora, ele começa a esgotar se e se esgota; é em vão que distende os músculos, que a pouco e pouco se afrouxam, e, vem perto o dia em que o monstro formidável cairá, para não se alevantar jamais, na areia tinta do seu sangue.
Não podemos nem devemos fixar datas. Se Deus pede dizer ao espírito imundo: Não irás mais longe, deve, todavia deixar ao livre arbítrio das nações e dos indivíduos a possibilidade de se exprimirem. Quantas nações serão julgadas e sofrerão o peso de sua defecção, quando deviam defender a justiça violada!
Quantos indivíduos pagarão caras as suas traições e covardias, que retardaram a vistoria do bem e aumentaram o numero das vitimas Tremam todos! A mão divina cairá pesada sobre eles. Não vos façam, porém, desesperar essas fraquezas desfalecimentos. A França triunfara. A vitória dos Aliados, vitória gloriosa entre todas, bela por tanto heroísmo, por tantos sacrifícios, inaugurará no mundo nova era de justiça de Amor e de beleza!
VIII Ação dos Espíritos sobre os acontecimentos presentes.
Ha dois longos anos, a guerra desdobra, o seu drama medonho. A França sofreu cruelmente. A carga dos seus erros: leviandade. Imprevidência, cepticismo, (amor desenfreado pelo gozo). Recairá sobre ela pesadamente.
Não obstante, a França não podia perecer. No correr das hostilidades, um espírito eminente nós declarava: Os Teutões orgulhosos, traidores e criminosos não dominarão o mundo.
A par ele seus erros. A França mostrou muitas vezes qualidades generosas. Na luta suprema, jamais se rebaixou aos processos odiosos de que usaram os alemães, com desprezo de todas as leis divinas e humanas. A atitude da França no decorrer desta guerra terrível foi, para a Europa e para o mundo, objeto de pasmo e admiração. Antes destes acontecimentos, ninguém podia prever tal despertar das virtudes heróicas de nossa raça; antes, pelo contrario, tudo parecia indicar uma depressão do caráter nacional.
A questão Dreyfus deixara vestígios persistentes e fundos. O pacifismo, o antimilitarismo as teorias internacionalistas tinham trabalhado e minado os espíritos: Já se não acreditava na guerra e procurava-se reduzir o mais possível os encargos e os créditos militares. A lei de três anos fora objeto de longas e penosas discussões e apenas votada, já se pensava em atenuar-lhe os efeitos.
Certos oficiais inferiores me declaravam que, em vez de combater, deporiam o sabre e o revólver. Em minha presença os oficiais de um regimento do Meio-dia se queixavam da falta de patriotismo dos seus homens. Debalde os tentavam, por meio de conferencias sobre a bandeira e os grandes exemplos da Historia, despertar a fibra adormecida; como resultado, não conseguiam mais do que maliciosa indiferença. Numa canção muito vulgarizada, chegou-se a ponto de dizer que as balas de nossos soldados seriam para os seus generais. A Confederação do trabalho e os sindicatos de estradas de ferro ameaçavam responder com uma greve; ás ordens de mobilização.
Rebenta a guerra e operam-se de súbito nos ânimos umas mudanças completas. Faz-se a mobilização com presteza, gravidade e precisão. Todos partem com o sentimento dos grandes deveres que vão cumprir, com a resolução de ir até o sacrifício, ato, a morte; deixam sem hesitação o lar, mulher.
Durante dois longos anos, com uma firmeza de vontade que nada será capaz ele enfraquecer, soldado francês sustentará o embate do mais formidável exercito que jamais o mundo viu, Consciente do seu esforço e certo dos seus meios, ele sabe que está servindo á mais nobre causa da pátria e da liberdade.
A França patenteou-se ao mundo no seu, verdadeiro caráter. Julgavam-na debilitada, diminuída, decadente. Alguns se atreviam a dizer que estava terminado o seu papel histórico. Ora, no decorrer desta gigantesca luta, ela não teve uma hora de desmaio, de desanimo. As mais rude provações, as dificuldades amontoadas encontraram-na mais estóica, mais pertinaz em prosseguir a imensa empresa até o triunfo do direito e da justiça.
No meio de combates de dia e de noite, pelos quais ele frustrava os minuciosos cálculos e as infames combinações da tática alemã, apoderava-se do soldado francês um como frenesi místico. Debaixo da crepitação das metralhadora, debaixo da tempestade de ferro e de fogo, no jactos de flama e nas ondas de gás mortal mostrou-se sempre valoroso, ardente, prometo para todos os grandes feitos, para todos os esforços sublimes!
Neste grande drama, o mais terrível que já, viu a humanidade, representa a França à forca moral de nossa coligação Foi a Vitoria do Marne que deteve o alude germânico e, por muito tempo, o conservou imobilizado, dando, por este meio, aos aliados o tempo indispensável para preencher as lacunas de sua organização é remediar a sua imprevidência e, num esforço comum para reagir contra os aparelhos militares.
Foi a França quem, em face do inundo aterrado pela brutalidade alemã, tomou e defendeu, com os seus aliados, contra um adversário falaz, criminoso. Desleal, a causa imprescritível da justiça. Da verdade, da liberdade dos povos, o direito que tem todo homem de viver e morrer livre. Pode-se dizer que ela salvou a Europa do mais opressor dos despotismos. Assim, ela impor-se á estima, ao respeito da Historia, dando, urna vez sinais, o seu sangue e o seu ouro pelo progresso e pela salvação da humanidade.
Tão completa mudança, tão radical transformação podem explicar-se somente pelo despertar das qualidades fortes da nossa raça, pelas recordações evocadas e pelos heróicos exemplos deixados em herança pelas gerações pretéritas? Certo que tudo isso ha, porém ha mais ainda. Queremos aludir ao socorro intenso das legiões invisíveis.
Desde o começo da guerra, graças ás instruções dos nossos guias, pudemos acompanhar, em todas as suas fases, a ação dos poderes ocultos que combatem conosco pela salvação da França e pelos direitos da justiça eterna.
Por sobre as nossas linhas, nas Horas de batalha, paira o inumerável exercito dos mortos, todas as almas dos heróis celebres ou obscuros que morreram em defesa da pátria. Nuns vôos gloriosos, semelhantes a grandes aves, eles liberam-se sobre os nossos defensores alentando os na ardente luta, derramando sobre eles com energia toda as forças psíquicas, todos os fluidos adquiridos através dos séculos. Também tem chefes ilustres o exercito invisível. A sua frente, os nossos médiuns videntes reconhecem Vercingetorix, Joanna d’Arc, Henrique IV, Napoleão, os grandes: generais da Revolução e do Império. Este reconhecimento impressiona-os profundamente. Cada um dos nossos chefes, de exercito duplica-se com um espírito poderoso que o inspira e guia.
Às vezes, todos esses grandes Espíritos congregam e deliberam. As suas resoluções. Transmitem por via de intuição aos generais, comandantes, que obedecem quase sempre, crendo que realizam os seus desígnios pessoais.
Nas horas trágicas, o soldado francês tinha consciência desse socorro; sentia que o amparava uma força superior e o compenetrava da grandeza de sua missão; ela lhe dizia que a sorte do pai; estava nas mãos dele.
Aos seus esforços ajuntam-se os dos camaradas que sucumbiram; porque não dormem debaixo da terra os espíritos dos que ceifam há vinte meses a metralha alemãs; eles voltam a encontrar entre as multidões invisíveis, cujas vagas imensas rebentam contra o inimigo.
*
Agora que a tormenta se aplaca e clarões da esperanças iluminam o horizonte, é chegada hora de nos recolhermos em meditação, para fazermos um exame de consciência.
Neste drama terrível que transtorna o mundo, não nos toca nenhuma parte ele responsabilidade? Lutamos com toda a energia necessária contra essa decomposição moral que é a causa primariam de todos os nossos males Forcejarmos reagir contra esse culto elo ouro, ela força e do êxito que; parecia haver se tornado a religião exclusiva da humanidade? Defendemos sempre os princípios superiores da consciência e da vida contra a onda crescente das baixas materialidades?
Mui poucos ha entre nós que, chegados a certa idade a, havendo ocupado uma posição social e exercido qualquer influencia em torno de si, possam responder afirmativamente tais perguntas.
Não ha, pois por que nos admiremos se somos feridos em nossas afeiçoes e por nossos interesses, se nos cabe uma parte da dor comum. Mormente para nós, crentes, cumpre que a grande lição seja proveitosa e que o sofrimento nos purifique os corações. Sopro da tempestade que passa sobre o mundo deve avivar em nós a firme resolução de trabalharmos para o reerguimento moral de nossos pais, de despertarmos em todas as almas a noção das altas verdades, o sentimento da vila eterna e o pensamento de Deus.
Cumpre enfim que se unam às vontades e as aspirações e que as preces ardentes, dirigidas ao Pai Pelos filhos criminosos, se eleve da terra para o espaço.
Cada vez mais nos atacávamos na matéria perdíamos de vista o sentido profundo e o verdadeiro fim da existência. Trágicos sucessos vieram, demonstrar-nos que tudo neste mundo é precário incitar-nos a erguer os olhos mais altos. Esses; acontecimentos nos dizem que neste globo temos segurado o dia de; amanhã, que os bens, honras. Tudo que nos seduz e encanta, se, como sombra vã.
Somos criados para a vida infinita e o universo inteiro é nosso domínio. A terra não se não uma elas inúmeras estações de nossa jornada.
A Deus pertencemos, dele viemos e para ele volvemos. Aperfeiçoando e desenvolvendo nosso ser pela alegria e pelo sofrimento, pelo jubilo e pela dor. O nosso corpo não mais à que prisão temporária e a morte é uma libertação. A sabedoria e prudência estão, pois, em subordinar-se sempre a matéria ao espírito, porque a matéria é só aparência e o espírito é a única realidade viva e imperecível.
A dor é sagrada, pois que é a escola sagrada das almas, o mais seguro meio de nos purificar mos e elevarmos. A dor é a reparação do passa do e a conquista do futuro, a possibilidade, que se nos oferece, de nos ajuntarmos com os nosso amados invisíveis, de participar da sua vida, espiritual, de seus trabalhos, de suas missões. Pela dor, os nossos destinos se precisam, se assinalam de modo mais vivo. Eis por que a hora presente é hora solene para a humanidade, cujo avanço ou retrocesso ela precipita.
Pela união dos nossos esforços podemos assegurar a vitória do bem sobre a mal, ela luz.Sobre as trevas, do altruísmo sobre as paixões egoístas e brutais, afins de que algum adiantamento se faça para o reinado do espírito divino.
Após a tormenta virá a era da paz que permitirá estabelecer o balanço moral da presente guerra.
Ver-se-á então que os nossos males deram os seus frutos, Os crimes, as perfídias, as traições de que está carregado o presente, provocarão universal sentimento de reprovação e de horror que lhe impossibilitará o regresso. Por outro lado, as privações e as provações experimentadas em comum aproximaram os corações, aboliram as distinções entre partidos e religiões e tornaram definitivas as uniões sagradas, impostas pela necessidade dos dias tristes. Todos os filhos da França se hão de sentir irmãos, animados do mesmo espírito, resolutos a preparar o triunfo das forças morais e, por meio dela, o reerguimento da pátria. Já grande numero de moços começa a entrever as altas verdades que somente alcançamos quando estamos carregados ele anos e de experiência. Passavam antes da guerra por materialistas e amigos dos gozos; mas, sob a pressão das circunstancias, em face do perigo, em presença da morte e, sobretudo nas longas expectações da trincheira, o pensamento amadureceu. Diante dos olhos rasgaram-se-lhes novas perspectivas, vozes intimas cantaram-lhes dentro da alma e a vida apareceu-lhes com um aspecto não conhecido. O mundo invisível que na sangrenta luta inspira-os nas horas de serenidade e repouso, sugere lhes nobre e elevado ideal, depõe nas suas almas os germens da semente sangrada.
A este respeito recebi da linha de frente muitas cartas que são outros tantos testemunhos. Uma coisa elas demonstra, é que se forjam vontades cuja tempera resistirá a todos os choques e que do caos dos acontecimentos surge um escol. Consciente do seu valor, penetrando na grande lei dos destinos, nenhum refez poderia enfraquecer-lhe a fé.
Está pronto para todos os sacrifício por que o, seu ideal o, eleva acima de todas as provações, de todas as decepções e porque sabe futuro lhe pertence.
Na escola da adversidade, as gerações presentes terão aprendido a renunciar os seus erros e seus vícios. Elas imprimirão à vida nacional nova direções; prepararão os elementos de: uma renovação que restituirá á França todo esplendor do seu gênio e do seu prestigio no mundo.
Assim se faz a Historia, pela intima e profunda colaboração de duas humanidades, a da terra e a do espaço. O que observa superficialmente e sé “, considera no plano terrestre, vê os fatos que se sucedessem sem ordem. Sem nexo, numa aparente incoerência que se poderia explicar pela liberdade. Que Deus concede ao homem, de proceder a seu gosto Mas, se de mais alto contemplamos as coisas, melhor distinguiremos o fio misterioso que as liga. Através da marcha majestosa dos séculos entreve a obra da justiça eterna”.
IX O Espiritismo e as religiões
O Espiritismo não é inimigo elas religiões. Muito pelo contrário ele ministre-lhes poderosos elementos de força e de regeneração. Os conhecimentos que ele nos proporciona acerca da vida do além e acerca das condições da existência depois da morte, a certeza de que leis justas e eqüitativas regem o mundo invisível constituem outros tantos meios de análise e de exame critico que nos permitem separar nas religiões o que é artificial, ilusório, do que é real e imperecível.
Sem duvida que o fenômeno do espiritualismo moderno se encontrara na origem de todas as religiões; mas estas, emprestando-lhes caráter sobrenatural e miraculoso desterrando, os para um passado remoto fizeram-lhes perder toda a influencia sobre a vida moral e social. A comunhão com o invisível era, apenas hipótese, vaga esperança; com o espiritismo, torna-se certa e permanente.
Vivemos numa das maiores épocas de transição da Historia. Os acontecimentos que se desdobram, ai cruentas lutas dos povos, ais subversões sociais são o prelúdio, a preparação de nova ordem de coisas.
Terminada a guerra, o pensamento enquadrara todos os aspectos dela. Procederá a um exame aprofundado de todas as forças no decorrer destes anos trágicos. Então se há de compreender que são as idéias que conduz o mundo. O patriotismo, unindo os corações franceses, deteve a invasão e limitou-lhe o estrago.
Amor da terra natal despertou o heroísmo é este apoiado pelos poderosos auxílios do mundo oculto, salvou a França; por causa disso. A idéia da pátria devera ocupar lugar distinto na educação popular. Mas isso não será bastante.
Para acabar com as nossas discórdias, com a, nossas rivalidades, com as nossas lutas de classes, importa, primeiro que tudo, realiza; a união das inteligências e das consciências. Sem a harmonia das almas não é possível haver harmonia social.
Mas como se ha de preparar tal união. Trabalhando com ardor, com espírito de tolerância e concórdia, para aproximar as tendências. Aspirações, as crenças. Dois meios se nos apresentam: a ciência e a fé. Hostis na aparência, ela, reconciliam-se; e completam-se mutuamente, como veremos no decurso deste livro; pode fornecemos facilmente uma concepção da vida e do destino, uma noção das leis superiores, uma base moral. Todas as coisas indispensáveis á nossa vida perturbada e sem as duras à existência seria vazia de sentido, destituída de fim e de sanção.
No fundo de toda alma humana existe, um retiro, um ponto secreto onde reside à centelha divina à parte de infinito que assegura a cada um de nós a indestrutibilidade do seu eu. Ali dormem as forcas ocultas, os recursos psíquicos cujo desenvolvimento fará mais tarde do ser mesquinho, débil, ignorante que somos no inicio de nossa evolução. Um gênio apto ás maiores empresas e capaz de, no universo, desempenhar um papel notável.
Consiste a verdadeira religião em utilizar esses recônditos recursos e fazê-los valer. Ela deve-nos ensinar a pôr em comunhão o ser interior com o divino e, dai, expandia-o, libertai-o das baixas influencias, estar na plena posse da sua irradiação.
Chegada a esse estado espiritual, a alma humana poderá realizar as mais árduas missões, aceitar com jubilo as mais duras provações.
Saberá conservar nos dias mais tenebrosos otimismo e confiança inquebrantáveis.
Pode-se encontrar este estado de espírito em todas as religiões e também fora das religiões. Ao lado das praticas rituais e dos dogmas diversos, em cujos limite se encerra habitualmente a idéia religiosa, muito freqüentemente nos esquecemos ela fé independente que paira por sobre todos os cultos e não se enfeuda no credo de nenhuma igreja. Esta religião, toda pessoal e livre, conta talvez mais membros do que as confissões reconhecidas, mas o numero deles escapa a todo calculo.
As descobertas da ciência forneceram-nos uma concepção do universo diversamente vasta e grandiosa da possuída pela idade media e da Antigüidade. A experimentação psíquica, o estudo do mundo invisível rasgaram á vida com perspectivas ilimitada. O homem sentiu ligado a tudo o que pensa, ama e sofre na imensidade dos espaços. Romperam-se os moldes das religiões caducas com o impulso triunfante do espírito, ávido de conquistar sua legitima parte de verdade e de luz. Já quase que não ha intelectuais que não tenham criado para si
Uma crença inspirada pela observação direta da natureza; liberta das rotinas seculares, fundada na ciência e na razão.
Não querem os partidários dos dogmas, ver neste sentimento senão o que deles desdenhosamente chamam a religiosidade. Com efeito, ele contém em gérmen os elementos desta religião universal, simples e natural, que, um dia. A de aliança todos os povos do planeta. Em que se fundirão as igrejas particulares como os rios no oceano.
Os acontecimentos atuais terão repercussão profunda em todas as formas da atividade social, Assim que a paz baixar de novo ao mundo. Impor-se-á uma revisão de todas as causas que concorrem para a evolução humana. As religiões não escaparão a uma analise critica, e rigorosas. Os fatos terríveis que se passarão serão à medida que permitira calcular o poder ou a fraqueza delas.
Ha de verificar, não sem certo espanto a educação religiosa de povos que bem alto apregoam cristãos, como a Alemanha e a Áustria, não teve nenhum poder para obstar aos mais abomináveis crimes de que tem de corar a civilização. Ver-se-á com tristeza que a igreja. Romana, nestas cruéis horas, pos sempre os seus interesses políticos acima dos preceitos do Evangelho e dos direitos sagrados da consciência. Não se revelam melhores os sectários do Islamismo e foi evidente mais do que nunca a falência das religiões.
Quanto à França, sacudiu-a, no inicio da guerra, um grande movimento religioso. Depois dos nossos primeiros revezes, as aspirações que residem no fundo de sua natureza despertaram nela com uma necessidade de crer, de saber que a morte não é o nada e que acima de tudo existe um poder soberano, uma força, inteligentes e conscientes, capazes de nos amparar e proteger na provação e de fazer vingar a justiça num mundo de paixões desencadeadas.
Se este sentimento tivesse podido atingir o ideal elevado teria sido o prelúdio de uma renovação nacional. Mas as soluções propostas pelas igrejas às exíguas consolações oferecidas por elas aos corações dilacerados as praticam rituais que elas impõem. Já não satisfazem as necessidades do tempo e do meio. Foram julgadas insuficientes e enfraqueceu-se pouco a pouco o movimento religioso.
O pensamento continua, todavia, voltado para o além. Em face do perigo, debaixo do dilúvio de males que nos ameaçam, no, meio das ruínas e dos lutos que se acumulam à alma francesa busca sempre uma base sólida, uma certeza em que apoiar a sua fé.
Não as encontrará senão no espiritualismo, moderno e principalmente no Espiritismo. A Religião do futuro descansará na prova cientifica da sobrevivência, nas demonstrações experimentais e nos testemunhos dos sábios que aprofundaram o, problemas da vida invisível.
No decurso desta guerra, o antropomorfismo. Das religiões patenteou-se em seu aspecto mais monstruoso. O velho deus alemão não é mais do que uma evocação dos deuses Bárbaros do paganismo, germânico.
Debaixo e sua mascara cristã mal desenhada reconhecem-se às feições tio sanguinário Odin. Que preside ás cenas de destruidoras.
Esta concepção da divindade e muito vizinha do mais baixo materialismo e repudia ás almas delicadas, aos espíritos refinados. Ela não é tão somente do gosto de um monarca ambicioso de dominar o mundo e da sua roda militar: encontramos também nas obras dos pensadores alemães: professores pastores, escritores proclamam-na á porfia em discursos e publicações.
Semelhante ao Jeová da Bíblia, o velho deus alemão protege exclusivamente uma raça. E nas outro apenas um rebanho de povos vis c corruptos, fadados á reina e à morte: essa mentalidade feroz que faz dos germanos supostos instrumentos da vingança divina e os impele a uma obra de destruição que eles prosseguem metodicamente.
Aproximando esse grosseiro misticismo das teorias de Nietzsche relativas ao super-homem, tão difundidas na Alemanha, podemos medir as funestas conseqüências de uma falsa religião unida a uma falsa filosofia Boa é, sem duvida, desenvolver a vontade de poder. Segundo a expressão de Nietzsche, com a condição, porém. De se desenvolverem simultaneamente a consciência e as outras faculdades do espírito e do coração a piedade. A bondade, o respeito da verdade. Do direito e da justiça. Sem isso, rompe-se no homem todo equilíbrio moral e não se lograrão fazer senão orgulhosos, déspotas, monstros, que, para triunfarem não titubeiam no emprego de todos os meios, dos mais criminosos e odiosos. Dai. Essa luta terrível que se desdobra em derredor de nós e em que a Alemanha, por seu feroz egoísmo, se desacredita e desonra aos olhos do mundo e da Historia.
II
Março 1917
Em nossos pais, a idéia de Deus, obscurecida, e desnaturada pelas religiões. Dissipou em muitas almas. Havia já muito t formara-se na França uma corrente de ceticismo que minava surdamente as bases de toda crença e até mesmo de toda ordem social. Chegaram às horas trágicas que debaixo da devastadora tempestade de ferro e de fogo sentiu a França a necessidade de um ideal elevado, dê uma força moral que permitisse olhar frente a frente à morte, de suportar sem desmaios todos os golpes da adversidade. Até aos mais frívolos impôs a proximidade do perigo uma gravidade reconcentrada e muitos pensamentos se voltaram para o Além. Parece que isso são outras tantas premissas de espiritual renovação. Do fundo do abismo de males em que caímos. Eleva-se para o céu um grito de invocação; sobem aspirações para formas religiosas mais altas e mais puras, capazes de proporcionarem ao homem meio; eficazes para desenvolver o que nele ha de imortal e divino. As concepções do passado poderão contribuir para esta regeneração; mas já o dissemos-na ciências novas, engrandecidas, espiritualizada, é onde, principalmente, irá achar a religião do futuro os princípios de sua fé, os elementos da certeza, porque a religião e a ciência se excluem senão. Quando as consideramos nos seus aspectos subalternos. Identificam-se e fundam no seu objetivo essencial, no seu fim supremo que são conhecimento do universo e a comunhão intima com a causa das causas: Deus!
E possível que, na sua evolução, a religião enfraquecer-se o seu caráter de coletividade, mas ela se robustecerá em cada um de nós pelo desenvolvimento da ciência e da consciência individuais.
Basta lançarmos um olhar de conjunto o universo para que nos achemos em presença de leis majestosas, que acurvam os seres e as coisas debaixo da ação de um poder soberano ha leis sem um pensamento e uma vontade que a concebam e velem pelo cumprimento delas. Nas profundezas silenciosas do abismo da vida em que rodam os mundos, uma Inteligência preside á ascensão das almas e á harmonia eterna do Cosmos.
As anomalias, as contradições que alguns crêem descobrir no estudo do universo provêm simplesmente da insuficiência das suas observações. Os nossos sentidos grosseiros, ainda mesmo completados pelos instrumentos que a industria põe á nossa disposição, não podem dar-nos mais do que uma pálida idéia do conjunto das coisas.
A nossa ignorância do mundo invisível contribuem ainda para enfraquecer os nossos julgamentos. A revelação dos Espíritos veio muita a propósito preencher as principais lacunas do nosso entendimento. Ela mostrou-nos, por exemplo, que num todo harmônico se ligam e fundem as leis morais e as leis psíquicas. O mesmo se passa com a idéia de Deus, que se apura è engrandece.
Para o espírita que se desprende das formas materiais e das fronteiras dos cultos, já não é Deus o ser antropomórfico, isto é o homem divinizado com que nos entretêm os livros sagrados, os mitos das antigas idades. Não. Deus é uma, essência, um principio, de causa e um fim. os Espíritos bastante adiantados para o contemplarem (e um só conheço neste caso), pintam, como uma fonte de luz cujo esplendor quase que não se não pode sustentar e donde partem as poderosas vibrações que animam o universo inteiro. Desprende-se dela uma impressão de majestade temperada por eflúvios de amor que penetram, comovem a todos os que dela se aproximar.
Nas azas do pensamento e da oração, no recolhimento dos sentidos, nela alma qualquer pode comunicar com esse eterno foco de luz e sentir-lhe as irradiações. Chegados a tais altura todos os impulsos do pensamento religioso se trocam em contemplação e êxtase.
Em realidade, no seu principio, no seu fim elevado, todas as crenças são irmãs. converges para um centro único. Como a límpida fonte e regato palrador veto finalmente juntar-se no vasto mar, assim o Bramanismo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo, Islamismo e seus derivados, em suas formas mais nobres e mais puras, poderia unir-se em vasta síntese, e as suas preces, juntas ás harmonias dos mundos, converter em hino universal de adoração e amor!
Foi inspirando neste sentimento de ecletismo espiritualista, que muitas vezes me sucedeu associar-me ás orações de meus irmãos das diferentes religiões. Assim, sem me apegar formulas em uso em semelhante meios, pude orar com fervor tanto nas majestosas catedrais góticas como nos templos protestantes, nas sinogas e até nas mesquitas.
Entretanto, adquire a minha oração mais ardor as bordas do mar, quando a embala o ritmo vagas, nos altos cimos, diante do panorama das planícies e dos montes, debaixo da cúpula imponentes das selvas e da abobadas estreladas das noites. O templo da natureza é o único de verás digno do Eterno.
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Uma das condições essências da vida moral e a necessidade que ha de cada um de nós criar para si um meio interior onde possa a alma refugia-se contra as preocupações externas, contra cuidados matérias, retemperar-se, por outra vez em contacto com a pura essência donde ela emanou.
Agora que a idade e as doenças me privam de grandes espetáculos da natureza, erigi, pela vontade, um templo interior a que o meu pensamento folga de bailar, nas horas de calma e de ação, para celebrar o culto dos Espíritos eminentes cujo gênio revelador iluminou com o seu clarão os caminhos da humanidade. Ai, por um esforço imaginativo, levantei as estatuas ideais, imagens augustas dos messias, dos profetas, filosofo mais credores de respeito e admiração.
No meio do santuário, brilha o símbolo sagrado da Divindade, a quem, desde logo, se dirigem as minhas adorações. A sua direita aparece diante de mim a grande figura do Cristo, meu venerado mestre, e á sua esquerda os messias, da Ásia: Krisna, Buda, Lao-Tseu, Zoroastro, aos quais sucede as imagens dos filósofos gregos, desde Pitágoras até Platão. Ante eles, deleito-me recitando os áureos versos da sabedoria antiga.
Em seguida a Cristo, enfileirais-se os mais autorizados representantes da idéia cristã junto dele, repito a mim mesmo o sermão da montanha que é o resumo e a quintessencia de todo o cristianismo: Felizes os que choram, porque serão consolados, e bem assim os preceitos dos Evangelhos que se reconhecem como autêntico. Muito longe estive de me esquecer do grupo dos Druidas e dos Bardos. À frente dele se ergue a alta estatura, a figura imponente de Taliesino. Em sua presença recito com muito gosto as Triadas, monumento maravilhoso das tradições célticas, cuja sabedoria rivaliza com a ciência profunda do Oriente.
Enfim, depois dele, vem Allan Kardec, a quem considero continuado e renovador das grandes tradições de nossa raça.
Peço ao leitor que me perdoe de o entreter com coisas tão pessoais, mas quis dar-lhe meu exemplo de que pode tirar úteis ensinamentos e salutares inspirações. Com efeito, em minhas quotidianas visitas a esses grandes Espíritos, nos exercícios que provoca a recordação dele. Isto e a recitação de fragmentos de suas obras mais celebres, achei sempre a serenidade de alma e o conforto.
Não vejais. Nas suas concepções diversas, a contradição. Debaixo de suas formas encontramos em cada um dele a mesma aspiração para o bem, para a beleza suprema, Que outros tantos atributos e uma como irradiação de Deus. Do seu conjunto se desprende uma síntese magnífica que resume o pensamento de todo um mundo no que ele tem de mais nobre e puro; síntese que exprime, fecunda o espiritualismo moderno, comunhão, universal que ligará um dia todas as mentes e todos os corações.
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Quando lançamos um olhar de conjunto sobre historia dos tempos modernos, parece que as missões da França são criar correntes de idéias através do mundo.
Dezoitos séculos após a vinda do Cristo, despertou a noção de fraternidade que dormia no fundo das almas. Nenhuma outra nação trabalhou com mais ardor para libertar o pensadas tutelas seculares, para assegurar os direitos da consciência. Ela comunicou a flama.Do seu gênio a varias teoria humanitárias ou socais.
Na luta atual o papel da França ainda Mais cresceu, pois ela arrisca a sua liberdade, a sua própria existência, para preservar a Europa de um regresso á barbaria. Por isto, ela granjeou a simpatia, a admiração dos neutros, e não raro também, a consideração dos seus inimigos Antes da guerra, dizia-se e cria-se que ela estava em franca decomposição, e eis que ela, e sublima á altura de um verdadeiro holocausto.
Quando tiver concluído o drama sangrento. O que assistimos, outra missão caberá ao nosso pai. Esta concórdia que une todos os seus olhos ria na hora do perigo, ele deverá mantel-a, garantia-a por outros meios, isto e por processos novos de ensino e educação. A França deve iniciar o mundo nas premissas da religião do futuro, dessa religião larga e tolerante que terá por fundamento a ciência dos fatos e por coroa as aspirações. Mais altas e mais puras do ideal espiritualista. Nesta. Religião, a ciência e a fé acharão um campo de aproximação, uma possibilidade crie fusão de todos os espíritos e de todos os corações. De todas as obras, será esta a mais proveitosa para a humanidade, porque fará desaparecer a maior parte das causas de separação e de ódio, orientando os pensamentos e as vontades para este caminho real da alma de que falou Platão, para o fim elevado da vida que a doutrina dos Espíritos nos revela.
Semelhante iniciativa permitiria á França completar a Vitoria das armas com uma vitória intelectual e moral mais belo e mais frutuoso. Nosso pai elevar-se-ia á primeira ordem. Ações e faria jus ao reconhecimento de todos séculos futuros.
As circunstancia não foram nunca mais favoráveis a umas renovações religiosas, que excluiria o espírito de sectarismo e de reação. Temos esperança que do presente cataclismo surgirá uma idade nova, doutrinada pela provação, retemperada pelo infortúnio, mais unida, mais disciplinada mais cônscia dos seus deveres e das suas responsabilidades. Uma evolução parece que se produz desde já nos espíritos. Compreenderam homens a natureza precária das coisas deste o e encaram com mais agrade o problema dos destinos. De três anos a esta parte, a morte batida a tantas portas, tem visitado tantas, que até os mais indiferentes fitaram nela olhos e perguntaram a si mesmos quem era misterioso hospede. Pelas reflexões que suscitou a sua presença, abriu-se-lhes uma senda para finito, para o divino.
No fogo das provações a alma humana tornou mais apta para receber e compreender as Verdades superiores. Doravante, as frivolidades e sensualidades, as obras decadentes não poderiam satisfazer. Ela exige alimentos mais substancias viris. Os estudos psíquicos, os testemunhos dos sábios relativamente á superexistência ofereceram terreno mais sólido em que levantar um edifício mais digno dela e de seus fins.
A filosofia se iluminara com claridades tomadas á doutrina de Allan Kardec. Já se, compreende, já se admite em certas escolas que a personalidade humana se não constituiu de um só golpe, mas que se foi erigindo lentamente através dos séculos. A noção estreita, insuficiente, de uma vida única é substituída pouco a pouco pela da evolução no espaço e na duração, sem limites.
O nosso destino não é garantido por uma graça particular ou pelo sacrifício de um salvador, mas por nossas próprias ações. O ser consciente se constrói a si mesmo, como o escultor afeiçoa a sua estatua; a sua forma representativa não tem outro valor senão a soma de seus esforços e cuidados. Ilumina-se ou escurece-se com as radiações de seus pensamentos e de seus atos. A fonte das alegrias, das penas ou das recompensas reside nele, em suas faculdades, em suas percepções acrescidas ou diminuirias. Outra coisa não é o destino que o resultado de nossas obras boas ou más, recaindo sobre nós em raios ou em chuvas; mas todo o padecimento que se leva com paciência é como o golpe do cinzel do estatuário que contribui para embelezar a sua obra.
O resultado da nossa ascensão é um gozo crescente de tudo quanto é grande, de tudo o que é beleza, esplendor, luz, harmonia; é uma progressiva participação na vida universal, uma cooperação na obra soberana sob a forma de empresas e missões que aumentam gradualmente de importância e extensão. Enfim, é a plenitude da felicidade em suas três formas capitais: virtude, gênio, amor.
O fim essencial deve ser acercarmo-nos do supremo, penetrarmo-nos das radiações do pensamento divino, tornarmos cada vez mais estreita e mais profunda a comunhão com Deus. Chegaremos a possuir e conhecer todas as coisas, pois que tudo nele se resume e nele vive.
Tal é, em sua quintessencia, o ensino que da revelação dos grandes Espíritos e que conhecido é de quantos viveram na intimidade e dele receberam o pão da vida. Deste ensino por enquanto só participa um pequeno numero e deve ser espalhado em profusão de a que as inteligências se iluminem, os caracteres se melhorem e as almas se elevem.
Eis porque, depois da guerra deverão os espíritas semear estas verdades a mãos cheias, porque para isso estará o terreno admiravelmente preparado. Não serão sós no seu trabalho umas multidões imensas dos Invisíveis ampara-os e Acima de nós pairam em espírito quando deram a vida em sacrifício pela França. Quando caíram mortos defendendo a causa do direito. Eles nos inspiram, exortar-nos a não nos esquecermos do seu nobre exemplo e a trabalharmos. Por nossa vez e por outros meios, para a salvação reerguimento da pátria. Eles se debruçam sobre os corações magoados. Sobre as almas enlutadas e nelas espremer o balsamo das consolações e da esperança eles lhes asseguram que a sua afeição não sé extinguiu, que a sua atividade não decresceu, mas que pelo contrario os seus sentimentos e a sua vida são mais intensos real, mais poderosos que os nossos.
De todos os ângulos se levanta a voz dos finados para nos asseverar que acima da atmosfera de ódio, de vingança e de horror que pesa sobre o nosso desgraçado planeta, existe um mundo superior onde reina a eterna justiça, onde quantos lutaram e penaram cá na terra, recolhera o fruto dos males que suportaram, um mundo onde um dia nos reuniremos para juntos comungarmos na paz serena e na divina harmonia.
X.
Responsabilidades
Abril de 1917
Assistimos a ruína de um mundo inteiro, um mundo de preconceitos, de erros, de ilusões perdidas, de esperanças enganadas, de quimeras dissipadas. Mas de tantas ruínas deve surgir uma nova ordem. A morte gera a vida e os túmulos, por secretas vias, conduzem aos berços.
A medonha tempestade que sopra sobre globo causou incalculáveis devastações. Mais de dez milhões de homens foram ceifados na sua juventude ou na sua virilidade; povos inteiros foram despojados, degolados, ou reduzidos ao cativeiro; vastas regiões saqueadas e os seus habitantes condenados á fome e á mais negra miséria, ou constrangidos a deixarem os seus lares e a vagar, sem recursos, nas estradas exílio; milhares de navios fazem no fundo das águas com os seus opulentos carregamentos e os despejos humanos que eles encerravam. Em derredorde nos, só vemos famílias de luto e o espetáculo dos mutilados entristece os nossos campos.
A devastação moral não é menor. Em certos momentos, perguntamos a nós mesmos se justiça, a verdade, o direito, a liberdade, a. fraternidade, esses raios que partem do divino foco a iluminar o caminho do homem, se essas focos do alto, que nos alentam nas horas dolorosas, podiam ser em vão calcadas aos pés, ultrajadas, aniquiladas.
Poder-se-ia crer que a força brutal, a mentira a hipocrisia e o ódio dominariam o mundo, e sentimos passar sobre nós o vento do abismo. De todos os cantos da terra sobem para o céu gritos angustia e de desesperação.
Tal é a obra de Guilherme II e de seu povo.
Se remontarmos á fonte, a causa moral e primeira de tantos males, que acharemos? Sem duvida, entre os Alemães, um desmedido orgulho, uma avidez de dominar, um sentimento exaltado superioridade que os faz desconhecer e até o valor real dos seus adversários. Ha., porém, ainda mais. Tocamos aqui no lado fraco, ponto mais delicados, mais sensíveis da nossa civilização, no que a tornará sempre precária e instável; porque, enquanto subsistir essa causa, poderão produzir-se no seio da humanidade violenta correntes e arruinar a obra laboriosa dos séculos.
Queremos fazer referencia a ausência de dados precisos sobre o fim da vida humana e sua continuação no além. Pensamos na insuficiência do ensino no que diz respeito ás leis superiores e máximas á lei da conseqüência dos atos, que recai mecanicamente sobre nós e traça a via dos nossos destinos. Quer na Igreja, quer na Escola, só hipótese achamos sobre esses pontos essenciais, noções vagas e confusas, não apoiadas em nenhuma demonstração positiva, em nenhuma prova certa.
Entretanto, ha mais de meio século que o espiritualismo experimental atira e proclama a todos os ventos os elementos de uma doutrina clara e precisa, que resulta das relações estabelecidas em todos os pontos do mundo com os nossos próximos e amigos mortos. Esta doutrina, fortalecida por inúmeras provas de identidade, proporciona ao homem o critério de certeza que lhe faltara até agora. Ora, que acolhimento recebeu essa. revelação providencial e regeneradora? As Igrejas tudo fizeram para sufocar; as escolas não tiveram para com ela senão indiferença ou desdém.
O homem, falto da luz necessária para iluminar-lhe à estrada, sem o fio de Ariadne que podia guia o no labirinto da vida, exposto ás contradições das mãos dos pastores, deu livre expansão ás paixões, aos desejos furiosos que lhe tumultuavam na alma. Dai, os desastres, as catástrofes que se multiplicam. Agitam fortemente o mundo espantosas convulsões.
Penetrada do sombrio e grosseiro misticismo que lhe é próprio, mostrou a Alemanha particularmente refrataria á nova corrente de idéias. Nela goza de pouca estimação os estudos psíquicos e o imperador feriu de suspeição aqueles dos seus funcionários que pelos mesmos estudos se interessavam.
Se o sinistro monarca tivesse conhecido melhores as condições da vida no além; se, familiarizado com o mundo dos Espíritos, ele tivesse sabido o que nos espera e o que a ele mesmo o espera depois da morte, teria, na noite trágica que ia desencadear sobre a Europa um tufão sem exemplo, assinado o decreto de mobilização do exercito alemão?
Por meio de um médium, de valor teria podido evocar as sombras ilustres dos gênios protetores da Alemanha os Goetes, os Kants, os Leibnitzs. os Fichtes, ou simplesmente a alma de seu pai, Frederico o sábio. E de certo com os seus conselhos, o teriam feito retroceder do seu caminho sanguinolento.
Se o Kaiser houvesse estudado conhecido e praticado o mundo invisível, teria podido ver por antecipação, desdobrar-se-lhe ante os olhos, como num quadro a sorte que reserva a inexorável lei. Teria visto a sua alma, envolta no rublo sangue derramado, transpôs os umbrais temíveis do alem e surgir diante dela a imensa corte das vitima da guerra, para acusa-a,esmaga, amaldiçoar.
Em vão, ela tenta esquivar-se e fugir ; em vão, busca os sítios escuros e solitários: esta multidão persegue-a em toda a parte e sem cessar com as suas ameaças e os seus furores. E se, por exceção, descobre o seu espírito miserável algum refugio tenebroso e desolado, encontra-se frente a frente com a sua própria consciência, que mais imperiosa se lhe tornou com o ter-se desprendido da matéria; e atenaza-o o remorso, despedaça-o o remorso! Ouve incessantemente vozes que lhe repetem . Caim, que fizeste de teus irmãos?
Depois, seria a perspectiva dos renascimentos, a longa serie das vidas planetárias em que seu corpo deformado e a sua alma degradada terão de padecer todas as vergonhas, todas as humilhações, o cálice de amargura que esvaziar, a expiação pelas existências obscuras e atormentadas, através dos séculos; o resgate do passado pelo rebaixamento, pelo sofrimento, pelas lagrimas.
Se, deste futuro aterrador, ele volta os olho para o atual momento, se pensa no apoio, no auxilio que pode esperar do mundo oculto, que, verá ?
Em vez dos Espíritos luminosos que protegem a França,em vez de um velho Deus imaginário, girado por seu cérebro exaltado, verá pairar por sobre os seus exércitos a legião negra dos Espíritos das trevas, os rétres e lansquenetes da idade mediam, a soprarem sobre os seus soldados o ódio e a perfídia e engenhando-se em descobrir com eles todas as combinações de uma química infernal e assassina. No espetáculo das atrocidades por elas provocadas, encontram esses fautores do mal a satisfação dos seus instintos de violência e crueldade. Mas, se diante dessas visões de espanto e horror, o Kaiser sentisse estremecer-lhe a carne e apertar-se-lhe o coração, teria arremessado para bem longe a sua pena, a fim de afastar de si os golpes do implacável destino. E assim teria sido poupada á humanidade a mais terrível das ,catástrofes.
*
A França também tem a sua parte de responsabilidades. As nossas academias, as nossas universidades, as nossas igrejas não souberam apreciar as verdades, as forças morais que lhes trazia a doutrina dos Espíritos. Repeliam a mão que, do alto e ha 50 anos, se estendia para ela afim conduzir nossa nação á fonte fecunda e regeneradora.
Assim sendo, quais foram as conseqüências dos seus ensinamentos complexos e contraditórios sobre a vida contemporânea?
Esta, antes da guerra, apresentava o espetáculo de uma sociedade sem ideal, sem elevação, sem grandeza, destituída de beleza moral: gerações impelindo ao acaso, sem objetivo. sem orientação definida e não sabendo em que se fixar.
Pobres seres inquietos, percorrendo o sombrio esfiladeiro da existência, sem flama na fronte, sem paz no coração e enlodando se cada dia mais na matéria e na sensualidade. O homem gastava toda a sua energia com o fim de assegurar a sua vida material e já não ouvia senão de maneira mui débil a voz da alma que também requer o seu alimento.
Em presença de tantas doutrinas confusas, igualmente destituídas de bases, de provas e de sanções, as grandes verdades se tinham pouco a pouco velado e desnaturado. O erro, as mentiras insinuaram-se pouco a pouco em toda a vida nacional, que inteiramente se desfigurou, tanto na ordem política como nas relações sociais.
As inteligências e as consciências, sentindo, por uma intuição secreta, que a verdade lhes era negada por aqueles mesmos que têm a missão de ensinar, desacostumaram-se dela e, por uma conseqüência lógica das coisas, alterou-se todo nosso modo de viver, de pensar e de obrar.
Daí a hipertrofia do eu, a necessidade irresistível de se gabar e gloriar, de aparecer, de atribui a si mesmo qualidades fictícias., méritos imaginários que caracterizavam tão avultados numero de nossos contemporâneos ; dai, o transbordar dos apetites e das paixões. já se não podia, nas conversações, expender uma opinião forte, um pensamento elevado, sem se provocar sorrisos cépticos e mofadores. Tornara-se quase ridícula a virtude; o adultério, a libertinagem era olhada com indulgência. A especulação despejada, as trapaças financeiras, as pratica dos homens de bolsa e de rapina, se conseguiam fortuna, já quase não despertavam reprovação.
Na ordem política, era o assalto aos empregos e ao poder, a proteção, o favor substituindo as aptidões; os medíocres, os incapazes ocupando os melhores postos; o governo quase sempre confiado aos menos dignos; a imprevidência, o desperdício, a instabilidade ministerial anulando as mais belas obras nacionais.
Assim, quando a grande lei moral, a dos deveres e das responsabilidades, cessou de brilhar aos olhos dos homens, todos os princípios que dela decorrem por sua vez se obliteram. Faz-se noite nas consciências, o mal alarga o seu império. E, como a noção de lei é inseparável da idéia de Deus, que é o seu gerador, ao mesmo tempo em que se enfraquece o culto do poder supremo, vê-se crescer o da carne e do bezerro de ouro; acentuam-se a descida para o abismo.
Viu a tempestade, cujo sopro poderoso varreu muitas vaidades, valores fictícios, juízos falsos. A guerra pos a descoberto todas as nossas chagas; fez ressaltar as insuficiências, as incapacidades; pos na sua justa medida as mediocridades que obstruíam certas situações. Certo que esses não valores não desapareceram de todo do cenário político e: o nosso país, com os males que suporta, demasiado se apercebe disso. Pelo menos, abriram-se os olhos sobre eles, a condenação está escrita nos corações e o domínio dele se acaba.
A par dos nossos vícios e taras, dormiam na alma francesa qualidades viris, qualidades que os acontecimentos puseram em relevo. Era mais aparente que real, mais superficial do que profunda a nossa desmoralização. O gênio da raça reapareceu. As consciências retas, os valores morais surgiram numerosos, mormente no seio elos exércitos. Foram eles, com o socorro imenso do mundo invisível, que salvaram a honra da França, obstaram á sua ruiva, á sua queda, ao seu aniquilamento.
Já expusemos, em precedente artigo, o papel notável que na guerra atual desempenhou o mundo oculta; mostramos o apoio constante que ele presta aos nossos exércitos.
Essa exposição era insuficiente. Não se saberá, não se compreendera jamais toda a extensão dos esforços e das energias despendidas pelos espíritos protetores da França para alentar e suster os nossos soldados na terrível luta empenhada. Não somente ele lhes excita e inflama o ardor nos combates. mas ainda, nas longas horas de vigília e esperam trincheira, inspira-lhes resignação estóica. Era proverbial a sua impetuosidade no ataque, mas eis que qualidades incógnitas de paciência e perseverança se revelam na alma nacional.
Após dois anos de fadigas e padecimentos. todos perguntavam se as nossas tropas poderiam afrontar os rigores de um terceiro inverno. Ora, eles suportam com igual coragem as rajadas de projeteis, as ondas de gazes mortais, e em certos dias, a fome, o frio, a humildade, geradoras de tantos males, e até em contacto com insetos repugnantes.
Em 1870-71, soldado voluntário, pude verificar que a mentalidade das tropas era muito diferente; mas então, o mundo invisível não nos, sustentava com os seus fluidos poderosos e a França foi vencida.
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O clarão vermelho dos acontecimentos, dizíamos nós, apareceram todas as nossas misérias morais, a debilidade dos caracteres, a desnude das consciências, tudo quanto em nossa sociedade era vão, artificial, enganador. Por termos em tudo falsificado um pouco a verdade, nas transações, no ensino, na política, tivemos de suportar, como castigo, a mentira no que ela tem de mais odioso! O imperador alemão não cessou de mentir, com dano nosso, á face do universo, invocando o nome de Deus. Desde então, a verdade mostrou-se como o único meio de assegurar a lealdade e a dignidade das relações humanas. Por outro lado, os heróicos exemplos dos nossos combatentes tiveram em todos os pais imensa repercussão.
O seu sacrifício ao dever, a sua abnegação ante o sofrimento e a morte era de natureza tal que faziam corar os egoístas e os que só nos gozos punham a mira. A sua obra essencial consiste, sem duvida, em libertar o território, mas encerra também bem uma grande lição moral; neste ponto de vista, eles pensam continuai-a, ainda mesmo depois da guerra. E' isso, pelo menos, o que ressalta de cartas numerosas e expressivas, que da linha de frente foram recebidas.
Querem que um grande sopro puro varra a atmosfera espessa que vela os nossos olhos e nos oculta as temíveis realidades. Sonham com um nobre ideal, uma sociedade espiritualidade, em que a vida da alma terá livre expansão. Nas horas trágicas, como num relâmpago, ou gradualmente, na longa expectativa das trincheiras, eles entreviram a lei soberana que fez recair sobre cada um e sobre todos a conseqüência dos atos praticados.
Compreenderam que precisamente por termos durante muito tempo aceitado e afagado as contra-verdades, temos de sofrer, mais pesadas e mais grosseiras, as mentiras do estrangeiro. Compreenderam também que por termos procurado demais a vida fácil, a vida doirada pela fortuna e pelos prazeres, tem de suportar as privações, a miséria. Sentem enfim que esta visão, esta compreensão das coisas superiores deve: penetrar no pensamento e na Consciência de todos, se queremos deter o nosso país na rampa fatal por onde ele resvala.
Certamente, essas almas generosas representam apenas uma exígua minoria da nação, mas podem ser como o fermento que faz crescer a massa. Os adversários de toda espiritualidade são em grande numero e há-o querer, por todos os meios, conservar o seu domínio. Depois de termos expulsado o invasor, teremos de lutar ainda contra as influencias perniciosas, as oposições; e rotinas do interior. Em pró da direção da infância é que se travarão os mais acesos combates, pois quem possua a criança tem segurado o porvir.
A educação oficial estará na altura de sua missão? E licito duvidar. Seus inspiradores deveriam todavia compreender que não é por meio de negações ou de uma moral vaga e destituída de sanção que se conseguirá rechaçar as tentativas do obscurantismo e refazer a consciência do povo.
Será então que o Espiritismo poderá intervir e desempenhar o seu papel providencial. Ele vem oferecer, ao mesmo tempo, à educação popular a base e a coroação que lhe faltam, isto é, a prova sobre que repousa todo o edifício dos nossos conhecimentos e a doutrina moral que é o seu fastígio e lhe assegura a harmonia. Mas, não está no destino dos enviados divinos o serem desdenhados e escarnecidos? O Espiritismo não escapa a esta regra. Todavia, a acumulação dos testemunhos, a adesão dos homens eminentes que lhe dão pouco a pouco um lugar na ciência inglês, acabará sem duvida por impressionar o nosso país. Chegar-se-á a admiti a sobrevivência do ser e sua evolução pelos renascimentos, como se crê em todos os axiomas científicos, por exemplo no movimento da terra, sem, no entanto ,os termos verificados.
Enquanto esperamos esse tempo, a nós e principalmente aos pais, aos chefes de família é que incumbe velar por que a inteligência e a consciência das crianças se não falseiem com um ensino sectário, ou destituído de princípios elevados.
Mas, terminada a guerra, ficarão as coisas como estavam antes dela ? Com a ação irresistível dos acontecimentos, em muitos espíritos se fará um trabalho mental: varrer-se-ão muitos preconceitos e errados pontos de vista; é prudente que não desesperemos de nada, nem de ninguém. Quantos pensamentos, em verdade, se verão libertos do jugo que ainda ha pouco suportavam! Quantas consciências abaladas na sua profundeza rejeitarão os artifícios e as convenções pueris que embaraçavam os seus vôo para uma luz mais viva.
Parece que à vontade de Deus é que se reforme e regenere o mundo pela dor. Nunca se nos, oferecera mais favorável ocasião : saibamos aproveitar-nos dela para difundi em todos os meios a grande doutrina espiritualista que dei reanimar a humanidade.
Fora do mundo invisível, temos em nossa árdua empresa de propagandista dois companheiros de luta que nos estimulam sem cessar e nos impelem para diante : o dever e a. verdade. Durante quarenta anos trabalhamos juntos com a. penha e a palavra. No começo, máxime em nossa campanha oral, colhemos mais sarcasmos do que aplausos: o Espiritismo era tido então como coisa ridícula. Mas, pouco a pouco, a opinião publica se tornou mais accessível: dignavam-se de nos ouvir, sem todavia tirarem grandes lucros do nosso ensinamento. Hoje, ouvem, refletem, estudam, compreendem. Ainda não basta: é mister que se concretize em atos o conhecimento das leis superiores.
Mais tarde, hão de fazer nos inteira justiça; compreenderam que se tivesse sempre conhecido e respeitado a lei eminente das responsabilidades, muitos males, muitos desfalecimentos e quedas se teriam evitado. Dia vira em que, medindo-se toda a extensão e repercussão dos erros cometidos,serão atados ao pelourinho da opinião os dirigentes de todas as espécies, epicureos gozadores, corruptos e corruptores, cujas manobras nos levaram ao caírem do abismo.
Mas os sacrifícios realizados, já na luta, já no aliviar as misérias comuns, hão de frutificar. Do sangue derramado se levantará uma floração de virtudes novas.
Vivemos num desses momentos solenes em que, no crisol dos acontecimentos, a Historia refunde a humanidade. Os aliados tentam um supremo esforço para conquistar uma vida. mais nobre, mais digna da alma e dos seus destinos. Tenhamos confiança nos desígnios de Deus sobre o nosso país. A França purifica-se pela dor. Não ficará estéreis os infinitos sofrimentos que seus filhos suportam.
XI - A hora do Espiritismo
junho de 1917
A vista do espaço, a contemplação dos céus as horas serenas da noite, despertam em nós uma espécie de respeitoso temor.
A sensação das distancias, a multiplicidade dos focos luminosos, o pensamento de que cada um dele é um sol, um sistema de mundos e que, para além dos limites que pode atingi o nosso olhar. outras legiões de astro se desdobram e movem,infinitas no seio dos abismos, tudo isso nos domina e esmaga. E então que medimos a nossa fraqueza, a nossa impotência diante do vasto universo.
Semelhante impressão, mesclada de angustia, experimentamos em face dos acontecimentos formidáveis que em torno de nos se desenrolam. No meio da tempestade sentimo-nos como miseras palhinhas agitadas pelos vagalhões do oceano. A causa aparente de todos esses males é a ambiciosa e feroz Alemanha; mas, acima do livre alvedrio das nações, uma intuição segura nos mostra alguma coisa misteriosa e infinitamente poderosa que do caos das paixões desenfreadas fará surgir à ordem e a regeneração da humanidade. Os impérios de presa sonhavam com dominar e sujeitar o mundo e eis que correntes violentas impelem todos os povos para a liberdade. Até mesmo entre eles minam surdamente os tronos e as instituições seculares. O fim dos nossos inimigos era assegurar para sempre a riqueza, a gloria dos Germanos e o que para si preparam é a vergonha e a ruiria. Através das trevas que pesam sobre nós, entrevê-se a aurora nascente de um novo dia. Uma vegetação inesperada vai rebentar e florir sobre as ruirias e os túmulos.
E chegada à hora do Espiritismo. Nos tempos de provações em que vivemos, ele traz consolação e a esperança ás almas consternadas, a todos quantos choram os entes desaparecidos, a quantos também têm os filhos na batalha, os queridos filhos por quem despenderam tantos cuidados, solicitude e temor.
Inúmeros são os que as dores oprimem e que sentem a necessidade de um conforto, de um socorro moral. Todas as nações que pelejam pela liberdade do mundo, pelo direito dos fracos e pelei justiça, viram ceifadas pela metralha as flores de sua juventude; estas perdas cruéis repercutem em vibrações profundas e dolorosas ate dentro do coração de nossa raça.
Nunca teve a humanidade maior necessidade de uma doutrina que a ampare e console nas horas trágicas. O Espiritismo oferece o seu raio de luz a todas as almas entenebrecidas pela tristeza e pelo desespero; ele espreme o seu balsamo consolador sobre todas as feridas.
Assim a guerra, ao mesmo tempo em que é causa de ruínas sem conta, poderá tornar-se, pelo próprio excesso do sofrimento, motivo de um reerguimento moral. Uma dessas conseqüências imprevistas é tornar mais sensível à comunhão que liga o inundo dos vivos ao dos defuntos. A maior parte dos combatentes cala linha de frente tem consciência do poderoso socorro que lhes vem do além ; ele lhe atribui o estado de exaltação que experimentam nas horas de perigo, a coragem, a confiança inquebrantável que nunca os abandonam e criam neles uma mentalidade bem diferente da retaguarda. Recebi a este respeito cartas tão numerosas como comprovantes.
Um episódio que se fez celebre, torna este fato inda mais palpável. No meio de um furioso combate de trincheiras, o tenente Péricarde solta este grito sublime De pé, os mortos!, Na sua carta a Mauricio Barrès ele define o sentido destas palavras: O grito não é só meu, mas de todos nós. encantos mais fizerem desaparecer o meu papel na multidão, tanto mais vos aproximareis da realidade;tenho a convicção de não ter sido mais do que um instrumento nas mãos de um poder superior.
Tal sentimento se encontra em muitos dos nossos contemporâneos e começa a compreender que há dois mundos no nosso. Por detrás do que se vê, outro ha mais verdadeiro, mais seguro, duradouro, no qual se expandem todos os esplendores da vida imortal. Assim se manifesta cada vez mais a necessidade de saber, de crer, de se apegar à gente ao que ha de elevado, de estável de permanente no universo.
Apontam-me, de todos os lados, a formação de grupos espíritas,compostos sobretudo de intelectuais: professores, professoras, oficiais retirados do serviço,etc. Mais intensa se tem tornado a circulação de novos livros, brochuras e revistas. Abalam-se os nossos adversários com este estado que coisas : a Igreja católica mobilizou o seu melhores pregadores. Mas as conferencias do Padre Coube juntas á ação que Dickson e que se podia suspeitar estarem combinadas previamente, não alcançaram o resultado almejado. A tese que primeiro sobre a intervenção do demônio, as artimanhas; do outro provocaram os sorrisos dos ouvintes. Despertaram a curiosidade do publico. atiçaram os seus desejo de estudar os nossas doutrinas e experimentar os nossos fenômenos.
Assim os nossos contraditores, na sua malevolência, foram diretamente de encontro ao fim que se tinham proposto. Procurando abafar a verdade, não conseguiram senão dar-lhe mais livre vôo. Já ha cerca de cinqüenta asnos, o bispo de Barcelona, mandando queimar na praça publica os livros de Allan Kardec, outra coisa não conseguiu senão atrai a atenção para o Espiritismo. Naquela época, eram raros os nossos adeptos espanhóis; hoje, a Catalunha é urna das regiões do mundo onde mais numerosos são os espíritas.
Por seu lado, grande espetáculo nos apresenta a Inglaterra. A iniciativa, a tenacidade, o espírito de continuidade que ela traz para a. guerra, encontramol-o na ordem cientifica, na pesquisa metódica dos efeitos e das causas.As suas sociedades psíquicas são as mais bem organizadas e obtêm os melhores resultados.
Os nomes dos sábios ingleses que em-nosso favor se pronunciaram formam já verdadeira plêiade, são nomes muito citados. Digamos somente que o de sir Oliver Lodge brilha neste momento com vivo resplendor. Depois de ressonantes discursos, ele acaba de dar á luz. Um livro sobre, seu filho Raymundo, morto na Flandres, e sobre as manifestações espíritas que se realizaram após a morte do jovem oficial. Esta obra produziu em todo o Reino-Unido profunda sensação.
Aos Ingleses, em grande parte, deveremos o triunfo definitivo do espiritualismo no mundo. Não sejamos, porém, injustos para com os nossos próprios sábios.
E certo que a ciência francesa se mostrou por muito tempo hostil aos estudos psíquicos; quando com ele se ocupava, era quase sempre para os desnaturar e atribui-lhes causa ilusória.
Mas, de seu seio, se levantaram clarividentes, precursores, para lhe mostrarem a via segura. frente dele, achamos o ilustre astrônomo Camillo Flammarion.
Vêm depois o professor Carlos Richet, o reitor Boirac, o advogado Maxwell, etc.
Não nos esqueçamos dos que se passaram ao invisível e nos continuam a auxiliar; o coronel de Rochas e o doutor Paulo Gibier. Diante de seu exemplo e sob a influencia crescente das afirmações vindas de além-Mancha, é impossível que os nossos sábios não renunciem á sua indiferença e á sua rotina, para entrarem francamente no terreno da experimentação sincera e leal. A voz que todo um povo que reclama a sua parte de verdade e de luz a isso os convida.
O Espiritismo nada tem que receiar dos seus adversários, mas tem tudo a temer de si mesmo, isto é, os abusos que podem decorrer de uma falsa interpretação dos fenômenos e de uma má direção impressa ás experiências. Ao mesmo tempo em que as nossas crenças se espalhavam e vulgarizavam, viram-se surgir seriam dificuldades: A par dos milhares de almas por eles consolados, reconfortados, chamados ao sentimento de uma vida mais alta o sentimento dos deveres e das responsabilidades, produzia-se casos de obsessão, que exaltação, desarranjos mentais e ás vezes gritos dê alarma chegaram até nós.
Como todas as forças da natureza, o Espiritismo apresenta perigos. Tudo quanto é poderoso para o bem pode tornar-se, segundo o uso que se dele faz, poderoso para o mal. Não querem certos critico, ver senão os lados maus do Espiritismo e os exageram para combatê-lo: Não levam em conta a influencia benéfica que decorre de sua doutrina e da pratica dos seus ensinamentos. Aos espíritas esclarecidos cabe desmascarar essa tática e fazer justiça á nossa causa, pondo em relevo o seu caráter nobre e elevado.
No mundo invisível como no nosso, o bem e o mal se equilibram e projetam a sua ação sobre os humanos que a provocam ou atraem. O estudo seria do Espiritismo requer certas qualidades, um espírito culto, um juízo seguro, o domínio de si mesmo, Constancia, perseverança incansáveis. A pesquisa do fenômeno por si mesmo, a, paixão e mania dos fatos psíquicos, sem o complemento moral, não são mais que uma profanação da morte.
O Espiritismo não é somente uma ciência, mas também uma revelação, uma obra de verdade e de luz. Ele fala ao mesmo tempo á inteligência e ao coração. O Espiritismo tem, como um edifício, os seus sucessivos andares. Os seus fundamentos descansam na rocha sólida dos fatos devidamente examinados e verificados. Em sua cripta os espíritos inferiores se comprazem com os fenômenos vulgares, meio freqüentados belas obsessões, alucinações e pela tendência para-as fraudes e trapaças. Mas, á medida que nos elevamos, aparecem as manifestações intelectuais, as puras revelações. A atividades das almas superiores se exercita nos cumes que partem para o alto, em pleno azul, como as flechas de uma catedral .
No Espiritismo, cada tini se coloca no lugar que lhe marca o seu estado de espírito e de adiantamento. Lins apegam-se exclusivamente aos fatos que são a sua casca. Outros preferem o fruto, isto e a sua filosofia e a sua moral.
Sobretudo neste sentido é que o Espiritismo está chamado a representar um papel regenerador: pois que a sua doutrina responde a todas as necessidades do pensamento e preenche as Lacunas do conhecimento. Ela resolve os enigmas da vida, os problemas do mal e do sofrimento. Nesta quadra de provações e de anarquia, ela nos infunde confiança no futuro, mostrando nos que o universo se rege por leis de harmonia e que a ultima palavra, em todas as coisas, cabe sempre ao direito e á justiça. Ela dá á existência uma razão de ser e um objetivo: a conquista da verdade, da sabedoria, da virtude. Ela nos consola, em nossas decepções e em nossos revezes, com a consideração de que, se o bem é quase sempre desconhecido neste mundo, reina pelo menos e sem restrições nas elevadas esferas a que cada um de nós tem de subir um dia. Indicando-nos o nobre objetivo da vida, ela afasta os espíritos das preocupações egoístas e imateriais das agitações estéreis.
Consiste, pois, a obra essencial em refazer-se o homem interior, obra sem a qual toda reforma social seria vã ou precária.
A importância destas soluções surgirá ante os olhos de todos no dia em que, após a guerra, se pensar enfim em criar um ideal nacional e fazel-o penetrar na alma francesa, por meio da educação popular uma nação está ameaçada de perecer moralmente quando carece de um ideal que a inspire e ampare nas horas criticas. Foi este o caso da França e a causa do seu passageiro eclipse.
Podemos calcular desde já quanto o sombrio e feroz ideal alemão foi gerador de poder e energia. Fundando-se em concepções falsas, ele todavia, só podia acabar na queda e na ruína.
Em vez das altas qualidades morais que constituem a verdadeira civilização, ele desenvolvera na alma germânica, a enfatuação, a arrogância, e a crueldade. Esta doutrina do super-homem que pretende subjugar toda a terra, e não obedecer senão ás suas próprias leis, a Alemanha a deve principalmente aos seus filosofo materialistas.
Ela foi intoxicada por seu ensino universitário por uma pretensa cultura que, em realidade, era apenas a negação de quanto ha de mais nobre e mais sagrado na humanidade.
Os terríveis acontecimentos que se desenrolam, são como a pedra de toque que permita aquilatar homens e cousas, teorias e sistemas. Ao sopro do tufão, tudo quanto havia de convencional, de fictício, de mentiroso, se dissipou; a verdade desvelou-se, em sua beleza. ou em sua fealdade. Pôde-se aferir o alcance das diversas doutrinas, senão por seus princípios, ao menos por suas conseqüências. Assim o ideal germânico levantou indignação e horror na consciência do mundo. Entre nós, a indiferença e o cepticismo, resultados do ensino oficial, revelaram a sua insuficiência nos dias de provações.
As doutrinas de orgulho e terror mostraram a sua inanidade. Pelo contrario, crenças desdenhadas, desprezadas, mostraram-se ricas de consolações e de esperança, capazes de exaltar os corações e reunir as almas esmagadas debaixo do peso da dor. O espiritismo nos reconduz as grandes tradições de nossa raça, aformoseadas ainda pelas conquistas da ciência e pelo trabalho dos séculos. A dominação pela força bruta, pela espoliação e pelo assassínio, ele opõe a liberdade e a fraternidade das almas na paz e na harmonia.
XII -Autoridade e Liberdade
Julho de 1917
Ninguém pode negar que assistimos, ha três anos, a um dos maiores dramas da Historia. Dois mundos, ou antes dois grandes princípios, autoridade e liberdade, chocam-se, e o seu choque estremece toda a terra.
Debaixo da desordem aparente,no meio do caos das paixões desencadeadas, forças criadora estão em atividades, e trabalham para o advento de uma ordem nova. A consciência cio mundo desenvolve-se e afirma-se pelo próprio efeito os ultrajes que recebe. Através das vicissitudes dos tempos, o ser encaminha-se para um estado de vida mais completo; o ideal realiza-se e prossegue a marcha para o absoluto.
Os fatos históricos mais importantes não são mais cio que uma revelação dessa hostilidade, ora surda, ora violenta, e manifestações da luta entre o espírito de dominação e os esforços tentados para a conquista liberdade.
O cristianismo, na sua aparição, não foi somente um grande movimento religioso. Convocando todos os homens, inclusive os escravos para a herança celeste, ele os fazia iguais perante Deus, e, como repercussão, perante as leis deste mundo. Por isso, os humildes, os pequenos, os deserdados o abraçaram com ardor. As primeiras. comunidades representam a forma mais perfeita do socialismo igualitário e cristão.
Será um efeito da lei dos refluxos? O cristianismo, de essência democrática em sua origem, tornou-se por obra dos concilias e pela constituição da igreja romana, debaixo do nome de catolicismo, unia teocracia autoritária e despótica. 0 reinado temporal do padre é o mais pesado de todos os julgo, porque ao mesmo tempo oprime o corpo e o espírito; impõem dogmas amiúde reprovados pela razão, e exige serem eles considerados como verdadeiros.
Durante séculos, o poder dos Papas dominou á Europa, suspendeu a vida do pensamento, curvou o Ocidente debaixo da ameaça do inferno E da excomunhão. Depois veio a, Reforma, que entreabriu o sombrio cárcere e deu á alma pouco de ar e luz.
A Revolução inglesa em 1688 a Revolução francesa um século depois, representam a terceira grande etapa para a liberdade. Feita a divisão ,dos erros e dos excessos cometidos, do sangue derramado nesses graves levantamentos, é mister reconhecer-se que as idéias elaboradas germinaram e expandiram-se em abundantes messes democráticas.
Primeiro as campainhas de Napoleão, e depois a guerra atual, constituem regressos ofensivos da autocracia. Mas a orgulhosa tentativa de Guilherme para escravizar o mundo parece que vai parar, por uma ironia do destino, na libertação definitiva dos povos.
Na luta atual, os elementos que se defrontam, têm mais assinalado caráter que nos precedente conflito. Com efeito, já se não trata de uma disputa de raças. de línguas ou de religiões. Tanto entre os beligerantes como entre os neutros, dois partidos se levantam contra outro. De um lado, acham todos os fermentos do absolutismo Monárquico ou Clerical, todos os que se agarram ao espírito de casta, ás tradições da autoridade em todas as suas formas ; administrativa. militar, eclesiástica; todos os que consagraram admiração sem reservas pelo imperialismo alemão, por suas instituições, por sua organização sabia, por sua forte disciplina, por seu sistema educativo. Do outro lado, se enfileiram todos os indivíduos e as coletividades ávidas de independência, todos aqueles a quem revoltam a opressão e a pretensa infalibilidade e que põem acima de tudo o direito dos povos e a justiça social.
O entusiasmo que uns manifestam pelos impérios centrais, guardam-no os outros para a França, que eles consideram o campeão da liberdade do mundo e que, a seus olhos, se oferece em holocausto pela salvação das nações. São expressivos os testemunhos que, sobre este ponto, nos chegam de todas os recantos do globo. já começa a nossa pátria a ser indenizada das humilhações e revezes sofrido ha cinqüenta anos.
À medida que a verdade se espalha, surgem mais claras as cousas reges e as responsabilidades da guerra. A opinião e a consciência das duas Américas tornam-se cada vez mais favoráveis à França. O apoio, os socorros dela recebidos aumentam com as simpatias.
O drama inicial, o assassino de Seravejo permanece envolto em mistério, e ainda não é possível conhecer os seus verdadeiros instigadores; mas, quaisquer que eles sejam, agressão brutal e selvagem contra uma Servia pronta a todas as concessões não permanecem com um ato menos odiosos.
A declaração de guerra à França por motivos falsos, pueris, inventados, e sobretudo o atentado contra uma Bélgica inocente, não obstante solenes compromissos, o caráter de atrocidade impresso á luta pelos Alemães, o martírio dos pequenos povos vencidos por ela, tudo isso levantou um sentimento universal de reprovação e horror. Se não tivesse havido semelhantes fatos inqualificáveis, nem a Inglaterra, nem a palia, nem os Estados Unidos se teriam envolvido na luta e a França teria de aumentar sozinha o ímpeto formidável dos Teutões. Ha, pois, um elemento moral de capital importância, e parece que nesta conflagração em que as forças materiais atingem o seu Maximo poder, são imponderáveis aquelas a que toca pronunciar a ultima palavra.
Neste mundo de ferro em que o método de esmagamento parecia soberano, reaparece a antiga lei moral e recupera o direito o seu império. As nações que crêem ter por si a verdade e a justiça, que delas estão penetradas e conseguem fazer com que todos participem do seu sentimento, podem contar com urna solução favorável.
Pelo contrario, desde muito que a duvida se infiltra na alma alemã acerca da legitimidade de sua causa. Nos povos do além do Reno se estabelece à convicção de que chefes orgulhosos e cegos lhes impõem rudes sacrifícios e duras privações sem compensações, possíveis. Pouco a pouco os gritos de triunfo troca-se em maldições. O Kaiser vê erguer-se ante si o fantasma revolucionário. Os espectros ela abdicação, da fome e da ruína povoam-lhe as noites.
A situação da Rússia tornou-se o problema aflitivo. O poder dos czares, minado pelas intrigas alemães e pela traição, caiu sob o embate robusto do povo. O colosso de pés ele argila desmoronou-se em poucos instantes. Nasceu uma nova democracia. Saberá ela organizar-se, disciplinar-se, estabelecer-se em bases sabias e duradouras ou, caindo na demagogia e na anarquia, trará a desagregação daquele vasto império. As paixões e as desconfianças que reinam nos meios políticos, o estado de insubordinação do exercito justificam todas as apreensões.
A crise russa é, em realidade. uma crise de autoridade e de liberdade. Não Vasta conquistar esta, é preciso estar-se maduro para praticá-la. No conflito perpetuo das cousas deste mundo, quase nunca triunfa um lesses princípios senão com detrimento do outro: desde o momento que a paz e a harmonia sociais não se realizam senão pelo perfeito acordo dessas duas forças unidas ,em igual medida, uma das duas predomina quase sempre, com prejuízo, já da ordem, já das atividades, individual. A liberdade excessiva conduz á licença e á anarquia, e a anarquia traz o despotismo. A humanidade, agita-se num como circulo Vicioso, por falta de sabedoria e de equilíbrio moral .
Desse acordo perfeito ria autoridade e da liberdade, certos povos pequenos, como a Suíça, a Noruega, a Dinamarca se aproximam notavelmente debaixo de formas diversas, monarquia ou republica. A instrução de todos, um sentimento religioso elevado, uma forte educação popular, facilitou-lhe o exercício daqueles meios. O mesmo não sucede nos grandes Estados, em que as paixões políticas, a ambição, o desejo de extensão e de dominação mundial monopolizaram as forças vitais corre detrimento da paz interior e do verdadeiro progresso. Onde se deverá, pois, buscar um exemplo, um modelo, urna regra precisa, para estabelecer a estabilidade e o equilíbrio das instituições humanas?
Só o estudo da vida invisível pôde fazer-nos conhecer outro mundo em que a autoridade e a liberdade se combinem e completem em perfeita harmonia. ,as revelações dos Espíritos bem nos mostram, no Além, uma hierarquia de poderes e de inteligências que se escalonam até Deus. Mas essas revelações também nos ensinam que na vida espiritual todo ser goza de um ser uma de liberdade adequada a seu estado de adiantamento. A supremacia das almas é sempre proporcional aos seus méritos e não é possível que nos enganemos, porque a sua radiação é o sinal característico de. sua elevação. À medida que o espírito sobe os degraus da vida celeste, torna-se mais brilhante, mais luminoso, a sua vontade impõe-se por uma ação magnética, que aumenta com o seu poder de radiação. eis longes rias condições da pobre sociedade terrestre, em que tão fácil é á velhacaria, aos vícios, ás mentiras dissimularem-se sob aparências de um trajo cuidado, de maneiras sedutoras ou de uma palavra fácil!
Assim, enquanto as instituições sociais não estiverem em concordância com as leis do espaço, a perturbação, a desordem, a confusão persistirão na terra. Tudo, na vida universal, se regula em vista da evolução. Cada uma de nossas encarnações terrestres, caria uma de nossas existências planetárias é uma estação de nossa viagem eterna. Vimos do infinito aos mundos materiais prosseguir a nossa educação, e voltamos depois á vida do infinito. Assim, estamos expostos a recomeçar a tarefa terrestre até que os progressos necessários se hajam realizado. A ordem social deve, pois, ser disposta de modo chie ministre a cada um de nós a soma de resultados no ponto de vista evolutivo. Sendo excessivamente variada a situação das almas, as condições sociais devem sei-o igualmente. As condições elevadas são relativamente raras, porque são perigosas para o espírito terrestre, que ela cercam com as tentações da riqueza e do poder e cujo orgulho ela excitam. Pelo contrario, as situações inferiores não têm conta, porque as necessidades, as duras necessidades que ela comportam constrangendo o espírito ao esforço, desenvolve o seu eu, a sua personalidade, a sua consciência, e aumentam pis suas energias latentes. Dores do corpo e da alivia, obrigação do trabalho, tirania da matéria, da doença e da morte, tais são os meios pelos quais o espírito chega a compreender as severas disciplinas e a praticar a lei do dever. A vida terrestre é o crisol onde a alma se transforma e se aparelha para as grandes missões futuras.
Tomada isoladamente, a nossa existência atual parece obscura e destituída de sentido á maior parte dos homens; mas se a consideramos em seu conjunto, ligada ao que a precede e ao que a segue, ela se nos apresentará como o esplendido campo em que o ser constrói o seu destino, edifica a sua personalidade crescente, e chega a tornar-se uma causa inteiramente livre. domando o mal e triunfando dos baixos instintos.
Ante as visões de horror que a guerra desdobra. aos nossos olhos, ante os milhões de túmulos recém revolvidos que intumescem as planícies da Europa; ante os panos de muros enegrecidos, únicos vestígios de inúmeras aldeias que, ainda ontem, resoavam com os ruídos da vida campestre, com o alegre som dos sinos e com os frescos risos das crianças, é bom que se possa afirmam que o ser, em sua essência, é imperecível e recordar que tudo, vicissitudes, provações, prazeres e dores, contribuem para os nossos progressos e para a nossa elevação.
Por sobre essas cenas de tristezas e lutos, a vida invisível se expande em sua majestade serena.
Vivos ou mortos, é levados pela grande força evolutiva, para uma vida melhor, no seio do universo sem limites e da divina harmonia!
II
Voltemos ao problema da liberdade. Tem esta a sua noção gravada na consciência individual. Com o nome de livre arbítrio, ela representa o privilegio que tem o homem de se decidir em qualquer sentido, de orientar os seus atos para o bem ou para o mal. A idéia de responsabilidade é inseparável da de liberdade.
Se fossemos apenas maquinas movida por forças cegas, autômatos dirigidos pelo acaso, seriamos irresponsáveis. Toda sanção seria impossível ; a sociedade ficaria á mercê de todos os ventos da paixão, de todos os apetites, de todas as cobiças.
A teoria do determinismo, que combate o livre alvedrio e a responsabilidade, e, funesta em suas conseqüências, porque mina as bases de toda lei moral e arruína tudo o que constituem a dignidade, a altivez, a nobreza do caráter humano. Preconizando uma indulgência mórbida para com os desequilibrados, os viciosos, os criminosos, ela embaraça toda opressão ; favorece e alenta todos os abusos, todos os excessos. Pode-se-lhe atribuir em grande parte a debilitação e a decadência de nosso Pais antes da guerra.
Por singular contradição, vimos amiudadas os homens que em política eram partidários das mais amplas e completas liberdades, contestar o principio dela escrito em nós. Oxalá que as duras lições da guerra lhes hajam aberto os olhos e que abandonem idéias perigosas e reprovadas por todos os grandes espíritos.
O livre arbítrio não nos toca em sorte ao nascermos. Não é liberdade que nos espera á nossa chegada a este mundo, mas sim a servidão, servidão material, servidão das necessidades, lei imperiosa da necessidade que nos constrangem ao trabalho, ao esforço e nos obriga a adquirir e desenvolver por nós mesmo a própria liberdade.
Um lance de vista em torno de nós mostramos a variedade infinita das partes ele vontade de liberdade concedida a cada um.
Só o espiritismo e as reencarnações podem explicar esses contrastes, essas anomalias, aparentes As almas débeis, curvadas ao jugo da matéria, prestes a todos os desfalecimentos, são almas jovens, que se abriram a pouco para a vida e que ainda não souberam avaliar as forças oculta nela. Pelo contrario, as almas poderosas, chegadas a alto grau de evolução, têm de traz de si numerosas existências de lutas e sacrifícios, no curso das quais se aumentou o seu capital de energia, e se retemperou a sua vontade. De um ás outras correm inumeráveis degraus que representam outras tantas paragens que percorrer, e pélas quais o ser vê-pouco a pouco crescer o seu livre arbítrio, e recuar o circulo das fatalidades
Por si mesma se explica a diversidade das situações. Em virtude do seu livre arbítrio, certas almas adiantam-se mais de vaiar; outras com Marcha mais rápida.
No inicio da nossa carreira. a matéria nos oprime, nos domina, nos esmaga. Mas, chegada bem alta, a alma por sua vez dirige a natureza inferior e submete-lhe á seus desígnios. A educação pelo trabalho e pela dor desenvolveu nela qualidades e forças que a libertam dos laços e das atrações materiais.
Desde então, ela acha-se apta a tomar lugar nas sociedades superiores; aprendeu a dirigir-se sem que a estimule o aguilhão da necessidade. Com a plenitude de sua liberdade, ela adquiriu a plenitude da prudência e da razão.
Para fazer reinar neste mundo. a paz, a justiça, fora preciso que as nossas instituições se modelem pelas que regulam a vida no universo invisível em que esta cada qual em seu lugar, em que todo ser recebe uma função relativa ao seu valor moral e aos progressos realizados.
A autoridade e a liberdade, que são os alicerces essências ele toda ordem social, em vez de se fundirem num todo harmônico, colidem e combatem-se quais sempre neste mundo sublunar. A autoridade torna-se perigosa, se não se alia ao mérito ao saber. A liberdade não o é menos, quando é cabe em sorte a homens violentos, ignorante, apaixonado.
A lei divina reserva a cada um de nós uma dose de provações e de trabalhos exatamente medida ás necessidades de nossa evolução e ás reparações que as nossas vidas anteriores podem exigir. A lei humana ignora tanto umas como outras.
Outro erro fundamental de certos sociólogos e a preocupação de estabelecerem a igualdade entre os homens. Ora, a igualdade não existe na natureza, nem tão pouco na sociedade. Não se pode impedir jamais que homens ativos, previdentes, econômicos, excedam os indolentes os imprevidentes e os pródigos A igualdades, no fundo, é a negação da liberdade, e excluir-se-iam mutuamente, se a fraternidade não lhes viesse atenuar os efeitos contraditórios.
E evidente que um possante movimento de democratização agita todos os Paises. Os povos voltam-se para a liberdade. Mas, já o dissemos, a liberdade política sem o valor moral, isto é sem a sabedoria e a razão que a justificam, é conquista perigosa. O homem terrestre põe os seus direitos mais alto que os seus deveres. Ele tem a liberdade de obrar o bem e obra mais vezes o mal, isto que sobre ele recai com todo o peso das suas conseqüências. Dai inevitáveis catástrofes ; dai as dilacerações, os padecimentos, às lagrimas.
As lições da adversidade são necessárias. De dentro do abismo de males a que nos arrasta guerra, vemos melhormente os nossos erros e faltas. Ressurgiram verdades olvidadas; entre as nossas angustias reluz um raio do pensamento divino.
Às vezes o homem maldiz a dor por não lhe compreende a eficácia; mas o espírito que paira sobranceiro a abençoa, por ver nela o instrumento de sua elevação. E a dor o único corretivo do mal que livremente praticamos. Se Deus houvesse suprimido o mal e a dor, como põem alguns filosofo, a nossa liberdade ter-se-ia diminuído na mesma proporção, e a nossa personalidade se apoucaria ao mesmo tempo em que os nossos méritos. Deus concede-nos desfalecimentos e quedas, afim de que as conseqüências que ela arrastam, sejam para nós uns meios de reerguimento. Assim, da tormenta atual pode sair o nosso Pai moralmente engrandecido, doutrinado pela rude provação, aureolado de nova gloria.
Todo sofrimento é uma purificação. A guerra mesma, não obstante os horrores que ela gera, assume trágica beleza, se como obra de sacrifício a considera. O que a Historia mais exalta, é a memória dos que souberam sofrer e morrer: por exemplo, os heróis e os mártires. Não ha nada mais sublime que a imolação de nós mesmos em favor de uma causa justa, de uma nobre idéia!
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A guerra presente é, acima de tudo, uma guerra de idéias ; ela terá para o futuro do mundo incalculáveis conseqüências.. E' a luta do espírito contra o materialismo mais violento, mais cruel, a revolta da consciência humana contra a autocracia militar e todas as suas demasias. Ha cinqüenta anos, o seu jugo pesava sobre o mundo; pelo menor motivo, a Alemanha ameaçava os seus Vizinhos com a sua pesada espada. A Europa inteira ressoava com o estrondo das armas : o chão estremecia com a marcha das longas colunas de tropas, ao patear cadente dos cavalos, ao rodar dos canhões. Agora, entreabrem-se outras perspectivas. Após esta guerra devastadora, caído o militarismo alemão, parece que no mundo ensangüentado poderá reinar uma paz definitiva.
Todavia, espíritos contristados, considerando as assolações espantosas causadas pela luta, duvidam ainda do porvir ele uma civilização que pode gerar tais flagelos. Esses não olham as cousas de bastante alto. Uma observação atenta mostrar que no meio do caos dos acontecimentos lentamente se elaboram as consciências universais e a vontade, que têm os povos, de destruir para sempre a causa de tantos males. Forma-se pouco a pouco um concerto das nações que unem os seus esforços para por termo ao conflito latente, á paz armada que desolava a Europa ha meio século, para encher o abismo dos gestos estéreis em que se afundava a maior parte do trabalho e do gênio dos povos. Se a guerra pôde acarretar tais resultados, ninguém hesitar, em reconhecer que pelo menos, ela nos terá feito dar um grande passo para um futuro melhor.
As duras lições do presente terão dados os seus frutos. O prestigio do gloria militar terá se dissipado como o fumo vão. Republicanos ou monarquistas, todos querem e vão firmar as responsabilidades do grande drama e tirar dele as sanções necessárias. As instituições sociais passarão por modificações profundas. já as idéias democráticas parecem impor-sé aos mais refratários. A política secreta já passou de tempo, e os povos querem ter na mão o seu próprio destino. A mesma Alemanha, curvada a todas as servidões, parece estremecer a um sopro libertador.
Ela, como o resto às demais nações, sente agitar-se em si uma necessidade intensa de renovação e progresso...
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Como definir o progresso E o objetivo essencial da atividade humana, buscando em suas formas diversas: material, intelectual e moral. Ele deve realizar-se debaixo desses três aspectos paralelamente, para dar ao poder social o desenvolvimento e o equilíbrio que fazem dele um todo harmonioso. O conjunto dos esforços empregados e dos resultados adquiridos constituem a civilização. Mas, quando esta civilização se apaga a uma ou outra de tais formas e despreza as outras, rompem-se o equilíbrio e a humanidade encaminha-se para um cataclismo. E o que se esta produzindo no momento atual. A ciência deu ao homem meios formidáveis de destruição, e o homem consagrou-os ás obras do mal. A Alemanha orgulhosa sonhava com a dominação do mundo pela força e pelo terror.
Por outro lado, o sensualismo e a corrupção dos costumes enfraqueceram notavelmente a resistências dos adversários dela. As paixões furiosas desencadearam a tempestade, e Deus deixou que tudo se fizesse, (Para que ao clarão sinistro) dos acontecimentos possamos medir toda a extensão dos nossos erros e a humanidade se regenere por meio da provação.
Já, pelas mesmas causas, a civilização desapareceu varias vezes da face do planeta. Os nossos vícios e a nossa cegueira conduziram-nos á beira de um abismo onde nos teríamos despenhado, si não fossem os poderosos auxílios do mundo invisível.
Quando uma civilização chegou a ponto de desviar o homem das leis divinas, daquilo que Platão chamava (O caminho real da alma); quando ela perdeu de vista o fim capital da existência, que é a educação e o aperfeiçoamento moral do ser, então, essa civilização está condenada a perecer por causa dos seus próprios excessos. Se não está inteiramente destruída, está, pelo menos, abalada até ás suas mais intimas profundezas.
Pelos caprichos ferozes das batalhas. pelas epidemias, por todos os males oriundos da terra, multidões de almas se libertaram. Escapam assim ao contado dos maus exemplos, ás tradições que perpetuam os erros e os abusos, para renascer depois, ou no meio terrestre quando se purificou pelo sofrimento, ou em outros mundos melhores.
A grande lei das reencarnações não é senão um dos modos da lei eterna do progresso. Nada prevalece contra ela. Às vezes ela parece suspensa pelos efeitos da liberdade humana, mais tarde ou cedo ela retoma o seu curso, e a sua ação se exerce debaixo de novas formas. Através dos triunfos e dos martírios das nações, através das mortes aparente das ressurreições, poder-se-ia seguir a marcha majestosa da humanidade para o belo e para o bem supremos, debaixo do olhar atento de Deus.
XIII Ressurreição
Todos os anos, os primeiros sorrisos da primavera congregam os discípulos de Allan Kardec em torno desta lapide sagrada, para honrarem a memória do grande iniciador. A primeira vista, parece terem-se aberto claros nas suas fileiras, pois que todos os jovens estão longe, de pé, na linha de combate, para rechaçar o invasor. Muitos tombaram em defesa da pátria e as almas deles foram untar-se, no espaço, com as dos homens de convicção, de dever, de virtude, que, ha sessenta anos, trabalharam pela difusão do espiritismo em nosso Pais. Mas todas essas almas, fieis ao prazo dado, voltam a tomar parte nesta cerimônia. Se pudéssemos erguer o véu que nos oculta o mundo invisível, não veríamos aqui somente alguns grupos de crentes, uma imensa multidão que acode solicita para alentar-nos e inspirar-nos. O seu numero cresce ainda com todos aqueles a quem a dor alanceia e que vem buscar em nossas doutrinas o raio de esperança que ilumina e consola.
Na luta horrenda ; que convulsiona o mundo, são só as energias latentes que despertam, mas também todas as paixões furiosas e as cobiças que dormitavam no coração da humanidade.
Nesta hora cruenta, é doce lembrarmos, dos grandes obreiros do pensamento pacificador fecundo que prepararam mais auspicioso porvir. do numero deles foi Allan Kardec.
Desta vez, o aniversario do Mestre coincide com a festa, da Ressurreição. Não é isto motivo de jubilo, uni signa de vida, unia promessa de imortalidade?
Páscoa, é o acordar da natureza depois de prolongado e triste sono do inverno. Nos gomos se enchem com seiva: nascem florzinhas com moitas; recomeçam os cantos e prepara os ninhos nos ramos; flutuam no ambiente eflúvios tépidos. Ao mesmo tempo estabelece-se com mais insistência o problema da vida renascente grave questão do movimento progressivo por que as coisas se fazem ou se transformam.
Para a maior parte dos homens, é ainda obscuro este problema, permanece velado o objetivo da vida. Tudo quanto evoca o Martírio dos seres e elas coisas aumenta a inquietação e ansiedade deles. Não sabem donde vêm nem para onde vão, e os pés tropeçam em todos os obstáculos do caminho apavora-os a idéia da morte e repelem com horror.
Mas, para nós, graças ao espiritismo,fim se aclara de maneira intensa A vida é o caminho elas alturas, a estrada que conduz aos grandes cimos eternos com esforço do ser para, o bons e o alto, a ascensão para a luz, o desenvolvimento gradual das forças e elas faculdades cujos germens Deus colocou em cada um de nós
Às vezes, é certo, máxima na hora presente, a subida é áspera, semeada de espinhos. Entenebra-se diante ele nós o horizonte.
No tempo,sombrio é que as altas verdades ressaltam com mais esplendor. Depuram-se as almas no cadinho das provações. Pelo sacrifício e pela abnegação, elas, aumentam a seta radiação interior Através de nossas existências terrestres, precárias, instáveis, dolorosas, construímos o nosso espírito imortal e o grandioso edifício dos destinos dele.
Páscoa, é ainda a comunhão entre dois mundos, visível e o invisível, o mundo da terra e o dos Espíritos. Neste, ponto de vista, é a coroação da obra de Cristo.
Jesus abrira as lamas vias que? estabelecem a comunhão entre, estes dois mundos e que lhes permitiam que mutuamente se penetrassem.
Sabeis que a sua vida toda foi uma obra mediúnica de alta intensidade. Agrupou-se em torno de si homens medíocres e ignorantes para lhes confiar uma missão que requeria instrução e faculdades oratórias, é porque vislumbrara neles as faculdades psíquicas que o, deviam tornar, depois da morte, interpretes do além, inspirados do próprio pensamento e vontade deles.
Assim a ação do profetismo Hebraico provocada por influencias superiores, prolongara-se e estendia-se por toda a Igreja cristã; ela tornava-se o intermediário, o mandatário designado das potenciais invisíveis. A manifestação de Páscoa e as aparições de Cristo que a se guiam são o fato central e como que o eixo desta grande epopéia espiritualista.
A Igreja primitiva apresentava notáveis analogias coro o atual movimento espírita. Com o nome de profetas, os médiuns desempenhavam nela papel capital. Nas suas inspirações e discursos passava o grande sopro do além. Por muito tempo foi a Igreja interprete das revelações sobre humanas, foi assistida, protegida e não obstante os erro e as imperfeições de seus membros, viva e próspera. Mas desde o dia em que ela proscreveu a mediunidade e silenciou ás vozes de Cima, fez-se nela a obscuridade, os fins divinos foram pouco a pouco substituídos pelos objetivos matérias, e ela desconheceu o verdadeiro papel. a missão que lhe conferira o seis fundador.
A campanha violenta e pérfida que move essa Igreja contra o espiritismo, prova que ela perdeu de todo em todo o sentimento de suas origens, de suas verdadeiras tradições. Ela afasta-se cada vez mais das doutrinas do Cristo para encerrar-se dentro de formulas que repetem os lábios, mas que o não despertam tio coração dos homens nem luz nem calor.
Dai resulta que a nós, discípulos obscuros, humildes herdeiros de Allan Kardec, é que nos cabe a pesada missão da reconstituir o laço que une o céu á terra, de reencontrar a fonte fecunda donde jorram ás altas inspirações, de obra que deve ligar os poderes homens de boa vontade, a fim de a era nova esperada por tantas almas inquietas e contristadas. No meio da miséria.
No meio da miséria humana, nos dias angustiados em que vivemos esta festa de Páscoa deve, pois, ser como um raio do alto, uma como mensagem de jubilo e de esperança.
Eis porque, de pé em volta deste dólmen, como os primeiros cristãos que celebravam a Páscoa em trajo de viagem, com o bordão na mão, comungarmos, não já sob as espécies materiais, mas por todas as efusões de nossos pensamentos, por todas as aspirações de nossos corações, com o mundo invisível cujas legiões pairam sobre nós e se associam estreitamente as nossas lutas aos nossos esforços e assim aos nossos padecimentos.
Assim se aperta e fortifica a imensa cadeia de vida que prende a terra ao espaço e une, numa ação comum, as duas humanidades, solidárias no seu destino através dos séculos.
Se queremos entrever pelo pensamento o futuro reservado ao espiritismo, figuremos por um instante as gerações vindoura desprendidas das superstições clericais e dos preconceitos universitários, elevado pelo espiritualismo científico e filosófico até a comunhão com o invisível, conversando com os habitantes do além, dirigindo a sua vida de acordo com os conselhos de seus preceptores de além-túmulo, obedecendo, como os profetas de Israel, aos impulsos superiores.
Tal sociedade não seria o povo de eleitos, a quem o Cristo veio evangelizar? A união de, tal povo á humanidade invisível seria comparável a esta escada de Jacob por onde os Espíritos descem até os homens e os homens sobem até Deus, e ascensão de gloria, de virtude, da, luz.
A todos quantos vergam ao peso da existência, ao fardo das provações ; a quantos consideram com terror o flagelo, a obra de fogo e sangue que devasta a França, diremos : Elevai os vossos pensamentos das misérias humanas, elevai-os ás regiões serenas, ás perspectiva imensas que nos desvenda a doutrina de Allan Kardec. Mais alto que as contingências terrestres, ela vos ajudará a descobrir as leis eterna que presidem á ordem, á justiça, á harmonia no universo. Ela mostrar-vos-á nos males do destino outros tantos degraus para chegardes um degrau irais elevado da vida, para alçardes às sociedades melhores, ás humanidades mais dignas dos favores da natureza e da sorte. Ela dir-vos-á que a tromba que se agora desencadeou sobre o nosso Pais, e que talvez tenha por fim saneá-lo, é passageira, e que, após tormenta, luzirão melhores dias.
O espírita sabe que lhe está patente um futuro sem limites e adianta-se no seu caminho com mais fé e confiança. Arrosta resolutamente na provação, porque de antemão conhece as usas e os proveitos dela. Haure na sua crença consolações e a força moral tão necessárias às horas criticas e lutuosa. Sabe que, não estante as vicissitudes dos tempos e as revessas da historia, a verdade, o direito, e a equidade é ,que pronunciam sempre a ultima palavra.
O espírita sabe que uma proteção potente envolve, quê cada um de nós tem o seu guia e que grandes Seres invisíveis valem pelos indivíduos e pelas nações. O estudo da nossa natureza psíquica revelou-lhe toda a extensão de nossas forças oculta, que podemos aumentar e desenvolver pelo pensamento pela vontade e pela prece, atraindo a nós as forças exteriores, os fluidos puros, cuja propriedade é fecundar as nossas próprias forças interiores. Neste ponto de vista, a comunhão com o Invisível não é só um ato de fé, mas também e principalmente um exercício salutar, que tem por efeito aumentar o nosso poder de irradiação e de ação.
Para, em nossas casas, gozamos da claridade e do calor do sol, precisamos abrir-lhes portas e janelas. Assim também, precisamos abrir as nossas almas e os nossos corações ás radiações divinas para sentirmos os seus benéficos. A maior parte dos homens permanecem fechados; dai a indigência do seu espírito e a obscura dos seus pensamentos. Mas, se os nossos pensamentos e vontades, vibrando uníssonos, convergissem para um fim comum, atingi esse fim, e os nossos males se atenuariam e reduziriam notavelmente. A centelha rebentará nas almas mais obscuras e nela acendera uma chaminé ardente.
Muitas vezes, no meio do conflito que devasta o mundo, sentimo-nos oprimidos de tristeza. Nós que, havia pouco, afirmávamos a lei do progresso e que, mediante ela, sonhávamos com o aperfeiçoamento constante de todas as coisas, somos obrigados a reconhecer que as conquistas da ciência, as mais belas descobertas da inteligência servem para intensificar a obra de destruição e de morte de que somos testemunhas impotentes. A historia imparcial registrará as cenas de espanto e horror que se sucede desde o alto dos ares até o fundo das águas. Ela estabelecerá a responsabilidade dos que primeiro inauguraram processos de guerra que em selvajaria e ferocidade excedem quanto conhecia a humanidade.
Quanto a nós, em presença desse desencadear de paixões furiosas, diante desse transbordamento de ódios, temos tem dever que cumprir e uma missão que realizar: é divulgarmos em torno de nós o conhecimento desse além onde a verdade e a justiça, muitas vezes desconhecidas na terra, acham seguro refugio ; é dirigirmo-nos aos que choram mortos queridos, para os iniciarmos nessa comunhão espiritual que lhes permitiram viverem ainda com eles pelo espírito e pelo coração e lhes proporcionará consolações inefáveis; é enfim relembrarmos o nome do grande iniciador cuja doutrina luminosa e serena traz aflitos alento e conforto. Em vossos dias de provações, um dos raros júbilos do pensamento é, cansarmos nas nobres figuras que mais honra a humanidade.
XIV - «Sursum Corda>
8 de junho de 1918
Espíritas,elevemos as nossas almas á altura dos sinales que ameaçam a pátria e a humanidade. Nos tempos de provações é que se revelam as nobres virtudes e as másculas coragens. Ha pouco, nessas horas de paz e de bem-estar que parecem já tão ''distantes, muitos dentre nós deixavam ir os pensamentos e as vontades ao corrente da vida fácil e até mesmo da sensualidade. Ao açoite dos acontecimentos, cumpre que as energias façam rosto ao perigo, para alentar e fortalecer os que, na linha de frente, combatem pela salvação comum.
Todos os adeptos o sabem: o pensamento e vontade são forças.
Operando de modo continuo no mundo dos fluidos, podem adquirir irresistível poder. Ao mesmo tempo servirão de apoio ás legiões de Espíritos que, ha quatro anos, não cessaram, nos dias de perigo, de impelir e inflar os nossos defensores, de comunicara-lhes este impetuoso ardor que o mundo admira. Os nossos protetores invisíveis nol-o repetem amiúde: Uni os vossos pensamentos e os vossos corações! Se de um a outro extremo do Pais, todas as vontades, amparadas pela prece, convergissem para um fim comum, estaria assegurada a vitória.
Nos mais trágicos momentos de sua historia é que a França tem mostrado toda sua grandeza. Ante o perigo eminente, em 1429, em 1792, em 1870 e em 1914, ela ergueu-se firme, resoluta, inquebrantável. Conservemo-nos fieis ás tradições d, nossa raça, que são as do nosso próprio passado, porque muitos dentre nós viveram nessas épocas de crises e provações. A historia de nosso Pais é a nossa própria historia. Participarmos de seus.júbilos e de suas dores, participamos de seus prolongados esforços, comungarmos com sua alma e seu gênio. Se viemos renascer nesta terra de França, é que mil laços, mil recordações nos prendem a esta doce região. Assim, ao contacto dos acontecimentos, as impressões despertam em multidão e sentimos que as nossas almas vibram e palpitam acorde com a grande alma da Pátria.
A gigantesca luta que se está travando, não tem exemplo na Historia. Desde Maratona c Salonica, desde Atila até agora, não virá o mundo atirar-se para os centros civilizadores semelhante onda da barbaria. Mas hoje o quadro alargou-se e as massas em movimento tornaram-se enumeráveis. E' a luta simbólica da besta contra o Arcanjo,isto é, da matéria contra o Espírito,que, se faz realidade. A matéria apresenta-se aqui com a mais repugnante forma: a força brutal a serviço da mentira, da traição, a pratica habitual De emboscada, os processos mais requintados e mais cruéis da destruição. Desencadearam-se todos poderes do mal contra o pensamento livre e alado. Procuram cortar-lhe os vôos para o direito para a justiça, obrigai-o a rastejar, mutilado e descoroado. Ora, o espírito pode sucumbi, o pensamento pode perecer? Formular a questão é resolver. Já muitas vezes a Alemanha cuidou ter mãos à vitória, e a vitória escapou-lhe. Ha escapar-lhe até o fim.
Neste conflito terrível, o nosso Pais constitui o campeão do mundo em prol da liberdade. seu papel assume caráter épico. A França resgata todos os seus crimes, todos os seus erros, todas as suas fraquezas com o seu holocausto, com o seu sacrifício voluntário, em proveito do que ha de mais grandioso, ele mais sagrado na consciência humana. Eis porque com ela e por ela pelejam legiões invisíveis.
Em nossos precedentes artigos já falamos do grande conselho dos Espíritos. Os nossos médiuns vêem distintamente na linha de frente Vercingetorix, que foi Desaix ; Joana d'Arc, Henrique IV, Napoleão, e com eles muitos dos que participem dos seus perigos e de sua gloria, Em frente, dás linhas adversas, paira a negra legião dos espíritos das trevas, soprando nas cabeças alemães combinações infames. Se, varias vezes, pareceu terem eles a superioridade na luta, foi por meio processos que aos espíritos elevados repugnam. as forças do mal não poderiam por muito ripo prevalecer contra as do bem.
No meio desta confusão trágica, a emoção avassala muitas vezes os corações. Continuemos inabaláveis e confiantes no bom êxito final. Com todos os nossos pensamentos e com toda a nossa alma, sustentemos os nossos defensores visíveis e invisíveis. Um sopro poderoso passa pela terra que França, reavivando as energias, exaltando os ânimos, suscitando por toda à parte o espírito de heroísmo e de sacrifício. Oremos e saibamos esperar, a hora da justiça divina.
Por mais penosas que sejam as provações que ainda nos aguardam, conservemos as nossas firmes esperanças.A grandeza da causa que servimos, a perspectiva do fim que almejamos atingi, nos ajudarão a suportar tido. As nações livres do jugo alemão, não tardarão a entoar o hino libertação : Sursum corda
XV – O futuro Espiritismo
No meio dos acontecimentos trágicos que se desenrolam, o pensamento ansioso procura atravessar as brumas e ás sombras do futuro, levantar o véu que o esconde aos nossos olhos, e pergunta a si mesmo o que ha de ser amanhã. Quando, em torno de nós, tudo parece que se desmorona, sonha o pensamento com uma reconstituição da ordem política e social.
Ha 50 anos trabalhamos em preparar um fundo em que os homens aprendam a amar-se, a na santa comunhão da inteligência è da oração. E assistimos a uma ininterrupta serie de selvagens lutas, aos esforços gigantescos do espírito de dominação que se empenha em cativar os ,povos, curval-o debaixo do seu jugo!
Quem, pois, ensinará aos homens as verdadeiras leis, a evolver livremente na paz e na harmonia ? Neste momento, a doutrina dos Espíritos se nos apresenta como um raio consolado,, como um astro novo, que se ergue sobre um mundo de escombros e ruínas.
Os cépticos responder-nos-ão com um sorriso de zombaria. Perguntar-nos-ão se de véras o espiritismo é capaz de desempenhar um papel regenerador. Como argumento, ser-nos-á bastante medirmos o caminho por ele andado e os progressos realizados desde que morreu Allan Kardec. Podemos dizer que não foram vãos os nossos comuns esforços. Por toda parte já se começa a conhecer a verdade e a grandeza das idéias que defendemos.
No curso de minhas numerosas viagens em todas as direções, e das minhas estâncias em meios diversos, pude acompanhar os progressos notáveis e crescentes da idéia espírita na opinião geral. Ha três anos, sob o choque dos acontecimentos que se passam, no meio do grande drama que sacode o mundo, muitas almas se contristam e os pensamentos volvem-se para o Alem, pávidos de consolações e de esperanças.
Sente-se, por toda à parte, em geral igual grão, a insuficiência, a indigência dos ensinamentos dogmáticos, a sua ineficácia para pensar as chagas, para consolar a dor e para explicar o destino humano.
Qual deve ser o objetivo essencial do espiritismo? Primeiro que tudo, provocar, pesquisar coordenar as provas experimentais da sobrevivência.
Esta pesquisa da verdade se deve fazer por meio de uma fiscalização rigorosa e metódica. As justas exigências do espírito moderno nos impõem que passemos todos os fato pelo crivo de um exame imparcial, e devemos precatar-nos contra os perigos da credulidade e das afirmações prematuras.
C. Richet e outros nos têm acusado de carência de rigor em nossas pesquisa e experiências, Fundando-se em provas bem estabelecidas, em bases sólidas, o espiritismo deve preparar, renovar a educação cientifica, racional e moral do homem em todos os meios.
A ação do espiritismo deve, pois, exercitares em todos os domínios: experimental, doutrinal, moral e social. Ha nele um elemento regenerador de que podemos tudo esperar. Pode-se dizer que ele está chamado para ser o grande libertador do pensamento escravizado ha tantos séculos. Ele é que ha de lançar cada vez mais no mundo germens de bondade, de fraternidade humana e tarde ou cedo esses germens hão de frutificar.
Somos impacientes, porque a vida é curta e Tece-nos que os progressos são lentos. Mas já rodemos asseverar que, durante cinqüenta anos, espiritismo fez mais do que qualquer outro movimento do pensamento no mesmo lapso de tem, seja qual for à época da Historia.
Somos impacientes, e a nossa piedade se comove com o espetáculos das ignorâncias, das rotinas, dos preconceitos, dos sofrimentos e das misérias da humanidade, sobretudo na presente fora, e queríamos obter resultados imediatos. Mas já podemos ver que a pouco e pouco tudo muda, tudo, em redor de nós, evoluciona, sob a. pressão dos acontecimentos e sob o sopro das idéias novas.
Muitas obscurezas se dissipam, muitas resistências desaparecem. Os ódios que, em torno de si, desapertavam as nossas crenças, trocam-se muitas vezes em simpatias, ás vezes em amizades, tão certo é que os homens só se combatem, só desprezam por se desconhecerem. A obra magnífica do espiritismo será a de aproximar os homens, as nações, as raças, formar os corações, desenvolver as consciências; mas, para isso, é preciso o trabalho, a perseverança, o espírito de dedicação e de sacrifício.
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A guerra não nos revelou somente um perigo exterior com que teremos de contar por muito tempo; mostrou-nos também a chaga viva, os males íntimos de que sofre a nossa desditosa pátria. Contrastando com as virtudes heróicas dos nossos soldados, com a expectativas estóica e laboriosa da gente da retaguarda, rebentaram escândalos políticos que puseram a descoberto a falência de certas consciências, o completo esquecimento da lei do dever e da lei das responsabilidades.
Não hesitamos em buscar a causa desses males no ensino confuso que dispensa o Estado ás gerações, ensino falto de ideal, de grandeza, de beleza moral, eficaz e retemperar os caracteres, prepará-los para as duras necessidades da existência. Dai resulta que em nosso mundo velado de tristeza, afogado em sangue e lagrimas, muitas almas se entregaram ás oscilações da incerteza, da paixão, e, muito amiúde mesmo, á duvida e à desesperação.
E' certo que debaixo do látego das provações, sente-se por toda a parte nascer um vago desejo de crer; mas ninguém sabe a que fé se deve apegar. As afirmações dogmáticas, funda das em textos cuja autenticidade é contestável, já passaram de tempo. Só o espiritismo, pelas provas que fornece da sobrevivência, pela demonstração experimental de que é a vida um dever sempre renascente e de que sobre nós vêm a recair todos os nossos atos, pôde introduzir no ensino nacional elementos bastantes de renovação.
Evidenciou-se para todo pensador que as sociedades humanas jamais atingira o estado de paz e harmonia por meios políticos, mas antes pela |reforma interior e individual, isto é, por uma educação moral que melhore a conectividade, aperfeiçoando cada individuo. Não bastam as leis, os decretos as convenções; e necessário um ensino que fixe o papel e o lugar do ser no universo, que assegure a disciplina moral e social, sem a qual não ha para uns Pais nem força, nem estabilidade.
O mesmo sucede com a liberdade, cuja realização só é possível quando ela se alia á prudência á razão.
Nos seus elementos essências, a doutrina dos Espíritos nos proporciona os recursos necessários para se fundar esse ensino. Ela demonstra que a liberdade tem o seu principio no livre arbítrio do homem, mas que este livre arbítrio é sempre proporcionado aos nossos méritos e ao nosso grão de evolução. Assim, esta doutrina dá uma espécie de consagração. Somente quando ela irradiar pelo mundo, ver-se-ão cessar a lutas bárbaras que cruentas periodicamente o nosso planeta retardado.
Poder-se-ia, pois, dizer que os vulgarizadores do espiritismo são os melhores obreiros da paz universal a que se entregam, empresa de que só conhecem as asperezas, sem lhe reconhecerem ainda nem as alegrias, nem os frutos. Mas, quando houver concluído o reinado do ódio na terra, a Historia ha de saudar esses bons operários do pensamento: a liberdade guardará a memória dos que fixaram as suas bases, traçaram o seu caminho, facilitaram o seu vôo.
XVI O Espiritismo e a ciência
Agosto de 1918
Allan Kardec, em suas obras póstumas afirmou que o futuro pertencia ao espiritismo. Após meio século de provações e de labor, esta afirmação verifica-se hoje, e podemos repetir com a certeza que tais palavras de esperança e de fé profunda não serão desmentidas.
Diremos por nossa vez: o futuro pertence ao espiritismo ; saibamol-o. preparar.
Quais são os progressos realizados pelo espiritismo?
Primeiro que tudo, verificamos que apropria Ciência oficial está a tal ponto combalida, que se vai ver na necessidade de reformar os seus métodos, de renovar os seus sistemas.
Ha cinqüenta anos que os espíritos nos ensinam teoricamente e nos demonstram experimentalmente, sob o nome de fluidos, a existência de estados da matéria e de forças imponderáveis que os sábios rejeitavam com unânime acordo.
O primeiro dentre ele que os comprovou Sir Crookes, e por suas experiências espíritas. como o estabelece o seu livro: Recherches sur lés pheizomènes du Spirüualisnae, é que ele entrou na senda desta descoberta.
Desde então, a ciência, dia a dia, não cessou de reconhecer a variedade e o poder dessas forcas: Roentgen, com os Raios X; Becquerel, Curie, Lê Bon, descobrindo as energias intra-atonicas ; Blondlot, os raios N. Somos obrigados a confessar que as forças radioativas não emanam somente dos corpos materiais, mas também dos seres vivos e pensantes. E' uma preparação para a verificação da vida invisível e do perispirito.
Allan Kardec, em suas obras, afirmava já a existência de tais forças.
Dessas descobertas resulta que se subverte-.am todas as bases da psíquica, da química e mesmo da psicologia. O espiritismo ganha largamente com as comprovações recentes, feitas neste domínio.
A ciência reconhece hoje a existência de todas as forças subtis postas em ação pelos Espíritos nas manifestações.
Lembremos o fenômenos das contribuições, a reconstituição espontânea de objetos diversos em aposentos fechados, os casos. de levitação de moveis e de pessoas vivas, as experiências de penetração da matéria pela matéria, que foram feitas por Aksakof, Zollner e outros em anéis de metal e tiras de pano autenticados.
De modo mais geral, a passagem dos Espíritos através das paredes; as aparições, as materializações em todos os graus, todos estes fatos demonstraram desde o principio a ação de forças prodigiosas, então desconhecidas; a possibilidade de uma dissociação da matéria, que até então permanecia ignorada, e que a ciência atual é forçada a admiti, depois dos trabalhos de Curie, Becquerel, Le Bon, etc.
Um escritor católico, num livro recente, em que, através da aspereza da forma, se vê em cada pagina o móbil interessado do autor, objeta-nos que, muito antes de Kardec, outros inovadores tinham assinalado a existência do fluido humano, por exemplo Mesmer com a sua famosa celha. Esquece-se, sem duvida, o acolhimento sarcástico que se deu a esta invocação e a hostilidade violenta das corporações sabias a seu respeito. Esta hostilidade persistiu a tal ponto que não seria necessário retrocedermos muito para nos lembrarmos das zombarias de algumas academias acerca do magnetismo.
Foi preciso todo o gênio de um Crookes para arrombar portas que permaneciam hermeticamente fechadas.
O que os sábios, durante tanto tempo, se obstinavam em repeli, os espíritas o conheciam e admitiam ha mais de cinqüenta anos. Eles não cessavam de prosseguir na demonstração e na prova experimental. Apontam-me neste momento as descobertas de dois investigadores Lioneses que acharam o modo de reproduzir, por meio da espectroscopia e dos raios ultravioletas, a fitografia dos desdobramentos fluídicos de membros amputados e até mesmo do desdobramento inteiro de um médium exteriorizado. Destas pesquisa e destas experiências resulta forçosamente uma modificação profunda das teoria clássicas sobre as forças e sobre a matéria ; caí o dogma do átomo indivisível, e, com ele, toda a ciência materialista. esta se acha em completa desordem.
Veja-se esta declaração do presidente de um congresso Para o adiamento das ciências, pouco antes da guerra, o Senhor Laisant, ex-deputado do sena, e a quem pessoalmente conhecemos como fiel discípulo de Augusto Comte, isto é, como positivista
Vivemos desde a infância uma vida cientifica tranqüila, contentando-nos com as nossas teorias como uma velha casa um tanto deteriorado a quem estamos apegados pelo costume e que amamos e em que habitamos. E eis que sobrevém o tufão debaixo da forma de fatos novos, inconciliáveis com as teorias admitidas. As hipóteses caem, a casa desaba e ficamos inteira-mente desorientados e tristes. a espera de novas borrascas, e sem saber o que fazer.
Que confissão de impotência e esterilidade ha nestas palavras!
Quando estudamos a marcha do espiritismo, somos levados a verificar que, pouco a pouco,não obstantes as suas hesitações e repugnâncias, a ciência acerca-se gradualmente das teorias espíritas.
Em física e química, e se reconhece à existência da matéria subtil, radiante e das forças radioativas, que são a própria base, o substrato e o modo de manifestações do mundo invisível. agora em psicologia, ela é obrigada, a aceitar o hipnotismo e a sugestão, depois de os ter negado durante muito tempo. Depois veio a telepatia e a transmissão de pensamentos. Ora, que são estes fatos senão a demonstração no domínio humano,experimental, do principio afirmado, aplicado ha cinqüenta anos pelos Espíritas: a ação possível da alma sobre alma, em todas as distancias, sem o auxilio dos órgãos e do cérebro.
As ciências oficiais, que sobretudo se inspirava nas teorias materialistas, repeliam a priori, esta explicação. Ha ainda poucos anos, ela rejeitava toda e qualquer possibilidade de manifestação da inteligência fora do cérebro, e conseguintemente, todo e qualquer meio para um ser se comunicar com outro ser fora dos órgãos e das vias ordinárias da sensação.
Hoje a ciência obrigada a reconhecer os fatos de telepatia e de transmissão dos pensamentos. E, ao reconhecê-los, ela dá um passo notável para diante e descarrega um golpe mortal no materialismo.
A telepatia demonstra a comunicação possível entre dois seres sem o auxilio dos sentidos psíquicos, como a sugestão demonstra a influem possível de um espírito sobre outro sem a ajuda dos órgãos. Estas influenciam e estas funções estão firmadas por milhares de experiências. Desde então. por isso mesmo, a teoria materialista está em falência, e a ciência já andou metade do caminho para admite como possível à comunicação entre os homens e os Espíritos. Esta segunda metade do caminho ela a vencera pelo estudo da mediunidade.
Ora, esta renovação potente da psicologia, e ensinará o ser humano a se conhecer melhor, atem a deverá a ciência?
Aos espíritas, aos magnetizadores que foram primeiros a chamar a atenção dos sábios pari atos de sugestão, de telepatia, transmissão de pensamentos e que forçaram de certa maneira evolução cientifica a orientar-se nesta senda,que conduzirá sem duvida ao espiritismo.
Um fato significativo mostra-nos já o caminho percorrido no meio docente. O Doutor Geley pode realizar no Colégio de França, sobre os auspícios do Instituto psicológico e perante um Auditório seleto, em 08 de janeiro de 1918, urna conferencia acerca dos fenômenos psíquicos, na ,qual o conferente afirmada a realidade das materializações de Espíritos.
Como sabe toda a gente, o Colégio de França a mais alta repressão do ensino superior. Os seus professores são dos mais ilustre. Renan; Micheiet, Claudio Bernard, Berthelot ali ocuparam cátedras. Ainda agora toda a Paris intelectual acompanha com apaixonado interesse as coisas que lá fazem os professores Bérgson, lzoulet, Réville, Camillo Julian, etc. O programa, o fim do colégio de França é vulgarizar, tornar publicas as novas descobertas e os trabalho efetuados recentemente em todas as esferas do humano saber. E, pois, a conferencia do Doutor Geley um acontecimento importante, uma como consagração oficial dos nossos estudos e das nossas pesquisas.
Aplaudindo francamente o movimento que impele os homens instruídos ao estudo dos fenômenos psíquicos, não podemos todavia afastar de nós certa apreensão, quando meditamos nas prevenções, nas inveteradas rotinas reinantes em alguns meios acadêmicos. Ainda ha muitos sábios que querem impor a esses fatos as mesmas regras que ás combinações psíquicas e químicas. Mas é um ponto de vista errôneo e de conseqüências desastrosas o considerarem-se tais experiências como um domínio cujos elementos e forças se representam sempre idênticos e de modo que sejam dispostos a nosso talante. Expomo-nos assim a inúteis pesquisa ou resultados incoerentes.
Na ordem psíquica, as condições de experimentação são absolutamente diferences ; tudo é incerto e mudável. Os resultados, segundo a composição dos círculos e as influencias reinantes, podem variar até o infinito. Os esforços dos psiquistas oficiais arriscar-se-iam a fixar estéreis, se persistissem em maneiras de ver tão pouco conformes á realidade.
Devemos reconhecer que é aos sábios ingleses a quem devemos o impulso vigoroso do novo espiritismo no mundo. As qualidades de observação, os métodos prudentes, a perseverança de um Crookes, de um Russell Wallace. de um Myers, de um Lodge, estão acima de todo louvor; mas o que é ainda mais admirável é o valor moral que permitiu a esses homens, eminentes fazer frente durante vinte anos as hostilidades conjuradas das Academias e das igrejas, obrigarem finalmente a opinião publica a inclinar-se ante os trabalhos dele e aceitar-lhes conclusões. Crookes, entre outros, jamais variou ,os seus juízos sobre as aparições de Katie King. Apesar das insinuações de certos críticos al intencionados, ele escreveu e publicaram, em diversas datas, cartas em que reproduz, e até as acentua, as suas primeiras afirmações..
Não encontramos no mesmo grau essas dualidades nos sábios dos outros Paises que se ocuparam do psiquismo. Carlos Richet, que é um espírito sagaz e franco, depois de ter comprovado tantas vezes os fenômenos que se produziam nas sessões de Eusapia Paladino e assinado as atas que atestavam a realidade deles, não conhecia que a sua convicção, a principio profunda, se enfraquecia e se tornava flutuante algum tempo depois, sobre os hábitos de espírito contraídos no meio que lhe era familiar! Desde então, ele fez-se mais categórico sobre a questão dos fantasmas.
Camilo Flamarion também teve as suas horas de incertezas. Alguém nos faz notar que na ultima edição de seu livro As Forças naturais desconhecidas, 1917, a tendência dele é para explicar todos os fenômenos pela só exteriorização dos médiuns.
Apraz-nos acreditar que, publicando o inquérito que ele continua neste momento acerca dos fatos da mesma ordem recolhidos no correr da guerra, nos dará mais completas e mais satisfatórias explicações.
Contamos sobretudo com a jovem ciência para firmar em França o espiritualismo experimental. Liberta dos preconceitos de escolas e das rotinas seculares, os seus representantes hão de compreender que para se triunfar nesta ordem de estudos é preciso estar-se animado do espírito de imparcialidade, não mais assimilar os médiuns a histéricos, ter mais respeitoso sentimento para com os seres inteligentes, posto que invisíveis, que intervier nos fenômenos e têm direito ás nossas considerações, tanto quanto as pessoas humanas, e ás vezes mais.
O Doutor Geley e seus êmulos sabem que nestas questões só se deve tocar com reflexão e respeito, tendo-se sempre em vista que o mundo invisível é um imenso reservatório de forças e de inteligências e que, segundo as nossas disposições, tais forças estarão conosco ou contra nós.
O bem e o mal se encontram no invisível como no invisível ; eles se chamam e atraem assim de um lado como do outro da morte, e o único meio de obter fenômenos elevados, fazer do espiritismo uma ciência útil e um meio de progresso, é só nos abeirarmos desse domínio com sentimento grave e recolhido.
A desenvoltura de alguns experimentadores em face dos Espíritos tem como conseqüência afastar as Entidades benfazejas e elevadas, susceptíveis de trazer ás sessões um poderoso concurso. Em compensação, ela atrai os vadios do espaço, sempre inclinados a nos mistificarem e até mesmo, provocarem obsessões temíveis, como as de que , por pouco não foi vitima o Dr. Paulo Gibier, que nos descreveu em seu livro Espiritismo ou faquirismo ocidental.
A ciência tem as suas manias. Os velhos espíritas kardecistas ficam desconcertados com as denominações rebarbativas com que ela designa nossos fenômenos. Os nomes gregos de telekinesia, criptomnésia, ectoplasma e tantos outros semelhantes não lhes dizem nada que preste. Força é porém, curvarmo-nos aos hábitos dos sábios, que sempre, a seu talante, mudaram o nome dos atos novos e procederam à classificação amiúdo arbitrarias, que a natureza não conhece. Dizem-nos que tais processos são necessários para introduzir , um pouco dê clareza nestes estudos. Devemos, pois, aceita-os, mantendo, porém, o uso dos termos que nos são familiares e que o tempo consagrou.
Qualquer que sejam os termos e os processos adotados, não se deve perder de vista que em nosso mundo, em que tudo é relativo, não se poderia atingir, em matéria alguma, a ciência integral e absoluta. E necessário experimentar com método e rigor, mas, por mais que se faça, não se logrará encerrar nas estreitas regras humanas a ciência do invisível. Ela excederá sempre as nossas classificações com toda a grandeza com que o céu infinito domina a terra. O conhecimento do além, em seu conjunto, pertence só ao que nele se acham. Não podemos ao menos recolher dele os clarões necessários para iluminar a nossa marcha cá na terra.
XVII - O Espiritismo e a Renovação das vidas anteriores.
Setembro de 1918
Entre as experiências que, de dia para dia, aumentam o feixe das provas e dos testemunhos com que se opulenta o espiritismo, devem ser citadas as que têm por objetos a renovação da memória, isto é, a reconstituição, no ente humano, das recordações anteriores ao nascimento. O individuo, imerso no sono hipnótico, desprende-se do seu invólucro carnal, exterioriza-se e, neste estado psíquico, sente dilatar-se o circulo de sua memória normal. Todo o seu remoto passado desenrola-se em fases sucessivas; á vontade do experimentador, ele pode reproduzir, reviver do passado às cenas capitais e até os mais miúdos acontecimentos.
Chamei, pouco ha, a atenção do coronel de Rochas para fatos desta espécie obtidos por experimentadores espanhóis e por eles expostos ao Congresso espírita e espiritualista de 1900, em Paris. O coronel, já conhecido por seus trabalhos sobre a exteriorização da sensibilidade e da motoridade, continua a sua pesquisa no sentido que lhe indicara e notável resultados alcançou, posto que diversos. O conjunto destes fatos está relatado em sua obra sobre as Vidas sucessivas que foram obtidos em Aix-en-Provence, em presença do Dr. Bertrand, desta cidade, e do Lacoste, engenheiro, cujos testemunhos anteriores recolhi no correr de uma digressão de conferencia, reúnem serias garantias de autenticidade. estas sessões, a pessoa adormecida, uns jovem dezoito anos, sobe a corrente de suas passadas . existências e revive-lhe as peripécias com um realismo, com uma vivacidade de impressões e de sensações que não podem ser simuladas, porque do arremedo necessitaria profundos conhecimentos patológicos, que a pessoa não podia possuir, a juízo de todas as testemunhas.
As experiências de Grenoble com outra pessoa, Josefina, permitiram a verificação das condições de tempos e lugares nas quais se desdobrou uma existência anterior com o nome e Bourdon.
Em compensação, algumas narrações contidas no mesmo livro parecem-nos serem muitas menos certas, menos aceitáveis, e devidas, em grande parte, á imaginação da pessoa, elemento contra o qual devemos estar sempre acautelados no estudo destes fenômenos. Na escolha dos seus médiuns nem sempre foi feliz, o coronel de Rochas.
Os informes recolhidos em Valença e em Heraúlt mostram que, no numero deles, alguns revelaram pouco dignos de sua confiança.
Destes livros se colhem certas observações que julgamos poder reproduzir aqui
As recordações - dizem o autor - concentram em acontecimentos mais ou menos longínquos á medida que a hipnose se aprofunda.
A sugestão tem tanto menos império quanto mais profundo é o sono. Ao despertar, o individuo não guarda nenhuma lembrança do que disse e fez. Cada vez que o individuo passa por uma vida diferente, a fisionomia fica em relação com a personalidade. Como homem, a palavra, o tom, as maneiras diferem sensivelmente do tom e dos gestos da mulher; da mesma maneira quando passa pela fase de infância.
Já a mesma verificação tinham feito os experimentadores espanhóis de que falamos atrás. A medida. que as suas pessoas remontavam o curso de suas existências remotas, a expressão do olhar, tornava-se cada vez mais selvagem.
O coronel de Rochas relata as impressões pessoais experimentadas em Roma e Tivoli, a propósito do que ele considera reminiscências de vidas anteriores. Enfim termina a sua obra com a declaração seguinte
A teoria espírita funda-se em bases sólidas e é, em qualquer caso, a melhor das hipóteses de estudo que se têm formulado.
Devo confessar que, por muito tempo, tomei parte em experiências desta espécie, com a diferença de que, em vez de atuar fluidicamente sobre os médiuns, deixava aos meus protetores invisíveis o cuidado de os adormecer, limitando-me a estimulam-nos com as minhas perguntas e observações. Com efeito, seria erro supor que é indispensável o concurso de um magnetizador. Se não é inteira a sua pureza, pode ser prejudicial à intervenção dele, introduzindo nas sessões um elemento de perturbação compromete a sinceridade dos resultados.
Quando estamos certos de uma proteção eficiente do além, é melhor deixarmos ás entidades invisíveis a direção das experiências.
Os meus guias deram-me tais provas do seu poder, do seu saber, da sua elevação, que a minha confiança neles foi absoluta. Deixa-se e referir aqui os pormenores dos fatos obtidos estas condições, é porque com ele se mistura elemento pessoal e inteiramente intimo que me tira a liberdade de os divulgar.
*
As experiências do coronel de Rochas e as mesmas naturezas de que acabamos de falar, vê-se considerar principalmente como ensaios, tentativas de reconstituição de recordações as vidas passadas, porque os resultados são ainda parciais e restritos. Ainda mesmo que não veja nelas senão uma estréia, cumpre conhecer-se que nos fornecem indicações preciosas acerca dos processos que se hão de pregar. Elas nos demonstram que ha um campo vasto de investigações, um conjunto de elementos capazes de renovarem toda a psicologia, dissipando o mistério vivo que em nós trazemos.
Estas experiências são delicadas e complicadas; exigem muita prudência, em razão das causas de erros com que elas tropeçam. Pode-se ler na Revista espírita de julho de 1918 as instruções do espírito W. Stead sobre os métodos aplicáveis a este gênero de pesquisa. Não insistiremos, pois, neste ponto, mas voltaremos ás vasto conseqüências que dele decorrerão quando estes estudos houverem adquirido suficiente desenvolvimento. Não se poderia negar que ha ai o gérmen de uma verdadeira revolução da ciência do ser.
O Fenômeno que impressiona o vermos. nas experiências bem dirigidas, surgir o passado pouco a pouco dos cantos obscuros da nossa memória. Nos acontecimentos que o compõem, pôde-se acompanhar o encadeamento rigoroso das causas e dos efeitos que rege todos os nossos atos, que domina assim o mundo moral como o mundo psíquico, e que é a trama, a lei mesma dos nossos destinos. Com ela, a lei de justiça aparece, deslumbrante,.e já ninguém a pôde contestar.
Outra conseqüência, não menos importante. têm ainda estas experiências. Elas nos ensinam que a personalidade humana é muito mais extensa e mais profunda do que se imagina. O homem possue não só elementos de vida pouco conhecidos, senão também faculdades latentes, não suspeitadas, cuja manifestação plena e integral o nosso organismo permitem: elas despertam em certos casos: telepatia , premonição, vista á distancia. O mesmo acontece com as camadas da nossa memória em , que dorme o passado. Nas experiências de que falamos, este reaparece e sai da sombra. A nossa própria historia desdobra-se automaticamente; as recordações despertam em tropel, e revelam-se ocultas energias. Podemos reapoderar-nos delas e por em ação para a boa direção de nossa vida, a transformação de nosso futuro, de nosso destino.
Aí está, na consciência individual, imortal sanção de todas as coisas. A consciência torna encontrar-se no além, já não restrita, abafada, neste mundo sublunar, mas na sua plenitude, como ela nos aparece no transe, com uma intensidade tal que o ser envolvido revive o seu passado , suas alegrias e nas suas dores, com tal poder que e se torna para ele fonte de felicidades ou de tormentos.
Eis aí o que todo homem deve saber e saberá um dia. Esta ciência profunda do ser, o espiritismo terá feito nascer foi o primeiro a orientar para ela a atenção dos pesquisadores acerca dos lados misteriosos, inexplorados da nossa natureza. Ele terá ensinado o homem a medir a extensão do seu poder, toda a sua grandeza, todo o seu porvir.
Não ha, pois, exagero em se dizer que o espiritismo, após cinqüenta anos de existência, exerce é exercerá cada vez mais influencia crescente, e trará consideráveis transformações na ciência, na literatura e até no grêmio da igreja, como vamos estabelecer em próximo artigo.
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A grande doutrina das vidas sucessivas da alma, afirmada na França por todos os Espíritos em suas mensagens e comunicações, constitui uma revelação, um ensinamento filosófico de alta importância. Apóia ela também em testemunhos quase universais, pois que, á exceção do neocristianismo, todas as religiões e quase todas as filosofias o admitem em principio. Além disso ela ganha com a possibilidade, de que só ela goza, de resolver logicamente as anomalias aparentes e os problemas obscuros da vida. E certo que, no domínio das provas e dos fatos, esta doutrina não tinha até aqui no seu ativo senão as reminiscências de alguns homens especialmente dotados, lembranças de crianças e renascimentos realizados em condições anunciadas e de antemão precisadas. Graças aos fenômenos de renovação da memória, eis que, em seu proveito, se abre sim vasto campo de exploração. Nestas experiências, ela haurirá a força e a certeza necessárias para afrontar e desafiar todas as criticas, todos os ataques.
À medida que nossas etapas se desenvolvem no trance, apreendemos melhor ó encadeamento dos destinos do ser. Por exemplo, a lei de evolução ressalta com mais evidencia do conjunto de nossas vidas individuais do que da historia das nações, sendo estas muitas vezes impelidas para abismos da ambição desmedida dos soberanos e dos destas, como na época presente.
Nos fenômenos de que nos ocupamos, é curioso ver-se a personalidade humana emergir gradualmente da vida selvagem, depois da barbaria, a alumiar-se pouco a pouco ao raiar da civilização. A livre vontade do homem exerce-se freqüente ao contrario da lei do progresso, e a entrava; todavia, os seus efeitos são mais sensíveis para o individuo que para as coletividades que se renovam de tempos em tempos por elementos inferiores vindos de mundos mais atrasados que a terra.
O mesmo acontece, já o dissemos, com a idéia justiça, que encontra na sucessão de nossas vidas a sua inteira aplicação. As recordações demonstram que: todas as nossas existências são solidárias umas com as outras, unidas entre si pelo liame de causa a efeitos.
Poder-se-ia comparar cada uma delas a uma corrente que carreia, ora o lodo e a lama, ora as palhetas de ouro e as pedras preciosas que trazemos das vidas anteriores.
Todo ato importante tem, tarde ou cedo, sobre os nossos destinos inevitável repercussão. um sedutor, devasso deverá renascer no outro sexo para padecer por seu turno os danos por ele causados.
Um homem, detentor de um segredo de estado que traiu a sua pátria, voltará surdo e mudo. Outros, mais culpados ainda, serão, desde a infância ferida de cegueira. Cada falta grave importa uma privação de liberdade, e esta privação traduz-se pelo internamento das almas em corpos disformes, enfermos, miseráveis.
Não vais daqui concluir que todos os enfermos são criminosos do passado! Muitos bons espíritos, sabendo que as provações contribuem para o nosso aperfeiçoamento, escolhem vidas difíceis e dolorosas, para subir um grão na hierarquia espiritual. Cumpre sabermos sofrer para nos reunirmos com as nobres almas que se purificaram pela dor, sabermos sofrer para que adquiramos o direito de participar da existência dela do seu trabalho, da sua missão. Acima de tudo, é a vida um meio de educação e de elevação, e a provação é o cadinho onde se adelgaçam e aperfeiçoam os seres. Não temos diante de nós os exemplos sublimes dos mártires de todas as grandes causas, os exemplos de Joana na prisão, o de Cristo no Calvário estendendo os braços sobre o mundo do alto da cruz para perdoar abençoar? Não eram culpados, mas Espíritos heróicos esses que, apresentado-nos uma grande lição, aspiravam a subir mais alto na vida celeste!
*
A reconstituição das lembranças concorda, pois, com as revelações dos Espíritos para nos mostrarem no padecimento humano, em muitos casos a reparação das faltas cometidas, o resgate do passado, o meio por que se realiza a soberana justiça.
Cumprida a reparação, o ser prepara-se para ascensões novas ; mas a sua memória não subsiste menos integralmente. Os nossos atos ressurgem e revivem, ao chamado do espírito, com espantosa intensidade. Que emoção quando, evocando o passado, ele vê desfilar diante do tribunal consciência o cortejo das ruins recordações como ha de escapar a esta obsessão, aos pesares arrependimentos, aos ralados remorsos?!
Chegado ao poente da vida, o homem passa e revista os fatos que constituem o curso dela ; antes causas de amargura, de sofrimento moral aí não o encontra ! Que não será para o espírito que abraça e sonda, nos seus mínimos refolhos, a longa serie das existências percorridas?
Pouquíssimas almas jovens, no começo, de sua fraqueza e ignorância, puderam evitar as quedas, os desfalecimentos, os crimes mesmos. Para semelhantes males só ha um remédio: acumular tantas vidas úteis e fecundas, tantas obras de dedicação, de sacrifício, que, comparativamente, as altas originais não se afigurem mais do que uma santidade ínfima.
Pára o espírito, as lembranças mais longínquas permanecem vivazes, como para o velho as impressões de sua infância terrestre. E que, por a essência, o espírito escapa a duração. Restituindo a vida do espaço, já para ele não existe o tempo : o passado e o futuro confundem-se no eterno presente.
Esta persistência das recordações tem a sua utilidade moral. No decurso da sua ascensão, o espírito adquire faculdades, potencias de que poderia envaidecer-se se não se lembrasse do pouco que foi e do mal que fez. Estas lembranças são um corretivo para as veleidades de orgulho e ao mesmo tempo motivos de indulgência para os erros e os desfalecimentos alheios. Efetivamente como podíamos ser severos, inclementes para com debilidades que nós mesmos conhecemos?
Em geral, as vidas criminosas, pelas reparações que acarretam, torna-se para o ser outros tanto estimulantes, outras tantas esporadas que o obrigam a adiantar-se na senda do progresso, ao passo que as vidas apáticas, incolores hesitantes entre o bem e o mal, são para ele de pouco proveito. Graças ás existências de lutas e provações, os caracteres se retemperam, forma-se a experiência, desenvolvem-se as riquezas da alma; o mal, a pouco e pouco, troca-se em força para o bem. Em nossa evolução imensa, tudo se transforma, depura e eleva. Uma vez que atingimos as alturas celestes, os elementos de nossas vidas fundem se numa unidade harmoniosa e divina.
XVIII - O Espiritismo e as Igrejas
Outubro de 1918
Para quem quer que observe atentamente, a penetração do espiritismo na ciência tornou-se fato evidente. O mesmo sucede nos meios religiosos diversos, onde a sua difusão, por menos aparente, não é menos real. No que toca ,Igreja católica, esta afirmação parecerá temerária no dia seguinte ás declarações do Santo Oficio, quanto dura ainda à campanha violenta movida contra nós pelo clero.
Entretanto, não obstante estes ataques, seriam fáceis, firmar que, pouco a pouco, se infiltra o espiritismo nos elementos que se poderiam ter pelos mais refratários, mais ortodoxos.
Este movimento foi provocado, ha vinte por Monsenhor Méric, professor na Sorbona, cuja revista O Mundo Invisível se ocupava exclusivamente de ciências ocultas. Apesar de certas criticas de pura forma, podia-se ver que o erudito prelado tomava paixão pelas pesquisas deste gênero. E fez ele escola convem assinalar, no mesmo sentido, o livro do padre Bautain, celebre por suas conferencias de Notre Dame. Sabe-se que cardeal Perrand, bispo de Autun e membro Academia francesa, se entregavam assiduamente,experimentação dos fenômenos. Poucas dioceses havia em que grupos de eclesiásticos se não dessem ás mesmas investigações.
Em nossa resposta ao cônego Coube produzimos os testemunhos de eminentes prelados em favor do espiritismo. Poderíamos ajuntar outros. Limitar-nos-emos a citar o do mais celebre orador do púlpito católico desde Lacordaire, ao P. Didon.
Em suas Cartas a Mlle. Th. V., publicadas em 1902, com a autorização da Ordem dos Irmãos pregadores, ele escrevia: Creio na influencia divina que sobre nós exercem misteriosamente os mortos e os santos. vivo em comunhão profunda com esses invisíveis, e experimento com delicia os benefícios da suas secretas vizinhanças. Por mais que se multipliquem os séculos, não poderão obstar a que as almas da mesma raça se visitem e amem.
Acrescente-se para maior precisão, que em sua instituição de Arcueil, o eloqüente dominicano comprazia-se em interrogar as mesas. Temos a este respeito o formal atestado do nosso amigo Senhor Touzard, membro do Conselho superior da agricultura, que varias vezes tomou parte nessas experiências.
Este movimento não amorteceu, está apenas mais oculto. Hoje como então, estuda-se, experimenta-se no meio católico, mas, fora nada transpira. Continuo a receber cartas e visitas de clérigos que me interrogam acerca dos problemas de além-túmulo.
Corrente contraria agitam o pensamento, a consciência de muitos padres, mas a disciplina de ferro que sobres eles pesa, impede qualquer manifestação exterior.Ninguém deve, porem, fiar-se neste silencio enganoso. O descontentamento fomenta-se secretamente nos espíritos e bem se sabe que as forças demasiado comprimidas produzem ás vezes explosões. Este descontentamento, causado primeiro pela reação antimodernista contra todos os que queriam introduzir um pouco e de luz no sombrio cárcere da Igreja romana ainda aumentou no correr da guerra. A atitude da Santa-Sé, contrastando com a dedicação patriótica do clero inferior, despertou indignação, As vistas de Bossuet, as proposições galicianas não estão de tal modo afastadas de nós olvidadas, que as não possamos retomar e realizar. A Igreja de França lucraria com o desligar-se de um poder mais preocupando com os interesses materiais do que com o verdadeiro rito do Evangelho.
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Falaremos da obra do cônego L. Roure, O maravilhoso espírita, publicado em 1917. E dos grossos projéteis atirados na campanha católica contra os espíritas; mas não deu os resultados, esperados. Deslizando silenciosamente na noite, não produziu explosão alguma e não atingiu o seu alvo. O autor diz ser redator dos todos, obra de publicidade e propaganda, fundada,como sabe toda a gente, pelos Padres jesuítas, Não se hão de buscar neste volume as belas paginas coloridas que sabiam escrever o erudito e sagaz padre Meric ou o eloqüente P. Didon. antes pelo contrario o estilo do cônego Roure descorado e árido. Salvo algumas criticas motivada, o que o caracteriza principalmente é à vontade de incompreensão, a difamação sistemática, coisas que tiram o valor á tese que no volume se desenvolve. O autor não revela o equilíbrio, o são juízo que deveria possuir um padre para analisar uma ciência, uma doutrina eminente, temente espiritualista. A sua intenção patenteia se nos últimos capítulos,que são consagrados a uma Apologia do catolicismo.
Uma vez, porém, o seu propósito cede, e escapa-lhe uma confissão ante o poder da verdade. Lê-se á pagina 297.
O que fez a fortuna do espiritismo, foi que ele trazia ás almas inquietas uma resposta de imortalidade; prometera aos corações enlutados o prolongarem as suas relações com os que se foram. E não negaremos que ele haja dado, em verdade, a alguns, a tranqüilidade em vão buscada noutras partes, bálsamos a dores até então inconsoladas.
Os argumentos de nossos contraditares católicos tendem a destruir todas as provas e testemunhos científicos favoráveis ao espiritismo.
Para ele, W. Crookes e os sábios experimentadores que lhe seguiram o exemplo foram todos enganados, Allan Kardec não foi mais que um inventivo e pobre compilador, e tudo o que pode ser real em nossos fenômenos, deve-se atribuir aos artifícios do demônio. Esquece-se de que foram do próprio seio da Igreja que se elevaram os mais formais testemunhos em favor da manifestação dos defuntos. Lembramos ao P. Coube que, desde Santo Agostinho até Lacordaire e o P. Didon, grande numero de sacerdotes ilustreis se pronunciaram neste sentido.
Os fatos espíritas, encontram-se na origem da igreja cristã e em todos os séculos da sua historia. No comércio com o invisível é que esta Igreja em grande parte, a sua força moral e a autoridade. Mas, pouco a pouco, a procurou seus interesses materiais fizeram-lhe perder as suas tradições do cristianismo priori; A Igreja quis pôr no lugar dos poderes superiores; depois de ter procurado monopolizar manifestações de além-túmulo, em seu proveito ou por proscrevê-las e a idade media apresenta-nos o longo martírio dos médiuns e inspirados. O padre constituiu-se o arbitro destinos humanos ele julgara dirigir o mundo,pelo terror, pelo medo ao inferno e aos suplícios eternos.
Mas um dia a consciência sublevou-se contra alegações que perpetuam erro acerca do futuro que Deus reserva a filhos. A atual situação da igreja, os seus revezes, a sua impopularidade são o corolário dos erros, o resultado da sua intolerância e do afastamento das grandes verdades eternas.
Quanto aos fatos espíritas, sempre continua, a produzir-se em todos os meios para afirmar a sobrevivência da alma, a justiça de Deus e a comunhão dos vivos e dos mortos. um poder humano seria capaz de opor barreira desta vida invisível que nos envolve por os lados.
Os eclesiásticos alumiados o sabem e desaprovam, provam a campanha presente, porque dizem eles não pode deixar de voltar-se contra os seus autores. Estes, chamando a atenção dos fieis para tais questões, provocam o estudo e exame dela: A verdade surge e estabelecem-se a pouco e pouco nos espíritos. Efetivamente, o espiritismo nada tem que temer da discussão nem da análise ele saiu sempre vitoriosos dos ataques de que era alvo.
Assim muitos padres, negando-se a tomar parte neste conflito, buscam as ocultas um meio de conciliação (A ponte) que possa unir duas doutrinas até aqui opostas. Asseveram ter a encontrado na noção do purgatório. Esperam que, cedo ou tarde, a vinda de um papa mais liberal, de vistas mais amplas, ou uma reviravolta da Igreja de França permitirás fazer penetrar neste corpo debilitado um pouco do largo sopro vivificador do além.
As Igrejas protestantes são, em geral, mais acessíveis que o catolicismo ás influencias externas, mais abertas ás correntes do pensamento e da ciência. Sem duvida que também elas têm os seus ortodoxos, os seus obstinados, que não são menos intolerantes, menos retrógrados que os Jesuítas. Mas a plena liberdade que, nas Igrejas protestantes se tem, de se estudarem e interpretarem os textos, contribui poderosamente para progresso das inteligências.
Desde muito que, em Inglaterra e América, os pastores não se designar de citar os fatos espíritas para demonstrarem a sobrevivência da alma. Em França, na Suíça, o protestantismo impregna-se lenta e fortemente de espiritismo. Neste ponto de vista, o nosso respeitável amigo o pastor A. Bénézecb, de Montanban, deve tido como um verdadeiro iniciador. Rompendo com as rotinas e os preconceitos do meio, não teve receio de afirmar alto e bom som a realidade das manifestações de além-túmulo. As suas experiências pessoais, as provas obtidas por ele das identidades dos defuntos são relatadas em dois lumes cujo êxito foi assegurado por seu talento escritor, por seu estilo sóbrio e claro.
Pressinto que o espiritismo bem poderia tornar-se religião positiva, não à maneira das religiões reveladas, mas como religião fundada em , atos de experiência e de pleno acordo com o racionalismo e a ciência.
Graças ao Senhor Bénézech, pude realizar, em 1905, na casa da Câmara Municipal de Montanbân, uma conferencia acerca do espiritismo ante seleto auditório. No seguinte ano, foi no grande anfiteatro da Faculdade de teologia dessa cidade, em presença de um auditório de estudantes, professores, pastores e convidados. Sendo contraditória a conferencia, muitas perguntas me foram feitas pelos assistentes, que parecia interessem-se vivamente pelos problemas psíquicos.
Esta reunião, considerada um acontecimento, teve conseqüências, pois eu soube depois que diversos estudantes haviam tomado o Espiritismo por tema da sua tese de exame.
O movimento não diminuiu, e a idéia espírita continua a propagar-se entre os protestantes francesas. Difícil seria hoje fixar o numero considerável dos que adotara as nossas crenças. As linhas essenciais da doutrina kardecistas encontram-se no pensamento dos. mais eminentes representantes da religião reformada.
O pastor C. Wagner que acaba de passar à outra vida após uma fecunda carreira terrestre, achava-se neste caso. Foi também, como se sabe, um dos homens que mais salutar influencia exerceram em nosso tempo e em nossos pais. Toda a gente conhece os seus livros: A vida simples, Juventude, O Amigo, etc, nos quais, com estilo colorido, caloroso, comovedor, ele se ergue ao mais elevados cimos morais. Outra coisa, porém, não são tais obras senão um reflexo daquela alma brilhante. Para a julgarem por inteiro, seria mister ouvirem-se os seus discursos improvisados, animados do sopro da inspiração. Pacifista antes da guerra, no sentido cristão, despertara-se-lhe, ardente, o patriotismo desde aos nossos primeiro, revezes. E consoladora a leitura dos seus ultimo sermões, nos quais o grito do, sofrimento humano se mescla aos acentos da mais nobre fé religiosa.
C. Wagner afastara de si todo espírito sectário e contava amigos em todos os campos, entre os padres católicos, os rabinos e os livres pensadores espiritualistas. Também lhe não era estranho o espiritismo, porquanto, a 21 de Fevereiro ultimo, ele me expunha as suas maneiras de nos seguintes termos
Creio com toda minha alma na presença dos nossos queridos invisíveis. Dele faço a minha habitual companhia e ando cercado do seu pacifico e sorridente cortejo. Em memória deles, folgo de cultivar o que eles amaram, e agora que tantos jovens heróis transpuserem a fronteira que ,serve de limiar ao mundo invisível, considero da obra justa e boa como um deposito que eles nos deixaram e que se torna sagrado pelo seu sacrifico. A santa sociedade dos vivos e dos mortos, a continuação, entre nós. da influencia dos que nós precederam ; a vista de uma ascensão dos seres através das dores, dos erros, das faltas, para uma superior claridade, uma consumação do que apenas começa em nós, tudo isso é a minha fé viva e que rogo a Deus todos os dias me aumente. Pelo Evangelho largamente compreendido e praticado e por todas estas aspirações que dos assina-o, sinto-me bem ao lado de vós, que ninguém excluis, que tudo esperai que o horizonte luminoso dá ao quadro da vida.
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Desde os trabalhos de A. de Gasparin e do professor Thury, a Suíça não cessou de se interessar pelas questões psíquicas. Em 1892, a Universidade de Genebra, que compreende uma faculdade de teologia protestante, convidava-nos a fazermos duas conferencias publicas sobre o espiritismo. Realizaram-se a 7 a 10 de Novembro, no grande anfiteatro denominado a Aula e seguiu uma terceira no cassino de São Pedro, em que se lançaram as bases da sociedade de estudos psíquicos de Genebra. Esta, durante muito tempo, teve como presidente o distinto professor Daniel Metzger, o qual, coisa curiosa e segundo um Espírito digno de fé, era a reencarnação de Calvino. Os trabalhos desta sociedade são dos mais notáveis; por ocasião do congresso espírita de Genebra, em 1913, ela contava cerca de 200 membros, quase todos pertencentes á religião reformada.
O professor Th. Flournoy, universitário protestante, consagrou dois grossos volumes a um estudo do espiritismo, que apresenta mais fantasia do que ciência imparcial. Cumpre todavia reconhecer-se que, nos seus Arquivos de psicologia,, o seu cepticismo, zombeteiro a principio, atenuasse a pouco e pouco para dar lugar a. uma reserva prudente; ás vezes até, a elogios dirigidos a sábios ingleses, tais como Myers e Lodge.
O seu colega, o pastor G. Fulliquet, professor; na Faculdade de teologia da Universidade, em, um alentado volume intitulado Os problemas de além-túmulo, vai muito mais adiante. Escreve, por ex., a pagina 141
O pensamento espírita revela-se excelente para mitigar a emoção e a dor das separações para produzir a resignação e a aquiescências, para embotar o aguilhão do luto, para nos reconciliar com a morte.
O autor admite a doutrina das vidas sucessivas e da reencarnação como uma hipótese: importante e interessante por suas conseqüências e suas aplicações. Estende-se sobre este assunto Uma vida única na terra não pode certamente bastar a proporcionar á alma o desenvolvimento integral, a evolução completa, que ela aspira e tem direito; ninguém chegou á perfeição, distando muito disso; é, pois, licito dizer-se que ninguém chega ao cabo de sua educação, de suas provações, de suas experiências. Preciso é então que a morte, que não tem o poder mágico de tudo acabar, de tudo levar á perfeição, introduza a alma em uma vida nova de atividade e progresso.
O autor examina depois sob que forma se pode produzir esta vida nova, e escreve: A terra é onde voltará à alma, numa reencarnarão, sob a forma de um homem novo, para aqui sofrer uma educação diferente e adequada, mas após um intervalo mais ou menos longo de vida espiritual pura. E a teoria das encarnações sucessivas ou da pluralidade das existências terrestres. E um pouco adiante acrescenta: Não é absolutamente impossível que a reencarnação na terra subministre ás vezes às circunstancia mais favoráveis.
O snr. Fulliquet acerca-se de nós em outros pontos. Falando dos fenômenos mediúnicos, e ele declara que pelo subliminal estamos em relação com todo um mundo espiritual.
Em certos casos de enfermidade, a vida psíquica torna-se mais intensa e mais bela, parece aumentar e predizer que a morte a não ameaça, nem a poderia atingir.
Depois de tais premissas, o leitor admira-se de ver o autor adota finalmente o ponto de vista atual, a opinião em moda nalguns meios teológicos protestantes, isto é, a teoria de Sabatier acerca da imortalidade facultativa. Segundo ele, nem todas as almas subsistem após a morte, senão unicamente as que chegaram o suficiente estado de coerção das faculdades e da consciência. Ora, não se podendo realizar semelhante estado senão em certo grau de evolução, após uma série de existências, resultaria daí que a maior parte das almas jovens, recém criadas, desapareceriam, e que, de um só golpe, grande parte da humanidade póstuma seria suprimida. Eis o resultado a que vem dar uma concepção puramente imaginaria, que em nenhuma prova se apóia.
E evidente que o Snr. Fulliquet quis respeitar modos de ver e sentimentos que vigem em torno dele, cortejar os interesses ou as simpatias e manter as boas relações. Havendo estudado o espiritismo nos grupos lioneses, tratou deste assunto, mas não ousou afirma plena e altamente o que de si para si pensava. Talvez, algum dia, venha a lamentar o não haver seguido o belo exemplo dado por Bénézech ou por C. Wagner. Seja como for, devemos assinalar as suas veleidades de fraqueza e aprova as suas boas intenções. Como em muitos meios se vê, a mentalidade dos homens da Igreja está sendo trabalhada pelo espiritismo. Apesar das resistências e dos obstáculos, a luz dele penetra lenta, porém seguramente, através do Dédalo e da escuridão dos dogmas.
Fôrma e expressão do mundo invisível, representa o espiritismo a mais venerável das tradições filosófica e religiosa, a verdade tanto mais antiga como mais moderna. E a fonte donde saiu todas as religiões, a fonte em que elas devem retemperar e regenerar nas horas Ai decadência e haurir vida nova. E o socorro que presta o céu á terra, o processo por que o ,pensamento e a ciência se endereçam para uma síntese cuja base serão os fatos mediúnicos, cuja coroa serão as alturas da evolução, e cujo ensinamento refletira tudo quanto constitui a beleza eterna da alma e do mundo.
XIX. - O Espiritismo e a Filosofia Contemporânea
Novembro de 1918.
Nos precedentes artigos esboçamos a largos traços a marcha rápida e o progresso do espiritismo durante cinqüenta ano, em todos os domínios do pensamento, isto e, nas ciências, na experimentação psíquica, na literatura e até no seio as Igrejas. Resta-nos examinar que parte de influencia ele teve no movimento filosófico contemporâneo e particularmente filosofia da Escola.
Notemos de passagem que esses resultados se obtiveram fora de toda organização espírita, sem outros meios de ação, sem outros recursos a não ser o só poder da verdade, sem nenhuma direção senão a que emana do Além. Mas é esta talvez a mais segura, a mais eficaz, porque, melhor que os processos humanos, ela pôde triunfar dos preconceitos, das rotinas e vencer os amores próprios mais obstinados.
Em verdade, quantos trabalharam, com persistência, pela difusão do espiritismo sentiram-se ajudados e amparados pelo mundo invisível.
No tocante á obra filosófica realizada ha meio século, não passaremos em revista todos os sistemas que a compõem, pois fora isso sairmos do quadro deste estudo. Indagaremos tão somente qual é, no ensino oficial, a parte que se deve atribuir á idéia espírita.
Registremos desde logo que, neste espaço de tempo, as teorias materialistas não cessavam de recuar e que o espiritualismo tende a substituí-las.
O ensino oficial, na hora presente, é representado pela filosofia de Bérgson, cuja radiação se estende cada vez mais no exterior, ao mesmo passo que a sua ação sobre os espíritos mais intensos se torna em nosso Pais.
As ciências psíquicas são familiares a Bérgson, pois que ele seguiu com atenção o desenvolvimento delas. Ele é autor de um artigo publicado no Boletim do Instituto geral psicológico de janeiro de 1904 sobre a Visão de clarões na obscuridade pelos sensitivos.
A sua filosofia não e um sistema que se vêem ajuntar aos sistemas precedentes. E original, profunda, e constitui uma verdadeira revolução no mundo do pensamento. Desde Spencer que estava estabelecido ser a inteligência a faculdade predominante, o mais seguro meio de se querer o conhecimento e abraçar o domínio da vida e da evolução. Ora, Bérgson demonstra que inteligência, emanação da vida, é impotente, por si só, para abranger a vida e a evolução, pela razão de que a parte não pode abranger o todo, nem o faz reabsorver a sua causa. Que faz ele?
No lugar da inteligência põe a intuição que é um acontecimento da mais alta importância em psicologia, porque é a intuição que se prendem a maior parte das faculdades medianimicas: a clarividência, a premunição, a previsão dos sucessos, e no dia em que a ciência encontrar um método pratico para desenvolver essa intuição, ela se acercará dessas misteriosas faces da alma Humana pelas quais estas confina com a presciência divina e pelas quais se revelam a sua essência intima e sua imensa evolução.
Pelo desenvolvimento destas faculdades, pode entrever a aparição de uma raça de homens que nos excederá em poder, tanto quanto homem atual excede o homem pré-histórico então a alma humana se revelará em toda a sua grandeza : ver-se-ha que ela possua fontes profundas onde pôde sempre se retemperar, e cimos iluminados pelos raios da verdade eterna.
A alma é um mundo; ela conhece o esplendor das eminências e a vertigem dos princípios; tem ela abismos onde rugem as torrentes de paixões; encerra filões cheios de riquezas, e o destino é exatamente valorizar todos esses tesouros escondidos.
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O estudo da, obra de Bérgson mostra-nos, em certos pontos, analogias notáveis com a doutrina dos Espíritos. A vida do ser, o diz, é o desenvolvimento de uma evolução anterior ao nascimento. Ha encadeamento, continuação na transformação, na progressão e ao mesmo tempo conservação do passado no presente. Ele admite como nós outros que esse passado este gravado na consciência profunda, e estabelece evolução paralela do ser orgânico e do ser consciente. Eis os termos em que ele define evolução.
O progresso é continuo e prossegue indefinidamente, progresso invisível, sobre o qual o ser invisível está a cavalheiro durante o espaço ele tempo que ele tem de percorrer na terra. Quanto mais fixamos a atenção nesta continuação da vida, tanto mais vemos a evolução orgânica aproximar-se da evolução consciente em que o passado atua sobre o presente para dele fazer brotar uma forma nova, que é a resultante dos seus ascendentes.
E isso sem duvida transformismo, mas de tal maneira espiritualizado, que se aproxima sensivelmente da filosofia das vidas sucessivas. esta noção das vidas anteriores está afirmada e revisada em numerosas paginas. Aqui vão alguns extratos
Que somos nós, que é o nosso caráter, senão a condenação da historia que temos vivido desde nosso nascimento, antes mesmo do nosso nascimento, visto que conosco trazemos disposições pré-natais?
A vida é o prolongamento da evolução pré-natal. A prova disso é que muitas vezes é impossível dizer se trata de um organismo que envelhece ou de um embrião que continua a evolver.
Depara-se-nos em Bérgson a concepção espírita da vida universal
O universo não está, feito mas faz-se sem cessar. Ele cresce sem duvida indefinidamente pela adjunção de mundos novos... E verossímil que a vida se desdobre noutros planetas, em outros sistemas solares também, sob formas de que nenhuma idéia temos, em condições psíquicas em que ela nos parece, no ponto de vista da nossa fisiologia, repugnar inteiramente.
Segundo ele, o principio da evolução não está na matéria visível, mas sim na invisível. E declara:
«Todos os dados científicos novos tendem a transpor a evolução do visível para o invisível.» Pode-se notar que, na sua obra, Bérgson fala incessantemente da vida, e pouquíssimo da morte.
Nenhum filosofo parece haver-se preocupado menos com este acidente passageiro que não põe termo a nada. Para ele, como para nós outros, vida triunfa e reina como soberana, depois da morte como antes dela.
A opinião de Bérgson acerca do livre alvedrio está conforme com a que sempre sustentamos.
O papel da vida, diz ele, é inserir a indeterminação na matéria. Indeterminadas, quero dizer imprevisíveis são as formas que ela cria ao compasso da sua evolução. Também cada vez mais indeterminada, quero dizer cada vez mais livre, é atividade a que estas formas devem servir de veiculo.
Mais adiante acrescenta:
A liberdade não é absoluta. Admite graus... Somos livres enquanto somos nós mesmos, isto é, em nosso estado de personalidade profunda, mas somos determinados em quanto pertencemos à matéria e á extensão. A personalidade humana e um jorro vivo de incoercível liberdade... A liberdade é um fato de experiência interior, uma cousa sentida, vivida, não raciocinada.
Em resumo, vê-se que o bergsonismo, da mesma maneira que a doutrina dos Espíritos, dá ao homem mais força para viver e para obrar e liga-o mais estreitamente a tudo quanto vive, ama e padece no mundo.
O materialismo insulava inteiramente o homem: da cega maquina do mundo, o homem sentia-se como que reduzido. Mais a concepção muda: da mesma maneira e o menor grão de pó é solidário do imenso sistema solar, assim também todos os atos vivos, desde as origens da vida, através dos tempos e dos meios,outra coisa não fazem que tornar mais sensível umas direções únicas, invisíveis.
Eles seguram-se uns aos outros, ligam-se e obedecem a um impulso formidável. E como uma caravana imensa que marcha através do tempo e espaço, e transpõe os obstáculos e desdobra-se -a além de todas as mortes.
Não temos aqui algo novo na Filosofia oficial que, até agora inteiramente impregnada de intelectualismo, se via tolhida diante do problema ser? Lê Dante e a sua escola procurava a vida exclusivamente na matéria. Bérgson, porém, pondo mais alto a inteligência e a vida, reabilita de algum modo o mundo vivo; encontra o laço que prende as doutrinas ocidentais ás da Grécia e do Oriente, ás crenças de nossos pais, aquela filosofia céltica resumida nas Triadas e a que ha de voltar, sem duvida, um dia. E, ou Bérgson tenha bebido suas idéia nos seus estudos psíquicos, ou nas inspirações de seu próprio gênio, a coisa não e menos notável no ponto de vista da entidade das doutrinas, máxima nas suas vastas conseqüências morais e sociais.
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Ao terminar a sua obra magistral, a Evolução adora, Bérgson insiste na relatividade dos fatos, sua impotência para nos subministrarem outra coisa mais que uma concepção fragmentaria da natureza. Alça-se com vigor contra as maneiras arbitrarias de ver de Herbert Spencer, adotadas, todavia, pela ciência
Não se pôde, diz ele, raciocinar sobre as partes como se raciocina sobre o todo. O filosofo deve ir mais além do que o sábio. A inteligência retalha os fatos no todo da realidade... Em vez de dizer que as relações entre os fatos engendraram as leis do pensamento, eu posso muito bem supor que foi a forma do pensamento, que determinou a configuração dos fatos percebidos e por conseguinte as relações dele entre si. E concluem nos seguintes termos
A filosofia não é apenas à volta do espírito a si mesmo, a coincidência da consciência humana com o principio vivo donde ela emana, um contacto com o esforço criador; ela é o aprofundamento da transformação em geral, o evolucionismo verdadeiro e por conseguinte o verdadeiro prolongamento da ciência, com a condição de que se entenda por esta ultima palavra um conjunto de verdades verificadas ou demonstradas, e não certa escolástica nova que rebentou durante segunda metade do século xix em torno Física de Galileu, como a antiga em torno de Aristóteles.
Todos os espíritos refletidos se hão de impressionar com a concordância que neste ponto existe entre os modos de ver de Bérgson e os expostos por Allan Kardec. Com efeito, em matéria de espiritismo, o grande iniciador jamais pretendeu separar a doutrina dos fatos. Ha contudo entre nós homens que o que queriam circunscrever no domínio experimental. Leva-nos isto as considerações de ordem especial no tocante à doutrina dos Espíritos.
Ninguém conteste que seja o fato a base do espiritismo, a prova da sobrevivência. Mas por traz do fato, e no próprio fato, ha toda uma relação. No espiritismo, não anda o fato sem ensinamento, com tanto que o fenômeno seja ordem um pouco elevada.
Os Espíritos não buscam comunicar-se conosco senão para nos instruírem, nos consolarem, nos iniciarem nas grandes leis do Além, cujo conhecimento é tão necessário, máxime nos dias de novação. Isto foi o que compreendem e sentiu Allan Kardec. Ai esta, porque, em sua obra, une estreitamente a doutrina á ciência. Assim procedendo, ele não obedecia a uma tendência social, mas sim a uma necessidade, à natureza mesma das coisas que ele estudava.
O que constitui o poder de ação, o papel social do espiritismo, é que ele, satisfaz a um tempo, a todas as necessidades da alma humana, as necessidades múltiplas, imperiosas da quadra atual; ele fala ao mesmo tempo ao cérebro e o coração, à inteligência, a consciência e razão.
O que constitui o poder e a eficácia do espiritismo, é que as satisfações intelectuais e morais ele nos dá, os ensinamentos que nos proporciona, formam no seu conjunto uma magnífica unidade, uma soberba síntese cientifica, filosófico, moral e social.
Uma doutrina que não tende para esses diversos fins, carece de equilíbrio.
A moral, que vem do cérebro, é moral estéril; só a moral do sentimento e dó coração pode tornar os homens verdadeiramente humanos, acessíveis á piedade, sensível a todas as dores, dedicado aos seus semelhantes.
Sem duvida que se devem estudar os fatos.., e dar-se-lhes toda a importância que merecem. Mas como quer Bérgson, mais além e mais alto que os fatos, deve-se ver o fim para o qual, por seus meios, forças invisíveis nos levam pelas vias ásperas do destino.
O espiritismo não é, pois, somente o fenômeno psíquico, a dança das mesas, como ainda parece crerem alguns homens. O espiritismo todo o esforço do Além para arrancar a alma humana a suas duvidas, a suas lepras, a suas enfermidades morais, para a obrigar a ter consciência de si mesma e realizar os seus gloriosos fins.
O espiritismo é o raio dê esperança que vem alumiam o nosso sombrio universo, a nossa teria de lama, sangue e lagrimas; é o raio fecundo que vem visitar os aposentos de miséria, que se insinua nas moradas tristes onde habita a desgraça. onde gemem os que sofrem.
O espiritismo é a chamada do Infinito; são as vozes que vêm proclamar o mais nobre, o mais poderoso ideal que já sonhou o gênio do homem.
A estes apelos, a estas vozes, as frontes curvadas sob o peso da vida, levantam-se; os desesperados, os náufragos da existência cobram animo, e no céu brumoso do seu pensamento, vêm brilhar a aurora que anuncia novos tempos, tempos melhores para a humanidade.
O espiritismo é a comunhão das almas que chamam e respondem um ás outras através extensão. Graças a ele, chegam-nos noticias os que foram nossos companheiros de cadeias ou ,e lutas na terra.
Julgavamol-os perdidos, e eis que nos sentimos outra vez ligados a eles
Que alegria tamanha a de sabermos e sentirmos que estamos unidos aqueles a quem amamos, unidos por todos os séculos, que a morte é apenas uma ilusão da vista, que toda separação só passageira e aparente. Sentimo-nos ligados não somente a ele, mas a quantas almas povoam imensidade. O universo é uma grande família. nos milhares de mundos que giram nas profundezas, por toda à parte temos irmãos e irmãs que estamos destinados a encontrar e conhecer um a um , por toda à parte ha almas com as quais prosseguiremos a nossa ascensão, sob a égide de leis sabias, profundas, eternas!
Assim despertará pouco a pouco e crescerá eu o sentimento, o instinto poderoso da vida e da solidariedade universais. Por este meio sentir-nos-emos ligados assim aos mais humildes como aos maiores Espíritos, sentir-nos-emos da mesma raça que os heróis, os sábios e os gênios, e teremos a possibilidade de nos ajuntarmos com ele na luz quando também nós houvermos trabalhado, lutado, merecido, padecido.
O espiritismo, enfim, é todo o frêmito da vida invisível ; é um universo vivo até aqui ignorado, salvo de alguns poucos, e que sabemos e sentimos que existe, se agita, palpita, vibra em derredor de nós, e enchem o espaço de pensamentos radiosos, pensamentos de amor, inspirações geniais. Cada vez mais o sentiremos viver e obrar, graças ao desenvolvimento de faculdades que se vão multiplicar, crescer e tornarem-se comuns a um grande numero.
Por este meio, adquiriremos também a preciosa certeza da proteção, do amparo que, do além, se estende por cima de nós, a prova de que a solicitude do alto envolve todos os peregrinos da existência no seu penoso jornadear terrestre.
Na peleja que está travada para a ascensão da humanidade, a luta grandiosa das idéias, o espiritismo está no mais aceso da refrega, porque nele se encontram a vida e a morte, tocam-se a terra e o céu e unem-se para os combates do pensamento. Lutemos, pois, com valor, com habilidade, com prudência. Está conosco o mundo invisível. Alce o nosso brado de esperança e confiança na eterna e consciente justiça que governa os mundos. Creiamos, esperemos, obremos.
XX Nascimento de um mundo novo.
01 de Dezembro de 1918.
O exame que acabamos de fazer no decurso cinco artigos, mostrou-nos como, em meio século, o espiritismo criou para si um posto em todos domínios da atividade humana.
A grande vaga que varreu tantos erros e ilusões que reporá muitas coisas em seu lugar. A França ;obrará o seu papel, a sua missão histórica e a compreensão de seus verdadeiros destinos, que sistema em espargir no mundo idéias, verdades, luzes. As altas entidades que por ela velam, e que salvaram do perigo, esperam apenas a hora conveniente para usar ele toda a sua influencia e impulsionar na senda do seu destino. Como vimos, contra o materialismo e a indiferença de outrora se esboça poderosa reação espiritualista, e neste movimento do pensamento está chamado o espiritismo a desempenhar magno papel. Os estudos que lhe suscita as convicções que forma, não foram nunca mais oportunas, porque só uma alta concepção do mundo, da alma, da vida pode proporcionar nos a serenidade de espírito, a força dotal necessárias para suportáramos as duas provações da quadra atual e olharmos confiantes para o futuro.
Ao desencadearem a guerra, não previa Alemanha e Áustria o abismo de dores que iam cavar. Hoje já não são unicamente os gritos das minas que se fazem ouvir, mas erguem-se vozes de todos os ângulos do globo e todos os potenciais morais se levantam para acusar e anatematizar os autores de tantos males.
A consciência humana pronunciou o seu veredicto infalível pois ela quer uma paz fundada na justiça, uma paz que assegure a punição dos culpados e obstem ao regresso de semelhantes calamidades.
Eis que, pouco a pouco, graças ao socorro de cima, se aclara o horizonte os sucessos tomam direção favorável á causa do direito. A guerra atual, que pudera ter trazido para o pensamento uma era de decadência e aviltamento, promete ser um meio de regeneração, e nesta obra desempenhará a França essencial papel. Já ela avulta, aos olhos do mundo, com toda a extensão dos seus padecimentos c sacrifícios. De ha muito, os inimigos dela tinham-lhe preparado à ruína e o esmagamento.
Mas a França sempre de pé, sempre renascente, leva ainda nas dobras dos seus estandartes; grande parte do futuro humano. Quarecida dos seus erros, das suas desregradas ambições, ela representa hoje a causa dos fracos e o direito sagrado do pensamento.
Assim, pois, para ela e seus aliados voltam todos os povos livres os olhos e as esperança. Sabem que á dela está ligada à sorte deles. Vencida ela, seria isto o fim da independência dele, ao passo que com a vitória da França, o pensamento recuperará o seu livre curso, e radiará mais intenso sobre a terra ensangüentada.
Assistimos ao nascer de um mundo novo tudo quanto está destinado a viver e crescer, se elabora no sangue e nas lagrimas. Em meio das convulsões de terrível guerra, vem-se surgir às armas ainda vagas e indecisas de uma humanidade regenerada pela dor.
As grandes nações da Entente, até então divididas pelos interesses econômicos, e que, sem os acontecimentos atuais, jamais poderiam ter-se compreendido, reuniram todos os seus recursos, dos os seus meios de ação para afrontar o perigo comum. Elas souberam chamar a si a maior parte dos povos da terra. Resulta disso uma penetração das inteligências e das consciências, uma é dos caracteres e das vontades, grávidas de conseqüências para o futuro do nosso planeta.
Os povos encaminham-se para uma solidariedade viva e ativa, para uma organização mundial que parece ser o ultimo termo da evolução do direito.
Estabelece-se uma ordem de coisas, econômica a principio, política amanhã, filosófica e oral depois.
Graças aos rápidos progressos por ele feitos na Inglaterra e na América, o espiritismo promete tornar-se a doutrina universal que cimentará união de todos em um ideal comum. A própria Alemanha, desiludida, constrangida a renunciara ao seu sonho de dominação brutal, será obrigada entrar no concerto das nações, onde ocupa simplesmente o lugar que lhe for devido. Somente então poderão reinar na terra a paz e a justiça.
Dia virá em que teremos orgulho de haver vivido numa época que tão grandes coisas prepara. Demos louvores a Deus, que do conflito das paixões e dos ódios saberá fazer sair à harmonia. Trabalhemos, cada qual na medida de suas forças, por preparar para a humanidade melhores tempos.
XXI - O reinado do Espírito
15 de Dezembro de 1918
Antes da guerra, podiam-se reconhecer por toda à parte em torno de nos os frutos enganosos, os frutos venenosos do materialismo, na política, na literatura, nos costumes. Foi necessária a comoção terrível dos acontecimentos para que surgissem às qualidades heróicas da nação, atoladas debaixo da espessa camada dos interesses e das paixões egoísticas.
Passada a tempestade,não terão de todo, desaparecido esses frutos deletérios. E de recear que o conflito dos interesses e as lutas de classes a ação já surda, já violenta das más paixões se prolongue e ainda tenhamos outras provações que temer, e outras convulsões que sofrer.
O remédio estará principalmente na procura e na aplacação de um ideal desinteressado, que acostumará o homem a levantar os olhos e os pensamentos acima das baixas cobiças terrenas.
Só é grande uma nação pela idéia que ela encerra e nenhuma ha mais nobre que a evolução individual e coletiva, a ascensão de cada um de. Nos para esses cimos eternos a Sabedoria, a justiça, o Amor; nenhuma mais bela que participação crescente na obra do progresso universal. Mas como se ha de inculcar tal ideal os homens a quem ruins pastores durante tão largo tempo anteveriam na ignorância de sua natureza e de seu verdadeiro papel?
A empresa será longa, trabalhosa., penosa. todavia outro meio não ha de provocarem-se umas ,vidas espirituais elevada e puras, de se trazer o reinado, do espírito sobre a matéria.
Ha vinte ou trinta anos que poderosa corrente arrasta os povos para a democracia socialista. Esta, para que fecunda seja, terá de realizar!. reinado do espírito, respeitar a liberdade pessoal, esta liberdade sagrada que é a própria garantia da nossa, autonomia, e cuja chama deve arder sempre em nossas almas. Se fosse um constrangimento e violência, se calcasse aos pés a liberdade individual, o socialismo já outra coisa não seria que uma forma do despotismo e chegariam aos teores excessos.
Temos disso um exemplo na Rússia, onde ,revolução era, a principio, inspirada pelos pensamentos mais generosos. Mas, pela opressão, ela despenhou-se no abismo e tornou-se uma terra da anarquia e da pilhagem.
O socialismo igualitário seguiria caminho errado, como o demonstramos noutros artigos. A igualdade não está na natureza, nem pôde existir na sociedade. A nivelação por baixo, como se imaginam certos utopistas, a igualdade imposta, suprimiram as capacidades, isto é, todas as forças intelectuais. Chegariam ao reinado universal da mediocridade, á bancarrota da arte, da ciência, e seriam uma retrogradarão á barbaria.
O socialismo materialista esquece-se de urna coisa capital: de que a alma humana precisa de esperança e fé, tanto quanto o corpo precisa de alimentos.
A democracia deve ser uma solidariedade estreita, fraternal, entre todos ; em esforço comum para o que ha de melhor, um empenho para nos elevarmos a uma vida mais digna e mais alta. Nestas condições, a democracia seria um valor de ordem moral e teria a sua sede nas consciências.
No ponto de vista dos interesses, a paz social só se pôde adquirir pelos sacrifícios voluntários dos que possuem e pelas reivindicações justas, eqüitativas dos que, nada tendo, trabalham para edificar a riqueza publica. O socialismo não deve ser inspirado pelo ódio das classes, mas pela simpatia e pela benevolência. O ódio só gera o ódio, este só pelo amor será vencido.
Mas, para se lá chegar, todo o aparelho da legislação e as instituições políticas serão impotentes. Não basta que se dirijam á inteligências e a razão; preciso é principalmente que fale ao coração dos homens, arrancando dele os germes de egoísmo, de inveja, o espírito de dominação. Só ha probabilidade de se triunfar pela difusão de uma grande doutrina, baseada em provas sensíveis que a todos ensine o dever, a responsabilidade e moral e ilumine o caminho do futuro. Somente então acabarão os conflito e se preparara melhor destino para a humanidade.
Onde é que estão os obreiros de tal transformação, os artífices do reerguimento espiritual e moral de nosso Pais? Achal-os-emos entre os homens que ha vinte anos se têm sucedido no poder? Quantos os conhecem bem, asseveram que o salvo raras exceções. A democracia deve ser dirigida por mãos honestas e puras, e não por materialistas amigos de gozo, não cuidadosos das leis superiores e da sorte que lhes reserva o além irá preciso talvez se esperar outra geração, a chegada de homens novos que, quebrando as molduras dos velhos partidos inaugurem um estado coisas mais conforme com o objetivo real da Existência e com as regras da evolução humana.
Em qualquer caso, já o dissemos, o espiritismo está fadado a desempenhar grande papel e pode, confiante, olhar para o futuro. Desde logo, ele. Oferece a todos os corações alanceados o manancial das supremas consolações e das infinitas esperanças.
Ele dilata a comunhão com o Invisível e, ao mesmo tempo, torna-a mais precisa e fortifica-a graças ás faculdade mediúnicas e ás revelações concordes dos Espíritos, as condições da existência para além do tumulo ficam sendo de nos mais bem conhecidas; os laços de simpatia e de solidariedade que aos defuntos nos unem, multiplicam-se, e as duas formas da vida, visível e invisível, funde-se em poderosa unidade. Todos quantos e grande é o numero deles praticam a comunhão com os seus queridos entes desaparecidos, sabem que socorros, que elementos de renovação as relações com o alem introduzem em nosso pensamento e em nossa consciência. Os horizontes de nossa vida dilatam, e as coisas da terra reduzem-se ás suas justas proporções. Aprendemos a desinteressar-nos de quanto é fútil e vão e a pomos a mira das nos ambições nos bens indestrutíveis do espírito.
A colaboração e a vida comum com os nossos amados invisíveis é como banho fluídico em que se nos retemperam e robustecem as almas.
Os nossos atos, os nossos juízos, as nossas percepções em tudo se modificam profundamente. Por exemplo, a idéia da morte perde o seu caractere lúgubre. Todo aparelho de pavor de que propositadamente a cercaram as religiões, desabam e dissipam-se. A morte é apenas volta á verdadeira vida, vida radiante e livre para o Espírito que não cometeu falta. E o repouso para o indagador fatigado, o refugio de todos os que penaram, lutaram. sofreram.
O habito ele conversarmos com os nossos amigos do espaço, o pensarmos que eles estão muitas vezes perto de nós, que nos falam, ouvem e se interessam por nossos trabalhos, obrigam-nos a ser mais atento em nossos atos. À medida que nos adiantamos sob as suas inspirações, a nossa compreensão da vida espiritual torna mais profunda, mais fácil o dever, menos pesado “fardo das provações. Aprendemos a libertar-nos mil escravidões materiais, a emancipar-nos das ambições malsãs, dos mesquinhos ciúmes, de tudo quanto separa os homens e os infelicita”.
Nas circunstancias trágicas que atravessamos, comunhão do céu e da terra, dos vivos e dos mortos, assume grandioso Caráter: toma extensão e intensidade consideráveis: As almas dos heróis que caíram combatendo em defesa da pátria de todos os que oferecem a vida em sacrifício para que a cara terra de França não seja reduzida á escravidão, a multidão incomparável desses espíritos, que, nos seus vôos de gloria, pairam; acima das nossas cabeças, se associam aos nossos esforços, ás nossas dores, ao nosso pranto.
Não é caso insulado o de Raymundo Lodge toda à parte se multiplicam as manifestações desde que terminou o período de perturbação que as mortes violentas, já não têm todos esses espíritos senão um fim, senão um pensamento ajudar os nossos soldados na luta épica em que está empenhado, exaltar-lhes o animo, sustém-lhes o ardor impetuoso, até que seja rechaçado o inimigo para além das fronteiras.
Na presente hora, os videntes podem contemplar estes impressionados espetáculos de duas humanidades que se unem em supremo esforço para ,salvar a França e o mundo das dolorosas pressões da águia germânica.
Não cessará com a guerra esse grande movimento. As forças espirituais que estão em ação, continuarão a intervir, não já no sentido da luta,, mas para realização da obra pacifica e regeneradora por excelência. A humanidade, por seus desregramentos e demasias, criara fluidicamente em torno de si o circulo fatal que não pudera ser rompido senão por violento choque. Em vez de reconhecer nestes erros a causa principal dos seus males, em vez de buscar o remédio dele no estudo e na pratica das leis eternas, a humanidade, atascou-se no sensualismo e na negação. Produziu-se o choque, que quebrou muito egoísmo e destruiu muitos preconceitos e rotinas. Despiu antigo homem de suas vestes de orgulho e entreabriram o seu entendimento ás coisas divinas agora, as reformas, os melhoramentos individuais e sociais que se não quis realizar na paz e no, gozo, força será executai-os na provação e na dor. Todos os que se oponham aos progressos do pensamento e á evolução moral desaparecera; encarnar-se-ão entre nós Espíritos eminentes para realizarem os desígnios providencias. Poderoso sopro passará por sobre o mundo.
Os vivos da terra, estreitamente unidos os, vivos do espaço, trabalharão para preparar dias, mais prósperos para nosso planeta retardado.
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A anterior considerações, parece-me que devo ajuntar o meu testemunho pessoal. Na comunhão constante com os Invisíveis foi onde hauri as inspirações e as forças necessárias para realizar que me foi possível fazer de útil e bom no decurso desta existência que declina e se acaba. A colaboração com altas Entidades do espaço me subministrou os elementos essências da minha obra de vulgarização.
Nestas relações quotidianas, coligi abundantes provas de identidade: a minha fé e confiança foram aumentado, ao mesmo tempo em que se esclarecia a minha vida interior. Aprendi a desprender-me das pequenezas deste mundo, a colocar o meu afetos e o meu objetivo no alem. E agora, chegou à idade com o seu cortejo enfermidades; debilitam-se me os meios de ação, e sobre a vista se me estende sombrio véu. Perdi o excelente médium por via do qual me comunicava com os meus guias e projetores invisíveis, mas sinto amiúde que estão em volta e mim e percebo ainda as radiações de seus pensamentos e de seus fluidos. Daqui por diante, a mais não aspira que me ajuntar com eles, na ora que Deus quiser, para com eles viver na serena paz do espaço, na divina harmonia das Amas e dos mundos!
XXII. Hosana !
12 de Novembro de Dezembro
Está em festa a cidade. Repicam todos os sinos; troa o canhão e em todas as encruzilhadas tocam as musicas americana. A população inteira num comum pensamento de libertação e ventura, aclama a assinatura do armistício, prelúdio da paz.
Mas não é só a velha cidade que está em jubilo; toda a terra de França vibra de entusiasmo. Assim das planuras do Centro como dos vales do Sul e dos bosques da Lorena sobem rumores de fanfarras e cantos de alegria. No espaço, legiões enumerarão dos que pela pátria morreram, associam-se ao contentamento de um povo que delira. As harmonias do Céu respondem ás vozes da terra.
Acabou a provação de cinqüenta e dois meses. Graças ao espiritismo, graças aos nossos guias invisíveis, ás suas previsões, aos seus ensinamentos, suportamos com paciência. Não obstante as tristezas e angustias da longa guerra, ainda mesmo nas horas mais tenebrosas, na ocasião, por exemplo, da defecção da Rússia, jamais perdemos a confiança na salvação do Pais e nos auxílios do Alto. Em meio das peripécias da luta, não deixou nunca de passar sobre a França e sobre seus heróicos soldados numa poderosa corrente de forças espirituais, arrastando-os, exaltando-os para conduziu-os por fim á vitória.
Trata-se agora de sanar os males pela guerra causados, trata-se de reconstituir nova alma para a pátria. Cumpre que a união formada nas trincheiras, nos campos de batalha e na retaguarda entre homens de todas as condições, se cimente pela vontade e pelos esforços comuns.
As rixas dos partidos devem calar ante a firme resolução que todos os franceses tomam franceses de trabalhar, com o mesmo impulso e com o mesmo oração, para o reerguimento e regeneração do Pais.
Cumpre principalmente que uma fé nova deve os pensamentos acima dos interesses egoísticos, e façam penetrar nas consciências o sentimento dos deveres e das responsabilidades pessoais para quantos queiram mostrar-se dignos do titulo de homem.
Para todos vós, vivos heróicos e mortos gloriosos que combatestes, lutastes, padeceste por nós; para vós que assegurastes o triunfo da justiça e da liberdade, neste mundo que inabitável se teria tornado se à força brutal e a mentira houvessem prevalecido; para todos vós sobem o hino de reconhecimento, o tributo e; admiração, a gratidão da humanidade inteira!
*
Pelos processos pérfidos e homicidas por ela inaugurados, por sua extensão mundial e pelas massas postas em movimento, é única na História esta guerra. As dificuldades, as complicações a que ela deu origem, só foram removidas á custa. de gigantesco esforços. O tratamento Infringido a Bélgica e a Servia por seus invasores pôde dar lugar a crer-se na bancarrota do que ha mais nobre e mais sagrado na consciência.
Mas, por outro lado, viram-se povos inteiros atirar-se á fogueira pela causa do direito. Multiplicaram-se os atos de heroísmo e de sacrifício; revelou-se a tal ponto qualidades morais desconhecidas, que a dignidade humana assim se ergueu e reabilitou
Antes da guerra o rebaixamento dos caracteres era notável, evidente; verificava-se, e não sem pesar, a pobreza do nosso tempo em homens de gênio. Mas, soada a hora do perigo, surgiram numerosas falanges, arrostando com o perigo e a morte. Se, de um lado, o orgulho; a falsidade, as cruezas se ostentaram em toda a sua fealdade, do outras legiões de almas elevaram-se aos saltos até a alturas sublimes. A França entrou resolutamente na via das provações; subiu o seu calvário; arriscou a existência em prol da comum salvação.
E, comovida por este grandioso espetáculo, a humanidade correu a sustentar Apareceram os homens necessários, os homens providencias que Deus guarda para a realização dos seus vastos desígnios: Wilson, Lord George, Clemenceau, Foch não são outra coisa mais que instrumentos do além, executores do plano divinos, agentes por quem se realiza justiça superior com brilho sem igual na historia do mundo. Nada tem. pois, o nosso século que invejar aos que o precederam, visto que se mostrar maior que todos.
Como se ha de agora duvidar do futuro? Através do caos dos acontecimentos, sentimos esboçar-se uma humanidade nova. Parecem definitivamente derruídas as tradições de um passado e ferro e sangue. As leis da consciência substituem pouco a pouco as regras dessa política de violência, de força brutal que por muito tempo dominou em nosso mundo ainda bárbaro. Crêem os povos ver aparecer no horizonte à aurora de um tempo em que reinarão a. justiça e a fraternidade. Se assim e, um grande passo estará dado no caminho áspero, mas sagrado, em que se desdobra a longa teoria humana. Todavia não nos fiemos nisso. Longe, lá na profunda Rússia, subsiste um perigo, um perigo que ameaça invadir a Europa central e alastrar-sé pelo Ocidente. Ainda ha, neste nosso globo retardado, muitíssimos seres inferiores, ignorantes e apaixonados, para a ordem e harmonia poderem-se aqui estabelecer de modo duradouro. E, provável que a luta assuma outras formas, e ela criará outros heróis, outros mártires. Nesta luta, as legiões invisíveis associam-se aos nossos esforços e provações.
E o combate universal do bem contra o mal, da luz contra as trevas, da verdade contra o erro! Por esse meio, as almas se temperam e desenvolvem as suas energias latentes: sobem as ladeiras íngremes coroadas de deslumbrantes cimos. E o concerto imenso em que as contradições e as dissonâncias ora se embatem, se fundem em sinfonia quase sobre-humana. Neste poderoso concerto, um canto sobreleva a todos os outros, a Hosana! o canto de triunfo daqueles que venceram, que dos padecimentos, das angustias e das lagrimas souberam tirar para as almas mais riqueza de pensamento é de sentimento, mais beleza e grandeza!
*
15 de Dezembro de 1918
Agora que passou a tormenta e que a tranqüilidade começa a renascer nos espíritos, consideremos gravemente, com sentimento quase religioso,os acontecimentos que acabam de se realizar e tentemos extrair os altos ensinamentos que eles encerram. Logo em primeiro lugar o que mais nos impressiona, é a evidente intervenção de um poder, de uma vontade superior, a ação do mundo invisível para salvar a França da ruína e da morte e para instaurar o reinado do direito. Objetar-me-ão talvez com as vicissitudes desta guerra terrível as alternativas de bons sucessos e de revezes, as horas de ansiedade, de incerteza, em que contra nós parecia voltar-se o destino. Dir-me-ão que tais peripécias parecem em desacordo com a execução de um plano querido do alto.
E fácil à resposta. Deus quer que o homem, por seus esforços e sacrifícios,participe da obra que ele dirige; é por este preço que se realiza o progresso humano. Mas chegada à hora, o poder divino manifestou-se e foi abatido o orgulho germânico. Dai a revira-volta súbita, a fulminante ofensiva, e, para o inimigo, a derrota final. As palavras de Joana d'Arc não perdem a atualidade: “Os homens de armas batalharão e Deus dará a vitória”.
Desde 1914 e durante 3 anos podemos acompanhar quase dia a dia as frases da guerra no que respeita a participação do mundo invisível e dela deixamos os traços principais em vários artigos: A reunião em conselhos de grandes espíritos, a procura dos chefes dos exércitos capazes de receberem grandes inspirações, ação perseverante das legiões do alem sobre os combatentes e a previsão dos acontecimentos futuros. Depois da batalha quando exercito quando o exercito alemão avançava como uma enchente da maré e todas as vanguardas da sua cavalaria penetravam já nos subúrbios de Paris, os nossos guias afirmavam que ela não entraria em Paris
Mais tarde, diante de Verdun, no momento em que o inimigo chegava á ultima linha dos fortes de Souville e de Tavannes, aqueles mesmos guias nos asseguravam que ele não tomaria a cidade Lorena. Da mesma maneira nas horas mais incertas, antes que a sorte das armas se tivesse fixado, as predileções dele acerca da vitória final se realizaram.
Entre os combatentes, muitos sentiram diretamente a presença do invisível. Outros tiveram a intuição dela e numerosas cartas vindas da linha de frente trazem disso formal testemunho. Entre mil exemplos citemos uma. Nas suas Cartas de guerra, recém-publicados, o tenente Masson, que todavia não era espírita, escrevia isto:
“Sinto-me afetuosamente rodeado de invisíveis que me arrastam : dizem-me todos que a morte não é tão dura e que coisas ha que valem mais que a vida.” (1)
Os jovens, principalmente, estão vivamente impressionados. O permanente contacto do perigo, a lição dos grandes acontecimentos sazonou-lhes o pensamento, tornou os seus sentimentos mais graves e mais profundos. Eles voltarão a entrar na vida civil com mais elevada noção dos seus deveres. A idéia de Pátria, tão desacreditada antes da guerra, tomou aos olhos dele mais amplo e mais extenso sentido. Sabem que não basta servir na guerra, senão também por obra da paz por tudo quanto pode engrandecer mais, dignificar mais, fazei-a mais respeitada no mundo.
Tem observado que as novas classes são superiores, neste particular, as antigas e que o cepticismo zombador de outrora, cedeu logar, nelas, á confiança e á fé. Até as crianças que assistiram a este imenso drama, levarão a forte impressão dele, e por ele a vida dela será influenciada.
Se em todos um ensino popular viesse completar essas felizes disposições, se a bela flama do idealismo se acendesse naquelas almas, verse-ia que pouco a pouco as gerações envelhecidas e desiludidas que vão desaparecer, são substituídas por uma França nova, ardente e animada de uma fé patriótica que lhe permitiria por em efeito grandes coisas.
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Desde já, a França recupera o seu posto na primeira fila das nações. Desde 1870 que vivíamos sob o peso da derrota.Não podíamos dar fora um passo que não esbarrássemos com as lembranças de nossos revezes, com mil causas de amargura e de humilhação. Veio depois a crise terrível em que a nação poderia ter soçobrado.
Todas as faltas, todos os erros se expiam. Durante muito tempo, entre nós, as classes chamadas «dirigentes», roídas pelo materialismo pelo ateísmo, outro objetivo não tinham que o dinheiro e o gozo. Por seis lado, o proletariado, cioso e odiento, aspirava à conquista pela força o bem-estar, a riqueza e o poder. Dai, a perturbação dos espíritos, a incerteza do dia da manhã, um principio de decomposição social. Mas, no perigo afrontado, nas provações sofrida em comum, aperta-sé os vínculos da solidariedade. A França criou alma nova. Nela cavou o seu sulco a charrua da dor, e fez rebentar as fontes de um poder que facilitará, o seu reerguimento, o seu magnífico vôo. Ofereço-nos a nós imensa tarefa e, para a realizar. necessário é o concurso de todos. já se não trata de concessões nem de compromissos, mas de sincera e leal colaboração. Nenhuma fração do povo pode isolar-se e viver sem as outras.
Aos regimes políticos devem exigir duas coisas: a ordem e a liberdade, sem as quais não ha sociedade estável, nem progresso seguro. Um verdadeiro republicano deve respeitar as alheias opiniões e não procurar fazer vingar as suas senão por meio de persuasão. Neste domínio, toda e qualquer violência fora criminosa.
Mas não basta isso: cumpre que a França recupere o seu grande papel histórico, o de germinador e propagadora de idéias. A vitória, aureolando-lhe a fronte, impõe-lhe, como divida, o dever de guiar as outras nações na sua incerta marcha. Para desempenhar essa grande missão, é-lhe preciso, sobretudo, o pensamento, a convicção elevada, a iniciação na lei das renascenças, na comunhão dos vivos e dos mortos. Esta pode tornar-se, pela prática, um manancial de força e vida moral, porque é pelos esforços comuns dos dois mundos, visível e invisível, que se realizarão a obra regeneradora e a ascensão dos seres para maior sabedoria e mais luz.
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Jovens que lerdes estas paginas, aberta vos está a estrada do futuro, larga e bela, e convidam-vos a trilhá-la todas as vozes da terra e do espaço. Deixem atrás de vós o passado, com o seu pesado fardo de terrores e iniqüidades ; avançai com passo firmes com os olhos fitos num nobre fim. Fazei de vossos trabalhos e de vossos sofrimentos outros tantos degraus para subirdes mais alto. Escutai o chamamento das almas impalpáveis que vos dizem: Animo e Trabalhai com fervor na grande obra humana a que contribuem cada geração. Antes de vós, na terra, vivemos e penamos; conhecemos a ingratidão, o sarcasmo, a perseguição. Mas, para vós, a hora é propicia. Nós outros atravessamos os desertos do cepticismo; conhecem no oásis as frescas sombras da esperança e as fontes vivificantes da fé; colhereis na alegria o que semeamos na dor. Porque no meio da tempestade que acaba de soprar sobre a vossa pátria, apareceram as forças divinas ; atenuou-se o ceticismo ; a inteligência do homem abriu-se as grandes verdades que regem os mundos. Trabalhai, pois, os jovens; nós vos inspiraremos, nós vos ampararemos. Do circulo luminoso a que chegamos, saudamos aos novos tempos, os tempos melhores que se anunciam para a França e para o gênero humano!
XXIII-A experimentação espírita
ESCRITURA MEDIUMNICA
Janeiro de 1919.
Folgam ás vezes os nossos contraditores de assinalar os abusos decorrentes de uma má praticam experimental do espiritismo, de por em relevo as decepções a que se está nela exposto a sofrer. Ora, estas resultam as mais das vezes das condições defeituosas em que se opera, da inobservância das regras estabelecidas pelos Espíritos.
Alguns leitores, quando folheiam as obras dos escritores espíritas, são principalmente impressionados pelos fatos e pelos testemunhos que nela se acham relatados. Arrastados pelo seu pensamento, inclinam-se a crer que tais fatos são freqüentes, numerosos, relativamente fáceis de obter. Perdem de vista as exigências da publicidade, que nos obrigam a agrupar, a condensar num espaço restritos fenômenos que se produziram num período de tempo e consideráveis extensões de território. Abeiram-se do terreno experimental, é sem método, sem preparação, desprezando as recomendações feitas, as precauções essenciais e são imediatas aos resultados, cansam e logo abandonam a empresa.
E necessário aprofundamento do estudo do mundo invisível para quem quer orientar no meio dos fenômenos e determinar a causa com exatidão. Existem muitíssimos elementos diversos na força em ação no decorrer das sessões para que experimentadores mal preparados e insuficientemente instruídos possam evitar os erros e suposição falsas. E pois prudente não admitirem nos grupos senão pessoas que se tenham dado a preliminar estudos teóricos que seria atenta e refletida leitura das obras de Allan Kardec e outras obras de caráter sério.
O principio de comunicação espírita e a lei harmônica das vibrações. Sabe que cada alma e centro de forças cujas irradiações variam de extensão e intensidade segundo sua natureza e seu grau de elevação. A Ação da vontade pode aumentar ou diminuir o poder dessas vibrações.
Possuo uma fotografia em que sobre a influencia da prece se vêem eflúvios desprendidos dos dedos do experimentador estender e cobrir a placa ao passo que no estado de repouso ou pensamento produzem fracos efeitos.
A vida na carne amortece as vibrações da alma mais não suprime. Existem tantas diferenças entre os diversos estados vibratórios quanto entre fisionomias e os caracteres. E Necessária todavia certa concordância para estabelecer relações entre e encarnados.
O espírito que quer comunicam-se, deve buscar médium cujo estado psíquico apresenta com o seu mais analogia. Depois, por um pendor gradual que pôde, segundo os casos, abranger semanas, meses, e até ano, e para o qual esse médium deve cooperar pelo pensamento, pelo desejo, pela vontade, chegará a estabelecer um como sincronismo. Se sai mal sucedido, deve para outra pessoa dirigir os seus esforços.
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A mediunidade mais vulgarizada é a da escrita, em suas formas diversas. A que se chama de mecânica porque, neste caso, o espírito opera sobre o braço sem impressionar o cérebro, parece-nos que apresenta maiores garantias que outros processos.
Efetivamente, seja intuitiva ou semimecânica, a faculdade de escrever admite inevitavelmente uma mistura dos pensamentos do espírito e do médium. O pensamento do espírito suscita, no cérebro do individuo, imagens, expressões e até idéias que lhe são familiares e que se encontram nas comunicações obtidas. Como se fazer à diferença e estabelecer-se à parte de um e de outro dos participantes? E empresa delicada, difícil e de que só estes poderiam desempenhar-se.
O dom de escrever é geralmente precedido de um período de exercícios, durante o qual o médium se entrega a movimentos irregulares, a traçados ilegíveis que têm por fim regularizar, disciplinar os seus fluídos, adotou-os aos fins queridos. E mais ou menos longo, segundo as pessoas, este período preparatório. Conheci um oficial de uma repartição que teve a paciência de se exercitar assim todos os dias, durante mais de um ano, e que finalmente obteve comunicações seguidas e que apresentavam ao mesmo tempo elegante forma e profundo sentido.
O uso desta faculdade apresenta o grave inconveniente de deixar larga margem á ação pessoal e inconsciente do médium, mas este inconveniente atenua-se com o tempo e acaba por desaparecer quase que inteiramente. À medida que se desenvolve esta mediunidade, adquire o espírito dominação cada vez mais sensível sobre o cérebro do individuo, e chega a dele eliminar tudo quanto não emana de sua própria vontade. Todavia, a escrita mecânica permanece sendo o mais seguro meio de obtenção das provas de identidade, das indicações de fato e de datas ignoradas do médium, em uma palavra os elementos de certeza que se devem sempre buscar nas manifestações.
E' licito a todo experimentador trabalhar só e cada dia durante o período de exercícios preparatórios; mas desde que trace palavras, frases, mensagens seguidas, dever-se-á abster de operar insuladamente, aproximar-se de um grupo bem dirigido e que goze de proteção eficaz, e submeter as suas produções ao exame de crentes esclarecidos.
No isolamento e na ausência de direção, ele expor-se-ia ás visitas dos vagabundos do espaço, ás suas mistificações, e poderia ser vitima de alguma obsessão perigosa.
Nas sessões que, durante muito tempo, dirigi, habituei-me a propor aos médiuns escritores um assunto para tratarem espontaneamente, o que ele faziam com abundancia de estilo e riqueza de expressões muito acima dos seus meios habituais. Tais resultados, é certo, não provam forçosamente a intervenção dos Espíritos. Poder-se-iam explicar pelos recursos profundos e ocultos, por esse estado do ser que alguns psiquistas chamam o subconsciente ou subliminal, estado em que se revelam conhecimentos, qualidades, poderes que não possuímos no estado normal. Problema é esse que importa resolver.
Em vão se tem tentado explicar o conjunto dos fenômenos pela teoria do subconsciente. Os psiquistas que o tentaram, não foram bem sucedido, pois a maior parte dos fato espíritas escapam a essa interpretação. E verdade, porem, que certos casos, já de escrita, já de inspiração oral, no trance, têm ali urna explicação lógica.
Em outro lugar que já demonstramos que existe em nós um eu profundo, uma consciência e uma memória mais vasta e toais extensas que consciência e as memórias normais, e que escapam as mais das vezes ao nosso conhecimento e á nossa vontade diretos. E o reservatório espiritual em que se registram e acumulam as aquisições, lembranças, às impressões de nossas vidas interiores, tudo o que conceitue o capital intelectual e moral que, ao nascer, trazemos conosco. têm dai as faculdades inatas, as aptidões, as tendências, tudo quanto não pôde explicar a heranças psíquica.
Este lado ignorado de nossa natureza intima permanece fechado, dizíamos, no estado normal. todavia, algumas sugestões, já pessoais, já estranhas, podem-se exercer ás vezes e fazer surgir maior parte dos nossos ocultos recursos. Desempenha então a sugestão o papel de uma alavanca que levanta e mobiliza os elementos de nossa personalidade profunda.
Nas experiências de renovação da memória abemos que a ação do magnetizador sobre um individuo emersa na hipnose pôde despertar suas lembranças adormecidas.A historia do passado remoto desdobra-se automaticamente renascem e revivem com surpreendente realismo e mais insignificantes pormenores das existenciais desvanecidas. Da mesma maneira, o médium escritor, pela auto-sugestão, pode apelar, embora com menor intensidade; para este eu subjetivo e dele obter, sem se aperceber disso, aspirações muito superiores aos seus meios habituais. Não se deve daqui concluir que são obras da subconsciência todas as comunicações escritas. O que provem da auto sugestão pode muito bem ser produzido pela sugestão dos invisíveis.
Alem disso, os traços característicos, as provas de identidade, as explicações dadas acerca dos fatos e das perguntas desconhecidas do médium demonstram com evidencia a intervenção de individualidades estranhas.
Damos mais abaixo alguns exemplos de mensagens que põem em relevo o caráter dos inspiradores e deixam crer que emanam , sem duvida, dos Espíritos que as assinaram. Essas mensagens foram obtidas sucessivamente numa mesma sessão de um grupo parisiense a 18 de Dezembro de 1914 - por Madame Hyver.
Traz a primeira assinatura de Henrique Heine, poeta alemão que tomara a França por pátria adotiva. Fala das lendas germânicas segundo as quais Odin Wotan, o velho deus alemão, suas filhas, as Walkirias, os outros deuses e os guerreiros habitantes do Wahala ou Palácio de Odin, têm de ser vencidos pelo lobo Fenris, encadeado outrora por Odin no abismo. Esta derrota deve ocasionar a queda e a morte dos deuses e a criação de uma terra, de uma humanidade nova, nascidas do cataclismo universal.
Reine evoca, interpela o Chanceler de ferro e Bismarck responde.
Depois, Frederico III, pai de Guilherme II, pronuncie-se como juiz entre as teses tão opostas sustentadas pelos dois Alemães; faz tristes prognósticos sobre os resultados da obra de seu filho e sobre a sorte da Alemanha. Tais mensagens constituem uma como trilogia e anunciam os grandes fatos de que somos as testemunhas atuais.
Primeira Mensagem
O Chanceler de ferro, acorda. Tu vês a tua Alemanha de rapina e sangue
Espalharam-se pelo mundo os seus ferozes exércitos : as Valkirias voam-lhes ao encontro; os guerreiros de Odin saíram do Vahala.
Ouves os seus gritos de raiva?
O lobo Tenris também saiu do abismo onde estava encadeado.
Toma cuidado com a tua Alemanha, ó Chanceler de ferro; pois o lobo Tenris anda solto pelo mundo. Sae do vale de sombra e trevas que é a tua morada, Chanceler de ferro, é chegada à hora. Soou o dobre fúnebre dos sinos pela tua Alemanha de rapina e sangue.
Já soei eu disse, Chanceler de ferro, está desencadeado o lobo Tenris, e a tua Alemanha vai perecer entre os seus dentes cruéis.
Sobe a esta colina : tu vês, tu vês a nossa velha Alemanha, ou, antes, não a vês, pois ninguém já a pode reconhecer debaixo da mascara que lhe modelaste.
A nossa velha Alemanha era nobre, era santa; a nossa velha Alemanha tinha um coração.
Esta é uns monstros horrendos, que já nada tem ele humano; ela caminha ao clarão sinistro dos incêndios. É traz na mão um archote inflamado que não poupa nem a choupana, nem o palácio, nem o templo do Senhor, nem o asilo do sofrimento.
Esta tem os membros rubros do sangue inocente; caminha por sobre cadáveres de mulheres, de recém. nascidos, de donzelas e de velhos. Não é esta a nossa Alemanha, esta é o monstro que tu fizeste.
Mas, cuidado, Bismarck! o lobo Tenris está solto e devorará teus filhos e os próprios deuses de Wahala; porque são chegados os tempos, e foste tu que abriste a porta do abismo ao lobo furioso. Tu disseste: a Força vence o Direito,, e concluíste a obra malvada, e esta Alemanha fabricou, vergonha do mundo civilizado.
Ah ensoberbece-te da tua obra, Chanceler de ferro; olha: Onde é que está a Bélgica? Onde é que estão Reims, Arras, e tantas outras cidades? A Alemanha, a tua Alemanha passou por essas cidades. Vergonha para ti, Chanceler de ferro. Por onde quer que passe o Alemão nada escapa.
Dilata-se-te o coração, dizem? Tinhas esperadas tão rubras vindimas e tão bela espigas? Os filhos de teus filhos excederam o próprio Atila ; ensoberbece-te, Bismarck ; nenhum povo causou maior ruirias que o teu.
Ensoberbece-te, aí está a tua obra.
Quisestes a Alemanha por cima de tudo; ela o este por meio do crime e do horror, e de séculos parei séculos se ha de falar do espanto da grande guerra, e se a dizer que nenhum povo excedeu a crueza dos Bárbaros vindos do Reno.
Sim, a tua.Alemanha está acima de tudo no crime no estupro, no incêndio, no saqueie;, e as suas inumeráveis legiões são legiões do inferno.
Mas, cuidado, Bismarck, tu soltaste o lobo Tenris. e já as suas unhas esfolam os flancos da tua Alemanha, monstruosa criação tua.
E a sua morte, apesar do seu velho deus saído das selvas Hercynias, apesar de Odin, apesar de suas filhas. apesar dos seus guerreiros; o lobo Tenris saiu do abismo e os tempos vão-se realizar.
Ouve bem, Chanceler, vão-se realizar os tempos, e a raça dos chacais e dos abutres será destruída, não obstante a sua força, não obstante as suas garras ; será varrida da superfície do mundo, ó Bismarck!
Eis aí a tua punição. Quiseste a Alemanha por cima de tudo; olha para o abismo por sobre o qual ela está suspensa, o abismo em que se vai despenhar ao som das maldições e dos gritos de horror.
A força esmaga o Direito -disseste tu; sim, um dia, e quando o malvado está no fastígio, Deus, o Deus do mundo, ergue a mão, e o malvado e precipitado no abismo.
A força esmaga o Direito! Olha, Chanceler, tu que com tuas próprias mãos preparaste a ruína de tua pátria.
Olha, olha, olha sempre, tu maldito, tu Bismarck, parricida, que mataste a nossa velha Alemanha a Alemanha dos pensadores e sonhadores: olha com todos os teus olhos: começa a expiação.
Henrique Heine
Segunda Mensagem
Para que é chamar-me e provocar-me a vir aqui, entre estes Franceses a quem não amo? Segui um ideal político que criticais. Primeiro que todos, vós, Heine, mal Alemão e renegado, não tendes direito a falar de uma nação a quem preferistes a França. Convosco falo sem retórica nem cólera, como homem de Estado, e se me fosse dado viver outra vez, recomeçaria a minha obra, evitando somente alguns erros.
A minha política criou uma Alemanha regorgitante de força material e de homens, não a renego, Falais como poeta; mas um chefe de Estado nervoso não tem, nem sensibilidade. Vedes a derrota; mas o velho Bismarck inda não disse a sua ultima palavra, e a Alemanha que por toda a parte pisou o território dos inimigos, tem o seu inteiramente virgem. De expiação me falais. Esperai: ainda se não desmoronou a minha obra; quando os Russos, os Ingleses e os Franceses entrarem em Berlim, podereis então falar do crepúsculo dos deuses.
E' necessária à força aos grandes Estados, e a força alemã não chegou ao seu termo.
Rude é a empresa; mas ainda está de pé ó velho Bismarck, inspirando aos que têm o leme do governo do império.
A Alemanha ainda não está no abismo, e a expiação como dizes tu, ave agoureira, também ainda não chegou; o velho Chanceler não está cansado, e a. maquina funciona bem ainda.
Infelizes dos nossos inimigos! As ruínas que temos feito, nada são; infelizes deles, se os Aliados nos obrigam a recuar! Não ficará pedra sobre pedra das suas cidades, e dentre as nossas mãos nenhum inimigo sairá vivo. O Alemão saberá vingar-se, e se o abateis um dia, ele vos morderá tão cruelmente que será indelével a marca dos seus dentes.
A Alemanha, suceda o que suceder, estará acima de tudo, e se cair, esmagar-vos-á na queda e ficareis mortalmente feridos pelo peso do colosso.
Bismarck
Terceira Mensagem
Oh! O homem nefasto que fez a Alemanha desnaturada, a quem todo o universo detesta, continua encarniçado no seu erro.
Por que é que Deus me fez morrer tão cedo? Eu teria parado este movimento, que me aterrava, e haveria refeito uma Alemanha pacifica de verdade. Meu filho levou até ao cabo a obra de Bismarck e o meu pobre país caminha para a perdição. A cultura dada ás gerações novas cegou-os de todo è cada Alemão vive no sonho do seu orgulho. O acordar será fulminante e terrível, e também terríveis as dilacerações interiores. Que tristeza saber a gente tantos males iminentes sobre a sua pátria! Estou muito triste, sinto-me muito desgraçado por ver um grande povo desonrar-se assim. Mas é preciso esta horrível guerra para depurar a raça Alemã e preparar a sua evolução.
Esperai, ó Franceses, e dai-vos por ditosos, não a obstante os males de que padece o vosso país, por não haverem nascido Alemães e por pertencerdes á mais generosa nação do mundo. que tem piedade até dos deuses criminosos inimigos.
Frederico III.
A escritura automática é o processo mais comumente utilizado pelos grandes Espíritos para nos comunicarem os seus ensinamentos. Foi por meio das mensagens escritas que Allan Kardec constituiu a doutrina espírita.
Essas mensagens são notáveis por sua elevação e, posto que obtidas em todos os pontos do globo pelos médiuns mais diversos, apresentam perfeita concordância no que concerne aos princípios essências. Fora impossível considera obra pessoal desses médiuns, pois as opiniões e a educação destes estavam na maior parte dos casos, em oposição com as tendências expressas.
A revelação espírita está, pois, superior ás; revelações que a precederam, por seu caráter simultâneo e universal.
“Todavia ela não contradiz, mas antes as completa, alargando o circulo dos nossos conhecimentos relativos ao mundo invisível, á natureza e ao destino dos seres. As divergências que se manifestavam, a principio, entre os espíritos latinos e os anglo-saxônicos, acerca da reencarnação e das vidas sucessivas, tendem com efeito a atenuasse e desaparecer, tendo-se os últimos resolvidos. provavelmente por instigação dos Espíritos superiores, a estudar o seu passado e pesquisar as suas vidas anteriores. Dai resulta que as crenças do Oriente e as do Ocidente se aproximam e fundem em potente unidade, para maior bem-estar e progresso do gênero humano. Pouco a pouco, lento, mas seguramente, a humanidade cria para si uma mesma alma, uma mesma consciência, unia mesma fé”.
Varias mensagens citamos que fazem ressaltar com nitidez de impressionar, o caráter dos autores delas. Eis aqui, agora, outra comunicação. inédita, de ordem moral, e que não traz nenhuma assinatura. O Espírito superior, por discrição, salva os casos de absoluta necessidade, hesitam em se nomear de outro modo chie não seja por termos alegóricos, ou então se disfarçam no véu do anonimato. Mas é fácil distinguiu-os pela elevação de suas vistas e pela profundeza de seu juízo, ao passo gere os Espíritos frívolos folgam de enfeitar com celebres nomes emprestados as mais insignificantes mensagens.
A comunicação seguinte foi obtida a 16 de julho de 1893 por Mme. Hyver, já citada, e a quem tenho na conta de um dos melhores médiuns escritores que existem. Vi-a em meia-escuridão, encher numerosas paginas, que ela atirava para trás de si com movimento febril. Essas paginas, reunidas e coordenadas. apresentavam mensagens tão notáveis pela forma como pela essência. Da unidade de crença.
A mais perfeita união que pôde existir entre os homens, é a união,do pensamento, a harmonia dos corações e das inteligências numa idéia comum. E o que falta aos cultos atuais: não possuem um laço comum que permita fazer circular no mesmo momento, em todos os fieis, o sentimento ou a mesma inspiração.São estranhos, um para o outro, o sacerdote e os assistentes; sob a aparência da forma observada, o culto real é frio e morto; os raros surtos de fé individual afogam-se na onda confusa da multidão, e a religião deixa de ser a expressão dos sentimentos de um povo.
A diferença das inteligências, das educações e das condições sociais levanta entre os indivíduos barreiras muitas vezes intransponíveis, mas que podem ser abaixadas pela comunidade da fé; pelo mesmo ideal religioso.
A cada povo é precisa uma religião que seja a língua comum de todos os indivíduos. Ora, este ideal quase que não é compreendido pelas religiões atuais, que todas se desviaram no curso dos tempos. Nenhuma delas é deveras popular. A Religião nova, que a humanidade requer, simples como tudo o que é belo, poderoso contudo o que é verdadeiro, grandioso como tudo que é justo, deve satisfazer as aspirações do espírito mais vasto e ser compreendida dos mais humildes. Ao grande movimento das massas que se vai estendendo por toda a terra para a conquista da igualdades social,cumpre corresponda o movimento religioso, e isto é o de que carecem as ações humanas quando as não anima o sopro do ideal.
A massa tornou-se indiferente a todos os cultos. Para trazê-la de novo ao sentimento religioso, cumpre abandonarem-se todos os dogmas em proveito da essência da religião e não buscar nas formas antigas senão os pontos gerais que fazem dela as transcrições de uma mesma pagina universalmente escrita para todos os homens A religião deve corresponder não somente á vida social e á vida moral, como outrora, mas á ciência; deve penetrar em todas as camadas da sociedade, corresponder a todos os ramos do saber humano e dar a todas as aspirações dos homens, a todos os seus trabalhos, uma base comum.
A França, particularmente, tornará ao ideal religioso, mas tão somente depois de grandes provações que lhe velarão nos lábios o habitual sorriso céptico. Mais que qualquer outra nação, ela é capaz de dar essa forma popular que é necessária á idéia religiosa. Por sua língua, pelo gênio de sua raça, pelo profundo poder de assimilação do Francês, a nossa pátria constitui uma nação privilegiada.
Por si mesma, a França é una e múltipla. Cada província apresenta um tipo particular de atividades humana e toda a raça acha-se, não obstante, poderosamente centralizada. Posto entre o Norte e o Meio-dia, o Francês escapa aos dois caracteres extremos; ele é entre os outros povos o tipo que os realiza a todos e por isso mesmo é capaz de traduzir para todos o grande movimento do pensamento. Este grande movimento está muitíssimo próximo, mas antes de sua realização, é indispensável que profundas crises sociais se efetuem em França e na Europa inteira.
Estas revoluções, estas lutas dos povos, suscitarão as faculdades superiores dos homens e farão nascer os grandes sentimentos de fraternidade e caridade; os infortúnios das nações reconduzem a Deus.
Maravilhoso será o papel da França, porque estenderá o seu poder moral a todas as nações, do Norte ao Sul, do Oriente ao Poente; ela combaterá em prol da justiça. Será ela quem introduzirá a idéia religiosa na vida social; ela operará pela transformação das condições da vida dos seres, pelas conquistas do verdadeiro progresso, que deverá diminuir todo sofrimento, respeitar toda vida, elevar toda inteligência. Se vago parece ainda o papel da França, a razão é porque ela se prepara inconscientemente para o desempenhar e porque os progressos por ela realizados foram justamente libertar-se do jugo religioso e ampliar os direitos e os poderes de cada um. Os excessos causados por este novo estado obstam a que se veja claramente o enorme passo dado para diante, a ruptura cios vínculos que atavam a França a um passado morto. O materialismo que em França domina é anti-frances, antiariano. O Francês é em tão alto grão artista, é por tanta maneira idealista que não pôde persistir por muito tempo num caminho que lhe não oferece mais que o lado inferior da criação. Ele possui um fundo de bondade, de generosidade e de grandeza que serias circunstancias hão de fazer reaparecer. A humanidade chegou para as raças civilizadas a aquele ponto em que todas as verdades descobertas pelos homens acabam por convergir, para formar um mesmo foco e para iluminar toda a terra. Cada nação será chamada a participar deste grande trabalho; trará cada povo a sua pedra para o templo da religião universal.
Esta religião nova formular-se-á pelas próprias forças das coisas.
Nascerá da massa arrebatada por uma grande idéia. Expressar-se-á por vozes inspiradas; será dirigida por almas de eleição e alargará a sua influencia pelo mundo.
Cada povo do passado, cada povo do presente ai figurará pelo que ele tem mais puro e mais belo. Cada bíblia virá fundir-se na grande bíblia universal, cada religião trará o seu raio ao novo sol; apagar-se-á tudo o que separou nos homens ; porque estes terão então compreendido que não ha nem ritos, nem dogmas, nem livros, que a letra se apaga diante do espírito, e que o espírito que, sopra sobre o mundo, é o amor na sua dupla aureola de bondade e de inteligência
Outra mensagem, obtida de um acadêmico, na terra, católico fervoroso, morto ha poucos anos.
11 de Abril de 1910.
O meu esperar não foi desiludido; a morte confiou-me o supremo segredo que em vão tentava penetrar minha alma.
Cri sempre em outra vida, que viesse aperfeiçoar esta; mas não cria encontrar este radiante esplendor do Espírito divino, que ilumina com os seus múltiplos raios a obscura inteligência humana, para permitem-lhe contemplar a admirável construção dó universo e a sublime harmonia que preside a todas as suas partes.
Como é que tão refulgente revelação se não manifesta ao homem de carne, para tirai-o dos limbos em que vegeta, no meio dos nevoeiros de seu pensamento e dos erros de seus sentidos? Talvez que o êxtase o prostrasse, tirando-lhe todo desejo de ação. Talvez esses nevoeiros acumulado em torno de nós, talvez esses erros dos nossos sentidos sejam necessários à gestação do nosso ser espiritual. Talvez o esforço seja à base desta vida universal, como o indica a sua aspiração para este infinito atrás do qual corremos, ainda mesmo através das mais crassas manifestações da nossa personalidade ainda inconsciente.
Muito novo ainda na vida espiritual, posso apenas gozar dos espetáculos grandiosos que se desdobra aos meus olhos, sem poder aprofundar as causas secretas que fazem da humanidade terrestre uma humanidade emparedada a viver na masmorra da matéria, ao passo que a humanidade celeste abre a sua azas de arcanjo nas imensidades siderais onde se manifestam todas as forças universais no seu maravilhoso conjunto e nos seus efeitos tão diversos e todavia, tão harmoniosos. Os sonhos dos poetas, as visões dos místicos, as instituições do gênio, as comprovações e as demonstrações da ciência, as realizações mais perfeitas da arte, são apenas os frouxos ecos, as percepções minoradas que os homens melhormente dotados apreendem em relâmpagos, quando a matéria, um instante domada, permute á alma entrever alguns pálidos reflexos do mundo divino.
Que doce que é a morte ao que esperou nela, e que a aguardou, não como o fim de todas as coisas, mas como o prelúdio de uma fulgurante ressurreição!
Feliz daquele que, como eu, fechou as pálpebras sobre a obscuridade de um mundo que se esboça, para tornal-as a abrir no triunfo de um mundo acabado
Nenhum ente vivo pôde imaginar a ardente alegria que invade o novo eleito. E a alma liberta que toma o vôo na certeza e na vicia, depois de ter durante tanto tempo errado na duvida e na morte
Ressurreição! Ressurreição! Gloria ao Senhor!
O homem, como Cristo, ressuscitou dentre os mortos, para penetrar na cidade dos eleitos.
*
A inspiração, de que gozam certos escritores, pôde ser considerada, em muitos casos e tal como em outro lugar demonstramos como uma das formas da mediunidade. Quando uma onda de pensamentos nos invade e a pena tem dificuldade em fichar no papel, pode-se crer em eflorescência do eu subliminal, ou mais freqüentemente numa ação do mundo invisível cujos pensamentos nos envolvem e penetram.
O pensamento é uma força cujas vibrações se estendem como se estendem na superfície da água os círculos produzidos pela queda de um corpo. Em extensão e potencia, as vibrações do pensamento variam segundo a causa que as produz; os pensamentos das almas superiores vibram as incalculáveis distancias ; o pensamento de Deus anima e enche o universo. O pensamento exterior não nos obedece, domina-nos: desde que a alma humana se desapega das preocupações habituais e se eleva, sente as correntes de vibrações que, aos milhares, se entrecruzam e percorrem o espaço. O médium sofrem-lhes os efeitos, mais que todos os outros.
O pensamento superior estende-se sobre todos, mas nem todos o sentem nem o manifestam no mesmo grau. Assim como uma maquina obedece á corrente elétrica que aciona, assim o médium obedece á corrente de pensamentos que o invade.
O pensamento do espírito atuante é uno, em seu principio de emissão, mais varia em suas manifestações segundo o estado maior ou menor e perfeição dos instrumentos que emprega.
Como já vimos, cada médium marca com o selo de sua personalidade o pensamento que de mais alto lhe vem. Quanto mais desenvolvido e espiritualizado se acha o individuo, tanto mais comprimido se acham nele a matéria e os instintos, e com tanto maior pureza e felicidade serão transmitidas o pensamento superior. O essencial, durante as secções, é a passividade, o abandono momentâneo da faculdade de pensar.
Tem por objeto o espiritismo familiarizarmos com esse mundo pouquíssimo conhecido, com essas aptidões da alma que, quando está pura e se desprendem dos meios grosseiros, pôde reproduzir os ecos, as vozes, as harmonias dos mundos superiores e tornar-se fonte de inspiração, de socorro, de luz, pela qual o influxo exterior desce a nós para retemperar-nos e vivificar-nos.
O essencial, para abrir essa fonte interior, para provar essa comunhão e torna-a constante, é que nos libertemos o mais possível das sugestões da matéria, das suas violentas paixões, que extingamos em nós os rumores externos.
E principalmente comprimindo tudo o que vem do «eu» egoísta que facilitamos. a penetração de influencias superiores. Quanto mais rejeitarmos os elementos inferiores da personalidade, tanto mais desenvolveremos os poderes e as faculdades inatas que estabelecem a comunicação com os mundos celestes.
Encaminhemos, pois, todos os nossos pensamentos e todos os nossos atos para um elevado fim: a coisa é possível, ainda mesmo nas mais humildes condições sociais, ainda mesmo no seio das mais vulgares ocupações. Chamemos pela prece espontânea, por este arranque do pensamento que não é uma mecânica repartição de palavras, mas um grito do coração, essa inspiração, esse influxo de cima que se irá avolumando de tal maneira, que a comunhão com o que a de grande, elevado no invisível, se nos tornará familiar e constante. Tornar-nos-emos em arte intermediários, agentes do pensamento superior. Por esse meio cobraremos tal força, tal apoio, que doravante não haverá mais em nos desanimo, hesitação, debilidade e sentir-nos-emos embebidos dessa confiança e dessa serenidade que nos subministra a posse dos bens imorredouros do espírito.
XXIV. - A Experimentação Espírita
Tipologia
Nas horas em que tudo repousa, quando nas moradas dos homens reinei o silencio, agita-se em derredor de nós misterioso mundo. Deixam-se ouvir leves rumores, cousas que tocam ao de leve ao passar; parece desliza no soalho passos furtivos; repercutem pancadas nas paredes e nos moveis; as cadeiras estalam como sob o peso de um corpo invisível. O dia é a vida dos homens; a noite é de preferência a dos Espíritos, pois que as radiações da luz já lhes não embaraça as manifestações.
Essas impressões, essas percepções se me renovam a mim quase que em cada anoitecer, no momento em que a tranqüilidade e a escuridão sucedem aos rumores e ao esplendor do dia. Então, as almas queridas a quem mantinham afastadas as nossas preocupações e os nossos afazeres, aproximam-se e assinalam a sua presença, cada qual a seu modo. Facilmente as reconheço e distingo. Ora um espírito, de caráter enérgico, dá me nas janelas pancadas vibrantes. Outro faz ouvir, sempre no mesmo angulo, pancadas muito mais fracas, pelas quais se revela a sua natureza tímida e feminina. Por muito tempo, depois do óbito de meu pai, percebi no aposento em que me achava, ruídos de passos semelhantes a passos de homem. Outro Espírito empenha-se em fazer-me ver luzes ás vezes tão vivas e intensas e até mesmo uma forma confusa, vagamente esboçada, luzes e fôrmas que me são impossíveis atribuir as alucinações visuais, pois que se refletem no espelho. O habito, que adquiri, de ler com os dedos, no escuro pelo método Braille, facilita a produção de tais fenômenos.
Não são raros semelhantes fatos; dá-se em todas as moradas em que se acham reunidas as condições psíquicas favoráveis. Mas a maior parte dos homens não lhes prestam nenhum atenção e são quase sempre perdidos os esforços dos Espíritos neste sentido.
Todavia, de tempos a tempos, produzem-se retumbantes afirmações que vêm sacudir a geral indiferença. E assim que o Sr. Luiz Barthon, da Academia Francesa, depois de ter consultado os canhenhos inéditos de Victor Hugo, escreve na Revate des deux Mondes:
«Tendo vindo passar dez dias em Jersey, Madame de Girardin ali introduzira o uso das mesas giratórias e falantes. Victor Hugo foi o ultimo em ceder. Mas desde que a ganharam, não o largaram mais os Espíritos e sobre ele exerceram uma influencia, de que trazem o vestígio varias composições das Contemplações
Escrita a Marina Terrace em à noite de 30 de Março de 1854, esta poesia mística prolongava o seu eco em uma nota que Victor Hugo lançava em seu canhenho á 24 de Outubro de 1873.
Esta noite, eu não dormia. Eram cerca de três horas da madrugada. Um golpe seco e fortíssimo soou ao pe de minha cama, junto á porta do meu quarto. Pensei em minha filha morta, e disse entre mim : « Es tu ?» Pensei depois na conspiração bonapartista de que se fala, em um novo Dois de Dezembro possível, e perguntei a mim mesmo: <<E um aviso ?>> Acrescentei mentalmente : Se fores tu que aí estás, e se vens avisar me por motivo dessa conspiração, dá duas pancadas. E esperei: passou, mais ou menos, meia hora. A noite era profunda e reinava completo silencio na casa. De repente, dois golpes se fizeram ouvir junto á porta. Eram, desta vez, surdos, mas distintos e bem nítidos.
Luiz Barthon continua
Victor Hugo escrevia em 21 de Novembro de 1871 :
«Esta noite, acordei; eu tinha no ouvido, bem pertinho de mim, surdas pancadas á minha cabeceira. Eram pancadas estas lentas e regulares. Durou isso um quarto de hora. Eu escutava. A coisa não cessava. Orei, aquilo parou. E eu disse «Se és tu, minha filha, ou tu meu filho, dá dois golpes.» Ao cabo de dez minutos aproximadamente, deram-se dois golpes, ruas juntos á parede, ao pé da cama. Eu disse, sempre mentalmente; E um conselho que me vens trazer? Devo sair de Paris? Devo ficar? Deve-se ficar, dá um golpe, e se partir, três golpes. Escutei. Silencio. Mais nenhuma resposta. Tornei a adormecer. Durou o fenômeno perto de uma hora.
A 22 de Novembro. – aquela noite, ouviu três pancadas. Seria a resposta á pergunta de ontem? Seria pouco clara sendo tão tardia.
Varias vezes o canhenho menciona estes mesmos golpes noturnos, ora obstinados, surdos e até mesmo metálicos ora leves e tanto mais comovem o poeta quanto que ele continua crendo na possibilidade de um pronunciamento bonapartista e amigos seus lhe afirmam que será ele a primeira vitima.
Lê ainda, á pagina 7,5
Esta noite, por volta das duas horas, um golpe á minha porta, fortíssimo e de tal maneira prolongado, que a abri. Não havia ninguém, e evidentemente alguém havia. Credo in deum aternum et in animan immortatem.
Admirava-se V. Hugo da lentidão empregada pelos moradores do além em responder ás suas perguntas. Ele ignorava sem duvida que nem todos os Espíritos possuem, igualmente, a habilidade e os recursos necessários para fazer ouvir ruídos, golpes, levantar mesas, produzir fenômenos. A natureza psíquica dos percipientes, a sua riqueza ou pobreza fluídica concorre muito também para a variedade dos resultados, pois neles é que os Espíritos haurem, quase sempre, os elementos de suas manifestações.
Enquanto o bufarinheiro de Hydesville e tal foi o ponto de partida do espiritualismo moderno conversava com as senhoritas Fox por meio de raps (Golpes e Pancadas), de modo rápido e continuo, a maior parte dos Espíritos vêm-se na obrigação de condensar fluidos pelo pensamento e pela vontade, para os projetar nas paredes, nos moveis, nas portas, e obter assim ressonâncias, vibrações. Semelhante trabalho requer ás vezes horas, e até dias inteiros. Foi provavelmente este o caso dos visitantes da casa do grande poeta.
*
O conjunto dos fenômenos psíquicos é atestado por testemunhos formais.
O professor Flournoy, da Universidade de Genebra, pôde escrever a propósito do relatório do Instituto geral psicológico, relatório assinado por nomes ilustres, tais como Curie, Bérgson, d'Arsonval, Branly, Ed. Perrier, Boutroux, etc.
O relatório do Instituto geral psicológico é esmagador. Sou de parecer que ele constitui um testemunho brilhante e decisivo, tanto quanto pôde haver alguma cousa decisiva na ciência.
Em primeira linha, convém pôr o fenômeno das mesas. O eminente astrônomo C. Flammarion declarou. « A levitação da mesa, seu desprendimento completo do solo sob a ação de uma força incógnita, contraria á gravidade, é fato que já se não pôde com razão contestar. »
Esta << força incógnita >>, diremos, é posta em ação pelos Espíritos. A prova disso tem sido feita tantas vezes, que poderíamos hesitar ante os casos numerosos que se nos oferecem á escolha. Aqui está um que parece responde ás exigências da mais rigorosa critica. Não pôde explicar-se pela sugestão, nem pela transmissão do pensamento, nem tão pouco pelo automatismo inconsciente, ou pelo subliminal, porque nenhuma das pessoas presentes acreditava no falecimento do manifestante. A narração vem do sr. A. Rossignon, então secretario da Inspeção acadêmica de Ruão, narração que ele publicou no Farol de Normandia do mês de Maio de 1898. Hoje Rossignon mora em Tours, e á sua pena devemos a narrativa seguinte
A sessão realizava-se á noite em Ruão, em casa de um membro do grupo Vauvenargues, o senhor Justobre, inspetor dos impostos.
Faziam parte da reunião os srs. Pelvé, recebedor, Ernesto Rossignon Filho, secretario do Liceu Corneille, Alberto de Baucie, estudante de farmácia; a senhora Bernard, principal médium; as senhoras Justobre, Pelvé, Rossignon, etc, ao todo dez pessoas de inteira respeitabilidade, reunidas em volta de uma pesada mesa redonda.
Feita a evocação, um espírito assinala a sua presença com violentos movimentos da mesa. Esta se dirige para o Sr. A. Rossignon, ergue-se diante dele, e depois vem retomar a sua posição normal. Interroga-se então o visitante invisível;. pergunta-se-lhe se laços de parentesco ou de amizade o ligam a algum dos assistentes. Responde afirmativamente pelo processo alfabético, ser o pai do sr. A. Rossignon, e ter morrido na véspera, quarta-feira 20 de Abril. E Indica até a hora : « Ao meio-dia.»
O senhor Rossignon expõe que seu pai é muito idoso, que uma distancia de mais de 300 quilômetros os separa. Sabia que ele estava doente, mas não em perigo de vida. Demais, acrescenta ele, se fosse verdade que meu pai houvesse morrido, a família me teria disso informado; ora, nenhuma noticia recebi. E Opinam todos que se está tratando com um embusteiro.
Não foi longa a espera: no dia seguinte, pelo correio do meio-dia, o senhor Rossignon recebia de sua família uma carta que o informa do passamento de seu pai, ocorrido no dia e hora por estes indicados.
Em razão da ausência de uma agencia de correio na localidade, dera-se um atraso na expedição da carta. Disso poderão certificar-se os nossos amigos do grupo, pelo exame dos carimbos de expedição e de chegada. Atestaram então a veracidade do fato referido, e a carta ficaram anexa á informação sumaria.
Mas, objectar-se-á, como é que um espírito, liberto do corpo carnal havia tão pouco tempo, pôde já se comunicar e dar tamanha precisão ás suas respostas? Interrogado a este respeito em ulterior sessão disse-nos o guia do grupo: Eu mesmo tinha trazido entre os senhores o novo desencarnado, e era eu o seu intermediário, na manifestação entre os senhores e ele.
Tudo se explicava, dada a facilidade com que, em certos velhos, o espírito pode desprender-se dos seus laços, após um lento envelhecimento, cujo resultado é fornecer ou trazer pouco a pouco o desprendimento do corpo perispiritual.
A comunicação por golpes dados por meio dos pés de uma mesa, indicando sucessivamente todas as letras do alfabeto, considera-se em geral como processo demasiado lento, monótono, rudimentar, empregado principalmente por espíritos de ordem inferior. E certo que, se, para conversar com os espíritos, dispomos de um bom médium escritor mecânico, ou ainda melhor, de um médium de incorporação, como possui um durante mais de vinte anos, acharemos o uso das mesas incomodo e fastidioso. Acontece, porém, que, por falta de outros recursos, entidades de alto valor não se designam de recorrer a tal processo. Foi assim que o meu venerado guia, Jerônimo de Praga, se revelou pela primeira vez, no decurso de minha vida, no meio de um grupo de operários, num arrabalde de Mans em 02 de Novembro de 1882, dia de Finados. De certo nenhum dos outros assistentes conhecia a historia do apostolo tcheque. Eu bem sabia que o discípulo de João Huss fora queimado vivo, como ,o seu mestre, no século XV, por ordem do Concilio de Constança, mas não pensava nisso naquele momento. Pelo pensamento torno a ver ainda a humilde estância em que fazíamos sessão, em numero de dez, em volta de uma mesa de ;quatro pés, sem que se nela tocasse. Somente dois obreiros mecânicos e uma mulher nela apoiavam as mãos rudes e negras. E eis o que o móvel ditou por movimentos solenes e ritmados.
Deus é bom! Que sobre vós se espalhe a sua benção como benéfico orvalho, pois as consolações celestes se não distribuem senão aos que procuraram a justiça.
Lutei na arena terrestre, mas desigual era a luta. Sucumbi, porém das minhas cinzas surgiram defensores animosos ; marcharam pela estrada que eu pratiquei. São todos meus filhos muito amados.
Jerônimo de Praga
O uso da prancheta americana deve-se considerar um aperfeiçoamento do processo de comunicação pela mesa. Esse aparelho consiste numa placa de madeira triangular, posta sobre três bolas estofadas com feltro que deslizam em silencio num quadrante, onde estão traçadas, em semicírculo as letras do alfabeto. Ele não exige senão uma quantidade mínima de força fluídica, ministrada por dois médiuns cuja ponta dos dedos descansa nesse pequeno veiculo, que adquire, em alguns casos, extrema velocidade. Este sistema é cada vez mais usado nos grupos e nas famílias que se ocupam com psiquismo experimental.
Mme. Ella Whesler Wilcox, autora de renome nos Estados Unidos pelas suas obras poetisas e literárias, tradutora do meu livro Problema do Ser obtém pela prancheta freqüentes mensagens do seu defunto marido, Roberto Wilcox. Este se constituiu guia seu; protele-a e aconselha-a na viagem de conferencias que ela empreendeu na Europa em beneficio moral dos soldados americanos.
Mme. Wilcox escrevia-me desde Londres em data de 7 de Novembro de 1618, para apontar-me uma prova de identidade que julgo dever guardar e publicar;
Ontem, dia de meu aniversario natalício, recebi por Oui-Ja a primeira mensagem de meu marido em Londres. Começara-se a sessão pela escrita automática e vários Espíritos se haviam comunicado. Mlle. Monteith, médium escritor e auditivo, estava perto de mim e da outra senhor ocupada no Oui-Ja. Súbito ela ouviu a palavra aurora, e começou a desenhar um despontar do sol no mar. Sem ser artista, ela fazia um quadro muito bonito, coisa de que pediu explicação. Respondi-lhe: Sempre em nossa casa á beira-mar, meu marido e eu nos levantávamos bem cedo para ver a aurora levantar-se sobre o oceano.
Era para nós uma hora sagrada. Muitas vezes dizia meu marido: Creio que minha alma voltará do céu a ti na aurora, se eu morrer primeiro. Este incidente foi-me agradabilíssimo e eu tinha a certeza da presença de roeu marido. Em Setembro, em Tours, ele muitas vezes me predisse pela prancheta que aqui eu encontraria sir Oliver Lodge e outros psiquistas eminentes, e que seria convidada a falar dos fatos espíritas. Estou em Londres ha um mês; falei duas vezes nos salões públicos, três vezes nos salões da alta sociedade. Vou encontrar sir Oliver em 18 de novembro, Lady Barrett, e bem assim Mme. Leonard, o médium pelo qual sir Oliver Lodge tornou a achar seu filho Raymundo, morto pelo inimigo.
Poderíamos multiplicar as citações desta espécie. Limitemo-nos a fazer notar que as impressões produzidas no leitor por secas e frias narrações não se comparam com a que sentem as pessoas que assistem ás sessões. A rapidez dos distados, a completa inconsciência dos médiuns, a intervenção evidente de outras inteligências que não as dos experimentadores, mil minudencias psicológicas são outros tantos elementos de convicção, ao passo que com a só leitura os mesmos fatos perdem forçosamente muito do seu valor para quantos escapam a, ambiência das reuniões.
XXV-A Experimentação Espírita
PROVAS DE IDENTIDADE
Abundante - disse - são as provas da existência e da manifestação dos Espíritos. Constituem um todo que de tal modo se impõe, que todas as duvidas, todas as vacilações se desvanecem depois de serio e profundo estudo. E' o caso dos sábios eminentes que se ocuparam com os problemas psíquicos. Abeiraram-se do exame deles em disposições antes hostis, imbuídos da idéia que ali havia erro ou embuste, e após perseverantes investigações, chegaram a afirmar, de modo formal, a realidade dos fenômenos. Sem duvida que souberam determinar a parte que compete á fraude e a impostura inevitável em todo meio humano; mas estabeleceram que grande numero de fatos escapam a toda imitação possível. Por exemplo, as moldagens de mãos e pés materializados na parafina fervente e que, resfriada, deixa os experimentadores de posse de objetos que são outros tantos testemunhos da presença e da passagem de seres invisíveis.
Assim é que Flammarion pode escrever que se fala comumente de fraudes ; mas ha materialmente impossíveis: por exemplo, as moldagens de mãos. Até agora, nenhum escultor consegui, não somente imitar, mais ainda explicar essas impressões no mastique ou essas moldagens em parafina nas quais não aparece nenhum vestígio de soldadura. Exemplo, certo fotografias, desesperação dos fotografo... Demais, de todos esses fenômenos do psiquismo, que confundem e embaraçam, ha um só que, seriamente, se tenha conseguido imitar?
Os fenômenos de moldagens necessitam algumas explicações. Em todos esses casos, a parafina se derrete em certa quantidade de água fervente. Ai se vêm molhar as mãos dos Espíritos materializados, retiram-se para em seguida se mergulharem num vaso de água fria em cuja superfície os moldes ficam flutuantes. Sendo a abertura delias no pulso menor que o resto da mão, preciso foi, pois, que esta se possa dissolver fluidicamente Para deixar o molde intacto. Uma mão humana não se teria podido desprender sem quebrar o invólucro. Da mesma maneira foram obtidos pés e estes fatos não se podem compreender a não ser pela ação de seres invisíveis.
O professor Denton pode obter na América fenômenos desta espécie em uma gaiola fechada chave. Assinala-se entre outros casos o fato que duas mãos que se seguravam uma á outra e completas até os punhos. Nenhuma intervenção humana poderia ter produzido tal resultado.
No Congresso Espiritualista Internacional de 1900 em Paris, a que presidi, fora organizada um museu espírita. Ai se viam moldagens de mãos de todas as dimensões, desde mãos enormes até mãos de meninos. Nenhuma semelhança as apresentava diziam-nos os expositores com as mãos dos médiuns ou com as dos assistentes as sessões em que foram obtidos tão estranhos fenômenos.
*
Em todos os fatos de ordem psiquistas, releva buscarmos, acima, de tudo, provas de identidade, isto é, as particularidades, as minúcias susceptíveis de verificação, de exame, pelas quais se revelam o caráter, a natureza verdadeira dos seres que intervêm nas manifestações.
A respeito, convém assinalar-se à vidência e a incorporação no trance ou sono magnético. Neste ultimo caso, o médium profere palavras e ás vezes até discursos de que não tem consciência e que, ao despertar, lhe não deixam lembrança alguma na memória. À medida que o trance se torna mais profundo, nota-se que uma personalidade estranha substitui o do médium; produz-se então uma como transfiguração
O médium, por sua atitude, por seus gestos, por sua linguagem, representa a maneira de pensar e obrar de uma individualidade cujas existências mais das vezes ignora e que os assistentes reconhecem como um de seus parentes ou amigos defuntos.
Travam-se então conversações. As respostas do Espírito ás perguntas formuladas, as referencias a lembranças, os traços comuns de sua anterior existência coro as pessoas presentes constituem para estas outras tantos elementos de certeza relativamente á identidade do morto.
Nesta ordem de fatos, o caso mais notável parece-nos ser o do professor Hyslop, da Universidade Columbia em Nova York. Por intermédio do celebre médium Piper, ele formulou ao espírito de seu pai 200 perguntas sobre ínfimas miudezas de sua vida de família antes do nascimento do professor. Para verificar-se a exatidão das respostas, preciso foi empenhar-se uma viagem de muitas semanas através dos Estados da União, por onde se achavam espalhados os membros da família Hyslop. Das 200 perguntas, 152 respostas se reconheceu serem certas, as demais duvidosas, por se não poderem verificar.
Noutro livro referimos vinte casos escolhidos entre os mais comprobatórios. Aqui estão outros, mais recentes, cujo interesse não é menos vivo em razão de que se prendem com a grande guerra. O primeiro é tomado dos Anaes das ciências psiquistas, numero I pág. 44. Classificam-se entre os fenômenos de visão e audição. A revista inglesa London publicou em seu fascículo de Outubro de 1917 a narrativa de Ricardo Wilkinson, que a redação declara ser um agente de negócios muito conhecido em Londres e que antes se tornara muito cético em relação a todo fenômeno supramoral. O intento de Wilkinson, ao publicar tal artigo, e apresentar fatos que o consolaram em sua dor e podem igualmente consolar milhares de outras pessoas.
Em Novembro de 1916 diz ele: meu filho foi mortalmente ferido, à frente dos seus homens, no combate de Beaumont-Hamel e poucos dias depois, morreu, com dezenove anos de idade. Foi-nos dado a minha mulher e a mim, assistir-lhe aos últimos momentos, num hospital, em França. Era o nosso filho único, e o sentimento que a nós o ligava era o de terna camaradagem e de afeição filial.
Quando regressamos a Inglaterra, uma amiga de minha mulher, penalizada com a magoa dela, mandou-lhe o livro de Sir Oliver Lodge - Ray Mundo Eu tinha prevenções contra semelhantes investigações e roguei a minha mulher que o não lesse. Ao ver que isso a contrariava muito, não insisti, mas declarei com energia que me não queria envolver em tamanha absurdeza.
De tal modo se impressionou ela com a leitura, que recorreu a todos os argumentos para destruir o meu preconceito e fazer-me ler, por minha vez, aquela obra. Acabei por ceder, mas esta leitura não foi bastante a convencer-me, se bem que eu admirasse a beleza da doutrina e reconhecesse a minha sem-razão de a ter condenado a priori. Escreveu minha mulher a Sir Lodge, para se aconselhar com ele. Ele não nos conhecia, mas a afinidade do nosso comum infortúnio levou-o a apresentar-nos uma amiga que organizou para nós uma sessão com o médium Vont Peters.
Nesta primeira tentativa, disseram-nos que nosso filho, ao passar para o Além, fora recebido por João, Isabel, Guilherme e Eduardo.
Estes quatro nomes eram os de meu pai, de minha mãe, de meu irmão, mortos ha muito tempo, mas o de Eduardo era-me desconhecido. Impressionado com a exatidão dos três primeiros nomes, escrevi a meu irmão mais velho, acerca de um irmãozinho que eu sabia ter morrido antes de eu nascer, e ele respondeu-me que essa criança, por nome Eduardo, falecera com doze semanas de idade.
Durante aquela mesma sessão, meu filho, conhecendo a minha incredulidade, declarou que desejava vivamente provar-me a sua presença e aludiu a um fato intimo, somente sabido de minha mulher e de mim.
De coisa tão secreta se trata, que a não posso referi aqui.
Outro fato:
Posto não fosse Roger o nome de meu filho, sempre assim lhe chamaram, menos a mãe que só lhe chamava Poger.
O médium soletrou um nome - Ro.. e disse-nos, sem poder dar as duas letras seguintes, que a ultima era R.
Respondi: E o nome de meu filho; quereis dizer: Roger. O médium replicou: O rapaz diz que não devo dizer Roger, mas Poger.
Maravilhado com esses fenômenos, eu quis ir mais adiante. Dirigimo-nos a outro mediam; Mme. Osborne Leonard. Guardamo-nos de lhe dizer quem éramos, nem lhe declaramos o alvo de nossa visita.
A primeira coisa que ela nos disse foi uma descrição exata e minuciosa do nosso rapaz, e bem assim o nome de Poger, ajuntando que Isabel, João e Guilherme ali se achavam e lhe davam assistência.
Minha mulher estava preocupada como fato de não encontrar as suas próprias cartas entre as roupas, papeis e demais objetos de uso de seu filho, mas nem uma palavra me dissera a esse respeito.
O médium declarou que Roger lhe mostrava um saquinho com fecho que estava entre os tais objetos e que fora esquecido na busca. Nele - disse Mme. Leonard é onde sua mãe achará os escritos que andam procurando. Ao regressarmos á casa, verificamos que a causa era certa.
Na mesma sessão, o médium estendeu a mão e mostrou-nos um objeto semelhante a um pedaço de moeda, cuja natureza real ele ignorava. A mãe sugeriu que podia ser um botão militar de cobre de que tivessem feito para ela uma medalha. O médium, porém, insistiu, dizendo que acharíamos, entre as roupas e outras cousas que foram de nosso filho, um objeto de bronze. Reger desejava que nele se fizesse um orifício, para que sua mãe o pudesse trazer consigo como lembrança dele. Efetivamente, encontramos em casa numa caixinha, urna moeda de peny, entortada por uma bala que nela havia batido.
Pouco tempo depois, minha senhora viu junto de si, em Brigthon, o nosso filho, e nada lhe pôde fazer supor que se tratasse de uma auto-sugestão ou de uma alucinação. Regressando a Londres, ela, a principio, não falou disso a ninguém; mas o médium, Annie Britain, declarou-lhe logo á primeira vista que seu filho deseja-lhe fazer saber que foi exatamente a ele quem a Snra. viu; não foi sonho e permitiu-se que ao véu , por um instante se levantasse.
Nessa sessão. disse-nos Britain maravilhosas coisas. Médium nenhum jamais chamará minha mulher pelo nome que lhe dava o nosso filho; ela jubilou quando ele lhe disse: Até mais ver, meu anjo! nome com que lhe aprazia chamar-lhe. Se alguém, ha apenas um ano, dissesse que eu viria a dizer e escrever semelhantes coisas, eu responderia que era impossível.
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H. Méron, cônsul geral de França em São Francisco, atualmente retirado em Thonon (AltoSaboia) e a cujo filho, um jovem oficial, se deparou na ultima campanha uma morte gloriosa, ministra na Revista Espírita de Outubro de 1917 os seguintes pormenores acerca das manifestações que obtém por meio de uma faculdade que o defunto descobriu e desenvolveu nele.
No estado de vigia na escuridão da noite, vejo, com os olhos cerrados ou abertos, com claridade e intensidade iguais, formarem-se ante mim letras fluídicas, de cores variáveis. Alinham-se essas letras e formam mensagens assinadas pelas entidades de que emanam.
Esta mediunidade por visão foi-me revelada por mensagens de nosso filho, obra de 4 meses depois de sua morte, em Outubro de 1916. Ele faz sempre preceder de sua assinatura a sua mensagem, tal como a traçava nas suas cartas rápidas que nos mandava da linha de frente, e do seu numero de matricula no regimento. Todas as manhãs, com raras exceções, recebo uma mensagem, quase sempre acompanhada de flores, principalmente uma flor de que todos gostávamos e que é a papoula amarela de ouro (copa de ouro) de Califórnia. Durante o dia, também recebo mensagens que me são anunciadas por uma pancada dada no ar e que minha companheira ouve tão distintamente como eu. Fecho então os olhos e, depois da assinatura e do numero de matricula, .que nunca faltam, leio a mensagem. Às vezes minha mulher, dirige, em voz alta, a palavra ao filho e eu obtenho imediatamente a resposta escrita em letras fluídicas, no fundo escuro criado por minhas pálpebras cerradas.
Muita outra visão teve, em varias ocasiões, de pessoas, quer no momento da morte delas, quer até de pessoas vivas. Algumas dessas visões não poderiam explicar-se pelo que se comprazem em chamar alucinações os nossos adversários. Efetivamente, vi esta ou aquela de tais aparições em idades ou em trajes que não poderiam ser produzidos por minha imaginação. Assim, uma jovem a quem eu não falara mais do que uma vez na vida, seis meses antes da morte dela, e cuja mãe estava inconsolável, aparecer-me três vezes: uma na hora da morte, que eu ignorava, tal como a tinha conhecido, alegres, vivas, risonhas; outra vez, tal qual estava representada num retrato, cuja existência só vim a saber dois ou três meses após, e no qual ela estava penteada de modo singular e trajada por fôrma inteiramente diversa da ordinária; a terceira vez, toda de branco.
Nosso filho sem duvida suscitou essas visões para o nosso bem e para que, sem temor, possamos declarar a nossa fé profunda, o que fazemos abertamente, porque isso reputa como o nosso mais rigoroso dever.
Não podemos hesitar em proclamar alto e bom som que a nossa crença tem sido um manancial de consolações.
E provável que se coligam numerosos fatos desta natureza, respectivos á guerra. As provas da sobrevivência aumentam de dia para dia e já formam um conjunto respeitável. Vão-se ainda multiplicarem os casos de identidade e abranger todas as espécies de fenômenos na sua infinita variedade. Com efeitos: os mortos dos campos de batalha, os dos hospitais, e das ambulâncias, em suma todas as vitimas desses acontecimentos espantosos a mais não aspiram do que se manifestar a aqueles a quem amaram na terra é revelar-lhes a sua presença, a prodigar-lhes alentos e consolações. Podemos ter por certo que, logo como tenha passado o período de perturbação que vem depois das mortes repentinas, eles hão de empregar para isso todos os processos a seu alcance.
Assim; Aos malefícios da guerra sairá à certeza de que á vida se apresenta com dois aspectos, mas não tem fim.
Uma pouca de luz, passando através das nuvens negras, virá aclarar o caminho, até agora incerto e obscuro, da humanidade.
XXVI. -A Alma e os mundos: a vida infinita
Leitores que, no decurso destas paginas, seguistes o fio de meu pensamento, nela achastes por certo alguma coisa das vossas impressões, das vossas emoções, um como reflexo de vossa própria imagem é foi, talvez, isso que fez com que tomásseis interesse. Antes de fechar o livro, convido-vos a deixar por um momento as vossas comuns preocupações, as lembranças tristes e dolorosas de quatro anos trágicos, para elevarmos a vista a essa natureza infinita que foi sempre para mim poderosa consolação.
Muitas vezes, na insônia ou na angustia, levanto-me em meio das noites claras para contemplar o majestoso desfilar dos astros. Estes mundos luminosos falam-me as mais eloqüentes das linguagens; dizem-me a sabedoria e o poder do Criador. A vista dele consola-me dos horrores da terra, desta pobre terra cruentada pela guerra, coberta de ruirias e banhada de tantas lagrimas. Da profundeza do espaço, esses mundos atraía-me chama-me e como que me fazem sinais de inteligência. Se os olhos se me apagarem, se a cegueira se me fizer completa, ser-me-á crudelíssima privação o não mais poder contemplar esses prodigiosos diamantes celestes.
Nesta hora em que a terra enlutada chora os filhos mortos, os céus parecem que estão em festa. Será para a recepção dos que, momentaneamente, nos deixaram? No Zenith, brilha Júpiter com todo o esplendor pedido ao sol. O majestoso Orion inclina-se para o ocidente; reconhecemos Sírio pela sua luz branca e pura; mas, aqui e acolá, por toda à parte, resplandecem outros focos: Rigel, Brocyon, Aldebaran, etc.
Dentro em pouco aparecerão à rica constelação do Leão, Nego, o gigante Arceturo igual a oito mil sóis como o que nos alumia. A Via Láctea desdobra sobre nossas cabeças a sua faixa imensa poeira de sóis que a distancia mal deixa ver. Desenrolar-se-á o cortejo dos astros, sem termo, sem fim; as irradiações, as vibrações de todos esses mundos cruzam-se na imensidão.
A alma sensível fica impressionada: sente os eflúvios do amor, as palpitações da vida universal. Ela tem o sentimento das permutas que se operam entre o céu e a terra, quando sobem os pensamentos e as preces e descem as forças, as inspirações.
Quantos problemas não nos despertam no espírito este espetáculo!
Para onde vão todos esses astros no seu curso rápido, por exemplo esta 1830 do catalogo de Groombridge que vinha de um universo desconhecido, transpõe 300 quilômetros por segundo e atravessa o nosso universo como um enorme projétil? E esses cometas vagabundos, mensageiros estranhos, errantes de sistema em sistema, qual é a origem deles e o seu papel no cosmos? Depois, as enumeráveis nebulosas semeadas no espaço como berço dos universos futuros, gênese de mundos ou formigueiros de soes e que encontramos profusamente semeados até na incomensurável extensão!
Por muito tempo, esses abismos de mistério e silencio, esses abismos de sombra e luz, foram para o homem objeto de espanto e terror. Era com hesitação, quase que com medo, que o seu pensamento tentava sondar-lhes as profundezas. De agora em diante, graças á revelação dos Espíritos, essa imensidade, melancólica e muda na aparência, anima-se e vibra. Todos esses mundos e os espaços que os separam, estão povoados por legiões de almas, já humanos, já etéreas. ali estão as nossas futuras moradas, as estações do nosso longo peregrinar, os degraus da escada de ascensão que todos, através dos tempos, temos de subir. O nosso planeta retardado e a mansão de dor e lagrimas, a rude escola em que espíritos jovens vêm adquirir as virtudes estóicas, as qualidades essenciais que lhes abrirão o acesso das esferas venturosas; mas lá em cima, expande-se na paz, no jubilo, na harmonia, sociedades mais adiantadas.
Assim, fora dos lindes de nossas breves e penosas existências terrestres, abrem-se-nos diante perspectivas imensas, oferecem-se ao nosso interesse, á nossa atenção assuntos múltiplos de estudo e exploração, variedades contrastes imaginásseis. Ante tantas maravilhas reservadas ao nosso futuro, perdem a sua agudeza as presentes provações. Cresce a nossa confiança, a nossa esperança a nossa fé. Impotentes para medirmos a extensão das riquezas espirituais de que seremos participantes, juntamos os nossos hinos ás vozes do espaço, coro universal dos seres e dos mundos para celebração da vida eterna e infinita
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No céu está escrito o nosso destino com caracteres de fogo. Desde a origem dos mundos, Deus traçou sobre nossas cabeças, em linhas sublimes, o poema da alma e seu futuro. E todos quantos souberam decifrar essas letras grandiosas, beberam nesse estudo sabedoria e força moral. Certo e ser ainda reduzido o numero dos iniciados. Ainda mesmo entre os espíritos da nossa esferas, poucos ha aos quais seja dado o visitarem e descreverem os esplendores celestes. Se alguns, em vôo rápido, podem explorar diversos sistemas e penetrar leis dentro do infinito, têm de regressar logo aos meios que lhes assinala o seu grau de adiantamento.
Estas explorações longínquas são permitidas ao espírito que dela se mostra digno, a fim de lhe indicarem a suei via de ascensão. Elas estimulam a vontade de adquirir os méritos que o farão viver na sociedade das almas unidas pelo amor na felicidade.
Em nossa evolução, tudo está graduado.
Nos espíritos extremamente jovens, insuficientemente preparados, a posse de algumas verdades poria em risco de romper-se todo o equilíbrio mental.
Só aos grandes Espíritos pertence o pleno conhecimento do universo. Deles principalmente é que nos vem, já por intuição, já por mediunidade, a revelação das leis superiores. Para que a obtenhamos, cumpre que preparemos a alma pela meditação, pelo reconhecimento, pela prece. Destarte se produz em nós uma como dilatação de ser, uma expansão das faculdades que torna possível que em nós penetrem as mais altas verdades. Por meio delas, pela ação delas opera-se a pouco e pouco uma transformação. Ao mesmo tempo em que se desdobram as paginas do livro exterior, á medida que se aclara o horizonte, ilumina-se o ser intimo; os echos de dentro respondem aos apelos de fora.
Sob o influxo espiritual, ressurgem as lembranças do passado, sepultadas no mais fundo da nossa memória. Reconstituem-se a cadeia das nossas existências. Recobramos a consciência da nossa verdadeira natureza e da nossa pátria de origem. Sentimos melhor a gravidade, a solenidade das coisas da vida; provações e males, trabalhos e dores, considerados como outros tantos meios de educação e de elevação.
Em nós está escrita toda a nossa historia através dos séculos. As nossas vidas anteriores, monótonas ou trágicas, verteram gota a gota, no fundo de nossa alma, uma água profunda, espécie de espelho em que, inclinando-nos em certas horas podemos ver refletirem-se as imagens do passado.
Já ficou registrado que, nos fenômenos de exteriores e pela visão psíquica aumentada revê o ser o lugar onde se desfiou o rosário de suas existências : as ribas, banhadas de sol, da Atica onde o mar rebenta o seu rolo de espuma debaixo dos ramos pos mitos é da verdura argêntea das oliveiras; as imensas planícies da Assíria e do Egito e os colossos de pedra que erguem para o céu azul as suas formas geométricas ou os seus perfis de animais. Ele reconstituem as civilizações remotas e o papel, muitas vezes obscuro, ás vezes brilhante, que ele lá desempenhava. Vê outra vez as cidades brancas cujos nomes harmoniosos assinalam como estações o curso intelectual da humanidade: Atenas, a jóia da Helade, a cidade querida dos filósofos, dos oradores e dos estatuários; Crotona, onde Pitágoras ensinava a sua doutrina a um circulo de iniciados; Alexandria, onde os esplendores do gênio grego se fundiram no crisol do pensamento, na chamada do cristianismo nascente.
Aqueles dentre nós que viveram àquelas horas deslumbrantes da Historia não se podem eximir de um sentimento de emoção, ao recordarem-se daquela adolescência ingênua de nossa alma embalada pelos mitos e pelas lendas pagãs, e toda enamorada das miragens da vida oriental.
Poderíamos formar uma idéia de tais impressões, comparando-as com as que nos proporciona, no poente da vida, a lembrança das ricas sensações da nossa verde mocidade, quando para nós era tudo sedução e encanto.
Então todos os espetáculos da natureza provocavam em nós uma como embriaguez. Por exemplo, que enlevo quando, pela vez primeira, entramos na floresta espessa, ouvindo o murmurar das fontes, dos regatos, ou a musica do vento nos ramos! quando do alto das montanhas vimos estenderem-se os vales e as planuras, resplandecer ao longe o mar, ou desdobrar-se o panorama de uma cidade grande!
Que de riquezas sepultadas no recôndito obscuro da alma! Tesouros de pensamentos e de obras, de júbilos e de tormentos acumulado pelos séculos no intimo do ser e que a sugestão hipnótica faz tornar á luz, corno essas plantas e flores que flutuam na superfície. dos lagos e cujas raízes imergem nas profundidades sombrias das águas.
Entre esses quadros e, essas recordações que brotam dá sombra do passado, alguns ha que são agradáveis e sedativos, sem duvida, mas, em compensação, quantas cenas que melhor fora não às tivéssemos vivido!
Elas emergem do silencio e da noite, e assumem poderoso relevo. Às vezes, às velas, invade-nos uma angustia.
Os segredos enterrados no fundo de nossa memória levantam-se e acusar-nos. Todo o nosso passado subsiste indestrutível e indelével. Nenhum poder é capaz de o destruir, mas é-nos permitido resgatar pelo sacrifício e empresa bem compridas. Compreendemos por que é que a sabedoria eterna por algum tempo conservou veladas essas remotas lembranças a fim de nos deixar mais completa liberdade de ação no decurso desta vida. Sem esta precaução necessária, os fantasmas das nossas passadas existências nos surgiam ante os olhos sem cessar, e desse modo se perturbariam a quietação, a serenidade do presente, e antes paralisaria o nosso vôo o conhecimento das responsabilidades incorridas e de suas conseqüências.
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Ficam-nos, pois, oculto os mais profundos mistérios da alma e do universo.
Pode-se todavia atestar que sensível progresso se realiza no domínio do conhecimento. Ergue-se o véu do destino, e a grande lei de evolução se nos torna aos olhos precisa e clara.
Assistimos a uma verdadeira mutação de frente do pensamento no ponto de vista filosófico. O pensamento abandona cada vez mais as posições materialistas que desde ha muito ocupava, para tornar-se espiritualista e idealista. Já passaram de moda as teorias do átomo e da célula. Acima da matéria, reconhece-se a existência de uma força organizadora, de um dinamismo poderoso que a penetra e rege. Mas acima ainda domina a idéia.
A inteligência e a vontade governam o mundo dos seres e das coisas. Aparece a lei, e por meio dela, afirma-se Deus.
E Deus o pensamento e a força eterna que move o universo. Ele é a conciliação de todos os problemas e o supremo fim de todas as evoluções.
Dele é que emanam as mais altas inspirações do gênio, as intuições do artista: e do sábio.
Todas as criações de urna arte sublime, os grandiosos espetáculos da natureza, as harmonias do universo, a sinfonia que entre si, nas profundezas dos espaços, dizem os mundos, tudo isso mais não é que o reflexo, o frouxo echo do poder criador.
Estudar a Deus em sua obra, eis o segredo de toda a força, e toda a verdade, de toda a sabedoria, de todo o amor. Porque esplende através de sua obra, tal como o sol através das leves brumas que sobre as selvas e sobre os vale flutuam nas horas matutinas.
XXVII-A Grande Doutrina
A Guerra mundial assinalou o termo de unia época Abre-se ante nós outro período da Historia. Um labor imenso apresenta-se aos homens de saber e de boa vontade. De toda a humanidade se trata, a qual deve ser refeita por educação, moral e fé, novas. Trata-se de mostrar ás gerações que passam, o fim a que devem chegar, de trabalho, a magna lição da morte.
E mister ensinar a todos que a existência é sagrada, até mesmo nos seus aspectos vulgares, não obstante as suas provações e as suas dores e principalmente em razão destas, pois que ela é para nós o meio supremo de ascensão e elevação; ensinar que as vidas humildes, obscuras, operosas, quando não são o resgate de um passado criminoso, constituem eficaz processo de aperfeiçoamento. E necessário demonstrar a virtude do sacrifício e a inanidade das riquezas que nos agrilhoam á matéria. E pela abnegação que o ser adquire toda a sua potencia de irradiação e espalha salutar influencia sobre tudo quanto empreendem, sobre tudo quanto o envolve.
Através de mil vidas o homem tem de conhecer todas as alternativas do prazer e da dor. Esta é incomparavelmente a mais fecunda para o seu progresso; eis porque em volta de nós ha mais causas de pesar do que de felicidade. A décima sexta triada diz: Padecer tudo em Abred (a terra), pois que sem isso não se pode adquirir ciência alguma completa de coisa alguma, O homem deve ocupar alternativamente as mais varias situações sociais, a fim de passar pelas provações e adquirir as qualidades inerentes a esses diversos meios. As posições fáceis proporcionam-nos a possibilidade de desenvolvêramos as nossas faculdades, cultivarmos as artes e as ciências, exercitarmos a beneficência; as situações apagadas, dependentes, ensinam-nos a paciência, a disciplina; a economia a perseverança no esforço ora vencido pelo destino, ora servido por ele, o homem abre caminho através dos obstáculos, mas, a cada dificuldade superada, sente aumentar-se-lhe a força, retemperar-se-lhe à vontade, crescer-lhe a experiência.
A cada renascimento, ele reentra na vida terrestre como na escola salutar em que novos méritos ganhará; reincida a lida que deve aumentar-lhe o cabedal de energia, as riquezas de espírito e de coração.
Assim de vida em vida, como a borboleta que sae da crisálida, ele sente a pouco e pouco se desprender da individualidade grosseira do começo, um espírito poderoso, radiante de luz, de sabedoria e amor. E continuará a sua marcha de esfera em esfera, de mundo em mundo, vinculado aos seres a quem ama, para com ele chegar um dia á plenitude da ciência, da virtude e da felicidade.
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A revelação dos Espíritos efetua-se, como se sabe, mediante fenômenos cujo conjunto constitui uma ciência nova, uma ciência que encontra em tais fatos elementos preciosos de desenvolvimento e progresso.
A ciência atingida as ultimas raias do mundo material. Agora, abre-se-lhe diante do invisível com as suas forças imensas e as suas leis espirituais. Sem o conhecimento de tais leis, impôs formas e na sua colossal ascensão.
Uma análise metódica e raciocinada das manifestações porá a ciência em contacto com o mundo dos Espíritos. Ela aproximara as humanidades e facilitará a colaboração dela num programa de trabalhos de que resultará mais ampla compreensão do universo psíquico e das condições da vida em seus superiores estados.
Não é esse, porém, senão um dos dois aspectos de uma vasta questão.
A ciência é necessária, mas não basta ela. A corrente cientifica deve ter por paralela e por complemento a corrente popular que irá levar ás turbas os ensinamentos e o conforto de que elas precisam. A ciência é complexa e, como tal, inacessível ao maior numero. O ensino popular deve ser singelo, ao alcance de todos.
Ha cinco anos que as epidemias, os lutos. todos os infortúnios oriundos da guerra causaram á França cruéis feridas. São sem numero as almas que a dor pungiu e que exigem a parte, que lhes toca, de verdade e de luz.
Devemos ir a busca da humanidade dolorosa e abrir-lhes as perspectivas consoladoras do invisível e do além-mundo, patentear-lhe a certeza da sobrevivência e da imortalidade, o gozo de se tornarem a ver os que foram separados pela morte.
Devemos endereçar-nos ao povo que é destituído de ideal, aos humildes, aos pequenos a quem enganou o materialismo, e em quem ele somente soube fazer medrar o apetite dos prazeres e os sentimentos de ódio e inveja; levar-lhes o ensino moral, a alta e pura doutrina que ilumina o porvir e nos mostra a justiça a realizar-se pelas vidas sucessivas.
Vós todos quantos, amando a justiça, a procurais no circulo estreito que o vosso olhar abrange, raro a encontrais nas obras humanas, nas instituições deste baixo mundo. Dilatai os vossos horizontes : vêl-a-eis expandir-se na serie de nossas existências através dos tempos, pela simples combinação dos efeitos e das causas.
Tanto o bem como o mal remontam sempre ás suas fontes. O crime recai pesadamente sobre, os seus autores. O nosso destino é obra nossa, mas só com o conhecimento do passado se ilumina. Para nos apoderarmos do encadeamento dele, cumpre que pairemos alto e contemplemos no seu conjunto o panorama vivo de nossa própria historia. Ora, isso só é possível ao espírito que se desliga do invólucro carnal, ou pela exteriorização no sono, ou pela morte. Desprende-se-lhe então viva luz das sombras e das contradições do presente. Aparece a grande lei no seu esplendor e na sua majestade soberana, regulando a ascensão dos seres, da mesma maneira que rege a marcha dos mundos.
Quando os apóstolos da causa social compreenderem e ensinarem esta alta doutrina, acharão nela fecunda fonte de inspiração. Ela dará á palavra deles a força de penetração, o calor que derrete os gelos da, indiferença, do cepticismo, e sair-lhes-á do coração uma onda purificadora e regeneradora.
Aguardo aqui as mesmas objeções que me foram endereçadas no decurso de certas conferencias contraditarias. Dir-me-ão: E essa a linguagem que usaram todas as opressores políticas e religiosas através dos séculos para dominarem as turbas e tela subjugadas. Tais promessas de vidas futuras, posto que apresentadas em outra forma, são sempre, no dizer de Jaurès, a velha cantiga que acalenta a miséria humana.
E possível que as nossa maneiras de ver não concordem com as deste ou daquele teoristas. O que acima de tudo buscamos, é a verdade. Para a descobrirmos, cumpre que nos alcemos até as serenas regiões aonde já não chegam às paixões políticas, onde já não reinam os interesses matérias. Interrogai os grandes mortos, replicarei aos meus contraditores, tomai inspiração nos seus conselhos. Ele afirmar-vos-ão essas leis superiores fora das quais é ineficaz e estéril toda obra humana.
Enquanto restringirdes o vosso pensamento aos horizontes estreitos da vida presente, enquanto não quiserdes ver nela o que ela é em verdade, isto é um degrau para subir mais alto, serão vãs as vossas tentativas para estabelecer neste mundo uma ordem de coisas conforme com a justiça, serão inúteis todos os esforços do vosso gênio. Vede o que se está, passando lá no Oriente da Europa, onde a luta tremenda das classes despenha as nações em um abismo onde não brilha sequer um raio de ideal. Vede essa maré cheia das paixões desencadeadas por grosseiro materialismo que ameaça invadir tudo! Apesar de certas teorias, o que principalmente é preciso para se realizar a paz social e a harmonia, é o acordo intimo das inteligências, das consciências e dos corações. Só nelas pôde dar uma grande doutrina, uma revelação superior que trace a rota humana e fixe os nossos deveres comuns.
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Dissemos que na historia do mundo as catástrofes são amiúde os sinais precursores de novos tempos, o anuncio de que se prepara, uma transformação e de que a humanidade vai passar por mutações profundas.
A morte abriu numerosos claros, mas entidades mais bem evolucionadas virão encarnar-se na terra. Ás legiões enumerareis das almas libertas pela guerra pairam por cima de nós, ávidas de compartir dos nossos trabalhos, dos nossos esforços, de transmitir aos que ela deixaram no mundo à confiança em Deus e a fé em mais auspicioso porvir. A ação dele estende-se e impõe-se cada vez mais: provoca testemunhos inesperados, que vêm ás vezes de bem alto. Por exemplo, o jornal O Homem Livre, numero de primeiro de janeiro de 1919 o registra nos seguintes termos: Os nossos queridos mortos estão a nosso lado e humanidade compõe-se mais de mortos que de vivos. Somos governados pelos mortos.
Num magnífico surto oratório na Câmara dos Deputados, Clémenceau evocava os espíritos de Gambetta, Schanrer-Kestner, Chanzy e outros ilustres mortos, e convidava-os a serem os primeiros a transpor as terríveis portas férreas que contra nós fechara a Alemanha.
O Presidente da Republica em pessoa, R. Poincaré, disse no seu discurso de Strasburgo; Comuosco, Alsacia, honrar a memória dos nossos mortos, porque, tanto quanto os vimos ou mais que eles, foram os mortos que te libertaram.
Não foram somente esses grandes mortos os obreiros da nossa vitória. À frente deles vemos os Espíritos de luz que nos mostram a via sagrada e os altos destinos que nos esperam.
E evidente que muitos homens, e não dos menores, guarneceram, por meio de provação, dessa sensualidade e dessa pestilências que por um triz não levaram a França á perdição. Passa hoje pelo mundo um grande sopro e conduz as almas para uma síntese em que tudo quanto ha bom e verdadeiro nas antigas crenças vem juntar-se ás obras da ciências e do pensamento modernos, para constituir o instrumento por excelência de educação e disciplina social.
Às vezes, porém, em volta de nós, a sombra se condensa, e torna-se maior o negrume da noite; multiplicam-se os perigos e pesam sobre a civilização terríveis ameaças.
Mas em semelhantes horas, sentimos mais junto de nós os nossos grandes irmãos do espaço.
Os seus fluidos vivificantes amparam-nos e entram em nós. Graças á eles, acendem-se no horizonte clarões de aurora e iluminam o nosso caminho. No meio do caos dos acontecimentos, delineia-se um mundo novo.
FIM
(1) Masson, Cartas de guerra, Hachette, 1917. Eis um segundo exemplo mais recente:
O general Berdoulat, governador de Paris, fez a um redator do Petit Parisier a seguinte narração (Petit Parisien de 28 de Fevereiro de 1919)
18 de julho de 1918 foi à jornada que devia assinalar o desbarato definitivo do inimigo. Algum tempo antes, eu tinha ido a missão especial a Alsacia, onde travei conhecimento com o mére de Montreux-de-Vieux. Ora, avisado pelas ações que precederam a nossa grande ofensiva, da eminência de uma batalha, esse magistrado escreveu-me uma carta que me veio ás mãos na própria manhã do dia 18 de Julho. Nela se continham estas palavras: Todos os meus votos por vosso bom êxito e por nossa vitória. Pois bem! Estava eu naquele dia, não sei porque tão comovido pela certeza do triunfo que no momento mesmo em que a ação se delineava, muito antes de conhecer o resultado dela, sem mais demora, respondia ao mére de Montreux: Os vossos votos foram ouvidos, é a vitória, a derrota do inimigo Quem me impele a escrever assim e a anunciar o ganho de uma batalha que não estava começada? Porque diz isto? Por que, naquela manhã, tinha eu, não já a esperança, mas a certeza do triunfo? A verdade é que eu estava possuído de misteriosa força.
Em Junho de 1917 num livro-álbum que lhe foi presenteado pelo general Guillemont e no qual se formulava a pergunta: Quando acabará a guerra? o general Berdoulat respondeu, debaixo do império da mesma força: Em Novembro de 1918. Ora, o armistício é de 11, e o prognostico saiu certo.