Doutrina de Luz
("Doutrina de Luz", de Francisco Cândido Xavier, por Emmanuel)
01 - Espiritismo E Evangelho
Decididamente, o Espiritismo é o movimento libertador das consciências em sua gloriosa tarefa de reestruturar o mundo.
A princípio, a ciência experimentou-o.
Em seguida, a filosofia codificou-lhe os princípios.
Agora, porém, urge cristianizar-lhe os princípios.
Não basta desvelar o horizonte, nem doutrinar a multidão para a grande jornada. É imperioso traçar um roteiro de trabalho e cumpri-lo, para que não alcancemos a eminência do monte, desconhecendo a luz e a grandeza do serviço que nos cabe desenvolver, junto a ela.
Eis porque, na curva descendente da civilização em que vivemos, clamamos pelo cultivo da Sementeira Divina do próprio homem, para que se lhe desate no coração a sagrada herança de amor e sabedoria.
A hora é naturalmente grave pelas nuvens de incompreensão que turvam os dias porvindouros.
Não nos cansaremos de repetir a advertência, porque o sábio da desintegração atômica ainda se acha envenenado pelo vírus da hegemonia política; a inteligência que se eleva com asas metálicas à imensidão do firmamento estuda os processos mais eficazes de operar a destruição em baixo, e o raciocínio que escreve páginas comovedoras nem sempre se levanta para o idealismo superior.
Antigamente, o laboratório poderia pesquisar sozinho e a academia justificava a exclusividade do ministério da discussão. Hoje, contudo, meus amigos, a Doutrina Consoladora exige a aliança de todos os valores para que o cérebro e o coração permaneçam a serviço do Cristo, na obra da fraternidade e da paz.
Em verdade, nenhum de vós outros alegará desconhecimento, com respeito às tempestades renovadoras que se aproximam. Ninguém pode prever o curso da negra torrente do ódio e da incompreensão no Planeta, em face do movimento apocalíptico que esboça nos caminhos do mundo...
Em razão disso, a meditação com aproveitamento das horas, na construção dos alicerces do Terceiro Milênio, constitui imperativo fundamental do esforço moderno em todos os bastidores espiritualistas da atualidade.
É necessário estender mais luz em derredor da senda humana.
O Espiritismo descortina.
O Evangelho, contudo, orienta.
O Espiritismo informa.
O Evangelho, todavia, ilumina.
O Espiritismo entusiasma.
O Evangelho, porém, santifica.
O Espiritismo leciona.
O Evangelho, no entanto, define.
É preciso enfrentar o problema de nossa própria luta regenerativa para que a renovação interior se processe segura e definitiva.
Nos primórdios da Causa, era natural que a pergunta sistematizada e o conflito verbal dominassem as fontes da revelação, mas nos tempos que correm é imprescindível que o manancial do bem dimane cristalino do centro de nós mesmos a benefício do mundo.
Antes do conhecimento iluminativo, compreendia-se o impulso com que nos abeirávamos do Plano Superior, sentindo-nos famintos da graça e esperando que o Senhor no-la dispensasse, à maneira de um rei terrestre em sua carruagem de púrpura e flores, cercada de mendigos.
Entretanto, nos dias abençoados que vos assinalam a experiência purificadora, é indispensável preparar a acústica do ser, para que ouçamos a voz do Céu, que nos pede o coração de modo a consagra-lo ao serviço redentor da Humanidade.
Assim, pois, meus amigos, indagando ou ensinando, crendo ou investigando, estudando ou discutindo, não nos esqueçamos, em Jesus, da religião do sacrifício, com a inteligência evangelizada, convertendo as nossas mãos pelo trabalho incessante, na fraternidade e na sublimação do mundo, em asas de sabedoria e de amor para a Vida Imortal.
a b
02 - 2º Congresso Mineiro de Espiritismo
Poderá Emmanuel opinar sobre a realização do 2º Congresso Espírita Mineiro?
Certamente, não podemos esperar de um congresso fórmulas milagrosas, que venham substituir o esforço pessoal, que nos cabe despender nas realizações de ordem superior, entretanto, urge considerar que a função de um assembléia dessa natureza é reunir pessoas com interesses comuns, para resoluções que lhes digam respeito.
Nesse sentido, acreditamos da mais alta significação a iniciativa dos nossos companheiros do Espiritismo Evangélico, nesses entendimentos de conjunto, em que os nossos problemas possam ser examinados pelos mais competentes valores representativos, com vistas ao trabalho que nos compete desenvolver, na direção do futuro.
Difíceis obrigações, nos variados setores da Doutrina que esposamos, convocam-nos a atenção, reclamando-nos a sintonia possível, na concretização dos nossos princípios, e, desse modo, esperamos que o Segundo Congresso Espírita Mineiro constitua abençoado empreendimento, em que a inteligência unida ao coração possa apreciar, de perto, as questões que nos interessam à jornada para a frente.
O veículo não avança sem estradas.
O arquiteto não constrói sem planos.
Não progrediremos sem a estruturação dos roteiros que devemos palmilhar, serviço esse que nos compete levar a efeito, através do entendimento sobre as nossas necessidades recíprocas, com a permuta de nossas próprias experiências.
Realizemos, desse modo, as assembléias que estabeleçam a consolidação da solidariedade fraternal, em nossa esfera de ação.
Se não sabemos cultivar o auxílio mútuo, harmonizando-nos com os outros, como pretender a comunhão com as entidades angélicas?
Aprendamos nas reuniões de paz e da fraternidade, a servir com segurança e eficiência, na Causa do Espiritismo, com Jesus, em favor da sublimação humana.
Um congresso espírita é associação de forças do bem.
Fortaleçamo-nos, pois.
a b
03 - Doutrina Escola
O termo “religião”, no conceito popular, exprime “culto prestado à Divindade”.
A palavra “culto” significa adoração e veneração. Cabe, entretanto, esclarecer que o Espiritismo, desenvolvendo os ensinamentos do Cristianismo, é a religião natural e dinâmica da consciência, interessando sentimento e raciocínio, alma e vida, autêntica doutrina-escola, destinada à construção do Mundo Melhor, com bases na renovação e no aperfeiçoamento do espírito.
Por mostra do asserto, analisemos algumas conjugações de textos do “Evangelho de Jesus” e de “O Livro dos Espíritos”, primento tomo da Codificação Kardequiana:
1 – Em “Novo Testamento! – Mateus, 12:50.
Em “O Livro dos Espíritos – Questão 803.
Tema: Humanidade.
Plano de estudos – Considerações em torno da igualdade de todas as criaturas, perante o Criador.
2 – Em “Novo Testamento” Marcos, 9:35.
Em “O Livro dos Espíritos – Questão 683.
Tema: Serviço.
Plano de estudos – Obrigações do trabalho individual para o bem de todos, conforme as
Possibilidades de cada um.
3 – Em “Novo Testamento” – Lucas, 20:25.
Em “O Livro dos Espíritos” – Questão 794.
Tema: Legalidade.
Plano de estudos – Acatamento às leis estabelecidas na Terra, segundo os ditames da evolução.
4 – Em “Novo Testamento” – João, 3:3.
Em “O Livro dos Espíritos” – Questão 171.
Tema: Reencarnação.
Plano de estudos – As vidas sucessivas, definindo oportunidades de progresso e elevação para todos
os seres, diante da Justiça Divina.
5 – Em “Novo Testamento” – Lucas, 12:15.
Em “O Livro dos Espíritos” – Questão 767.
Tema: Prosperidade.
Plano de estudos – Imperativo do amparo recíproco na vida social.
6 – Em “Novo Testamento” – Lucas, 12:15.
Em “O Livro dos Espíritos” – Questão 883.
Tema: Prosperidade.
Plano de estudos – Legitimidade dos bens particulares que devem ser usufruídos sem os abusos do
egoísmo e da avareza.
7 –Em “Novo Testamento” – Lucas, 24:36.
Em “O Livro dos Espíritos” – Questão 525.
Tema: Comunicação dos Espíritos.
Plano de Estudos – Intercâmbio constante entre os Espíritos encarnados e desencarnados.
8 - Em “Novo Testamento” – João, 15:12.
Em “O Livro dos Espíritos” – Questão 886.
Tema: Caridade.
Plano de Estudos – Impositivo da fraternidade, em todos os campos da inteligência.
Fácil verificar que o culto espírita não inclui qualquer nota explicativa inoperante nos preceitos em que se define. Colocando-nos, pois, à frente da Religião do Amor e da Sabedoria, chamada a inscrever as Leis Divinas no âmago de nós mesmos, assimilemos as lições do Evangelho e da Codificação Kardequiana, para que se nos clareie o caminho e se nos consolide a responsabilidade de viver e de agir, na edificação de nossos próprios destinos.
Para isso, saibamos refletir e servir, raciocinar e estudar.
a b
04 - Na Esfera Espírita
Realmente, saberás pronunciar as mais belas palavras;
escreverás livros mais nobres;
produzirás poemas de eloqüente beleza;
reunirás multidões ao redor de tua vigorosa influência;
exteriorizarás faculdades mediúnicas espantosas;
materializarás os desencarnados ante a observação da ciência;
receberás mensagens brilhantes suscetíveis de arrancar a admiração e o respeito dos espíritos mais céticos;
transmitirás com segurança avisos e apontamentos do Plano Superior;
transportarás contigo olhos percucientes e lúcidos, divisando quadros inesquecíveis do campo extra-físico, sensibilizando os companheiros até as lágrimas;
improvisarás orações de conteúdo sublime;
reterás a mais sadia convicção acerca da imortalidade da alma;
desfrutarás o mais elevado apreço entre os irmãos de fé pelo tesouro de inteligência e cultura que te exortam a individualidade;
acumularás a riqueza do raciocínio e a bênção da confiança;
todavia, se não fores bom no trato com os outros, se não exemplificares os princípios santificantes que esposas, na luta de cada dia, iluminando e aprimorando a ti mesmo, para clarear o teu santuário doméstico e aperfeiçoar a região de trabalho a que deves servir, não conseguirás acordar os semelhantes para o caminho da perfeição, porque, em matéria de Cristianismo e, conseqüentemente, de Espiritismo, apenas o exemplo guarda poder transformador, capaz de despertar as consciências que nos rodeiam, impulsionando-as da inércia da sombra para a vitória da luz.
a b
05 - Em Ação Espírita
A Doutrina Espírita, patrocinando-nos melhoria e aprimoramento, convida-nos a todos, na ordem espiritual de nossas atividades, à realização de serviços indispensáveis ao socorro de nós mesmo, tais quais sejam:
Procurar tanto a paz, na seara da fraternidade e da luz, que não encontremos quaisquer meios de cultiva a perturbação e a discórdia.
Selecionar tanto as palavras de encorajamento e otimismo, auxílio e esperança, que não achemos em nosso dicionário pessoal aquelas outras que se fazem capazes de conturbar ou ferir.
Estimar tanto as oportunidades de auxiliar alguém, que não venhamos a interpretar esse ou aquele encontro por obra do acaso, e sim por bendito ensejo que a Direção da Vida nos faculta, a fim de colaborarmos na felicidade dos semelhantes.
Resguardar tanto a confiança na Divina Providência que não vejamos em nossas dificuldades senão bênçãos, através das quais ser-nos-á possível demonstrar a própria fé.
Compreender tanto a importância do estudo e do trabalho que não disputemos essa ou aquela hora de repouso, senão por terapêutica de reajuste ou refazimento.
Respeitar tanto a liberdade dos outros que nunca nos lembremos de lhes impor os nossos pontos de vista, em circunstância alguma.
Anotar tanto os graus diferentes de evolução e de experiência dos nossos irmãos na jornada terrestre, que jamais nos recordemos de lhes exigir o mínimo tributo de carinho ou de gratidão por serviço que, porventura, lhes tenhamos prestado.
Admitir tanto a necessidade do bem, para que se garanta a felicidade geral, que não tenhamos o menor interesse em pensar ou falar isso ou aquilo que favoreça a extensão do mal.
Crer tanto no imperativo do próprio aperfeiçoamento que não disponhamos de ocasião par ver as faltas ou defeitos do próximo.
Preservar tanto a tranqüilidade de consciência que não hesitemos em repelir a obtenção de vantagens ou a realização de caprichos capazes de arremessar-nos em remorso ou inutilidade, desânimo ou obsessão.
Permaneçamos convencidos de que os planos do Reino de Deus procedem dos Céus, mas, a construção do Reino de Deus é serviço que se realiza na Terra mesmo, começando na vida e na área de cada um.
a b
06 - Evangelho Em Ação
Meus amigos, muita paz.
Nunca é demais salientar a missão evangélica do Brasil, na sementeira do espiritualismo moderno.
Em outros setores da evolução planetária, eleva-se a inteligência aos cumes da prosperidade material, determinando realizações científicas e perquirições filosóficas de vasto alcance, comprometendo, porém, a obra do sentimento santificante.
Em esferas outras, assinalamos a investigação de segredos cósmicos, na qual se transforma o homem no gênio destruidor da própria grandeza, alinhando canhões na retaguarda de compêndios valiosos e de comovedoras teorias salvacionistas, em todos os ângulos da política e da economia dirigidas.
No Brasil, contudo, ergue-se espiritualmente o ciclópico e sublime santuário do Cristianismo Redivivo.
Aqui a Doutrina Consoladora dos Espíritos perde as exterioridades fenomênicas para que o homem desperte à luz da Vida Eterna.
Aqui, o Evangelho em movimento extingue a curiosidade ociosa e destrutiva que se erige em monstro devorador do tempo, descortinando o campo de serviço pela fraternidade humana, sob o patrocínio do Divino Mestre.
É por isto que ao espiritista brasileiro muito se pede, esperando-lhe a decisiva atuação no trabalho restaurador do mundo, porquanto na pátria abençoada do Cruzeiro a amplitude da terra se alia à sublimidade da revelação.
É necessário que em seus dadivosos celeiros de pão e amor se modifiquem as atitudes do crente renovado em Nosso Senhor Jesus, a fim de que o pensamento das Esferas Superiores se expanda livre e puro, nos círculos da inteligência encarnada, concretizando a celeste mensagem de que os novos discípulos são naturalmente portadores.
Não basta, portanto, apreender o contingente de consolações do edifício doutrinário ou receber a hóstia do conforto pessoal no templo sagrado que o Espiritismo Evangélico representa para quantos lhe batam às portas acolhedoras.
É imprescindível consagrar nossas melhores energias à extensão da fé vivificante que nos refunde e aperfeiçoa, à frente do futuro.
Semelhante edificação, todavia, não se expressará senão por intermédio de nosso próprio devotamento à causa da libertação humana, transformando-nos pelo esforço e pelo estudo, pelo trabalho e pela iluminação íntima, em hífens de amor cristão, habilitados à posição de instrumentos do Plano Superior.
O Espiritismo brasileiro congrega extensa caravana de servidores da renovação cultural e sentimental do mundo e complexas responsabilidades lhe revestem a ação com o Cristo.
Estendamos, assim, o serviço evangélico na intimidade da filosofia espiritualista, insculpindo em nós, antes de tudo, os princípios da doutrina viva e redentora de que nos constituímos pregoeiros.
Não cristalizemos, sobretudo, a tarefa que nos cabe à frente das exigências da Terra, refugiando-nos na expectativa inoperante, porque a ruína das religiões sectaristas provém da ociosidade mental em que se mergulham os aprendizes, aguardando favores milagrosos e gratuitos do Céu, com prejuízo flagrante da religião do dever bem cumprido na solidariedade humana, da qual depende a execução de qualquer sistema salvacionista das criaturas.
Acordemos, desse modo, as nossas forças profundas, colaborando no nível real de nossas possibilidades dentro da tarefa que nos cabe realizar, individualmente, no imenso concerto de regeneração da vida coletiva.
Enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será lícito cogitar de felicidade isolada para nós mesmos.
Companheiros existem suspirando por um paraíso fácil, em que sejam asilados sem obrigações, à maneira de trabalhadores preguiçosos e exigentes que centralizam a mente nas noções do direito sem qualquer preocupação quanto aos imperativos do dever.
Esses, em geral, são aqueles que cuidam de conservar alva rotulagem, na planície das convenções terrenas, muita vez à custa do sofrimento e da dilaceração de almas inúmeras que lhes servem de degraus, na escalada às vantagens de ordem material e perecível, para despertarem, depois, infortunados e desiludidos, nos braços da realidade amargurosa que a morte descerra, invariável.
Nós outros, no entanto, não ignoramos que a Nova Revelação nos infunde energias renovadas ao coração e à consciência, com os impositivos de trabalho e responsabilidade no ministério árduo do aperfeiçoamento e sabemos, agora, que o homem é o decretador de suas próprias dores e dispensador das bênçãos que o cercam, de vez que a Lei de Justiça e Equilíbrio expressa em cada um de nós o resultado de nossa sementeira através do tempo.
É indispensável a nossa conversão substancial e efetiva ao Espírito do Senhor, materializando-lhe os ensinos e acatando-lhe os desígnios, onde estivermos, para que, na condição de servidores de um país extremamente favorecido, possamos conduzir o estandarte da reabilitação espiritual do mundo que se perde, rico de glórias perecíveis e mendigo de luz e de amor.
Esperando que a paz do Mestre permaneça impressa em nossas vidas, que devem traduzir mensagens cristalinas e edificantes de seu Evangelho Salvador, terminamos, invocando-vos a cooperação em favor do mundo melhor.
- Entrelacemos corações em torno da Boa-Nova que nos deve presidir às experiências na atividade comum! Enquanto os discípulos distraídos se digladiam, desprezando, insensatos, a bênção das horas, ouçamos a voz do Senhor que nos compele à disciplina no serviço do bem, revelando-se, glorioso e dominante, em seus sacrifícios da cruz, aprendendo, finalmente, em companhia d’Ele que só o Amor é bastante forte para defender a vida que só o Perdão vence o ódio, que somente a Fé renasce de todas as cinzas das ilusões mortas e que somente o Sacrifício Individual, em Seu Nome, é o caminho da ressurreição a que fomos chamados.
Unamo-nos, desse modo, não apenas em necessidades e dores para rogar o sustento e o socorro da Misericórdia Divina, mas estejamos integrados na fraternidade legítima, a fim de que não estejamos recebendo em vão as graças do Céu, convertendo nossas vidas em abençoadas colunas do templo Espiritual de Jesus na Terra, portadores devotados de sua paz, de sua luz, de sua confiança e de seu amor.
Realizem outros as longas incursões do raciocínio, através da investigação intelectual, respeitável e digna, no enriquecimento do cérebro do mundo. E aproveitando-lhes o esforço laborioso, no que possuem de venerável e santo, não nos esqueçamos do Evangelho vivo, em ação.
a b
07 - Jesus Em Ação
Irmãos surgem que, de vez em vez, se afirmam contra a beneficência, alegando que enquanto nos consagramos ao socorro material esquecemos os nossos deveres na iluminação do espírito. E enfileiram justificativas às quais a Doutrina Espírita, revivendo os ensinamentos de Jesus, opõe naturais contraditas.
Senão vejamos:
A Assistência social, no fundo, deve pertencer ao poder público.
Indiscutivelmente, ninguém nega isso, mas se estamos na praia, vendo companheiros que se afogam, como recusar cooperação ao serviço de salvamento, quando estamos aptos a nadar?
Não adianta dar migalhas aos irmãos em penúria, cujas necessidades são gigantescas.
Consideremos, porém, que se não começarmos as boas obras, com o pouco de nossas possibilidades reduzidas, nunca aprenderemos a desligar-nos do muito para colaborar a benefício dos outros.
Desaconselhável auxiliar criaturas viciadas com o que apenas conseguiríamos conservá-las em perturbação e desequilíbrio.
Quem de nós poderá medir a própria resistência, ante as provações do caminho e de que modo apreciaríamos a conduta do próximo para conosco, se fôssemos nós os caídos em tentação?
Muitos dos chamados pedintes mostram mais necessidade de trabalho que de auxílio.
Claramente justa a alegação, mas muito raramente quem diz isso demonstra a disposição ou a possibilidade de ser o empregador.
Devemos cogitar exclusivamente do ensino moral, de maneira a cumprir as tarefas de orientação que o Espiritismo nos preceitua.
Sem dúvida, é obrigação nossa colaborar, acima de tudo, a obra educativa do espírito eterno, mas é importante lembrar que o próprio Cristo se empenhou a alimentar a multidão faminta, ao ministrar-lhe as Boas Novas de Salvação, de vez que não há cabeça tranqüila sobre estômago atormentado.
Compreendemos isso e, quanto nos seja possível, entreguemo-nos à escola do amparo fraterno, com todas as nossas forças, reconhecendo que estamos cada vez mais necessitados de caridade, em todos os sentidos, de uns para com os outros, a fim de revelarmos que o Espiritismo é realmente Jesus em ação.
a b
08 - Kardec e A Espiritualidade
Todas as missões dignificadoras dos grandes vultos humanos são tarefas do Espírito. Precisamos compreender a santidade do esforço de um Edson, desenvolvendo as comodidades da civilização, o elevado alcance das experiências de um Marconi, estreitando os laços da fraternidade, através da radiotelefonia. Apreciando, porém, o labor da inteligência humano, é obrigados a reconhecer que nem todas essas missões têm naturalmente uma repercussão imediata e grandiosa no Mundo dos Espíritos.
Daí a razão de examinarmos o traço essencial do trabalho confiado a Allan Kardec. Suas atividades requisitaram a atenção do planeta e, simultaneamente, repercutiram nas esferas espirituais, onde formaram legiões de colaboradores, em seu favor.
Sua tarefa revelava ao homem um mundo diferente. A morte, o problema milenário das criaturas, perdia sua feição de esfinge. Outras vozes falavam da vida, além dos sepulcros. Seu esforço espalhava-se pelo orbe como a mais consoladora das filosofias; por isso mesmo, difundia-se, no plano invisível, como vasto movimento de interesses divinos.
Ninguém poderá afirmar que Kardec fosse o autor do Espiritismo. Este é de todos os tempos e situações da humanidade. Entretanto, é ele o missionário da renovação cristã. Com esse título, conquistado a peso de profundos sacrifícios, cooperou com Jesus para que o mundo não morresse desesperado. E, contribuindo com a sua coragem, desde o primeiro dia de labor, organizaram-se nos círculos da espiritualidade os mais largos movimentos de cooperação e de auxílio ao seu esforço superior.
Legiões de amigos generosos da humanidade alistaram-se sob a sua bandeira cooperando na causa imortal. Atrás de seus passos, movimentou-se um mundo mais elevado, abriram-se portas desconhecidas dos homens, para que a ciência e a fé iniciassem a marcha da suprema união, em Jesus Cristo.
Não somente o orbe terrestre foi beneficiado. Não apenas os homens ganharam esperanças. O mundo invisível alcançou, igualmente, consolo e compreensão.
Os vícios da educação religiosa prejudicaram as noções da criatura, relativamente ao problema da alma desencarnada. As idéias de um céu injustificável e de um inferno terrível formaram a concepção do espírito liberto, como sendo um ser esquecido da Terra, onde amou, lutou e sofreu.
Semelhante convicção contrariava o espírito de seqüência da natureza. Quem atendeu as determinações da morte, naturalmente, continua, além, suas lutas e tarefas, no caminho evolutivo, infinito. Quem sonhou, esperou, combateu e torturou-se não foi a carne, reduzida à condição de vestido, mas a alma, senhora da Vida Imortal.
Essa realidade fornece uma expressão do grandioso alcance “da missão de Allan Kardec”, considerada no Plano Espiritual.
É justo o reconhecimento dos homens e não menos justo o nosso agradecimento aos seus sacrifícios “de missionário”, ainda porque apreciamos a atividade de um apóstolo sempre vivo.
Que Deus o abençoe.
O Evangelho nos fala que os anjos se regozijam quando se arrepende um pecador. E a tarefa santificada de Allan Kardec tem consolado e convertido milhares de pecadores, neste mundo e no outro.
a b
09 - Espiritismo e Liberdade
É indispensável que o Espiritismo, na função de Consolador Prometido pelo Cristo de Deus, veio aos homens, sobretudo, para liberá-los da treva de espírito.
Que emancipação, porém, será essa?
Surpreenderíamos, acaso, a Nova Revelação procedendo à maneira de um louco que dinamitasse um cais antigo, à frente do mar, sem edificar, antes, um cais novo que o substituísse?
Claro que os princípios espíritas acatam os diques de natureza moral construídos pelas tradições nobres do mundo, destinados à segurança da alma, conquanto lhes observe a vulnerabilidade do fundo, vulnerabilidade essa sempre suscetível de favorecer os mais fortes contra os mais fracos e de apoiar os astutos em prejuízo dos simples de coração; embora isso, levantam barreiras de proteção muito mais sólidas, a benefício das criaturas, porquanto nos esculpem no próprio ser a responsabilidade de sentir e pensar, falar e agir, diante da vida.
Ninguém se iluda quanto à independência instalada pela Doutrina Espírita, nos recessos de cada um de nós, sempre que nos creiamos no falso direito de praticar inconveniências em regime de impunidade.
Muito mais que os preconceitos e tabus, instituídos pelos homens, como frágeis recursos de preservação dos valores espirituais na Terra, o Espiritismo Cristão nos entrega dispositivos muito mais seguros e sensatos, na garantia da própria defesa, de vez que não nos acena com céus ou infernos exteriores, mas, ao revés disso, nos faz reconhecer que o céu ou o inferno são criações nossas funcionando indiscutivelmente em nós mesmos.
Enfim, para não nos alongarmos em teorização excessiva, observemos tão-somente que o espírita é livre, não para realizar indiscriminadamente tudo quanto deseje, e sim para fazer aquilo que deve.
a b
10 - Na Lide Espiritual
Enquanto buscais a revelação da verdade, em nossa companhia, procuramos convosco o auxílio fraterno para fazer mais luz, no engrandecimento comum.
Não duvideis. O Espiritismo não traz apenas o adocicado conteúdo da consolação particular, nos círculos do estímulo ao bem, acentuando o socorro celeste à personalidade humana. Abre-nos infinita esfera de serviço, em cujas atividades não podemos prescindir do apoio recíproco, no crescimento da renovação.
Nos alicerces do edifício doutrinário, compreendíamos a curiosidade e o deslumbramento, acima da responsabilidade e do dever, mas agora que nos abeiramos do primeiro centenário da Codificação Kardequiana, é imperioso reconhecer a necessidade de introspecção, a fim de que não percamos de vista os sagrados objetivos que nos reúnem.
Nossas linhas de ação se interpenetram com identidade de obrigações para todos. E nós outros, os desencarnados, não desempenhamos a função de mordomos especiais ou de mensageiros privilegiados, diante de Jesus. Somos simplesmente vossos companheiros, constituindo convosco o exército pacífico de trabalhadores, convocados ao reajustamento espiritual da Humanidade.
À frente dos nossos olhos se desdobram enormes contingentes de luta benemérita, aguardando-nos a boa vontade, na difusão da nova luz.
A superstição levanta fortaleza de sombra, os dogmas cristalizam os impulsos embrionários da fé e a indiferença congela preciosas oportunidades de desenvolvimento e santificação, em toda parte.
É indispensável que nosso espírito de fraternidade se manifeste, restabelecendo a verdade através do amor e reestruturando os caminhos da fé por intermédio das obras edificantes.
Não há tarefas maiores. Todas são grandes pela essência divina que expressam.
O fio d’água que flui ignorado da vertente dum abismo regenera o deserto de vasta extensão. Um gesto humilde opera milagres de solidariedade. Uma simples palavra costuma apagar o incêndio emotivo, prestes a converter-se em conflito integral.
Há missões salvadoras que se dirigem ao mundo inteiro, ao lado de outras que se circunscrevem a uma raça ou a uma comunidade lingüística. Observamos tarefas que abrangem uma nação ou que se limitam a determinado grupo de indivíduos, num lar, numa oficina ou numa instituição.
Em todos os lugares, precisamos solucionar problemas, corrigir deficiências e restaurar as bases simples da vida. Por isso mesmo, o nosso ministério, antes de tudo, é o da renovação mental do mundo, sob a inspiração do “amai-vos uns aos outros”, segundo o padrão do Mestre que se consagrou à nossa elevação, até à Cruz.
Por enquanto, nem todos entenderão a nossa mensagem. Milhões de companheiros dormem ainda, anestesiados nos templos de pedra ou narcotizados pelos filtros da ignorância, que em todos os tempos procura concentrar sobre si as vantagens materiais do mundo inteiro, com desvairado esquecimento da própria alma.
Seremos defrontados pelas arremetidas da sombra, pelas ciladas sutis do mal, pelos grilhões do ódio, pelo venenoso visco da discórdia e pelos tóxicos da incompreensão; entretanto, o nosso programa fundamental permanece traçado na revivescência do Evangelho Redentor. Nosso esforço primordial se movimenta na renovação das causas, afim de que o campo de efeitos se modifique para o bem. Somos trabalhadores, dentro da selva compacta de nossos próprios erros, onde encontramos a soma total dos nossos enganos e compromissos de todos os séculos, lutando, retificando, sofrendo, aprendendo, burilando e aperfeiçoando, no rumo do porvir regenerado. Velhos padecentes dos choques de retorno, cabe-nos agir constantemente, à claridade purificadora da Boa-Nova, renovando a sementeira de espiritualidade no presente, construindo a glorificação do nosso próprio futuro.
Compreendemos a função do fenômeno a serviço do esclarecimento individual e coletivo, contudo, acima dele, apontamos a necessidade de mãos operosas e serenas na extensão do bem salvador.
A hora é de concretização dos nossos princípios superiores, de materialização objetiva das mensagens de fraternidade que nossa confortadora Doutrina oferece em todas as direções.
Coloquemos o plano externo na posição secundária que lhe compete, devolvendo ao espírito o justo destaque e a importância imperecível que a vida lhe outorga.
Cabe-nos gerar novas causas de sublimação na vida pública, no trabalho consuetudinário, no jardim doméstico e no templo vivo dos corações.
Colaborar com Jesus é o nosso dever essencial, plasmando o Evangelho nos pensamentos, palavras e atos da vida, em todos os recantos de nossa marcha para a frente, para que o Espiritismo não se faça mero mostruário de verbalismo fascinante; reduzi-lo a mecanismo de simples investigação ou a florilégio literário seria transformar o nosso movimento bendito de idéias e realizações edificantes num parque de assombrações técnicas, de êxtase inoperante ou de personalismo ocioso e improdutivo.
A atualidade é para nós, portanto, de serviço avançado, não só nas manifestações da inteligência, mas também nas criações do sentimento com as tarefas da educação, da assistência, da solidariedade e da compreensão, no apostolado do amor.
Na lide espiritual, desse modo, não existem prerrogativas para qualquer de nós.O único privilégio de que desfrutamos é o de trabalhar sem recompensa, de auxiliar sem distinção e aprender sempre, procurando em nosso aprimoramento próprio o aperfeiçoamento da Humanidade inteira.
Eis porque, enquanto buscais a verdade em nossas palavras, procuramos o trabalho em vossas mãos.
Em sagrado conjunto de fraternidade, somos os instrumentos do Amigo Celestial que prometeu auxiliar-nos até ao “fim dos séculos”.
Resta-nos, pois, rogar a Ele que nos ensine a atingir convicções sadias e a clarear os nossos ideais, a fim de que não estejamos tão-somente a crer e a confortar-nos, mas também a servir incessantemente na edificação do Iluminado e Eterno Reino do Amor
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11 - O Espiritismo e a Fé Religiosa
Desde os mais íntimos alicerces dos povos civilizados, vemos a paixão religiosa desbordar-se em tempestades sanguinolentas.
Em Tebas, no Egito ancião, habitualmente, encalhava-se o Nilo de cadáveres insepultos em razão dos imensos conflitos na via pública, em nome de Âmon, considerado então como sendo a mais completa imagem de Deus Misericordioso, Sábio e Justo.
Em Nínive, na Assíria, todas as grandes comemorações, diante de Baal, interpretado por representante do Criador Todo Poderoso, eram regadas a sangue humano.
Todas as grandes cidades do pretérito distante não fugiam à regra, estabelecendo dolorosos processos de crueldade e perseguição em nome do Pai Celeste, entre irmãos que se deveriam amar.
E o próprio Cristianismo a pretexto de modificar os velhos cultos da antiguidade, padeceu, por trezentos anos consecutivos, o martírio e a flagelação na pessoa de seus adeptos, que pagavam com a própria existência a grandeza de seus princípios.
E o impulso de chacina e de intolerância não ficou entre aqueles que a História categoriza à conta de cultores da indiferença e do paganismo, porque são de ontem, na evolução dos tempos modernos, as fogueiras e pelourinhos, as forças e os cárceres com que se puniam entre os companheiros da mesma seara a diversidade do pensamento e o anseio de nova interpretação.
No Espiritismo, porém, que revive a lição do Cristo, que auxiliou sem remuneração, que perdoou infinitamente e que aceitou a morte no extremo sacrifício para que a justiça no mundo se banhasse de caridade, a fé nasce pura e sublime, sem qualquer nuvem de arrogância ou de prepotência, de vez que ao espírita cabe o dever de acompanhar o Divino Mestre da Manjedoura e da Cruz, retribuindo a incompreensão com o entendimento e o ódio com o amor, por reconhecer, com Jesus, que somente a verdadeira fraternidade com incessante serviço no Bem Eterno será capaz de extinguir na Terra o velho cativeiro às trevas da ignorância, a fim de que a Humanidade penetre, vitoriosa, o domínio Soberano da Felicidade e da Luz.
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12 - Obstáculos
Que admitisse no Espiritismo uma doutrina de acomodação com o menor esforço, na qual as inteligências desencarnadas devessem andar cativas aos caprichos dos homens, decerto vaguearia, irresponsável, à distância da Lei.
Descerrando o intercâmbio entre os dois mundos, a nossa fé não vem pulverizar os óbices do caminho que para todos nós funciona à conta de estímulo e advertência, amparo e lição.
Achamo-nos todos, encarnados e desencarnados, na sublime escola da vida.
Cada criatura estagia na experiência que abraçou ou na luta que preferiu.
Não seria lógico subtrair o remédio ao doente, o serviço ao trabalhador e o ensinamento ao aprendiz.
Somos prisioneiros de nossas próprias culpas, não burlaremos a justiça.
Todavia, pela nossa conduta no trilho espinhoso da regeneração, podemos conquistar amplo socorro da confiança divina.
Eis, porque, antes de pedir, devemos merecer, para que nossos apelos não se apaguem no clamor do petitório vazio e inútil.
Para rogar proteção é preciso também proteger.
Somos elos da imensa corrente da evolução que em se perdendo no abismo insondável das origens repousa, com segurança, nas mãos misericordiosas e justas de Deus.
Desse modo, suplicando auxílio aos Benfeitores que nos auxiliam, não nos esqueçamos de que é necessário auxiliar aos irmãos menos felizes que gravitam em torno de nossos passos.
Os obstáculos são bênçãos em que podemos receber e dar, conforme a nossa atitude perante a vida.
Recolhendo sem revolta as pedras do caminho e oferecendo ao espinheiro as flores de nossa fé, atraímos o concurso do Céu e inspiramos a paz e o perdão, a bondade e a renúncia àqueles que nos partilham as dificuldades e o sonho de cada dia.
Cada um de nós permanece, portanto, entre os instrutores do monte da luz e os necessitados do vale das trevas, com a possibilidade de amealhar as bênçãos do Alto e com a obrigação de distribuí-las.
Em razão disso, no estudo da assistência salvadora que nos é administrada, não nos esqueçamos de que outros irmãos, em problemas e lutas mais aflitivas que as nossas, estão esperando por nossa fraternidade e por nosso auxílio que somente ao preço de humildade e de amor conseguiremos distender.
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13 - Perante A Codificação Kardequiana
A Codificação Kardequiana orienta o homem para o “construir-se”, de dentro para fora. Com semelhante afirmativa numerosas legendas repontam do plano individual, ampliando os distritos do mundo interior para a reestruturação da personalidade, ante o continuísmo da vida.
Edificação íntima, em cujo levantamento a criatura pode concluir de maneira instintiva:
Deus é nosso Pai, mas a certeza disso não me exonera da responsabilidade de burilar-me, trabalhar e viver;
moro presentemente na Terra, com a obrigação de compartilhar-lhe o progresso; entretanto, na essência, sou um espírito eterno, evoluindo na direção da Imortalidade;
atravesso atualmente caminhos determinados pela lei da causa e efeito; contudo, já sei que desfruto o privilégio de renovar o próprio destino pelo uso sensato da liberdade de escolha;
travo duras batalhas no campo externo, mas compreendo que a maior de todas elas é a que sustento, dia por dia, no campo íntimo, procurando a vitória sobre mim mesmo;
possuo a família do coração; todavia em todos os seres da estrada, encontro irmãos verdadeiros, componentes da família maior a que todos pertencemos – a Humanidade;
sofro desafios e obstáculos, nas vias planetárias, porém guardo a certeza de que a alegria imperecível é a meta que me cabe atingir;
desilusões de provas me assaltam comumente a senda diária; no entanto, reconheço que preciso aceitá-las por lições valiosas, necessárias, aliás, à minha própria formação espiritual, na academia da experiência;
o mundo por vezes passa por transições inesperadas e rudes, todavia, tenho a paz imutável, no âmago do ser;
o tempo é a minha herança incorruptível;
a morte ser-me-á simplesmente estreito corredor para o outro lado da vida.
Revela-nos Jesus que o Reino de Deus está dentro de nós, e Allan Kardec complementa-lhe a obra ensinando-nos a desentranhá-lo, através de ação e discernimento, serviço e amor, a fim de que o homem sublimado consiga sublimar a Terra para que a Terra, por fora e por dentro, se incorpore, em espírito e verdade, ao Reino dos Céus.
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14 - Pregação Espírita
Espíritas!
Não esqueçamos do círculo individual, por onde a nossa pregação doutrinária há de começar, eficiente e segura, se não estamos dispostos a perder o patrimônio da Divina Revelação no ruidoso vendaval do verbalismo sem obras.
Extingamos a preguiça, confiando-nos ao trabalho.
Combatamos o orgulho, simplificando a própria existência.
Guerreemos a vaidade, dobrando a própria cerviz à frente da Lei do Senhor.
Cessemos a maldade, instalando a bondade pura em nossos pensamentos e ações.
Apaguemos a mentira, afeiçoando-nos à verdade que ampara e alimenta sem vergastar ou ferir.
Anulemos o egoísmo, cultivando a abnegação.
Persigamos a intolerância, devotando-nos ao bem dos nossos adversários.
Impugnemos a separatividade, fazendo-nos mais irmãos daqueles que ainda não conseguem ler a vida pela cartilha dos nossos desejos.
Tercemos armas contra a discórdia, rendendo mais amplo culto à humildade.
Nossa Doutrina de Amor e Luz é um campo imenso aberto à renovação humana.
Em suas leiras há quem somente pesquisa e há quem se demora no trato com os próprios interesses inferiores.
Nós, porém, que recolhemos no trabalho da fé a oportunidade bendita da própria sublimação nos padrões do Divino Mestre, saibamos associar o coração e a inteligência no empreendimento da regeneração que nos é necessária, buscando, acima de tudo, em nossos templos doutrinários, a força de superação das próprias deficiências, a fim de que possamos estruturar novos caminhos, na Eternidade Vitoriosa.
Não nos esqueçamos do ponto expressivo que somos na formação da linha de vanguarda que hoje se bate na Terra pelo soerguimento do mundo.
E, atendendo à pregação viva do ideal que esposamos, através de nossos sentimentos e ideais, palavras e testemunhos, estejamos convictos de que procurando conduzir o estandarte do Espiritismo à senda de nossos semelhantes, seremos por nossa vez conduzidos por ele à conquista de nossa Imortalidade!
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15 - Propaganda Espírita
Decerto que a Doutrina Espírita é luz da Vida Maior, acenando às criaturas aprisionadas na sobra da experiência terrestre, para que despertem e vivam...
Flama de verdade eterna a desfraldar-se, vitoriosa, reconstitui o Cristianismo em sua simplicidade, exumando o Evangelho das cinzas a que foi sentenciado pela incúria da tradição e pela casuística do sacerdócio...
Por isso mesmo, todas as suas atividades puras são nobres e respeitáveis, seja na pompa fenomênica da experimentação multiforme em que o terreno das convicções sadias surge corretamente pavimentado para a segurança da fé, ou seja, em sua exposição filosófico-religiosa, em que a Justiça Divina se destaca, triunfante, alicerçada na soberania do discernimento e da lógica...
Ainda assim, é preciso considerar que toda idéia salvadora reclama arautos que lhe substancializem as lições e o Espiritismo não pode efetivamente fugir à regra.
Se foste, desse modo, chamado a servi-lo, em favor dos companheiros de Humanidade que clamam em desalento, por novas florações de fraternidade e esperança, não olvides que não te basta ao êxito nos compromissos abraçados a mera atitude intelectual dos que se convenceram quanto à imortalidade além-túmulo.
É imprescindível te faças o pregoeiro diligente das realidades redentoras que te enriquecem o modo de ser, motivo pelo qual apenas a tua própria renovação para o bem será mensagem convincente para quantos te observam a vida.
Versarás brilhantemente, os temas da Eternidade, discutirás com fervor, induzindo o próximo à modificação de pontos de vista, contemplarás, deslumbrado, as mais sublimes doações do Céu à Terra e guardarás contigo abençoadas certezas do espírito no rumo do amanhã que se te descerra divino, entretanto, só o teu próprio exemplo, ao clarão dos princípios que esposas, valorizará com segurança os recursos de que disponhas no campo de tua fé, porquanto somente a Luz na própria vida é linguagem suficientemente clara e exata para conduzir aos outros a Luz que o Senhor, através de nós, se propõe, generoso a cultivar e estender.
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16 - Reverenciando Kardec
Antes de Kardec, embora não nos faltasse a crença em Jesus, vivíamos na Terra atribulados por flagelos da mente, quais os que expomos:
o combate recíproco e incessante entre os discípulos do Evangelho;
o cárcere das interpretações literais;
o espírito de seita;
a intransigência delituosa;
o obsessão sem remédio;
o anátema nas áreas da filosofia e da ciência;
o cativeiro aos rituais;
a dependência quase absoluta dos templos de pedra para as tarefas da edificação íntima;
a preocupação de hegemonia religiosa;
a tirania do medo, ante as sombrias perspectivas do além-túmulo;
o pavor da morte, por suposto fim da vida.
Depois de Kardec, porém, com a fé raciocinada nos ensinamentos de Jesus, o mundo encontra no Espiritismo Evangélico benefícios incalculáveis, como sejam:
a libertação das consciências;
a luz para o caminho espiritual;
a dignificação do serviço ao próximo;
o discernimento;
o livre acesso ao estudo da lei de causa e efeito, com a reencarnação explicando as origens do sofrimento e as desigualdades sociais;
o esclarecimento da mediunidade e a cura dos processos obsessivos;
a certeza da vida após a morte;
o intercâmbio com os entes queridos domiciliados no Além;
a seara da esperança;
o clima da verdadeira compreensão humana;
o lar da fraternidade entre todas as criaturas;
a escola do Conhecimento Superior, desvendando as trilhas da evolução e a multiplicidade das “moradas” nos domínios do Universo.
Jesus – o amor.
Kardec – o raciocínio.
Jesus – o Mestre.
Kardec – o Apóstolo.
Seguir o Cristo de Deus, com a luz que Allan Kardec acende em nossos corações, é a norma renovadora que nos fará alcançar a sublimação do próprio espírito, em louvor da Vida Maior.
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17 - Saudando Allan Kardec
“Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a Verdade”...
Jesus – João: 16-13.
Não ignorava Jesus que a Sua Mensagem padeceria o assalto das trevas.
Sabia que ao contato da poeira terrestre, converter-se-ia a fonte da sublime revelação em viciada corrente.
Não desconhecia que os homens se Lhe apropriariam do verbo santificante para situá-lo a serviço de paixões subalternas.
Anteviu as multidões enganadas e sofredoras, para as quais não mais se multiplicaria o pão do amor puro, confundidas pela penúria e pela discórdia.
Ele que rogara: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, pressentia as guerras de ódio que se desencadeariam na Terra, em nome do Evangelho Renovador. E Ele que ensinara: “Perdoai setenta vezes sete”, adivinhava que os homens acenderiam fogueiras de perseguição, trucidando-se reciprocamente, acreditando exaltar-Lhe a memória.
Quase ao despedir-se dos companheiros simples e fervorosos que o seguiriam mais tarde até à dilaceração e ao sacrifício, percebeu que os cérebros vigorosos da sombra viriam nos passos do tempo senhorear-Lhe o rebanho de corações singelos, estabelecendo entre eles dolorosa escravidão espiritual.
Previu que o nevoeiro da perturbação humana Lhe abafaria transitoriamente a Sementeira Divina e que, um dia, em Seu Nome, o forte oprimiria o fraco e o fraco revoltar-se-ia contra o forte, que muitos dos melhores trabalhadores do mundo coroar-se-iam de vaidade, à frente dos infelizes, e que os infelizes, sem exemplo para a regeneração necessária, desmandar-se-iam na loucura e na delinqüência.
Foi por isso que, em marcha inquietante para o supremo testemunho de lealdade a Deus, apiedou-se de quantos Lhe estenderiam a Obra de Redenção e prometeu-lhes a vinda do Consolador – O Espírito da Verdade – que Lhe restabeleceria a esperança e aclararia a palavra.
Dezenove séculos caíram na cinza das horas e, fiel ao compromisso assumido, enviou Jesus à Terra o Explicador Anunciado na Doutrina Espírita, cuja bandeira libertadora vem partindo as algemas da incompreensão e do fanatismo no campo da Humanidade.
Eis porque, diante do primeiro centenário de “O Livros dos Espíritos”, a chave sublime do Cristianismo Restaurado, reverenciamos Allan Kardec, o Apóstolo da Verdade e Mensageiro da Luz.
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18 - Unificação
Trabalhar pela Unificação dos órgãos doutrinários do Espiritismo no Brasil é prestar relevante serviço à causa do Evangelho Redentor junto à Humanidade.
Reunir elementos dispersos, concatená-los e estruturar-lhes o plano de ação, na ordem superior que nos orienta o idealismo, é serviço de indiscutível benemerência porque demanda sacrifício pessoal, oração e vigilância na fé renovadora e, sobretudo, elevada capacidade de renunciação.
À maneira do trabalhador fiel que se desvela no amanho da terra, subtraindo-lhe os espinheiros e drenando-lhe os pantanais, cooperar na associação de energias da fraternidade legítima – como o Espírito do Senhor legislando em nosso mundo íntimo, representa obrigação de quantos se propõem a contribuir na reconstrução planetária, a caminho da Terra regenerada e feliz.
Trabalhemos entrelaçando os pensamentos e ações, dentro dessas diretrizes superiores de confraternização substancial.
A tarefa é complexa, bem o sabemos.
O ministério exige lealdade e decisão. Todavia, sem o suor do servo fiel, a casa pereceria sem pão.
Lembremo-nos de que a vitória do Evangelho, ainda não alcançada, começou com a congregação de doze aprendizes, humildes e sinceros, em torno de um Mestre Sábio, Paciente, Generoso e Justo, e continuemos, cada qual de nós, no posto de trabalho que nos compete, atentos às determinações Divinas, da execução do próprio dever.
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19 - Vejamos
Meu amigo:
Quando o seu coração não se retirar do cenáculo da fé viva que o Espiritismo com Jesus nos oferece, com o pensamento elevado para as atividades de amanhã; com a boa disposição para servir com o Mestre Divino, nas variadas realizações de cada dia; com o impulso da fraternidade que lhe descortina o “lado melhor” do irmão de luta; com a força de auxiliar o próximo na solução de suas necessidades; com a bondade precisa à sementeira de luz que regenera o trabalho digno em todos os lugares onde a perturbação ainda se infiltra; com a palavra de compreensão que sabe afastar o mal e exaltar o bem; com o sentimento melhorado para tornar o seu caminho mais claro e a sua fé mais serena o no trato com os ensinamentos positivos que o mundo reserva a todos os aprendizes de Jesus, em curso mais avançado de boa vontade e bom ânimo, há qualquer ângulo menos lúcido em sua capacidade de sintonia com o Evangelho ou existe algum erro entre a sua atitude e o padrão do Mestre que fomos chamados a atender.
Ore e vigie, sirva sem reclamar e auxilie a todos.
E peçamos ao Senhor esclarecimento e socorro, porque, em cada santuário do Evangelho Redivivo, os trabalhadores de toda classe podem e devem receber a melhoria necessária ao esforço de agora para a glorificação de nossa tarefa depois.
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20 - Vigiemos
Espíritas!
Realmente a vós outros, servidores do Senhor no Evangelho Restaurado, muito se pedirá no amanhã pelo muito que recolheis no hoje de serviço.
Cultivai o campo da verdade, orientando-vos pelo amor puro e simples.
A gleba dos corações humanos espera, sobretudo, por vosso exemplo, a fim de submeter-se ao arado do Divino Cultivador.
Não façais da responsabilidade que vos honra a existência, trilho de acesso ao personalismo estreito de quantos se confinam à dominação do próprio egoísmo e à exaltação do próprio orgulho.
Não olvideis que a cisânia é venenoso escalracho, sufocando-vos as melhores promessas, e de que os melindres pessoais são vermes devoradores, destruindo-vos a confiança e a caridade nascentes.
Usai a charrua da fraternidade e do sacrifício no amanho da Terra Espiritual que o Senhor vos confia, atentos ao desempenho dos próprios deveres, sem azedume e sem crítica, à frente daqueles que vos defrontam a marcha, de vez que o fel do escárnio e o vinagre da ironia constituem, por si, o fermento da discórdia, em cujo torvelinho de sombras todas as esperanças da Boa Nova sucumbem, esquecidas e aniquiladas.
O suor no dever retamente cumprido vacinar-nos-á contra todas as campanhas de crueldade e ridículo e a humildade com a tolerância construtiva ser-vos-á divina força, assegurando-nos o serviço e renovando-nos a fé.
Lembremo-nos do Cristo e sigamos para frente!
É indispensável esquecer o mal, amparando-lhe as vítimas, para que o mal não nos aprisione em seu visco de sombra.
E, amando e servindo, auxiliando e compreendendo, estaremos na companhia do Mestre que, ainda mesmo no martírio e na Cruz, refletia consigo a Luz Excelsa de Deus, em constante alegria e em perene ressurreição.
Fim
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