Divaldo P. Franco
(Joanna de Angelis)
SOS Família
AGRADECIMENTOS
À FEB, que nos permitiu gentilmente transcrever algumas páginas dos livros Estudos Espíritas
e Lampadário Espírita.
PREFÁCIO
O grupo familial é conquista nobre do processo antropológico-sociológico no qual o ser
humano cresce.
Superando o período das atrações sexuais sem objetivos dignificantes, no qual os filhos
permaneciam sob os cuidados da mãe, na condição de crias, sem que ela tivesse
responsabilidade de educá-los e desenvolvê-los, a poliandria passou a predominar, gerando o
matriarcado que prevaleceu soberano com resultados perturbadores.
Mais tarde, a poligamia, inferiorizando a mulher, respondeu pelos filhos que ficavam
abandonados, sem a paternidade responsável.
A monogamia veio facultar o exercício da dignificação no lar, através dos cônjuges,
oferecendo à prole os recursos da educação e os valores ético-morais que favorecem os celeiros
da paz e da felicidade possíveis de serem fruídos na Terra.
A família, por essa razão, tornou-se a célula máter do organismo social onde se desenvolvem
os sentimentos, a inteligência, e o espírito desperta para as realizações superiores da vida.
Por isso, toda vez que a família se desestrutura a sociedade cambaleia, a cultura degenera, a
civilização se corrompe...
A tecnologia atual aliada à ciência, que ensejou a conquista do Cosmo, infelizmente não
pôde impedir o deterioramento da família, vitimada por inúmeros fatores que se têm enraizado
no organismo social de forma cruel.
Como conseqüência, uma vaga de perturbação varre o planeta, ameaçando as belas
construções dos milênios e quase tudo reduzindo a escombros e loucura.
A família, na condição de grupo consangüíneo, está formulando um vigoroso pedido de
socorro à sociedade em geral.
Esse S.O.S. alcança as mentes e os corações, convidando à reflexão e á ação imediata no
dever e no bem; à seriedade no que tange aos compromissos domésticos; à renúncia em
benefício da prole; à abnegação, ampliando as áreas do amor no lar; ao respeito recíproco dos
cônjuges, que se comprometeram educar o clã feliz...
Graças à promiscuidade sexual que desvaira as criaturas, no atual contexto social,
parecendo conduzir os seres humanos a um retrocesso moral, os filhos, órfãos de pais vivos e
irresponsáveis, clamam por justiça e amor, carentes e frustrados, usando a linguagem alucinada,
que se expressa pela forma de violência, de agressividade, de exibicionismo, de irreverência
hauridos nas drogas aditivas, no álcool, na exaustão dos sentidos, a tudo perturbando com
vandalismo e insensibilidade.
Lançamos um S.O.S. para a família!
Os nossos queridos irmãos Miguel e Terezinha de Jesus Sardano reuniram neste livro
várias páginas sobre a família, examinada sob enfoques e ópticas diferentes.
Os Espíritos, preocupados com a família, têm nos vindo, através dos tempos, advertindo,
orientando, conclamando os homens e mulheres, à preservação do lar, mais apertando, cada
dia, esse laço, que prende um parceiro ao outro, ambos responsáveis pela estrutura familial.
Consideramos de muita oportunidade o presente trabalho, tendo em vista a valiosa
contribuição da Organização Mundial das Nações Unidas, considerando este como o Ano
Internacional da Família, com vistas a uma sociedade mais ditosa do futuro, após a sua
consolidação moral e recuperação da dignidade perdida. Não trazem novidades, nem
representam grande cota sociológica ou psicológica para o gravíssimo problema, representando,
entretanto, um tijolo a mais que colocamos no edifício em construção da família nova e
plenificada.
Joanna de Ângelis
(Página psicografada pelo Médium Divaldo P. Franco, na reunião mediúnica do Centro
Espírita, Caminho da Redenção, na noite de 23 de maio de 1994, em Salvador-Bahia).
Laços de Família
Pergunta 774. Há pessoas que, do fato de os animais ao cabo de certo tempo abandonarem
suas crias, deduzem não serem os laços de família, entre os homens, mais do que resultado dos
costumes sociais e não efeito de uma lei da Natureza. Que devemos pensar a esse respeito?
Resposta: “Diverso do dos animais é o destino do homem. Por que, então, querem identificálo
com estes? Há no homem alguma coisa mais, além das necessidades físicas: há a
necessidade de progredir. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais
apertados tomam os primeiros. Eis por que os segundos constituem uma lei da Natureza. Quis
Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos.” (205)
Pergunta 775. Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de
família?
Resposta: “Uma recrudescência do egoísmo.” (“O Livro dos Espíritos” Allan Kardec)
Introdução
A magna questão da família é tema de sempre. Apesar de sabermos que a família é a
unidade básica da sociedade, sua célula primeira, sua importância merece permanente vigilância
e estudo de todos os segmentos da coletividade humana. Não pretendemos, aqui, fazer um
estudo enciclopédico ou histórico da família, já que este livro não é o único, tampouco visa
esgotar uma matéria tão complexa e delicada que envolve os dramas de almas que se amam e
se odeiam na escalada das múltiplas existências. Considerando, sobretudo, que a família é um
laboratório vivo de experiências e aprendizado, uma verdadeira escola para educação dos
espíritos, na sua ansiosa busca da felicidade, que ainda não é deste mundo, mas pode nele
começar. Devemos considerar, outrossim, que a visão espírita de família, difere das filosofias
não reencarnacionistas. O Espiritismo apresenta a família como o instituto abençoado em que as
criaturas humanas se reencontram com um programa de provas e expiações, com vistas ao
futuro. Por outro lado, a família, na concepção espírita, antes de ser a reunião de corpos é o
reduto sagrado de espíritos imortais. A visão reencarnacionista traz um entendimento que motiva
as criaturas ao esforço pelo próprio progresso moral, através da renúncia, da boa vontade, da
ajuda mútua, do perdão, da tolerância e muito mais, se se alcançar um grau de consciência
desperta. A grande batalha que se trava no imo do ser humano, ainda se debita ao egoísmo, que
gera os grandes problemas e até tragédias de conseqüências imprevisíveis.
A consciência desperta pela razão e pela lógica dos ensinamentos espíritas leva a criatura a
aceitar certas conjunturas decorrentes do passado, apresentadas em forma de antipatia, ódio,
ciúmes, entre familiares. Igualmente se explicam atrações sexuais doentias entre pais e filhos,
entre irmãos, adultério e até os incestos podem ter raízes em encarnações anteriores. Da
mesma forma se podem explicar a simpatia, a afinidade e o amor que brotam espontaneamente
entre as criaturas.
Daí, o presente trabalho visa trazer uma contribuição aos pais, educadores, evangelizadores
e à sociedade, numa tentativa de encontrar soluções que minorem o sofrimento oriundo da
ignorância do que seja família e sua missão na Terra.
A família não é somente foco de lutas e problemas, mas também fonte geradora de
felicidade quando há entre todos os seus componentes a iluminação de princípios espirituais
superiores.
Reunimos nesta obra o que já foi escrito pelos Espíritos Joanna de Ângelis, Amélia
Rodrigues, Benedita Fernandes, Manoel Philomeno de Miranda, em diversos títulos editados
pela LEAL, pela FEB e outras editoras. Destacamos, igualmente, algumas questões inseridas na
codificação Kardequiana e entrevistas com Divaldo Pereira Franco abordando a família e os
problemas correlatos, como: pais, filhos, casamento, separação, vícios, educação para a vida e
para a morte, resgate, influência da religião, sexo, evangelização infantil e juvenil, entre outros,
já que o lar é a primeira escola e os pais os primeiros educadores.
Como já vem sendo amplamente divulgado, este é o Ano internacional da Família, instituído
pela ONU, em seu calendário oficial. A USE, União das Sociedades Espíritas do Estado de São
Paulo, lançou no ano passado, a campanha “Viver em Família” com o slogan “Vamos apertar
(mais) este laço”. A FEB também se engajou neste movimento, dando sua contribuição valiosa
ao nível nacional. A USE tem promovido conferências e seminários em todo o Estado de São
Paulo a respeito deste tema. O próprio Divaldo Franco realizou várias palestras abordando o
assunto em vários pontos do País.
S.O.S. FAMÍLIA procura colocar em suas mãos, num volume, aquilo que está contido em
diversos livros psicografados por Divaldo Franco.
S.O.S. FAMILIA é mais uma antologia de trabalho dos Bons Espíritos, interessados em
ajudar a criatura humana na condição de espírito eterno, na conquista da plenitude interior e da
felicidade absoluta, destinação de todos nós.
Miguel de Jesus Sardano
1
Família
Conceito — Grupamento de raça, de caracteres e gêneros semelhantes, resultado de
agregações afins, a família genericamente, representa o clã social ou de sintonia por identidade
que reúne espécimes dentro da mesma classificação. Juridicamente, porém, a família se deriva
da união de dois seres que se elegem para uma vida bem comum, através de um contrato,
dando origem à genitura da mesma espécie. Pequena república fundamental para o equilíbrio da
grande república humana representada pela nação.
A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras de bom comportamento dentro
do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus membros, favorável à perfeita harmonia
que deve vigir sob o mesmo teto em que se agasalham os que se consorciam.
Animal social, naturalmente monogâmico, o homem, na sua generalidade, somente se
realiza quando comparte necessidades e aspirações na conjuntura elevada do lar.
O lar, no entanto, não pode ser configurado como a edificação material, capaz de oferecer
segurança e paz aos que aí se resguardam. A casa são a argamassa, os tijolos, a cobertura, os
alicerces e os móveis, enquanto o lar são renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se
permitem àqueles que se vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consangüíneo,
decorrente da união.
A família, em razão disso, é o grupo de espíritos normalmente necessitados, desajustados,
em compromisso inadiável para a reparação, graças à contingência reencarnatória. Assim,
famílias espirituais freqüentemente se reúnem na Terra em domicílios físicos diferentes, para as
realizações nobilitantes com que sempre se viram a braços os construtores do Mundo.
Retornam no mesmo grupo consangüíneo os espíritos afins, a cuja oportunidade às vezes
preferem renunciar, de modo a concederem aos desafetos e rebeldes do passado o ensejo da
necessária evolução, da qual fruirão após as renúncias às demoradas uniões no Mundo
Espiritual...
Modernamente, ante a precipitação dos conceitos que generalizam na vulgaridade os valores
éticos, tem-se a impressão de que paira rude ameaça sobre a estabilidade da família.
Mais do que nunca, porém, o conjunto doméstico se deve impor para a sobrevivência a
benefício da soberania da própria Humanidade.
A família é mais do que o resultante genético... São os ideais, os sonhos, os anelos, as lutas
e árduas tarefas, os sofrimentos e as aspirações, as tradições morais elevadas que se cimentam
nos liames da concessão divina, no mesmo grupo doméstico onde medram as nobres
expressões da elevação espiritual na Terra.
Quando a família periclita, por esta ou aquela razão, sem dúvida a sociedade está a um
passo do malogro...
Histórico — Graças ao instinto gregário, o homem, por exigência da preservação da vida, viuse
conduzido à necessidade da cooperação recíproca, a fim de sobreviver em face das ásperas
circunstâncias nos lugares onde foi colocado para evoluir. A união nas necessidades inspirou as
soluções para os múltiplos problemas decorrentes do aparente desaparelhamento que o fazia
sofrer ao lutar contra os múltiplos fatores negativos que havia por bem superar.
Formando os primitivos agrupamentos em semi-barbárie, nasceram os pródromos das
eleições afetivas, da defesa dos dependentes e submissos, surgindo os lampejos da aglutinação
familial.
Dos tempos primitivos aos da Civilização da Antiguidade Oriental, os valores culturais
impuseram lentamente as regras de comportamento em relação aos pais —representativos dos
legisladores, personificados nos anciãos; destes para os filhos — pela fragilidade e dependência
que sempre inspiram; entre irmãos — pela convivência pacífica indispensável à fortaleza da
espécie; ou reciprocamente entre os mais próximos, embora não subalternos ao mesmo teto,
num desdobramento do próprio clã, ensaiando os passos na direção da família dilatada...
A Grécia, aturdida pela hegemonia militar espartana, não considerou devidamente a união
familial, o que motivou a sua destruição, ressalvada Atenas, que, não obstante amando a arte e
a beleza, reservava ao Estado os deveres pertencentes à família, facultando-a sobreviver por
tempo maior, mas não lobrigando atingir o programa estético e superior a que se propuseram os
seus excelentes filósofos.
A Roma coube essa indeclinável tarefa, a princípio reservada ao patriciado, e depois, através
de leis coordenadas pelo Senado, que alcançaram as classes agrícolas, militares, artísticas e a
plebe, facultando direitos e deveres que, embora as hediondas e infelizes guerras, se foram
fixando no substrato social e estabelecendo os convênios que o amor sancionou e fixou como
técnica segura de dignificação do próprio homem, no Conjunto da família.
A Idade Média, caracterizada pela supremacia da ignorância, desfigurou a família com o
impositivo de serem doados os filhos à Igreja e ao suserano dominador, entibiando por séculos a
marcha do espírito humano.
Aos enciclopedistas foi reservada a grandiosa missão de, em estabelecendo os códigos dos
direitos humanos, reestruturarem a família em bases de respeito para a felicidade das criaturas.
Todavia, a dialética materialista e os modernos conceitos sensualistas, proscrevendo o
matrimônio e prescrevendo o amor livre, voltam a investir contra a organização familial por meio
de métodos aberrantes, transitórios, e certo, mas que não conseguirão, em absoluto, qualquer
triunfo significativo.
São da natureza humana a fidelidade, a cooperação e a fraternidade como pálidas
manifestações do amor em desdobramento eficaz. Tais valores se agasalham, sem dúvida, no
lar, no seio da família, onde se arregimentam forças morais e se caldeiam sentimentos na forja
da convivência doméstica.
Apesar de a poliandria haver gerado o matriarcado e a promiscuidade sexual feminina, a
poligamia, elegendo o patriarcado, não foi de menos infelizes conseqüências.
Segundo o eminente jurista suíço Bachofen, que procedeu a pesquisas históricas
inigualáveis sobre o problema da poliandria, a mulher sentiu-se repugnada e vencida pela
vulgaridade e abuso sexual, de cuja atitude surgiria o regime monogâmico, que ora é aceito por
quase todos os povos da Terra.
Conclusão — A família, todavia, para lograr a finalidade a que se destina, deve começar
desde os primeiros arroubos da busca afetiva, em que as realizações morais devem sublevar às
sensações sexuais de breve durabilidade.
Quando os jovens se resolvem consorciar, impelidos pelas imposições carnais, a futura
família já padece ameaça grave, porqüanto, em nenhuma estrutura se fundamenta para resistir
aos naturais embates que a união a dois acarreta, no plano do ajustamento emocional e social,
complicando-se, naturalmente, quando do surgimento da prole.
Fala-se sobre a necessidade dos exames pré-nupciais, sem dúvida necessários, mas com
lamentável descaso pela preparação psicológica dos futuros nubentes em relação aos encargos
e às responsabilidades esponsalícias e familiares.
A Doutrina Espírita, atualizando a lição evangélica, descortina na família esclarecida
espiritualmente a Humanidade ditosa do futuro promissor.
Sustentá-la nos ensinamentos do Cristo e nas Lições da reta conduta, apesar da loucura
generalizada que irrompe em toda pane, é o mínimo dever de que ninguém se pode eximir.
Joanna de Ângelis
ESTUDO E MEDITAÇÃO:
“Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?
“É um progresso na marcha da Humanidade.”
(O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 695.)
“(...)Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da
comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas
encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo
Espírito, do que se o fossem pelo sangue (...).“
(O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo 14º, item 8.)
2
Vida em Família
Os filhos não são cópias xerox dos pais, que apenas produzem o corpo, graças aos
mecanismos do atavismo biológico.
As heranças e parecenças físicas são decorrências dos gametas, no entanto, o caráter, a
inteligência e o sentimento procedem do Espírito que se corporifica pela reencarnação, sem
maior dependência dos vínculos genéticos com os progenitores.
Atados por compromissos anteriores, retornam, ao lar, não somente aqueles seres a quem se
ama, senão aqueloutros a quem se deve ou que estão com dívidas....
Cobradores empedernidos surgem na forma fisiológica, renteando com o devedor, utilizandose
do processo superior das Leis de Deus para o reajuste de contas, no qual, não poucas vezes,
se complicam as situações, por indisposições dos consortes...
Adversários reaparecem como membros da família para receber amor, no entanto, na batalha
das afinidades padecem campanhas de perseguição inconsciente, experimentando o pesado
ônus da antipatia e da animosidade.
A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências reparadoras, na qual a felicidade e
a dor se alternam, programando a paz futura.
Nem é o grupo da bênção, nem o élan da desdita.
Antes é a escola de aprendizagem e redenção futura.
Irmãos que se amam, ou se detestam, pais que se digladiam no proscênio doméstico,
genitores que destacam uns filhos em detrimento dos outros, ou filhos que agridem ou amparam
pais, são Espíritos em processo de evolução, retornando ao palco da vida física para a
encenação da peça em que fracassaram, no passado.
A vida é incessante, e a família carnal são experiências transitórias em programação que
objetiva a família universal.
Abençoa, desse modo, com a paciência e o perdão, o filho ingrato e calceta. Compreende
com ternura o genitor atormentado que te não corresponde às aspirações. Desculpa o esposo
irresponsável ou a companheira leviana, perseverando ao seu lado, mesmo que o ser a quem te
vinculas queira ir-se adiante. Não o retenhas com amarras de ódio ou de ressentimento. Irá
além, sim, no entanto, prossegue tu, fiel, no posto, e amando...
Não te creias responsável direto na provação que te abate ante o filho limitado, física ou
mentalmente. Tu e ele sois comprometidos perante os códigos Divinos pelo pretérito espiritual. O
teu corpo lhe ofereceu os elementos com que se apresenta, porém, foi ele, o ser espiritual, quem
modelou a roupagem na qual comparece para o compromisso libertador. Ante o filhinho
deficiente não te inculpes. Ama-o mais e completa-lhe as limitações com os teus recursos,
preenchendo os vazios que ele experimenta. Suas carências são abençoados mecanismos de
crescimento eterno. Faze por ele, hoje, o que descuidaste antes.
A vida em família é oportunidade sublime que não deve ser descuidada ou malbaratada.
Com muita propriedade e irretorquível sabedoria, afirmou Jesus, ao doutor da Lei: “Ninguém
entrará no reino dos céus, se não nascer de novo...
E a Doutrina Espírita estabelece com segurança: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir
sempre — é a lei. Fora da caridade não há salvação.”
Joanna de Ângelis
3
Casamento e Família
Diante das contestações que se avolumam, na atualidade, pregando a reforma dos hábitos e
costumes, surgem os demolidores de mitos e de Instituições, assinalando necessidade de uma
nova ordem que parece assentar as bases na anarquia.
A onda cresce e o tresvario domina, avassalador ameaçando os mais nobres patrimônios da
cultura, da ética e da civilização, conquistados sob ônus pesados, no largo processo histórico da
evolução do homem.
Os aficionados da revolução destruidora afirmam que valores ora considerados, são falsos,
quando não falidos, que os mesmos vêm comprimindo o indivíduo, a sociedade e as massas,
que permanecem jungidos ao servilismo e a hipocrisia, gerando fenômenos alucinatórios e
mantendo, na miséria de vários matizes, grande parte da humanidade.
Entre as instituições que, para eles, se apresentam ultrapassadas, destacam o matrimônio e
a família, propondo a promiscuidade sexual, que disfarçam com o nome “amor livre”, e a
independência do jovem, imaturo e inconseqüente, sob a justificativa de liberdade pessoal, que
não pode nem deve ser asfixiada sob os impositivos da ordem, da disciplina, da educação...
Excedendo-se, na arbitrariedade das propostas ideológicas ainda não confirmadas pela
experiência social nem pela convivência na comunidade, afirmam que a criança e o jovem não
são dependentes quanto parecem, podendo defender-se e realizar-se, sem a necessidade da
estrutura familiar, o que libera os pais negligentes de manterem os vínculos conjugais,
separando-se tão logo enfrentam insatisfações e desajustes, sem que se preocupem com a
prole.
- Não é necessário que analisemos os problemas existenciais destes dias, nem que façamos
uma avaliação dos comportamentos alienados, que parecem resultar da insatisfação, da rebeldia
e do desequilíbrio, que grassam em larga escala.
Não podemos, no entanto, numa visão apressada, mediante exame superficial, acusar o
casamento dos fracassos das uniões carnais, sem o amadurecimento emocional dos parceiros,
nem o instituto da família, ainda vítima de tal situação.
A monogamia é conquista de alto valor moral da criatura humana, que se dignifica pelo amor e
respeito ao ser elegido, com ele compartindo alegrias e dificuldades, bem-estar e sofrimentos,
dando margem às expressões da afeição profunda, que se manifesta sem a dependência dos
condimentos sexuais, nem dos impulsos mais primários da posse, do desejo insano.
Utilizando-se da razão, o homem compreende que a vida biológica é uma experiência muito
rápida, que ainda não alcançou biotipos de perfeição, graças ao que, é frágil, susceptível de
dores, enfermidades, limitações, sendo, os estágios da infância como o da juventude,
preparatórios para os períodos do adulto e da velhice.
Assim, o desgaste e o abuso de agora tornam-se carência e infortúnio mais tarde, na maquinaria
que deve ser preservada e conduzida com morigeração.
Aprofundando o conceito sobre a vida, se lhe constata a anterioridade ao berço e a continuidade
após o túmulo, numa realidade de interação espiritual com objetivos definidos e inamovíveis, que
são os mecanismos inalienáveis do progresso, em cujo contexto tudo se encontra sob
impositivos divinos expressos nas leis universais.
Desse modo, baratear, pela vulgaridade, a vida e atirá-la a situações vexatórias, destrutivas,
constitui crime, mesmo quando não catalogado pelas leis da justiça, exaradas nos transitórios
códigos humanos.
O matrimônio é uma experiência emocional que propicia a comunhão afetiva, da qual resulta
a prole sob a responsabilidade dos cônjuges, que se nutrem de estímulos vitais, intercambiando
hormônios preservadores do bem-estar físico e psicológico.
Não é, nem poderia ser, uma incursão ao país da felicidade, feita de sonhos e de ilusões.
Representa um tentame, na área da educação do sexo, exercitando a fraternidade e o
entendimento, que capacitam as criaturas para mais largas incursões na área do relacionamento
social.
Ao mesmo tempo, a família constitui a célula experimental, na qual se forjam valores
elevados e se preparam os individuos para uma convivência salutar no organismo universal,
onde todos nos encontramos fixados.
A única falência, no momento, é a do homem, que perturba, e, insubmisso, deseja subverter
a ordem estabelecida, a seu talante, em vãs tentativas de mudar a linha do equilíbrio, dando
margem às alienações em que mergulha.
Certamente, muitos fatores sociológicos, psicológicos, religiosos e econômicos contribuíram
para este fenômeno. Não obstante, são injustificáveis os comportamentos que investem contra
as instituições objetivando demoli-las, ao invés de auxiliar de forma edificante em favor da
renovação do que pode ser recuperado, bem como da transformação daquilo que se encontre
ultrapassado.
O processo da evolução é inevitável. Todavia, a agressão, pela violência, contra as conquistas
que devem ser alteradas, gera danos mais graves do que aqueles que buscam corrigir.
O lar, estruturado no amor e no respeito aos direitos dos seus membros, é a mola
propulsionadora do progresso geral e da felicidade de cada um, como de todos em conjunto.
Para esse desiderato, são fixados compromissos de união antes do berço, estabelecendo-se
diretrizes para a família, cujos membros se voltam a reunir com finalidades específicas de
recuperação espiritual e de crescimento intelecto-moral, no rumo da perfeição relativa que todos
alcançarão.
Esta é a finalidade primeira da reencarnação. A precipitação e o desgoverno das emoções
respondem pela ruptura da responsabilidade assumida, levando muitos indivíduos ao naufrágio
conjugal e à falência familiar por exclusiva responsabilidade deles mesmos.
Enquanto houver o sentimento de amor no coração do homem — e ele sempre existirá, por
ser manifestação de Deus ínsita na vida — o matrimônio permanecerá, e a família continuará
sendo a célula fundamental da sociedade.
Envidar esforços para a preservação dos valores morais, estabelecidos pela necessidade do
progresso espiritual, é de todos que, unidos, contribuirão para uma vida melhor e uma
humanidade mais feliz, na qual o bem será resposta primeira de todas as aspirações.
Benedita Fernandes
4
Responsabilidade no Matrimônio
Interrogam, muitos discípulos do Evangelho: não é mais lícito o desquite ou o divórcio, em
considerando os graves problemas conjugais, à manutenção de um matrimônio que culmine em
tragédia? Não será mais conveniente uma separação, desde que a desinteligência se instalou,
ao prosseguimento de uma vida impossível? Não têm direito, ambos os cônjuges, a diversa
tentativa de felicidade, ao lado de outrem, já que se não entendem?
E muitas outras inquirições surgem, procurando respostas honestas para o problema que
dia-a-dia mais se agrava e avulta.
Inicialmente, deve ser examinado que o matrimônio em linhas gerais é uma experiência de
reequilíbrio das almas no orçamento familiar. Oportunidade de edificação sob a bênção da prole
— e, quando fatores naturais coercitivos a impedem, justo se faz abrir os braços do amor
espiritual às crianças que gravitavam ao abandono— para amadurecer emoções, corrigindo
sensações e aprendendo fraternidade.
Não poucas vezes os nubentes, mal preparados para o consórcio matrimonial, dele esperam
tudo, guindados ao paraíso da fantasia, esquecidos de que esse é um sério compromisso, e todo
compromisso exige responsabilidades recíprocas a benefício dos resultados que se deseja
colimar.
A “lua de mel” é imagem rica da Ilusão, porqüanto, no período primeiro do matrimônio,
nascem traumas e desajustes, Inquietações e receios, frustrações e revoltas, que
despercebidos, quase a Princípio, espocam mais tarde em surdas guerrilhas ou batalhas
lamentáveis no lar, em que o ódio e o ciúme explodem, descontrolados, impondo soluções, sem
dúvida, que sejam menos danosas do que as trágicas.
Todavia, há que meditar, no que concerne aos compromissos de qualquer natureza, que a
sua interrupção, somente adia a data da justa quitação. No casamento, não raro, o adiamento
promove o ressurgir do pagamento em circunstâncias mais dolorosas no futuro em que, a
pesadas renúncias e a fortes lágrimas, somente, se consegue a solução.
Indispensável que para o êxito matrimonial sejam exercitadas singelas diretrizes de
comportamento amoroso.
Há alguns sinais de alarme que podem informar a situação de dificuldade antes de agravar a
União conjugal:
Silêncios injustificáveis quando os esposos estão juntos;
Tédio inexplicável ante a presença do companheiro ou da companheira;
Ira disfarçada quando o Consorte ou a consorte emite uma opinião;
Saturação dos temas habituais, versados em casa, fugindo para intérminas leituras de jornais
ou inacabáveis novelas de televisão;
Irritabilidade contumaz sempre que se avizinha do lar;
Desinteresse pelos problemas do outro;
Falta de intercâmbio de opiniões;
Atritos contínuos que ateiam fagulhas de irascibilidade, capazes de provocar incêndios em
forma de agressão desta ou daquela maneira...
E muitos outros mais.
Antes que as dificuldades abram distâncias e os espinhos da incompreensão produzam
feridas, justo que se assumam atitudes de lealdade, fazendo um exame das ocorrências e
tomando-se providências para sanar os males em pauta.
Assim, a honestidade lavrada na sensatez, que manda “abrir-se o coração” um para com o
outro, consegue corrigir as deficiências e reorganizar o panorama afetivo.
É natural que ocorram desacertos. Ao invés, porém, de separação, reajustamento.
A questão não é de uma “nova busca” mas de redescobrimento do que já possui.
Antes da decisão precipitada, ceder cada um, no que lhe concerne, a benefício dos dois.
Se o companheiro se desloca, lentamente, da família, refaça a esposa o lar, tentando nova
fórmula de reconquista e tranqüilidade.
Se a companheira se afasta, afetuosamente, pela irritação ou pelo ciúme, tolere o esposo,
conferindo-lhe confiança e renovação de idéias.
O cansaço, o cotidiano, a apatia são elementos constritivos da felicidade.
Nesse sentido, o cultivo dos ideais nobilitantes consegue estreitar os laços do afeto e os
objetivos superiores unem os corações, penetrando-os de tal forma, que os dois se fazem um, a
serviço do bem. E em tal particular, o Espiritismo — a Doutrina do Amor e da Caridade por
excelência — consegue renovar o entusiasmo das criaturas, já que desloca o indivíduo de si
mesmo, ajuda-o na luta contra o egoísmo e concita-o à responsabilidade ante as leis da vida,
impulsionando-o ao labor incessante em prol do próximo. E esse próximo mais próximo dele é o
esposo ou a esposa, junto a quem assumiu espontaneamente o dever de amar, respeitar e
servir.
Assim, considerando, o Espiritismo, mediante o seu programa de ideal cristão, é senda
redentora para os desajustados e ponte de união para os cônjuges, em árduas lutas, mas que
não encontraram a paz.
Joanna de Ângelis
(Lisboa-Portugal, em 15 de agosto de 1970).
5
Problemas no Matrimônio
A exceção dos casos de relevantes compromissos morais, o matrimônio, na Terra, constitui
abençoada oportunidade redentora a dois, que não se pode desconsiderar sem gravames
complicados.
Em toda união conjugal as responsabilidades são recíprocas, exigindo de cada nubente uma
expressiva contribuição, a benefício do êxito de ambos, no tentame encetado.
Pedra angular da família — o culto dos deveres morais—, a construção do lar nele se faz
mediante as linhas seguras do enobrecimento dos cônjuges, objetivando o equilíbrio da prole.
Somente reduzido número de pessoas, se prepara convenientemente, antes de intentar o
consórcio matrimonial; a ausência desse cuidado, quase sempre, ocasiona desastre imediato de
conseqüências lamentáveis.
Açulados por paixões de vária ordem, que se estendem desde a atribulação sexual aos
jogos dos interesses monetários, deixam-se colher por afugentes desvarios, que redundam
maior débito entre os consorciados e em relação à progenitura...
Iludidos, face aos recursos da atual situação tecnológica, adiam, de início, o dever da
paternidade sob justificativas indébitas, convertendo o tálamo conjugal em recurso para o prazer
como para a leviandade, com que estiolam os melhores planos por momento acalentados...
Logo despertam, espicaçados por antipatias e desajustes que lhes parecem irreversíveis,
supõem que somente a separação constitui fórmula solucionadora quando não derrapam nas
escabrosidades que conduzem aos lúgubres crimes passionais.
Com a alma estiolada, quando a experiência se lhes converteu em sofrimento, partem para
novos conúbios amorosos, carregando lembranças tormentosas, que se transformam em
pesadas cargas emocionais desequilibrantes.
Alguns, dentre os que jazem vitimados por acerbas incompreensões e anseiam refazer o
caminho, se identificam com outros espíritos aos quais se apegam, sôfregos, explicando tratarse
de almas gêmeas ou afins, não receando desfazer um ou dois lares para constituir outro, por
certo, de efêmera duração.
Outros, saturados, debandam na direção de aventuras vis, envenenando-se vagarosamente.
Enquanto a juventude lhes acena oportunidades, usufruem-nas, sem fixações de afeto, nem
intensidade de abnegação. Surpreendidos pela velhice prematura, que o desgaste lhes impõe,
ou chegados à idade do cansaço natural, inconformam-se, acalentando pessimismo e cultivando
os resíduos das paixões e mágoas que os enlouquecem, a pouco e pouco.
O amor é de origem divina. Quanto mais se doa, mais multiplica sem jamais exaurir-se.
Partidários da libertinagem, porém, empenham-se em insensata cruzada para torná-lo livre,
como se jamais não o houvera sido. Confundem-no com sensualidade e pensam convertê-lo
apenas em instinto primitivo, padronizado pelos impulsos da sexualidade atribulada.
Liberdade para amar, sem dúvida, disciplina para o sexo, também.
Amor é emoção, sexo sensação.
Compreensivelmente, mesmo nas uniões mais ajustadas, irrompem desentendimentos,
incompreensões, discórdias que o amor suplanta.
O matrimônio, desse modo, é uma sociedade de ajuda mútua, cujos bens são os filhos —
Espíritos com os quais nos encontramos vinculados pelos processos e necessidades da
evolução.
Pensa, portanto, refletindo antes de casar. Reflexiona, porém, muito antes de debandar,
após assumidos os compromissos.
As dúvidas projetadas para o futuro sempre surgem em horas inesperadas com juros
capitalizados. O que puderes reparar agora não transfiras para amanhã. Enquanto luz tua
ensancha, produze bens valiosos e não te arrependerás.
Tendo em vista a elevação do casamento, Jesus abençoou-o em Caná com a Sua presença,
tornando-o como parte inicial do Seu ministério público entre os homens.
E Paulo, o discípulo por excelência, pensando nos deveres de incorruptibilidade matrimonial,
escreveu, conforme epístola número 5, aos efésios, nos versículos 22 e 25: “as mulheres sejam
sujeitas a seus maridos, como ao Senhor... Assim também devem os maridos amar a suas
mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo “. Em tão
nobre conceito não há subserviência feminina nem pequenez masculina, antes, ajustamento dos
dois para a felicidade no matrimônio.
Joanna de Ângelis
6
Desquite e Divórcio
Na sua generalidade o matrimônio é laboratório de reajustamentos emocionais e oficina de
reparação moral, através dos quais Espíritos comprometidos se unem para elevados
cometimentos no ministério familial.
Sem dúvida, reencontros de Espíritos afins produzem vida conjugal equilibrada, em clima de
contínua ventura, através da qual missionários do saber e da bondade estabelecem a união,
objetivando nobres desideratos, em que empenham todas as forças.
Outras vezes, programando a elaboração de uma tarefa relevante para o futuro deles
mesmos, se penhoram numa união conjugal que lhes enseje reparação junto aos desafetos e às
vítimas indefesas do passado, para cuja necessidade de socorrer e elevar compreendem ser
inadiável.
Fundamental, entretanto, em tais conjunturas, a vitória dos cônjuges sobre o egoísmo,
granjeando recursos que os credenciem a passos mais largos, na esfera das experiências em
comum.
Normalmente, porém, através do consórcio matrimonial, exercitam-se melhor as virtudes
morais, que devem ser trabalhadas a benefício do lar e da compreensão de ambos os
comprometidos na empresa redentora. Nessas circunstâncias a prole, quase sempre vinculada
por desajustes pretéritos, é igualmente convocada ao buril da lapidação, na oficina doméstica,
de cujos resultados surgem compromissos vários em relação ao futuro individual de cada
membro do clã, como do grupo em si mesmo.
Atraídos por necessidades redentoras, mas despreparados para elas, os membros do
programa afetivo, não poucas vezes, descobrem, de imediato a impossibilidade de continuarem
juntos.
De certo modo, a precipitação resultante do imediatismo materialista que turba o
discernimento, quase sempre pelo desequilíbrio no comportamento sexual, é responsável pelas
alianças de sofrimento, cuja harmonia difícil, quase sempre, culmina em ódios ominosos ou
tragédias lamentáveis.
Indispensável, no matrimônio, não se confundir paixão com amor, interesse sexual com
afeição legítima.
Causa preponderante nos desajustes conjugais o egoísmo, que se concede valores e
méritos superlativos em detrimento do parceiro a quem se está vinculado.
Mais fascinados pelas sensações brutalizantes do que pelas emoções enobrecidas, fogem
os nubentes desavisados um do outro a princípio pela imaginação e depois pela atitude,
abandonando a tolerância e a compreensão, de pronto iniciando o comércio da animosidade ou
dando corpo às frustrações, que degeneram em atritos graves e enfermidades perturbadoras.
Comprometessem-se, realmente, a ajudar-se com lealdade, estruturassem-se nos
elementos das lições evangélicas, compreendessem e aceitassem como legítimas a transitoriedade
do corpo e o valor da experiência provacional, e se evitariam incontáveis dramas,
inumeráveis desastres do lar, que ora desarticulam as famílias e infelicitam a sociedade.
O casamento é contrato de deveres recíprocos, em que se devem empenhar os
contratantes a fim de lograrem o êxito do cometimento.
A sociedade materialista, embora disfarçada de religiosa, facilita o rompimento dos liames
que legalizam o desposório por questões de somenos importância, facultando à grande maioria
dos comprometidos perseguirem sensações novas, com que desbordam pela via de alucinações
decorrentes de Sutis como vigorosas obsessões resultantes do comportamento passado e do
desassisamento do presente
O divórcio como o desquite são, em conseqüência soluções legais para o que moralmente
já se encontra separado.
Evidente, que, tal solução é sempre meritória, por evitar atitudes mais infelizes que
culminam em agravamento de conduta para os implicados na trama dos reajustamentos de que
não se evadirão.
Volverão a encontrarse, sem dúvida, quiçá em Posição menos afortunada, oportunamente
Imprescindível que, antes da atitude definitiva para o desquite ou o divórcio, tudo se envide em
prol da reconciliação, inda mais considerando quanto os filhos merecem que os pais se
imponham uma União respeitável, de cujo esforço muito dependerá a felicidade deles.
Períodos difíceis Ocorrem em todo e qualquer empreendimento humano.
Na dissolução dos vínculos matrimoniais, o que padeça a prole, será considerado como
responsabilidade dos genitores, que se somassem esforços poderiam ter contribuído com
proficiência, através da renúncia pessoal, para a dita dos filhos.
Se te encontras na difícil conjuntura de uma decisão que implique em problema para os teus
filhos, pára e medita. Necessitam de tu, mas, também do outro membro-base da família.
Não te precipites, através de soluções que às vezes complicam as situações.
Dá tempo a que a outra parte desperte, concedendo-lhe ensancha para o reajustamento.
De tua parte permanece no posto.
Não sejas tu quem tome a decisão.
A humildade e a perseverança no dever conseguem modificar comportamentos,
reacendendo a chama do entendimento e do amor, momentaneamente apagada.
Não te apegues ao outro, porém, até a consumação da desgraça.
Se alguém não mais deseja, espontaneamente, seguir contigo, não te transformes em
algema ou prisão.
Cada ser ruma pela rota que melhor lhe apraz e vive conforme lhe convém. Estará, porém,
onde quer que vá, sob o clima que merece.
Tem paciência e confia em Deus.
Quando se modifica uma circunstância ou muda uma situação, não infiras disso que a vida,
a felicidade, se acabaram.
Prossegue animado de que aquilo que hoje não tens será fortuna amanhã em tua vida.
Se estiveres a sós e não dispuseres de forças, concede-te outra oportunidade, que
enobrecerás pelo amor e pela dedicação.
Se te encontrares ao lado de um cônjuge difícil ama-o, assim mesmo, sem deserção,
fazendo dele a alma amiga com quem estás incurso pelo pretérito, para a construção de um
porvir ditoso que a ambos dará a paz, facultando, desse modo, a outros Espíritos que se
revincularão pela carne, a ocasião excelente para a redenção.
Joanna de Ângelis
7
Anticonceptivos e Planejamento Familiar
Alegações ponderosas que merecem consideração vêm sendo arroladas para justificar-se a
planificação familiar através do uso dos anticonceptivos de variados tipos. São argumentos de
caráter sociológico, ecológico, econômico, demográfico, considerando-se com maior vigor os
fatores decorrentes das Possibilidades de alimentação numa Terra tida como semi-exaurida de
recursos para nutrir aqueles que se multiplicam geometricamente com espantosa celeridade...
Entusiastas sugerem processos definitivos de impedimento procriativo pela esterilização dos
casais com dois filhos, sem maior exame da questão, no futuro, transformando o indivíduo e a
sua função genética em simples máquina que somente deve ser acionada para o prazer, nem
sempre capaz de propiciar bem-estar e harmonia.
Sem dúvida, estamos diante de um problema de alta magnitude, que deve ser, todavia,
estudado à luz do Evangelho e não por meios dos complexos cálculos frios da precipitação
materialista.
O homem pode e deve programar a família que deseja e lhe convém ter: número de filhos,
período propício para a maternidade, nunca, porém, se eximirá aos imperiosos resgates a que
faz juz, tendo em vista o seu próprio passado.
Melhor usar o anticonceptivo do que abortar...
Os filhos, porém, não são realizações fortuitas, decorrentes de circunstâncias secundárias,
na vida. Procedem de compromissos aceitos antes da reencarnação pelos futuros progenitores,
de modo a edificarem a família de que necessitam para a própria evolução. É-lhes lícito adiar a
recepção de Espíritos que lhes são vinculados, impossibilitando mesmo que se reencarnem por
seu intermédio.
Irrisão, porém, porqüanto as Soberanas Leis da Vida dispõem de meios para fazer que
aqueles rejeitados venham por outros processos à porta dos seus devedores ou credores, em
circunstâncias quiçá mui dolorosas, complicadas pela irresponsabilidade desses cônjuges que
ajam com leviandade, em flagrante desconsideração aos códigos divinos.
Assevera-se que procriar sem poder educar, ter filhos sem recursos para cuidá-los,
aumentando, incessantemente, a população da Terra, representa condená-los à miséria e
a sociedade do futuro a destino inditoso...
Ainda aí o argumento se reveste do sofisma materialista, que um dia inspirou Malthus na
sua conceituação lamentável e no não menos infeliz néo-malthusianismo que adveio
posteriormente...
Ninguém pode formular uma perfeita visão do porvir para a Humanidade, e os futurólogos
que aí se encontram têm estado confundidos pelas próprias previsões, nas surpresas
decorrentes da sucessão dos acontecimentos ainda nos seus dias...
A cada instante recursos novos e novas soluções são encontrados para os problemas
humanos.
Escasso, porém, é o amor nos corações, cuja ausência fomenta a fome de fraternidade, de
afeição e de misericórdia, responsável pelas misérias que se multiplicam em toda parte.
Não desejamos aqui reportar-nos às guerras de extermínio, que o próprio homem tem
engendrado e de que se utiliza a divindade para manter o equilíbrio demográfico, nem tão-pouco
às calamidades sísmicas que irrompem cada dia Voluptuosas, Convidando a salutares reflexões.
Quando um filho enriquece um lar, traz com ele os valores indispensáveis à própria evolução,
Intrínseca e extrinsecamente.
A cautela de que se utilizam alguns pais, aguardando comodidade financeira para pensar na
progenitura, nem sempre é válida, graças às próprias vicissitudes que conduzem uns à ruína
econômica e outros à abastança por meios imprevisíveis.
A programação da família não pode ser resultado da Opinião genérica dos demógrafos
assustados, mas fruto do diálogo franco e ponderado dos próprios cônjuges, que assumem a
responsabilidade pelas atitudes de que darão conta.
O uso dos anticonceptivos como a implantação no útero de dispositivos anticoncepcionais,
mesmo quando considerado legal, higiênico, necessita Possuir caráter moral, a fim de se
evitarem danos de variada conseqüência ética.
A chamada necessidade do “amor livre” vem impondo o uso desordenado dos anovulatórios,
de certo modo favorecendo a libertinagem humana, a degenerescência dos Costumes, a
desorganização moral, e, conseqüentemente, social dos homens, que se tornam vulneráveis à
delinqüência, à violência e às múltiplas frustrações que ora infelicitam verdadeiras multidões que
transitam inermes e hebetadas, arrojando-se aos abusos alucinógenos à loucura, ao suicídio...
Experiências de laboratório com roedores, aos quais se permitem a procriação incessante,
hão demonstrado que a Superpopulação em espaços exíguos os alucina e os incapacita.
Daí defluem, apressados, que o mesmo se vem dando com o homem, para justificarem a
falência dos valores éticos, e utilizando-se da observação a fim de fomentarem a necessidade de
impedir-se a natalidade espontânea... Em realidade, porém, os fatos demonstram que, com o
homem, o fenômeno não é análogo.
Quando os recursos do Evangelho forem realmente utilizados, a pacificação e a concórdia
dominarão os corações...
Antes das deliberações finalistas quanto à utilização deste ou daquele recurso
anticonceptivo, no falso pressuposto de diminuir a densidade de habitantes, no mundo, recorre
ao Evangelho, ora e medita.
Deus tudo provê, sem dúvida, utilizando o próprio homem para tais fins.
Em toda parte na Criação vigem as leis do equilíbrio, particularmente do equilíbrio biológico.
Olha em derredor e concordarás.
Os animais multiplicam-se, as espécies surgem ou desaparecem por impositivos evolutivos,
naturais. Muitas espécies ora extintas sofreram a sanha do homem desarvorado. Mas a ordem
divina sempre programou com sabedoria a reprodução e o desaparecimento automático.
O fantasma da fome de que se fala, mesmo quando a Terra não possuía super-população,
como as pestes e as guerras dizimou no passado cidades, países inteiros.
Conserva os códigos morais insculpidos no espírito e organiza tua família, confiante,
entregando-te a Deus e porfiando no Bem, porqüanto em última análise dEle tudo procede como
atento Pai de todos nós.
Joanna de Ângelis
8
Tarefas
Gostarias de servir, guindado porém, aos altos postos, e dirimirias muitas dificuldades,
Solvendo os aflitivos problemas que esmagam o povo. Preferirias atuar em relevantes
compromissos, onde a própria atividade se convertesse em repressão ao crime de todos os
matizes.
Desejarias abraçar missões especiais, no mundo das pesquisas científicas ou no campo das
ciências sociais, abrindo horizontes claros para a Coletividade. Pretenderias o trabalho nas altas
esferas religiosas, comentando as necessidades das massas junto aos administradores do
mundo e sugerindo roteiros iluminativos quanto libertadores.
Estimarias a liderança na Coletividade favorecido pelos recursos que enxergas nos outros, e
lamentas serem inúteis onde se encontram...No entanto, não sabes as lutas das posições
frontais.
Desconheces, talvez, que todos eles, Convidados pelas leis a atenderem as dificuldades dos
outros homens, são, igualmente, homens em dificuldade.
Atormentam-se, sofrem, choram e vivem com a máscara sobre o cariz, conforme os figurinos
da política infeliz ou os modelos da cultura em abastardamento.
Lutam contra máquinas emperradas e odiosas. Muitas vezes são vencidos. Alçaram-se às
culminâncias do poder sem base para os pés. São iguais a ti mesmo. A posição de relevo não
faz o caráter reto. A mudança de governo não opera repentina mudança de moral. O problema
social é mais complexo do que parece. Podes, todavia, muito fazer. Não de cima, mas de onde
te encontras. O suntuoso palácio subalterniza-se ao alicerce que serve de apoio à construção.
Se o sacerdócio que anelas não te alcança o ideal, recorda que o lar é a escola da iniciação
primeira para qualquer investidura. Todos aqueles que se notabilizaram, no mundo, passaram
pelas mãos anônimas do domicílio familiar, onde se apagaram os pais e os mestres na extensão
de sacrifícios grandiosos e desconhecidos.
A ferramenta humilde que rasga o solo onde repousará o monumento é irmã do buril que
talhou a pedra. A enxada gentil que prepara a terra é companheira da pena que sanciona as leis
agrárias de justa distribuição de terrenos.
Todas as tarefas do bem são ministérios divinos em que devemos empenhar a vitalidade,
sem esmorecimento nem reclamação.
Sem as mãos da humilde cozinheira, as mãos do sábio não poderiam movimentar o
progresso humano...
Cumpre, pois, o dever que te cabe, com a alma em prece, e embora não sejas notado na
Terra, demorando-te desconhecido, recorda que Jesus, até agora, é o Grande Servidor
Anônimo, a ensinar-nos que a maior honra da vida é o privilégio de ajudar e passar adiante,
servindo sempre e sem cansaço.
Joanna de Ângelis
9
Dentro do Lar
Famílias-problemas!...
Irmãos que se antagonizam... Cônjuges em lamentáveis litígios... Animosidades entre filho
e pai, farpas filha e mãe...
Afetos conjugais que se desmantelam torvas acrimônias...Sorrisos filiais que se
transfiguram idiossincrasias e vinditas...Tempestades verbais em discussões extemporâneas...
Agressões infelizes de conseqüências fatais...Tragédias nas paredes estreitas das
famílias... Enfermidades rigorosas sob látegos de impiedosa maldade...
Mãos encanecidas sob tormentos de filhos dominados por ódios inomináveis. Pais
enfermos açoitados por filhas obsidiadas, em conúbios satânicos de reações violentas em
cadeia de ira...
Irmãos dependentes sofrendo agressões e recebendo amargos pães, fabricados com
vinagre e fel de queixa e recriminações... Famílias em guerras tiranizantes, famílias-problemas!
É da Lei Divina que o infrator renasça ligado à infração que o caracteriza.
A justiça celeste estabeleceu que a sementeira tem caráter espontâneo, mas a colheita
tem impositivo de obrigatoriedade.
O esposo negligente de ontem, hoje recebe no lar a antiga companheira nas vestes de
filha ingrata e maldizente.
A nubente atormentada, que no passado desrespeitou o lar, acolhe nos braços, no
presente, o esposo traído vestindo as roupas de filho insidioso e cruel.
O companheiro do pretérito culposo se reivincula pela consangüinidade à vítima,
desesperada, reencontrando-a em casa como irmão impenitente e odioso.
O braço açoitador se imobiliza sob vergastadas da loucura encarcerada nos trajos da
família.
Desconsideração doutrora, desrespeito da atualidade.
Insânia gerando sandice e criminalidade alimentando aversões.
Chacais produzindo chacais.
Lobos tombando em armadilhas para lobos.
Cobradores reencarnados junto às dívidas, na província do instituto da família, dentro do
lar.
Acende a claridade do Evangelho no lar e ama a tua família-problema, exercitando
humildade e resignação.
Preserva a paciência, elaborando o curso de amor nos exercícios diários do silêncio entre
os panos da piedade para os que te compartem o ninho doméstico, revivendo os dias idos com
execrandas carantonhas, sorvendo azedume e miasmas.
Não renasceste ali por circunstância anacrônica ou casual.
Não resides com uma família-problema por fator fortuito nem por engano dos Espíritos
Egrégios.
Escolheste, antes do retorno ao veículo físico, aqueles que dividiriam contigo as aflições
superlativas e os próprios desenganos.
Solicitaste a bênção da presença dos que te cercam em casa, para librares com
segurança nos cimos para onde rumas.
Sem eles faltariam bases para os teus pés jornadeiros.
Sem a exigência deles, não serias digno de compartilhar a vilegiatura espiritual com os
Amorosos Guias que te esperam.
São eles, os parentes severos nos trajos de verdugos inclementes, a lição de paciência
que necessitas viver, aprendendo a amar os difíceis de amor para te candidatares ao Amor que
a todos ama.
A mensagem espírita, que agora rutila no teu espírito transformado em farol de vivo amor
e sabedoria, é o remédio-consolo para tuas dores no lar, o antídoto e o tratado de armistício para
o campo de batalha onde esgrimas com as armas da fé e da bondade, apaziguando,
compreendendo, desculpando, confiando em horas e dias melhores para o futuro...
Apóia-te ao bastão da certeza reencarnacionista, aproveita o padecimento ultriz, ajuda os
verdugos da tua harmonia, mas dá-lhes a luz do conhecimento espírita para que, também eles,
os problemas em si mesmos, elucidem os próprios enigmas e dramas, rumando para
experiências novas com o coração afervorado e o espírito tranqüilo.
Joanna de Ângelis
10
Espiritismo no Lar
“Deus permite que, nas famílias, ocorram essas encarnações de Espíritos antipáticos ou
estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e, para outros, de meio de
progresso.”
Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 4º — Ítem 18.
Todos sabemos valorizar o benefício de um copo dágua fria ou de uma ampola de injetável
tranqüilizante, ofertados num momento de grande aflição.
Reconhecemos a bênção do alfabeto que nos descortina as belezas do conhecimento
universal e bendizemos quem no-lo imprimiu nos recessos da mente.
Mantemos no carinho do espírito aqueles que nos ajudaram nos primeiros dias da
reencarnação, oferecendo-nos amparo e amamentação.
Somos reconhecidos àqueles que nos nortearam em cada hora de dúvida e não esquecemos
o coração que nos agasalhou nos instantes dificeis do caminho renovador...
Muitos há, no entanto, que desdenham e esquecem todos os benefícios que recebem
durante a vida...
Há um inestimável benefício que te enriquece a existência na Terra: o conhecimento espírita.
Esse é guia dos teus passos, luz nas tuas sombras e pão na mesa das tuas necessidades.
Poucas vezes, porém, pensaste nisso.
Recebeste com o Espiritismo a clara manhã da alegria, quando carregavas noite nos painéis
mentais e segues confiante, de passo firme, com ele a Conduzir-te qual mãe desvelada e fiel.
Se o amas, não o detenhas apenas em ti.
Faze mais. Não somente em propaganda “por fora” mas principalmente dentro do teu lar.
No lar se caldeiam os espíritos em luta diária nas tarefas de reajustamento e sublimação.
Na família os choques da renovação espiritual criam lampejos de Ódios e dissenção, que
podes converter em clarões-convítes à paz.
Não percas a oportunidade de semear dentro de casa.
Apresenta a tua fé aos teus familiares mesmo que eles não queiram escutar.
Utiliza o tempo, a Psicologia da bondade e do otimismo e esparze as luminescências da
palavra espírita no reduto doméstico.
Se te recusarem ensejo, apresenta-o, agindo.
Se te repudiarem conduze-o, desculpando.
Se te ferirem espalha-o amando.
Pelo menos, uma vez por semana, reúne a tua família
e felicita-a com o Espiritismo, criando assim, e mantendo,
o culto evangélico, para que a diretriz do Mestre seja
eficiente rota de amor à sabedoria em tua casa...
Ali, na oportunidade, ouvidos desencarnados se imantarão aos ouvidos dos teus e escutarão;
olhos atentos verão pelos olhos da tua família e se nublarão de pranto; mentes se ligarão às
outras mentes e entenderão.. Sim, Ouvidos, olhos e mentes dos desencarnados que habitam a
tua residência se acercarão da mesa de comunhão com o Senhor, recebendo o pão nutriente
para os espíritos Perturbados através do combustível espírita que não é somente manancial
para os homens da Terra, mas igualmente para os que atravessaram os portais do além-túmulo
em doloroso estado de sofrimento e ignorância.
Agradece ao Espiritismo a felicidade que possuíS, acendendo-o como chama inapagável no
teu lar, para clarear os teus familiares por todos os dias.
O pão mantém o corpo.
O agasalho guarda o corpo.
O medicamento recupera o corpo.
O dinheiro acompanha o corpo.
Seja o Espiritismo em ti o corpo do teu espírito emboscado no teu corpo, a caminhar pelo
tempo sem fim para a imortalidade gloriosa.
E se desejares felicidade na Terra, incorpora-O ao teu lar, criando um clima de felicidade
geral.
Joanna de Ângelis
11
Cristo em Casa
Contrapondo-se à onda crescente da loucura que irrompe avassaladora de toda parte e
domina penetrando os lares e os destroçando, o Evangelho de Jesus, hoje como no passado,
abre larga faixa para a esperança, facultando a visão de um futuro promissor onde os
desassossegos do coração não terão ensejo de medrar.
A par da lascívia e do moderno comércio do erotismo, que consomem as mais elevadas
aspirações humanas na indústria da devassidão, as sementes luminosas da Boa Nova,
plantadas na intimidade do conjunto familiar, desdobram-se em embriões de amor que
enriquecem os espíritos de paz, recuperando os homens portadores das enfermidades
espirituais de longo curso e medicando-os com as dádivas da saúde.
Enquanto campeia a caça desassisada aos estupefacientes e barbitúricos, aos narcóticos e
aos excessos do sexo em desalinho, a mensagem do Reino de Deus cada semana, na família,
representa remédio valioso que consegue recompor das distonias psíquicas aqueles que jazem
anestesiados sob o jugo de forças ultrizes e vingadoras de existências pretéritas.
Há mais enfermos no mundo do que se supõe que existam. Isto porque, no reduto familiar
raramente fecundam a conversação edificante, o entendimento fraterno, a tolerância geral, o
amor desinteressado... Vinculados por compromissos vigorosos para a própria evolução, os
Espíritos reencarnam-se no mesmo grupo cromossomático, endividados entre si, para o
necessário reajustamento, trazendo nos refolhos da memória espiritual as recordações
traumáticas e as lembranças nefastas, deixando-se arrastar, invariavelmente, a complexos
processos de obsessão recíproca, graças ao ódio mantido, às animosidades conservadas e
nutridas com as altas contribuições da rebeldia e da violência.
Em razão disso, o desrespeito grassa, a revolta se instala, a indiferença insiste e a aversão
assoma...
A família, em tais circunstâncias, se transforma em palco de tragédias sucessivas, quando
não se faz aduana de traições e insídias...
Estimulando os desajustes que se encontram inatos nos grupos da consangüinidade, a
hodierna técnica da comunicação malsã tem conspirado poderosamente contra a paz do lar e a
felicidade dos homens.
Cristo, porém, quando se adentra pelo portal do lar, modifica a paisagem espiritual do recinto.
As cargas de vibrações deletérias, os miasmas da intolerância, os tóxicos nauseantes da ira,
as palavras azedas vão rareando, ao suave-doce contágio do Seu
e se modificam as expressões da desarmonia e do desconforto, produzindo natural condição de
entendimento, de alegria, de refazimento.
Cristo no lar significa comunhão da esperança com o amor.
A Sua presença produz sinais evidentes de paz, e aqueles que antes experimentavam
repulsa pelo ajuntamento doméstico descobrem Sintomas de identificação, necessidade de
auxílio mútuo.
Com Jesus em casa acendemse as claridades para o futuro, a iluminar as sombras que
campeiam desde agora.
Abre o “livro da vida” e medita nos “ditos do Senhor” pelo menos uma vez na semana, entre
aqueles que vivem Contigo em conúbio familiar. Mergulha a mente nas suas lições, embriaga o
espírito na esperança, sobre a água lustral da “fonte viva” generosa e abundante, esquece os
painéis tumultuados que são habituais e marcha na direção da alegria.
Se não consegues a companhia dos que te repartem a consangüinidade para tal ministério,
não desfaleças. Faze-o, assim mesmo.
Se assomam óbices inesperados não descoroçoes, insistindo, ainda assim.
Se surpresas infelizes Conspiram à hora do teu encontro semanal com Ele, não desesperes e
retoma as tentativas, perseverando
Quando Cristo penetra a alma do discípulo, refá-la, quando visita a família em prece,
sustenta-a.
Faze do teu lar um santuário onde se possa aspirar o aroma da felicidade e fruir o néctar da
paz.
Sob o dossel das estrelas, no passado, o Senhor, enquanto conosco, instaurou nos lares
humildes dos discípulos o convívio da prece, da palestra edificante, inaugurando a era da
convivência pacífica, da discussão produtiva, do intercâmbio com o Mundo Excelso...
Abrindo-lhe o lar uma vez que seja, em cada sete dias, experimentarás com Ele a
inexcedível ventura de aprender a amar para bem servir e crescer para a liberdade que nos
alçará além e acima das próprias limitações, integrando-nos na família universal em nome do
Amor de Nosso Pai.
Joanna de Ângelis
“Senhor, não sou digno de que entres em minha casa
Mateus: capítulo 8º, versículo 8.
“Um dia, Deus, em sua inesgotável caridade, permitiu que o homem visse a verdade varar
as trevas. Esse dia foi o do advento do Cristo. Depois da luz viva, voltaram as trevas. Após
alternativas de verdade e obscuridade, o mundo novamente se perdia. Então, semelhantemente
aos profetas do Antigo Testamento, os Espíritos se puseram a falar e a adverti-los. O mundo
está abalado em seus fundamentos; reboará o trovão. Sede firmes!”
Capítulo 1 — Item 10.
12
Jesus Contigo
Dedica uma das sete noites da semana ao Culto Evangélico no Lar, a fim de que Jesus
possa pernoitar em tua casa.
Prepara a mesa, coloca água pura, abre o Evangelho, distende a mensagem da fé, enlaça a
família e ora. Jesus virá em visita.
Quando o Lar se converte em santuário, o crime se recolhe ao museu. Quando a família ora,
Jesus se demora em casa. Quando os corações se unem nos liames da Fé, o equilíbrio oferta
bênçãos de consolo e a saúde derrama vinho de paz para todos.
Jesus no Lar é vida para o Lar.
Não aguardes que o mundo te leve a certeza do bem invariável. Distende, da tua casa cristã,
a luz do Evangelho para o mundo atormentado.
Quando uma família ora em casa, reunida nas blandícias do Evangelho, toda a rua recebe o
benefício da comunhão com o Alto.
Se alguém, num edifício de apartamentos, alça aos Céus a prece da comunhão em família,
todo o edifício se beneficia, qual lâmpada ignorada, acesa na ventania.
Não te afastes da linha direcional do Evangelho entre os teus familiares. Continua orando
fiel, estudando com os teus filhos e com aqueles a quem amas as diretrizes do Mestre e, quanto
possível, debate os problemas que te afligem à luz clara da mensagem da Boa Nova e examina
as dificuldades que te perturbam ante a inspiração consoladora do Cristo. Não demandes a rua,
nessa noite, senão para os inevitáveis deveres que não possas adiar. Demora-te no Lar para
que o divino Hóspede aí também se possa demorar.
E quando as luzes se apagarem à hora do repouso, ora mais uma vez, comungando com
Ele, como Ele procura fazer, a fim de que, ligado a ti, possas, em casa, uma vez por semana em
sete noites, ter Jesus contigo.
Joanna de Ângelis
13
Estudo Evangélico no Lar
Na expressiva república do lar, onde se produzem as experiências de sublimação, estabelece
o estatuto do Evangelho de Jesus como diretriz de segurança e legislação de sabedoria, a fim de
equilibrares e conduzires com retidão os que aí habitam em clima familial.
Semanalmente, em regime de pontualidade e regularidade, abre as páginas fulgurantes onde
estão insculpidos os “ditos do Senhor” e estuda com o teu grupo doméstico as sempre atuais
lições que convidam a maduras ponderações, de imediata utilidade.
Haurirás inusitado vigor que te fortalecerá do íntimo para o exterior, concitando-te à alegria.
Compartirás, no exame das questões sempre novas na pauta dos estudos, dos problemas
que inquietam os filhos e demais membros do clã, encontrando, pela inspiração que fluirá
abundante, soluções oportunas e simples para as complexas dificuldades, debatendo com
franqueza e honestidade as limitações e os impedimentos, que não raro geram atrito,
estimulando animosidade no conserto de reparação na intimidade doméstica.
Penetrarás elucidações dantes não alcançadas, robustecendo o espírito para as conjunturas
difíceis em que transitarás inevitavelmente.
Ensejar-te-ás diálogos agradáveis sob a diamantina claridade da fé e a balsâmica medicação
da paz, estabelecendo vigorõsos liames de entrosamento anímico e fraternal entre os
participantes do ágape espiritual.
Dramas que surgem na família; incompreensões que se agravam; urdiduras traiçoeiras;
pessoas em rampa de perigo iminente; enfermidades em fixação; cerco obsessivo constritor;
suspeitas em desdobramento pernicioso; angústias em crises a caminho do autocídio;
inquietações de vária ordem em painéis de agressividade ou loucura recebem no culto
evangélico do lar o indispensável antídoto com as conseqüentes reservas de esclarecimento e
coragem para dirimir equívocos, finalizar perturbações, predispor à paz e ajudar nos embates
todos quantos aspirem à renovação, entusiasmo e liberdade.
Onde se acende uma lâmpada, coloca-se um impedimento à sombra e à desfaçatez...
No lugar em que a ordem elabora esquema de produtividade, escasseia a incúria e se
debilita a estroinice.
O convite do Evangelho, portanto, — lâmpada sublime e lei dignificante — tem caráter
primeiro.
Da mesma forma que a enxada operosa requisita braços diligentes e a terra abençoada
espera serviço de proteção e cultivo, a lavoura do bem entre os homens exige trabalho contínuo
e operários especializados.
Começa, desse modo, na família, a tua obra de extensão à fraternidade geral.
Inconseqüente arregimentar esforços de salvação externa e falires na intimidade doméstica,
adiando compromissos.
Faze o indispensável, da tua parte, todavia, se os teus se negarem compartir o ministério a
que te propões, a sós, reservadamente na limitação da tua peça de dormir, instala a primeira
lâmpada de estudo evangélico e porfia...
Se, todavia, os teus filhos estiverem, ainda, sob a tua tutela, não creias na validade do
conceito de deixá-los ir, sem religião, sem Deus... Como lhes dás agasalho e pão, medicamento
e Instrução vestuário e moedas, oferta-lhes igualmente o alimento espiritual, semeando no solo
dos SeUS espíritos as estrelas da fé, que hoje ou mais tarde se transformarão na única fortuna
de que disporão, ante o inevitável trânsito para o país do além-túmulo..
Não te descures.
A noite da oração em família, do estudo cristão no lar, é a festiva Oportunidade de conviver
algumas horas com os Espíritos da Luz que virão ajudar-te nas provações Purificadoras, em
nome daquele que é o Benfeitor vigilante e Amigo de todos nós.
Joanna de Ângelis
14
Deveres dos Pais
Por impositivo da sabedoria divina, no homem a infância demora maior período do que em
outro animal qualquer.
Isto, porque, enquanto o Espírito assume, a pouco e pouco, o controle da organização
fisiológica de que se serve para o processo evolutivo, mais fácil se fazem as possibilidades para
a fixação da aprendizagem e a aquisição dos hábitos que o nortearão por toda a existência
planetária.
Como decorrência, grande tarefa se reserva aos pais no que tange aos valores da educação,
deveres que não podem ser postergados sob pena de lamentáveis conseqüências.
Os filhos — esse patrimônio superior que a Divindade concede por empréstimo —, através
dos liames que a consangüinidade enseja, facultam o reajustamento emocional de Espíritos
antipáticos entre si, a sublimação de afeições entre os que já se amam, o caldeamento de
experiências e o delinear de programas de difícil estruturação evolutiva, pelo que merecem todo
um investimento de amor, de vigilância e de sacrifício por parte dos genitores.
A união conjugal propiciatória da prole edificada em requisitos legais e morais constitui
motivo relevante, que não deve ser confundida com as experiências do prazer, que se podem
abandonar em face de qualquer conjuntura que exige reflexão, entendimento e renúncia de
algum ou de ambos nubentes.
Os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência.
Evidentemente as técnicas Psicológicas e a metodologia da educação tornam-se fatores
nobres para o êxito desse cometimento Entretanto, o amor — que tem escasseado nos
processos modernos da educação com lamentáveis resultados — possui os elementos
essenciais para o feliz desiderato.
No compromisso do amor, estão evidentes o Companheirismo o diálogo franco, a
solidariedade, a indulgência e a energia moral de que necessitam os filhos, no longo processo
da aquisição dos valores éticos, espirituais, intelectuais e sociais.
No lar, em conseqüência, prossegue sendo na atualidade de fundamental importância no
complexo mecanismo da educação.
Nesse sentido, é de essencial relevância a lição dos exemplos, a par da assistência constante
de que necessitam os caracteres em formação, argila plástica que deve ser bem modelada.
No capítulo da liberdade, esse fator basilar, nunca deixar esquecido o dever da
responsabilidade. Liberdade de ação e responsabilidade dos atos, ajudando no discernimento
desde cedo entre o que se deve, Convém e se pode realizar.
Plasma, na personalidade em delineamento do filhinho, os hábitos salutares.
Diante dele, frágil de aparência, tem em mente que se trata de um Espírito comprometido
com a retaguarda, que recomeça a experiência a penates, e que muito depende de ti.
Nem o excesso de severidade para com ele, nem o acúmulo de receios injustificados, em
relação a ele, ou a exagerada soma de aflição por ele.
Fala-lhe de Deus sem cessar e ilumina-lhe a consciência com a flama da fé rutilante, que lhe
deve lucilar no íntimo como farol de bênçãos para todas as circunstâncias.
Ensina-lhe a humildade ante a grandeza da vida e o respeito a todos, como valorização
preciosa das concessões divinas.
O que lhe não concedas por negligência, ele te cobrará depois...
Se não dispões de maiores ou mais valiosos recursos para dar-lhe, ele saberá reconhecer, e,
por isso, mais te amará.
Todavia, se olvidaste de ofertar-lhe o melhor ao teu alcance também ele compreenderá e,
quiçá, reagirá de forma desagradável.
Os pais educam para a sociedade, quanto para si mesmos.
Examina a tua vida e dela retira as experiências com que possas brindar a tua prole.
Tens conquistas pessoais, porqüanto já trilhaste o caminho da infância, da adolescência e
sabes de moto próprio discernir entre os erros e acertos dos teus educadores, identificando o
que de melhor possuis para dar.
Não te poupes esforços na educação dos filhos.
Os pais assumem desde antes do berço com aqueles que receberão na condição de filhos
compromissos e deveres que devem ser exercidos, desde que serão, também, por sua vez,
meios de redenção pessoal perante a consciência individual e a Cósmica que rege os
fenômenos da vida, nos quais todos estamos mergulhados.
Joanna de Ângelis
15
Educação
CONCEITO — A educação é base para a vida em comunidade, por meio de legítimos
processos de aprendizagem que fomentam as motivações de crescimento e evolução do
indivíduo.
Não apenas um preparo para a vida, mediante a transferência de conhecimentos pelos
métodos da aprendizagem. Antes é um processo de desenvolvimento de experiências, no qual
educador e educando desdobram as aptidões inatas, aprimorando-as como recursos para a
utilização consciente, nas múltiplas oportunidades da existência.
Objetivada como intercâmbio de aprendizagens, merece considerá-la nas matérias, nos
métodos e fins, quando se restringe à instrução. Não somente a formar hábitos e desenvolver o
intelecto, deve dedicar-se a educação, mas, sobretudo, realizar um continuum permanente, em
que as experiências por não cessarem se fixam ou se reformulam, tendo em conta as
necessidades da convivência em sociedade e da auto-realização do educando.
Os métodos na experiência educacional devem ser consentâneos às condições mentais e
emocionais do aprendiz. Em vez de se lhe impingir, por meio do processo repetitivo, os
conhecimentos adquiridos, o educador há de motivá-lo às próprias descobertas, com ele
crescendo, de modo que a sua contribuição não seja o resultado do pronto e concluído”,
processo que, segundo a experiência de alguns, “deu certo até aqui.
Na aplicação dos métodos e escolha das matérias merece considerar as qualidades do
educador, sejam de natureza intelectual ou emocional e Psicológica, como de caráter afetivo ou
sentimental.
Os fins, sem dúvida, estão além das linhas da escolaridade. Erguem-se como permanente
etapa a culminar na razão do crescimento do indivíduo, sempre além, até transcenderse na
realidade espiritual do porvir.
A criança não é um “adulto miniaturizado”, nem uma cera plástica”, facilmente moldável.
Trata-se de um espírito em recomeço, momentaneamente em esquecimento das realizações
positivas e negativas que traz das vidas pretéritas, empenhado na conquista da felicidade.
Redescobrindo o mundo e se reidentificando, tende a repetir atitudes e atividades familiares
em que se comprazia antes, ou através das quais sucumbiu.
Tendências, aptidões, percepções são lembranças evocadas inconscientemente que
renascem em forma de impressões atraentes, dominantes, assim como limitações, repulsas,
frustrações, agressividade e psicoses constituem impositivos constritores ou restritivos — não
poucas vezes dolorosos — de que se utilizam as Leis Divinas para corrigir e disciplinar o rebelde
que, apesar da manifestação física em período infantil, é espírito relapso, mais de uma vez
acumpliciado com o erro, a ele fortemente vinculado, em fracassos morais sucessivos.
Ao educador, além do currículo a que se deve submeter, são indispensáveis os
conhecimentos da psicologia infantil, das leis da reencarnação, alta compreensão afetiva junto
aos problemas naturais de processus educativo e harmonia interior, valores esses capazes de
auxiliar eficientemente a experiência educacional.
As leis da reencarnação quando conhecidas, penetradas necessariamente e aplicadas,
conseguem elucidar os mais intrincados enigmas que defronta o educador no processo
educativo, isto porque, sem elucidação bastante ampla, nem sempre exitosas, hão redundado as
mais avançadas técnicas e modernas experiências.
A instrução é setor da educação, na qual os valores do intelecto encontram necessário
cultivo.
A educação, porém, abrange área muito grande, na quase totalidade da vida. No período de
formação do homem é pedra fundamental, por isso que ao instituto da família compete a
indeclinável tarefa, porqüanto pela educação, e não pela instrução apenas, se dará a
transformação do indivíduo e conseqüentemente da Humanidade.
No lar assentam os alicerces legítimos da educação, que se transladam para a escola que
tem a finalidade de continuar aquele mister, de par com a contribuição intelectual, as
experiências sociais...
O lar constrói o homem.
A escola forma o cidadão.
DESENVOLVIMENTO — A escola tradicional fundamentada no rigor da transmissão dos
conhecimentos elaborava métodos repetitivos de imposição, mediante o desgoverno da força,
sem abrir oportunidades ao aprendiz de formular as próprias experiências, mediante o
redescobrimento da vida e do mundo.
O educador, utilizando-se da posição de semideus, fazia-se um simples repetidor das
expressões culturais ancestrais, asfixiando as germinações dos interesses novos no educando e
matando-as, como recalcando por imposição os sentimentos formosos e nobres, ao tempo em
que assinalava irremediavelmente de forma negativa os que recomeçavam a vida física sob o
abençoado impositivo da reencarnação.
Expunha-se o conhecimento, impondo-o
Com a escola progressiva, porém, surgiu mais ampla visão, em torno da problemática da
educação, e o educando passou a merecer o necessário respeito, de modo a desdobrar
Possibilidades próprias, fomentando intercâmbios experienciais a benefício de mais valiosa
aprendizagem.
Não mais a fixidez tradicional, porém os métodos móveis da Oportunidade criativa.
Atualizada através de experiências de liberdade exagerada graças á técnica da enfática da
própria liberdade —, vem pecando pela libertinagem que enseja, porqüanto, em se
fundamentando em filosofias materialistas, não percebe no educando um espírito em árdua luta
de evolução, mas um corpo e uma mente novos a armazenarem num cérebro em formação e
desenvolvimento a herança cultural do passado e as aquisições do presente, com hora marcada
para o aniquilamento após a transposição do portal do túmulo...
Nesse sentido, Conturbadas e infelizes redundaram as tentativas mais modernas no campo
educacional, produzindo larga e expressiva faixa de jovens desajustados, inquietos,
Indisciplinados, quais a multidão que ora desfila, com raras exceções, a um passo da alucinação
e do Suicídio.
Inegavelmente na educação a liberdade é primacial, porém com responsabilidade, a fim de
que as conquistas se incorporem nos seus efeitos ao educando, que os ressarcirá quando
negativos, como os fruirá em bem-estares quando Positivos.
Nesse sentido, nem agressão nem abandono ao educando. Nem severidade exagerada nem
negligência contumaz. Antes, técnicas de amor, através de convivência digna, assistência
fraternal e programa de experiências vividas, atuantes, em tarefas dinâmicas.
ESPIRITISMO E EDUCAÇÃO — Doutrina eminentemente racional, o Espiritismo dispõe de
vigorosos recursos para a edificação do templo da educação, porqüanto penetra nas raízes da
vida, jornadeando com o espírito através dos tempos, de modo a elucidar recalques, neuroses,
distonias que repontam desde os primeiros dias da conjuntura carnal, a se fixarem no carro
somático para complexas provas ou expiações.
Considerando os fatores preponderantes como os secundários que atuam e desorganizam
os implementos físicos e psíquicos, eqüaciona como problemas obsessivos as conjunturas em
que padecem os trânsfugas da responsabilidade, agora travestidos em roupagem nova,
reencetando tarefas, repetindo experiências para a libertação.
A educação encontra no Espiritismo respostas precisas para melhor compreensão do
educando e maior eficiência do educador no labor produtivo de ensinar a viver, oferecendo os
instrumentos do conhecimento e da serenidade, da cultura e da experiência aos reiniciantes do
sublime caminho redentor, através dos quais os tornam homens voltados para Deus, o bem e o
próximo.
Joanna de Ângelis
ESTUDO E MEDITAÇÃO:
(...) A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral.
Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as
inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa
arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação (...)
(O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 917).
“Desde pequena, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua existência
anterior. A estudá-los devem os pais aplicar-se. Todos os males se originam do egoísmo e do
orgulho (...)”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo 14º, item 9).
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Laços Eternos
A reencarnação estreita os vínculos do amor, tornando-os laços eternos, pelo quanto faculta
de experiência na área da afetividade familiar.
Enquanto as ligações de sangue favorecem o egoísmo, atando as criaturas às algemas das
paixões possessivas, a pluralidade das existências ajuda, mediante a superação das
conveniências pessoais, a união fraternal.
Os genitores e nubentes, os irmãos e primos, os avós e netos de uma etapa trocarão de
lugar no grupo de companheiros que se afinam, permanecendo os motivos e emulações da
amizade superior.
O desligamento físico pela desencarnação faz que se recomponham, no além-túmulo, as
famílias irmanadas pelo ideal da solidariedade, ensaiando os primeiros passos para a
construção da imensa família universal.
Quando a força do amor vigilante detecta as necessidades dos corações que mergulharam
na carne, sem egoísmo, pedem aos programadores espirituais das vidas que lhes permitam
acompanhar aqueles afetos que os anteciparam, auxiliando-os nos cometimentos encetados, e
reaparecem na parentela corporal ou naquela outra, a da fraternidade real que os une e faculta
os exemplos de abnegação, renúncia e devotamento.
Este amigo que te oferece braço forte; esse companheiro a quem estimas com especial
carinho; aquele conhecido a quem te devotas com superior dedicação; estoutro colega que te
sensibiliza; essoutro discreto benfeitor da tua vida; aqueloutro vigilante auxiliar que se apaga
para que apareças, são teus familiares em espírito, que ontem envergaram as roupagens de um
pai abnegado ou de uma mãe sacrificada, de um irmão zeloso ou primo generoso, de uma
esposa fiel e querida ou de um marido cuidadoso, ora ao teu lado, noutra modalidade biológica e
familiar, alma irmã da tua alma, diminuindo as tuas dores, no carreiro da evolução e impulsionando-
te para cima, sem pensarem em si...
Os adversários gratuitos que te sitiam e perturbam, os que te buscam sedentos e
esfaimados, vencidos por paixões mesquinhas, são, também, familiares outros a quem
ludibriaste e traíste, que agora retornam, necessitados do teu carinho, da tua reabilitação moral,
a fim de que se refaça o grupo espiritual, que ascenderá contigo no rumo da felicidade.
Jesus, mais de uma vez, confirmou a necessidade dessa fusão dos sentimentos acima dos
vínculos humanos, exaltando a superior necessidade da união familiar pelos laços eternos do
espírito. A primeira, fê-lo, ao exclamar, respondendo à solicitação dos que lhe apontavam a
mãezinha amada que O buscava, referindo-se: — “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos,
senão aqueles que fazem a vontade do Pai?” Posteriormente, na cruz, quando bradou, num
sublime testemunho, em resposta direta à Mãe angustiada que O inquirira: — “Meu filho, meu
filho, que te fizeram os homens?” elucidando-a e doando-a à Humanidade: — “Mulher, eis aí teu
filho” — “Filho, eis aí tua mãe”, entregando-o ao seu cuidado, através de cuja ação inaugurou a
Era da fraternidade universal acima de todos os vínculos terrenos.
Joanna de Ângelis
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Perante a Prole
Fitando o anjo corporificado nas carnes do filhinho que dorme, deténs-te junto ao berço de
alegrias e exultas, dominado por compreensível júbilo, meditando quanto ao futuro risonho e
abençoado que almejas para ele.
Não te ocorre a idéia de que o “rebento” das tuas células é também filho de Deus em
vilegiatura evolutiva, seguindo hoje ao teu lado, sob a direção da tua experiência.
Naquele corpo que o tempo desdobrará e na fragilidade dos músculos que se enrijecerão
dia-a-dia, momentaneamente repousa um espírito que se prepara para as ingentes e
santificantes tarefas do porvir.
Possivelmente não pensarás que essa concessão divina poderá um dia armar-se de
revolta e agredir-te a velhice cansada, investindo, ao impacto de inomináveis ingratidões e
rebeldias, contra as tuas fracas forças de então. Parece-te impossível, pois que ele é tão
pequenino, formoso e meigo!
Os amigos afirmam que o teu filhinho se parece contigo, tendo a meiguice da mamãe e o
nobre caráter do papai, apesar de tão diminuto. E têm razão, por enquanto.
Dás-lhe o legado do corpo, emprestas-lhe alguns sinais fisionômicos e poderás plasmar
nele alguns dos teus caracteres morais. Ele, porém, te solicita, desde já, mais do que
deslumbramento e carinho. Necessita de ti, muito mais do que pensas.
Os pais não são os construtores da vida, porém, os médiuns dela, plasmando-a, sob a divina
diretriz do Senhor. Tornam-se instrumentos da oportunidade para os que sucumbiram nas lutas
ou se perderam nos tentames da evolução, algumas vezes se transformando em veículos para
os embaixadores da verdade descerem ao mundo em agonia demorada.
Pensa, portanto, e cogita com maturidade, educando o filho que Deus te concede por algum
tempo, nas diretrizes enobrecedoras da fé cristã, ministrando-lhe as lições vivas do exemplo
dignificante.
Talvez a educação não consiga fazer tudo por ele, caso seja alguém assinalado por graves
problemas que o acompanhem de outras existências... Prepará-lo-ás, no entanto, para melhor
experiência e maior aprendizagem.
Não descures de iluminá-lo com as claridades do amor à verdade, ao bem e à justiça, em
nome do Supremo Amor.
A carne gera a carne, mas o espírito não produz o espírito.
O filhinho que te chega é compromisso para a tua existência.
Não o temas, nunca.
Não o ofendas com a falsa valorização dele, em demasia.
Recorda-lhe a humildade, considerando a procedência de todos nós e o lugar comum do
barro orgânico...
E orienta-o dignamente, sem cessar.
Aquele olhar esgazeado, acompanhado por lábios em rictos de loucura, punhos cerrados,
não pode ser do filhinho que acalentaste e mantiveste no calor do afeto, noites-e-dias a-fio! —
meditas.
Como pôde transfigurar-se em sicário cruel, em infortunado algoz? — interrogas,
contemplando-o, com a alma estrangulada e muda.
Que foi feito do bebê querido que te osculava as mãos e a face, cantarolando melodias que
ainda musicam os teus ouvidos?
Todo ele parece revel. Por quê? — perguntas.
Somos todos viandantes de inumeráveis excursões pela carne.
Erramos e solicitamos oportunidade para a reparação; acumpliciamo-nos com a criminalidade
e rogamos libertação; nascemos e renascemos, começando ou recomeçando em longa
experiência.
Verdugos e amigos que nos cercam, que chegam através de nós próprios, são dadivosas
concessões de que necessitamos. Ajàmos junto a eles com ponderação, valorizando o
empréstimo da Lei.
Não te enganes, portanto.
Se arde no imo do teu espírito a flama do ideal espírita, prepara a tua família para a fé
consoladora e ilumina-a. Esparze as lições reencarnacionistas com lucidez e bondade. Utiliza a
terapêutica do passe, da água magnetizada, e faze luzir a palavra de Jesus no reduto doméstico.
Se os teus filhos, depois, empanzinados pela falsa cultura ou fascinados pelos ouropéis te
rechaçarem as lições, esbordoando, ingratos, a tua face, terás cumprido com o teu dever e, em
silêncio, deixa-os seguir: possivelmente eles serão pais também hoje, ou mais tarde...
Os filhos são bênçãos que te chega – alguns, gemas brutas para lapidação - ; faze tua
parte e prossegue tranqüilo na direção do futuro e de Deus, o Excelso Pai de todos nós.
Joanna de Ângelis
NOTA – Tema para estudo: “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” – Parte 2ª - Capítulo 4º – Parecenças
físicas e morais. Leitura complementar: “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” –
Capítulo 9º – A cólera. – Itens 9 e 10.
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Limitação de Filhos
O problema da planificação familiar, antes de maiores cogitações, deve merecer dos
cônjuges mais profundas análises e reflexões.
Pela forma simplista como alguns o apresentam, a desordenada utilização de métodos
anticonceptivos interfere negativamente, na economia moral da própria família.
Na situação atual, os pais dotados de recursos econômicos, menos procriam, em
considerando as disponibilidades que possuem, enquanto os destituídos de posses aumentam a
prole, tornando muito mais complexas e difíceis as engrenagens do mecanismo social. Os filhos
são programados na esfera extra-física da vida, tendo-se em vista as injunções crédito-débito,
defluentes das reencarnações passadas.
Normalmente, antes do mergulho do corpo carnal, o Espírito reencarnante estabelece
intercâmbio com os futuros genitores, de cujo concurso necessitam para o cometimento a
empreender.
Os filhos não chegados pela via normal, não obstante, alcançarão a casa dos sentimentos
negados, utilizando-se dos sutis recursos da Vida, que reaproximam os afins pelo amor ou pela
rebeldia quando separados, para as justas reparações.
Chegarão a outros tetos, mas dali sairão atraídos pelas necessidades propelentes ao
encontro da família que lhe é própria, nem sempre forrados em objetivos relevantes...
Alguém que te chega, perturbando a paz...Outrem que te rouba pertences e sossego...O ser que
te sobrecarrega de dissabores...Aquele que de fora desarmoniza a tua família...O vadio que te
adentra o lar...O viciado que corrompe quem te é caro...O aliciador que chega de longe e
infelicita o filho ou a filha que amas...Todos eles estão vinculados a ti.
Quiçá houvessem renascido sob o teu teto e as circunstâncias impediriam dramas maiores.
Antes de aderires ao entusiasmo reinantes para a limitação da prole, reparte com o outro
cônjuge as tuas preocupações, discute o problema à luz da reencarnação.
Evita engajar-te na moda, só porque as opiniões gerais são favoráveis à medida.Não o faças,
simplesmente, considerando os fatores econômicos, os da superpopulação...O Senhor dispõe de
recursos inimagináveis.Confia a Ele as tuas dificuldades e entrega-te consciente,
devotadamente.Seja qual for a opção que escolhas — ter mais ou menos filhos —, os que se
encontram na pauta das tuas necessidades chegar-te-ão, hoje ou mais tarde.
Sendo possível, acolhe-os da melhor maneira, porqüanto, conforme os receberes, ser-te-ão
amigos generosos ou rudes adversários dos quais não te libertarás facilmente.
Joanna de Ângelis
19
Personalidades Parasitas
Na psicopatologia das personalidades múltiplas ou anômalas, não podemos descartar a
realidade espiritual do próprio paciente.
Espírito eterno, herdeiro das ações transatas, ei-lo que marcha mediante as etapas
reencarnacionistas, acumulando experiências e somatizando problemas que, a contributo do
amor — na realização edificante, ou na dor, expungindo delitos — alcança a plenitude da sua
realidade: a destinação feliz para a qual foi criado!
Evidentemente, os conflitos e traumas da infância, que dão origem às personificações
parasitárias, são de relevância em tal problemática. Mesmo aí defrontamos, no lar dificil, nas
agressões da família, nos vários distúrbios domésticos, a mão da justiça infalível estabelecendo
os mecanismos corretivos para o infrator libertar-se dos débitos, sob a injunção de fugas
espetaculares, as quais dão surgimento às construções de variantes personagens que assomam
do inconsciente, em processos de defesa do ser frágil e tímido, aflito e receoso...
Bem sabemos que as agressões da brutalidade a criança, da violência sexual, do temor
sistemático, geram conflitos e aspirações libertáveis que, na impossibilidade de agir com a
energia própria, dão nascimento a entidades que assomam, dominando o Inconsciente e
realizando-se além das conjunturas impiedosas dessas frustrações de impotência moral, social,
econômica ou psíquica.
A criança é mais do que um ser em formação. Trata-se de um universo individualizado, um
somatório de valores que aos pais e educadores cabe penetrar para bem desenvolver e
conduzir.
O pavor que se lhe insufla, o desamor de que se sente objeto, as ofensas não digeridas que
sempre lhe são atiradas como calhaus e chuvas de humilhação terminam por produzir tormentos
asfixiantes, dando gênese aos seres que a dominarão ao largo dos tempos, tornando-a venal,
fingida ou igualmente violenta, rebelde, desagregada
Somente o amor possui os ingredientes de correção destes equipamentos do inconsciente,
geradores dos distúrbios alienadores da pessoa.
A terapia especializada, ao largo dos anos, consegue reintegrar as diversas personificaçôes
na identidade do eu consciente, libertando o paciente da perturbadora situação.
Vezes, porém, ocorrem, nas quais, além das personificações construídas pelo inconsciente
predominam entidades conscientes de outra dimensão, que obsediam e atormentam aqueles a
quem odeiam ou supõem lhes devam Compreensão e amor.
A psicoterapia dos passes, da renovação moral do paciente e do esclarecimento da
personalidade subjugadora, conseguem liberar a vítima, que deverá passar a envidar esforços
para conquistar um elenco de recursos morais, nos quais estejam luzindo a caridade e a
compaixão.
A obsessão sutil e perigosa grassa dominadora, e, na área das enfermidades mentais de todo
porte, o doente é sempre o réu na COnSciência culpada, reparando os gravames das vidas
passadas e erigindo a sua realidade moral, com a qual o pensamento e a ação se conjugam
para a elevação e a saúde real, que somente são possíveis através da consciência asserenada,
sem culpa nem rebeldia.
Manoel Philomeno de Miranda
20
Alienação Infanto-juvenil e Educação
O surto das alienações mentais infanto-juvenil, num crescendo assustador, deve reunir-nos
todos em torno do problema urgente, a fim de que sejam tomadas providências saneadoras
dessa cruel pandemia.
Nas sórdidas favelas, onde os fatores criminógenos se desenvolvem com facilidade e
morbidez; nos agrupamentos escolares, nos quais enxameiam os problemas de relacionamento
sem ética, sem estruturação moral; nas famílias em desagregação por distonias emocionais dos
pais, egoístas e arbitrários; nas ruas e praças desportivas, em razão da indiferença dos adultos e
dos exemplos perniciosos por eles praticados, as drogas, o sexo, a violência, induzem crianças e
jovens ao martírio da alienação mental e do suicídio.
Desamados, quanto indesejados, passam pelas avenidas do mundo esses seres
desamparados, objeto de promoção de homens ambiciosos e sem escrúpulos, que deles fazem
bandeira de auto promoção e sensibilização das massas, esquecendo-os logo depois de
atingidas as metas que perseguem.
Pululam, também, essas vítimas das atuais desvairadas cultura e tecnologia, nos lares ricos
e confortáveis de onde o amor se evadiu, substituído pela indiferença e permissividade com que
compensam o dever, enganando a floração infantil que emurchece com as terríveis decepções
antes do tempo.
Ao lado de todos esses fatores psicossociais, econômicos e morais, destacam-se os
espirituais, que decorrem dos vínculos reencarnacionistas que imanam esses espíritos em
recomeço àqueloutros que lhes sofreram danos, prejuízos e acerbas aflições pretéritas, de que
não se liberaram.
As disciplinas que estudam a psique, seguramente, penetram na anterioridade do ser ao
berço, identificando, na reencarnação, os mecanismos desencadeadores das alienações, seja
através dos processos orgânicos e psíquicos ou mediante os conúbios obsessivos.
A obsessão irrompe em toda parte, na condição de chaga aberta no organismo social,
convidando as mentes humanas à reflexão.
Desatentos e irrequietos os homens avançam sem rumo, distanciados ainda de
responsabilidades e valores morais.
Urge que a educação assuma o seu papel no organismo social da Terra sofrida destes dias.
Educação, porém, no seu sentido profundo, integral, de conhecimento, experiência, hábitos e fé
racional. Estruturando o homem nos seus equipamentos de espírito, perispírito e corpo, nele
fixando os valores éticos de cuja utilização se enriqueça conscientizando-se da sua realidade
externa e vivendo de forma consentânea com as finalidades da existência terrena, que o levará
de retorno à Pátria de origem em clima de paz.
Não se pode lograr êxito, na área da saúde mental como na da felicidade humana, utilizandose
um comportamento que estuda os efeitos sem remontar às causas, erradicando-as em
definitivo.
Para tanto, é fundamental que o lar se transforme num santuário e a escola dê
prosseguimento nobre à estrutura familiar, preparando o educando para a vida social, herdeiros
de guerras cruéis, remotas e recentes, de crimes contra a Humanidade e o indivíduo, os
reencarnantes atuais estão atados a penosas dívidas, que o amor e o Evangelho devem
resgatar, alterando o comportamento da família e da sociedade, assim poupando o futuro de
danos inimagináveis.
Tarefa superior, a da educação consciente e responsável!
Nesse sentido, o conhecimento do Espiritismo, que leva o homem a uma vivência coerente
com a dignidade, é a terapia preventiva como curadora para os males que ora afligem a quase
todos e, em especial, estiolando a vida infanto-juvenil que surge, risonha, sendo jogada nas
tribulações e misérias para as quais ainda não se encontra preparada, nem tem condições de
compreender assumindo, antes do tempo, comportamentos adultos, alucinados e infelizes.
Voltemo-nos para a infância e a juventude e leguemo-lhes segurança moral e amor, mediante
os exemplos de equilíbrio e de paz, indispensáveis à felicidade deles e de todos nós, herdeiros
que somos das próprias ações.
Benedita Fernandes
21
Campanhas
Sob os acordes maviosos da mensagem espírita que entesouras na mente, despertas, por
fim, para a vida, desejando promover campanhas de enobrecimento.
Para tanto, começa na intimidade do lar, exercitando desapego e renunciação.
Se o fizeres, transferirás do largo campo do planejamento o ideal que acalentas para as
rudes e valiosas experiências da ação, cultivando o bem em todas as latitudes.
Remove, inicialmente, de velhas gavetas objetos que se constituem excessos, e das
cômodas antigas retira tecidos e roupas usadas a se gastarem na inutilidade, oferecendo-lhes
melhor aplicação.
Objetos mortos, que conservam valores de duvidosa expressão, catalogados como “de
estimação” se transformariam em pães e socorro para quantos sofrem ao lado da tua
indiferença.
Alfaias e baixelas cinzeladas, recordando antepassados queridos, poderiam tornar-se luz e
esperança para aqueles que espreitam além da porta do teu domicílio.
Desapega-te hoje dos haveres, antes que se consumam amanhã, expressando coerência
com as aspirações que vitalizas.
No entanto, se desejares traduzir melhor os sentimentos que atestam as tuas novas
concepções através das campanhas que movimentas, faze mais.
Leva adiante, a outrem, não somente o tecido surrado e gasto, mas também o novo, para
que a tua dádiva signifique mais do que transferência do desvalor.
Não apenas aquilo que não serve.
Em verdade é nosso tudo quanto oferecemos.
O que damos, possuímos, por demorar-se indestrutível dentro de nós.
E como os pertences, de que somos somente mordomos transitórios, mudam de mãos ao
impositivo do tempo e da morte, distribuamos aquilo que supomos possuir a fim de que
possuamos realmente.
Amplia tuas campanhas, cedendo quando uma contenda negativa te ameace o equilíbrio.
Esquece, quando ferido, sob apupos e ofensas. Doa as difíceis moedas da gentileza. E além
das doações ao próximo faze ofertas a ti mesmo.
Inicia a luta contra o egoísmo — velha roupa inútil que conservas no lar do orgulho.
Faze a campanha sistemática contra a maledicência — veneno sutil que dissemina morte, e
guardas nos vasos brilhantes da vaidade.
Reage ao ciúme — companheiro míope da imperfeição que manténs disfarçada.
Exila a ira — ácido perigoso que carregas em vasilhames trabalhados.
Investe contra a vaidade própria — rainha da ilusão que ocultas jovialmente.
Concede ao próprio espírito a luz do discernimento capaz de clarear-te por dentro,
favorecendo-te com a limpeza dos antigos escaninhos onde viviam colônias de malfeitores
morais.
Muitos homens fascinados pelo ardor do entusiasmo se despojam de haveres temporários,
passando adiante utilidades e especiarias, mas são incapazes de descer dos altos postos onde
situaram a personalidade desvairada, para que se façam mais simples, mais nobres e melhores.
Empenhado nas salutares campanhas do auxílio ao teu próximo, ajuda-te a ti mesmo
imprimindo internamente a mensagem de sabor imortal com que os Espíritos da Luz te convidam
de além-das-sombras da morte, para que singres o oceano da carne livre e tranqüilo como,
quem nada mais possuindo, se tornou valiosa posse nas mãos do Nosso Pai Celestial.
Joanna de Ângelis
22
Necessidade de Evolução
Educação-Fonte de Bênção
As tendências, que promanam do passado em forma de inclinações e desejos, se
transformam em hábitos salutares ou prejudiciais quando não encontram a vigilância e os
mecanismos da educação pautando os métodos de disciplina e correção. Sob a impulsão ao
atavismo que se prende nas faixas primevas, das quais a longo esforço o Espírito empreende a
marcha da libertação, os impulsos violentos e a comodidade que não se interessa pelos esforços
de aprimoramento moral amolentam a individualidade, ressurgindo como falhas graves da
personalidade.
As constrições da vida, que se manifestam de vária forma, conduzem o aspirante evolutivo à
trilha correta por onde, seguindo-a, mais fácil se lhe torna o acesso aos objetivos a que se
destina.
Nesse desiderato, a educação exerce um papel preponderante, porque faculta os meios para
uma melhor identificação de valores e seleção deles, lapidando as arestas embrutecidas do eu,
desenvolvendo as aptidões em germe e guiando com segurança, mediante os processos de
fixação e aprendizagem, que formam o caráter, insculpindo-se, por fim, na individualidade e
externando-se como ações relevantes.
Remanescente do instinto em que se demorou por longos períodos de experiência e ainda
mergulhado nas suas induções, o Espírito cresce, desembaraçando-se das teias de vigorosos
impulsos em que se enreda para a conquista das aptidões com que se desenvolve.
Pessoa alguma consegue imunizar-se aos ditames da educação, boa ou má, conforme o
meio social em que se encontra. Se não ouve a articulação oral da palavra, dispõe dos órgãos,
porém, não fala; se não vê atitudes que facilitam a locomoção, a aquisição dos recursos para a
sobrevivência, consegue por instinto a mobilização com dificuldade e o alimento sem a cocção;
tende retornar às experiências primitivas se não é socorrido pelos recursos preciosos da
civilização, porque nele predominam, ainda, as imposições da natureza animal. Possui os
reflexos, no entanto, não os sabe aplicar; desfruta da inteligência e, por falta de uso, já que se
demora nas necessidades imediatas, não a desenvolve; frui das acuidades da razão e do
discernimento, entretanto se embrutece por ausência de exercícios que os aprofunde. Nele não
passam de lampejos as manifestações espirituais superiores se arrojado ao isolacionismo ou
relegado às faixas em que se detêm os principiantes nas aquisições superiores...
Muito importante a missão da educação como ciência e arte da vida.
Encontrando-se ínsitas no Espírito as tendências, compete à educação a tarefa de
desenvolver as que se apresentam positivas e corrigir as inclinações que induzem à queda
moral, à repetição dos erros e das manifestações mais vis, que as conquistas da razão
ensinaram a superar.
A própria vida facultou ao Espírito, em longos milênios de observação, averiguar o que é de
melhor ou pior para si mesmo, auxiliando-o no estabelecimento de um quadro de valores, de que
se pode utilizar para a tranqüilidade interior. Trazendo do intervalo que medeia entre uma e outra
reencarnação reminiscências, embora inconvenientes, do que lhe haja sucedido, elege os
recursos com que se pode realizar melhormente, ao mesmo tempo impedindo-se deslizes e
quedas nos subterrâneos da aflição. Outrossim, inspirado pelos Espíritos promotores do
progresso no mundo, assimila as idéias envolventes e confortadoras, entregando-se ao labor do
auto-aprimoramento.
O rio corre e cresce conforme as condições do leito. A plântula se esgueira e segue a direção
da luz.
A obra se levanta consoante o desejo do autor.
Em tudo e toda parte predominam leis sutis e imperiosas que estabelecem o como, o quando
e o onde devem ocorrer as determinações divinas. Rebelar-se contra elas, é o mesmo que
atrasar-se na dor, espontaneamente, contribuindo duplamente para a realização que
conquistaria com um só esforço.
A tarefa da educação deve começar de dentro para fora e não somente nos comportamentos
da moral social, da aparência, produzindo efeitos poderosos, de profundidade.
Enquanto o homem não pensar com eqüidade e nobreza os seus atos se assentarão em
bases falsas, se deseja estruturá-los nos superiores valores éticos, porqüanto se tornam de
pequena monta e de fraca duração. Somente pensando com correção pode organizar programas
comportamentais superiores aos quais se submete consciente, prazerosamente.
Não aspirando à paz e felicidade por ignorar-lhe o de que se constituem, impraticável
lecionar-lhe sobre tais valores.
Só, então, mediante o paralelismo da luz e da treva, da saúde e da enfermidade, da alegria e
da tristeza se poderão ministrar-lhe as vantagens das primeiras em relação às segundas...
Longo tempo transcorre para que os serviços de educação se façam visíveis, e difícil trabalho
se impõe, particularmente, quando o mister não se restringe ao verniz social, à transmissão de
conhecimentos, às atitudes formais, sem a integração nos deveres conscientemente aceitos.
Por educar, entenda-se, também, a técnica de disciplinar o pensamento e a vontade, a fim
de o educando penetrar-se de realizações que desdobrem as inatas manifestações da natureza
animal, adormecidas, dilatando o campo íntimo para as conquistas mais nobres do sentimento e
da psique.
Nas diversas fases etárias da aprendizagem humana, em que o ser aprende, apreende e
compreende, a educação produz os seus efeitos especiais, porqüanto, através dos processos
persuasivos, libera o ser das condições precárias, armando-o de recursos que resultam em
benefícios que não pode ignorar.
A reencarnação, sem dúvida, é valioso método educativo de que se utiliza a vida, a fim de
propiciar os meios de crescimento, desenvolvimento de aptidões e sabedoria ao Espírito que
engatinha no rumo da sua finalidade grandiosa.
Como criatura nenhuma se realiza em isolacionismo, a sociedade se torna, como a própria
pessoa, educadora por excelência, em razão de propiciar exemplos que se fazem
automaticamente imitados, impregnando aqueles que lhes sofrem a influência imediata ou
mediatamente. No contexto da convivência, pelo instinto da imitação, absorvem-se os
comportamentos, as atitudes e as reações, aspirando-se a psicosfera ambiente, que produz,
também, sua quota importante, no desempenho das realizações individuais e coletivas.
Como se assevera, com reservas, que o homem é fruto do meio onde vive, convém se não
esquecer de que o homem é o elemento formador do meio, competindo-lhe modificar as
estruturas do ambiente em que vive e elaborar fatores atraentes e favoráveis onde se encontre
colocado a viver. Não sendo infenso aos contágios sociais, não é, igualmente, inerme a eles,
senão, quando lhe compraz, desde que reage aos fatores dignificantes a que não está
acostumado, se não deseja a estes ajustar-se.
Além do ensino puro e simples dos valores pedagógicos, a educação deve esclarecer os
benefícios que resultam da aprendizagem, da fixação dos seus implementos culturais, morais e
espirituais. Por isso, e sobretudo, a tarefa da educação há que ser moralizadora, a fim de
promover o homem não apenas no meio social, antes preparando-o para a sociedade essencial,
que é aquela preexistente ao berço donde ele veio e sobrevivente ao túmulo para onde se dirige.
Nesse sentido, o Evangelho é, quiçá, dos mais respeitáveis repositórios metodológicos de
educação e da maior expressão de filosofia educacional. Não se limitando os seus ensinos a um
breve período da vida e sim prevendo-lhe a totalidade, propõe uma dieta comportamental sem
os pieguismos nem os rigores exagerados que defluem do próprio conteúdo do ensino.
Não raro, os textos evangélicos propõem a conduta e elucidam o porquê da propositura, seus
efeitos, suas razões. Em voz imperativa, suas advertências culminam em consolação, conforto,
que expressam os objetivos que todos colimam.
— “Vinde a mim”, — assentiu Jesus, — porque eu “Sou o caminho, a Verdade e a Vida”, não
delegando a outrem a tarefa de viver o ensino, mas a si mesmo se impondo o impostergável
dever de testemunhar a excelência das lições por meio de comprovados feitos.
Sintetizou em todos os passos e ensinamentos a função dupla de Mestre — educador e
pedagogo —, aquele que permeia pelo comportamento dando vitalidade à técnica de que se
utiliza, na mais eficiente metodologia, que é a da Vivência.
Quando os mecanismos da educação falecem, não permanece o aprendiz da vida sem o
concurso da evolução, que lhe surge como dispositivo de dor, emulando-o ao crescimento com
que se libertará da situação conflitante, afugente, corrigindo-o e facultando-lhe adquirir as
experiências mais elevadas.
A dor, em qualquer situação, jamais funciona como punição, porqüanto sua finalidade não é
punitiva, porém educativa, corretora. Qualquer esforço impõe o contributo do sacrifício, da
vontade disciplinada ou não, que se exterioriza em forma de sofrimento, mal-estar, desagrado,
porque o aprendiz, simplesmente, se recusa considerar de maneira diversa a contribuição que
deve expender a benefício próprio.
Nenhuma conquista pode ser lograda sem o correspondente trabalho que a torna valiosa ou
inexpressiva. Quando se recebem títulos ou moedas, rendas ou posição sem a experiência
árdua de consegui-los, estes empalidecem, não raro, convertendo-se em algemas pesadas,
estímulos à indolência, convites ao prazer exacerbado, situações arbitrárias pelo abuso da
fortuna e do poder.
Imprescindível em qualquer cometimento, portanto, o exame da situação e a avaliação das
possibilidades pessoais.
Sendo a Terra a abençoada escola das almas, é indispensável que aqui mesmo se lapidem
as arestas da personalidade, se corrijam os desajustamentos, se exercitem os dispositivos do
dever e se predisponham os Espíritos ao superior crescimento, de modo a serem superadas as
paixões perturbadoras que impelem para baixo, ao invés daquelas ardentes pelos ideais
libertadores, que acionam e conduzem para cima.
Os hábitos que se arraigam no corpo, procedentes do Espírito como lampejos e
condicionamentos, retornam e se fixam como necessidades, sejam de qual expressão for,
constituindo uma outra natureza nos refolhos do ser, a responder como liberdade ou escravidão,
de acordo com a qualidade intrínseca de que se constituem.
A morte, desvestindo a alma das roupas carnais, não lhe produz um expurgo das qualidades
íntimas, antes lhe impõe maior necessidade de exteriorizá-las, liberando forças que levam a
processos de vinculações com outras que lhes sejam equivalentes. Na Terra isto funciona em
forma de complexos mecanismos de simpatia e antipatia, em afinidades que, no além-túmulo,
porque sincronizam na mesma faixa de aspiração e se movimentam na esfera de especificidade
vibratória, reúnem os que se identificam no clima mental, de hábitos e aptidões que lhes são
próprios.
Nunca se deve transferir para mais tarde o mister de educar-se, corrigir-se ou educar e
corrigir.
O que agora não se faça, neste particular, ressurgirá complicado, em posição diversa, com
agravantes de mais difícil remoção.
Pedagogos eminentes, os Espíritos Superiores ensinam as regras de bom comportamento
aos homens como educadores que exemplificam depois de haverem passado pelas mesmas
faixas de sombra, ignorância e dor, de que já se libertaram.
Imperioso, portanto, conforme propôs Jesus, que se faça a paz com o “adversário enquanto
se está no caminho com ele”, de vez que, amanhã, talvez seja muito tarde e bem mais difícil
alcançá-lo.
O mesmo axioma se pode aplicar à tarefa da educação:
agora, enquanto é possível, moldar-se o eu, antes que os hábitos e as acomodações perniciosas
impeçam a tomada de posição, que é o passo inicial para o deslanchar sem reversão.
Educação, pois, da mente, do corpo, da alma, como processo de adaptação aos superiores
degraus da vida espiritual para onde se segue.
A educação, disciplinando e enriquecendo de preciosos recursos o ser, alça-o à vida,
tranqüilo e ditoso, sem ligações com as regiões inferiores donde procede. Fascinado pelo
tropismo da verdade que é sabedoria e amor, após as injunções iniciais, mais fácil se lhe torna
ascender, adquirir a felicidade.
Joanna de Ângelis
23
Deveres dos Filhos
Toda a gratidão sequer retribuirá a fortuna da oportunidade fruída através do renascimento
carnal.
O carinho e respeito contínuos não representarão oferenda compatível com a amorosa
assistência recebida desde antes do berço.
A delicadeza e a afeição não corresponderão à grandeza dos gestos de sacrifício e da
abnegação demoradamente recebidos...
Os filhos têm deveres intransferíveis para com os pais, instrumentos de Deus para o trâmite
da experiência carnal, mediante a qual o Espírito adquire patrimônios superiores, resgata
insucessos e comprometimentos perturbadores.
*
Existem genitores que apenas procriam, fugindo à responsabilidade.
Não compete, porém, aos filhos julgá-los com severidade, desde que não são dotados da
necessária lucidez e correção para esse fim.
Se fracassaram no sagrado ministério, não se furtarão à consciência, em forma da presença
da culpa neles gravada.
Auxiliá-los por todos os meios ao alcance é mister indeclinável, que o filho deve ofertar com
extremos de devotamento e renúncias.
A ingratidão dos filhos para com os pais é dos mais graves enganos a que se pode permitir o
Espírito na sua marcha ascensional.
A irresponsabilidade dos progenitores de forma alguma justifica a falência dos deveres
morais por parte da prole.
Ninguém se vincula a outrem através dos vigorosos liames do corpo somático, da família,
sem justas, ponderosas razões.
- Desincumbir-se das tarefas relevantes que o amor e o reconhecimento impõem — eis o
impositivo que ninguém pode julgar lícito postergar.
Ama e respeita em teus genitores a humana manifestação da paternidade divina.
Quando fortes, sê-lhes a companhia e a jovialidade:
quando fracos, a proteção e o socorro.
Enquanto sadios, presenteia-os com a alegria e a consideração; se enfermos, com a
assistência dedicada e a sustentação preciosa.
Em qualquer situação ou circunstância, na maturidade ou na velhice, afeiçoa-te àqueles que
te ofertaram o corpo de que te serves para os cometimentos da evolução, como o mínimo que
podes dispensar-lhes, expressando o dever de que te encontras investido.
Joanna de Ângelis
24
Filho Deficiente
A decepção passou a ser-te um ferrete em brasa, dilacerando sem cessar os teus
sentimentos.
Todos os planos ficaram desfeitos, quando esperavas entesourar felicidade e vitória.
No suceder dos dias, desde os primeiros sinais, anelaste por um ser querido que chegaria
aos teus braços com os louros e a predestinação da grandeza em relação ao futuro.
O pequeno príncipe deveria trazer no corpo, na mente, na vida, as características da raça
pura, grandioso no porte, lúcido na inteligência, triunfador nas realizações.
O que agora contemplas não é o filho desejado, mas um feio espécime, mutilado, enfermo,
frágil...
Mal acreditas que se haja gerado por teu intermédio, que seja teu filho.
Por pouco não o detestas.
Mal te recobras do choque e da vergonha que experimentas quando os amigos o vêem,
quando sabem que é teu descendente.
Surda revolta assenhoreia-se da tua alma e, a pouco e pouco, a amargura ganha campo no
teu coração.
Reconsidera, porém, quanto antes, atitudes e posições mentais.
Não podes arbitrar com segurança no jogo dos insondáveis sucessos da reencarnação.
Pára a reflexionar e submete-te à injunção redentora.
A tua frustração decorre do orgulho ferido, do desamor que cultivas.
Teu filho deficiente necessita de ti. Tu, porém, mais necessitas dele.
Quem agora te chega ao regaço com deficiência e limitação, recupera-se no cárcere corporal
das arbitrariedades que perpetrou.
Déspota ou rebelde, caiu nas ciladas que deixou pela senda, onde fez que outros
sucumbissem.
Mordomo da existência passada, abusou dos dons da vida com estroinice e perversidade,
ferindo e terminando por ferir-se.
Não cometeu, todavia, tais desatinos a sos.
Quando alguém cai, sempre existe outrem oculto ou ostensivo que o leva ao tombo.
O êxito como o insucesso sempre se faz de parceria.
Muitos responsáveis intelectuais de realizações nobres como de crimes espetaculares
permanecem não identificados.
E são os autores reais, que se utilizam dos chamados ignorantes úteis para esses
cometimentos.
O filho marcado que resulta do teu corpo é alma vitimada pela tua alma, não duvides.
Não é este o primeiro tentame que realizam juntos. Saindo do fracasso transato, ambos
recomeçam abençoada experiência, cujo êxito podes promover desde já.
Renteia com ele na limitação e aumenta-lhe, mediante o amor dinâmico, a capacidade
atrofiada.
Sê-lhe o que lhe falta.
Da convivência nascerá a interdependência recíproca.
No labor com ele, amá-lo-ás.
Infatigavelmente renova os quadros mentais e por enquanto desce ao solo da realidade, fora
das ilusões mentirosas, a fim de seres, também, feliz.
Honra-te com o filhinho dependente e mais aproxima-te dele, cada vez.
A carne gera a carne, mas os atos pretéritos do espírito produzem a forma para a residência
orgânica.
As asas de anjo do apóstolo, como os pés de barro de quem amas, precedem à atual
injunção fisiológica.
Se te repousa no berço de sonhos desfeitos um filhinho deformado, amputado, dementado,
deficiente de qualquer natureza, esquece-lhe a aparência e assiste-o com amor.
Não te chega ao trono dos sentimentos por acaso.
Antigo companheiro vencido, suplica ajuda ao desertor, só agora alcançado pela divina
legislação.
Dá-lhe ternura, canta-lhe um poema de esperança, ajuda-o.
O filho deficiente no teu lar significa a tua oportunidade de triunfo e a ensancha que ele te
roga para alcançar a felicidade.
Seria terrivelmente criminoso negar-lhe, por vaidade ferida, o amparo que te pede, quando te
concede a bênção do ensejo para a tua reparação em relação a ele.
Joanna de Ângelis
25
Filhos Ingratos
A ingratidão — chaga pestífera que um dia há de desaparecer da Terra — tem suas
nascentes no egoísmo, que é o remanescente mais vil da natureza animal, lamentavelmente
persistindo na Humanidade.
A ingratidão sob qualquer forma considerada expressa o primarismo espiritual de quem a
carrega, produzindo incoercível mal-estar onde se apresenta.
O ingrato, isto é, aquele que retribui o bem pelo mal, a generosidade pela avareza, a simpatia
pela aversão, o acolhimento pela repulsa, a bondade pela soberba é sempre um atormentado
que esparze insatisfação, martirizando quantos o acolhem e socorrem.
O homem vitimado pela ingratidão supõe tudo merecer e nada retribuir, falsamente
acreditando ser credor de deveres do próximo para consigo, sem qualquer compensação de sua
parte.
Estulto, desdenha os benefícios recolhidos a fim de exigir novas contribuições que a própria
insânia desconsidera. E arrogante e mesquinho porque padece atrofia dos sentimentos,
transitando nas faixas da semiconsciência e da irresponsabilidade.
Sendo a ingratidão, no seu sentido genérico, detestável nódoa moral, a dos filhos para com
os pais assume proporções relevantes, desde que colima hediondo ato de rebeldia contra a
Criação Divina.
O filho ingrato é dilacerador do coração dos pais, ímpio verdugo que se não comove com as
doloridas lágrimas maternas nem com as angústias somadas e penosas do sentimento paterno.
Com a desagregação da família, que se observa generalizada na atualidade, a ingratidão dos
filhos torna-se responsável pela presença de vários cânceres morais, no combalido organismo
social, cuja terapia se apresenta complexa e difícil.
Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole,
cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu
turno, logo podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da
rebeldia e da agressividade contínua, culminando, não raro, em cenas de pugilato e vergonha.
Muitos progenitores, igualmente, imaturos ou versáteis, que transitam no corpo açulados pelo
tormento de prazeres incessantes — que os fazem esquecer as responsabilidades junto aos
filhos para os entregarem aos servos remunerados, enquanto se corrompem na leviandade —,
respondem pelo desequilíbrio e desajuste da prole, na desenfreada competição da utópica e
moderna sociedade.
Todavia, filhos há que receberam dos genitores as mais prolíferas demonstrações e
testemunhos de sacrifício e carinho, aspirando a um clima de paz, de saúde moral, de equilíbrio
doméstico, nutridos pelo amor sem fraude e pela abnegação sem fingimentos, e revelam-se, de
cedo, frios, exigentes e ingratos.
Se diante de pais irresponsáveis a ingratidão dos filhos jamais se justifica ou procede, a
proporcionada por aqueles que tudo recebem e tudo negam, somente encontra explicação na
reminiscência dos desajustes pretéritos dos Espíritos, que, não obstante reunidos outra vez para
recuperar-se, avivam as animosidades que ressumam do inconsciente e se corporificam em
forma de antipatia e aversão, impelindo-os à ingratidão que os atira às rampas inditosas do ódio
dissolvente.
A família é abençoada escola de educação moral e espiritual, oficina santificante onde se
lapidam caracteres, laboratório superior em que se caldeiam sentimentos, estruturam
aspirações, refinam ideais, transformam mazelas antigas em possibilidades preciosas para a
elaboração de misteres edificantes.
O lar, em razão disso, mesmo quando assinalado pelas dores decorrentes do aprimorar das
arestas dos que o constituem, é forja purificadora onde se devem trabalhar as bases seguras da
Humanidade de todos os tempos.
Quando o lar se estiola e a família se desorganiza a Sociedade combale e estertora.
De nobre significação, a família não são apenas os que se amam, através dos vínculos da
consangüinidade, mas, também, da tolerância e solidariedade que se devem doar os
equilibrados e afáveis aos que constituem os elos fracos, perturbadores e em deperecimento no
clã doméstico.
Aos pais cabem sempre os deveres impostergáveis de amar e entender até o sacrificio os
filhos que lhes chegam pelas vias sacrossantas da reencarnação, educando-os e depondo-lhes
nas almas as sementes férteis da fé, das responsabilidades, instruindo-os e neles inculcando a
necessidade da busca de elevação e felicidade. O que decorra serão conseqüências do estado
moral de cada um, que lhes não cabem prever, recear ou sofrer por antecipação pessimista.
Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou irresponsáveis porqüanto é
do código Superior da Vida, o impositivo: “Honrar pai e mãe”, sem excluir os que o são apenas
por função biológica, assim mesmo, por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa
necessárias provas redentoras e pungitivas expiaçôes liberativas.
Ante o filho ingrato, seja qual for a situação em que se encontre, guarda piedade para com
ele e dá-lhe mais amor...
Agressivo e calceta, exigente e impiedoso, transformado em inimigo insensível quão odioso,
oferta, ainda, paciência e mais amor...
Se te falarem sobre recalques que ele traz da infancia, em complexos que procedem desta
ou daquela circunstância, em efeito da libido tormentosa com que os simplistas e descuidados
pretendem excusá-lo, culpando-te, recorda, em silêncio, de que o Espírito precede ao berço,
trazendo gravados nas tecelagens sutis da própria estrutura gravames e conquistas, elevação e
delinqüência, podendo, então, melhor compreendê-lo, mais ajudá-lo, desculpá-lo com eficiência
e socorrê-lo com probidade prosseguindo ao seu lado sem mágoa e encorajado no programa
com a família inditosa e os filhos ingratos, resgatando pelo sofrimento e amor os teus próprios
erros, até o dia em que, redimido, possas reorganizar o lar feliz a que aspiras.
Joanna de Ângelis
26
Mãe Adotiva
A mente repassa os acontecimentos felizes da nossa vida e envolvo em ternura a memória
da nossa convivência.
Esta mulher extraordinária, de quem me recordo, fez tudo quanto o amor poderia lograr, a fim
de amparar-me, ocultando a minha procedência obscura e anônima.
Cercou-me de carinho e protegeu-me, para que nada me afetasse.
Insuflou-me a força do seu devotamento, que era o hálito poderoso do seu amor, em emoção
carregada de bênçãos. no verbete sublime que é: mamãe!
Jamais deixou-me perceber as lágrimas que vertera antes de eu chegar e sempre me
demonstrou a felicidade que a minha presença lhe causava.
No entanto, na sua inocência, pensava que todas as pessoas seriam benignas e gentis
quanto ela sempre o foi.
Assim, não demorou muito para que, em plena adolescência, o seu segredo me fosse
desvelado de maneira cruel, por meio de um coração leviano que, pensando que nos iria
destruir, chamou-me de filha de ninguém.
Abalada, quase tombei ante o golpe insano. Todavia, a transparência do seu olhar e a
devoção do seu afeto fizeram-me silenciar o acontecimento no imo da alma.
Não me foi fácil, nem tampouco difícil enfrentar a nova circunstância e nessa conjuntura eu
descobri, em júbilo, a grandeza do amor de mãe adotiva.
As outras, as mães carnais, ás vezes, são compelidas pelo corpo a amar os filhos que
geram, mas você e todas as mães de adoção, amam pelo espírito, elegendo quem lhes vai
receber o devotamento, a dedicação.
E não se tornam menos mães!
Sofrem mais, certamente.
Quando revelam ao filho as circunstâncias da sua origem, temem magoá-lo e, quando não o
dizem, vivem sempre temendo perdê-lo, quando forem descobertas.
Seu querer é suave como a claridade lunar e forte como somente o amor abnegado pode
tornar-se.
São anjos anônimos e abençoados na multidão.
Homenageando-a, mãezinha adotiva, desejo dizer a outras que lhe são iguais que, desde o
dia em que pensem em receber um filho que lhes não proceda do seio, considerem também, a
necessidade de dizer-lhe, sem receio, demonstrando que o amor é Deus e dEle tudo procede,
para ele retornando, não sendo, pessoa alguma, propriedade de outrem, senão, todos filhos do
Seu amor, nutridos pelo Amor, para a glória do Eterno Amor.
Amélia Rodrigues
27
Filhos Alheios
Ei-lo, rude e soberbo, que te afronta, desrespeitoso e ingrato, exaurindo-te as reservas de
ânimo e deixando-te em lamentável estado emocional.
Insensível aos teus apelos e indiferente às tuas colocações apresenta-se marcado por fundos
traumas dos quais não tens culpa, olhar desvairado, parecendo estar a um passo da loucura,
amedrontando-te e inspirando-te a desistência do ideal educativo.
Tomando atitude vulgar, suas palavras são chulas ou brutais, passando, através do tempo, a
desconsiderar-te, como se a tua fosse a tarefa de servi-lo e deixá-lo à vontade.
É gentil, quando estás de acordo com os seus desejos absurdos, anelando por uma vida
ociosa e desprezível. Tão pronto lhe falas em dever, obrigações, rebela-se, resmunga,
desobedece e ameaça.
Estás a ponto de o abandonar.
Indagas-te, muitas vezes, pela criança indefesa e necessitada que recebeste nos braços,
requerendo-te ternura e amor... Através das recordações revés o corpo frágil e enfermo que
cuidaste e atendeste com esperanças de preparar um cidadão para o mundo, um homem para a
sociedade!
Não pode ser o mesmo, este agressivo adversário, o menino que albergaste no coração.
Ali está a mocinha petulante e voluntariosa, exigente e inquieta.
Intoxicada por anseios de liberdade exagerada, extravasa amargura e faz-se revoltada por
depender das tuas mãos vigorosas que a impedem, momentaneamente, de complicar-se,
tombando no fosso de dores que lamentará mais tarde.
Astuta, pensa que te engana, traindo a tua confiança e fugindo ao maternal apoio que lhe
dispensas, voluntariamente desconectando as engrenagens do equilíbrio.
Observando-a, menina-moça audaciosa, perguntas pela criança fraca que te chegou, há
pouco, e a quem amaste com devotamento e carinho.
Parece que isto não pode acontecer contigo: receber urze após haver semeado flores e
sorver fel na taça em que doaste linfa benfazeja! A realidade, porém, é mais forte do que os
planos que acalentaste de felicidade, e temes não dispor de mais forças para continuar.
Filhos alheios são, também, filhos de Deus.
Perguntas-te se valeu o investimento dos teus melhores anos de vida, que lhes ofertaste, em
face dos resultados que recolhes.
Toda a aplicação do bem, sempre retorna um dia. Não te assustes nem temas ante os
precipitados momentos da alucinação que toma conta da atualidade histórica.
Redobra a capacidade de amor e não te desapontes.
Se o rebelde fora teu filho ou tua filha, isto é, se nascido do teu corpo, como procederias?
Deixá-lo-ia ao abandono, porque é doente moral e se encontra em crise emocional?
Pergunta às mães sacrificadas, que não desistem nem abandonam os filhos, e elas nublarão
de lágrimas os olhos, informando-te que, assim mesmo, os amam e porfiarão até o fim.
Pensas que ainda podes gozar uma vida melhor, livre de problemas e de tais inquietações.
Onde, porém, essa paisagem de lazer e de paz, na Terra?
Se não recebes o retributo do bem próximo que fizeste, é porque te estão chegando os
efeitos do mal que realizaste antes.
Chegará a vez da colheita da paz, cuja semente de amor depuseste no solo dos corações da
carne alheia, que aceitaste como tua oportunidade de redenção.
A criança risonha cresce, e sua face, às vezes, se altera e deforma.
O futuro, no entanto, trabalha-la-á de modo a despertar para o certo e o verdadeiro sentido
da vida.
Nunca te arrependas do amor que doaste a alguém, nem te aflijas em face da resposta que
ainda não chegou, benéfica.
Tem paciência e insiste mais.
Continua amando a criança e compreenderá o adulto atormentado.
São doentes, sim, os filhos alheios a quem amas e que te não reconhecem o carinho, como o
são também os filhos da própria carne, que se debatem nas armadilhas da desdita, tornando-se
arrogantes e perversos, desconhecidos e prepotentes.
Com Jesus aprendemos que o amor deve enfrentar os desafios da dificuldade,
robustecendo-se na fé e servindo com as mãos da caridade até a plenitude, quando o homem
regenerado esteja numa Terra feliz que ele mesmo edificará.
Contemplarás, então, a gleba humana ditosa e te alegrará pelo quanto contribuíste para que
ela se fizesse plena.
Joanna de Ângelis
28
Filho Adotivo
Mãezinha querida:
Eu sei que você me recebeu com a alma em festa, vestida de sonhos e esperanças.
Em momento algum lhe passou pela mente que o fato de eu não lhe pertencer à carne
pudesse alterar o nosso infinito amor.
Eu venho de regiões ignotas e dos tempos imemoriais do seu passado, no qual
estabelecemos estes vínculos de afeto imorredouro...
Foi necessário que nós ambos nos precisássemos, na área da ternura, impedidos, porém, de
nascer um da carne do outro, por motivos que nos escapam, a fim de que outra mulher me
concebesse, entregando-me a você.
Ela não se deu conta da grandeza da maternidade; não obstante, sou-lhe reconhecido, pois
que, sem a sua contribuição, eu não teria recebido este carinho de mãe espiritual saudosa, nem
fruiria da sua convivência luminosa, graças à qual eu me enterneço e sou feliz.
Filho adotivo!
Quantas vezes me golpearam com azedume, utilizando essas palavras!
O seu amor, todavia, demonstrou-me sempre que a maternidade do coração é muito mais
vigorosa do que a do corpo.
Não há mães que asfixiam os filhinhos, quando estes nascem? E outras, não há, que sequer
os deixam desenvolver-se no seu ventre, matando-os antes do parto?
No entanto, quem adota, fá-lo por amor e doa-se por abnegação.
De certo modo, somos todos filhos adotivos uns dos outros, pelo corpo ou sem ele,
porqüanto, a única paternidade verdadeira é a que procede de Deus, o Genitor Divino que nos
criou para a glória eterna.
Mãezinha de adoção é alma que sustenta outra alma, vida completa que ampara outra vida
em desenvolvimento.
Venho hoje agradecer-lhe, em meu nome e no daqueles filhos adotivos que, ingratos e
doentes, pois que também os há em quantidade, não souberam valorizar os lares que os
receberam, nem os corações que se dilaceraram na cruz espinhosa dos sofrimentos em favor da
vida e da segurança deles.
Recordando-me da Mãe de Jesus, que a todos nos adotou como filhos, em homenagem ao
Seu Filho, digo-lhe, emocionada e feliz: Deus a abençoe, mamãe, hoje e sempre!
Amélia Rodrigues
29
Frutos de Delinqüência
O delinqüente deve sempre ser considerado um espírito enfermo, padecendo injunções
alienantes que o levam ao delito.
Não obstante, cumpre à sociedade o dever de ensejar-lhe a reeducação e o tratamento,
quando colhido nas malhas da Lei.
Afastá-lo do convívio social, trabalhando pela sua reabilitação, a fim de que se transforme em
cidadão útil, que contribua para o progresso da Humanidade, quanto à própria evolução moral, é
dever impostergável de quantos pautam a vida pelos códigos de ética e de dignidade.
Evitar-se aplicar no infrator os mesmos processos violentos de que ele usa para colimar os
seus objetivos malsãos, constitui uma atitude de civilidade e cultura superiores.
Impedir-se a usança de técnicas da agressividade ou da corrupção, ou os métodos da
punição física, da coerção moral, da lavagem cerebral, significa utilização da Justiça que se
propõe a soerguer o infeliz, embora implicitamente aplicando-lhe as penalidades que funcionam,
como terapia retificadora e edificante.
O delinqüente nem sempre se origina dos sórdidos guetos e favelas, onde fermenta o caldo
de cultura da desagregação da personalidade, locais de fomento ao crime em razão dos fatores
sócio-morais e econômicos que constringem e alucinam os que ali se encontram, mas de muitas
outras comunidades e lares dignamente constituídos.
Crimes repulsivos e hediondos, agressões revoltantes e homicídios dantescos, furtos e
roubos acompanhados de estupros e lamentáveis perversidades, lutas físicas e chantagens
impiedosas, lenocínios e viciações toxicômanas apresentam altas e alarmantes taxas da
delinqüência que ora assola a Terra e dizima multidões em desespero...
Diante, no entanto, de delinqüentes de tal jaez, tenta o amor fraternal, revidando-lhes a
impiedade com a onda positiva de que o amor se faz portador. No entanto, se o amor ainda não
domina os teus sentimentos, a ponto de facultar-te a reação não agressiva, unge-te de
compaixão e a piedade diluirá a violência que te assoma, alcançando o infrator que te fere,
apagando as marcas da mágoa, que teimam por insculpir no teu íntimo como desejo de
desforço.
Não são, porém delinqüentes, somente, aqueles que se armam de agressividade, e, loucos,
disseminam o medo, o crime brutal, aparvalhante.
Delinqüem, também, os que exploram a ingenuidade dos jovens, arrojando-os nos antros da
perdição; os que usurpam as parcas moedas do povo, no comércio escorchante de mercadorias
de primeira necessidade; os profissionais liberais, que anestesiam a dignidade, falseando o
juramento que fizeram de prometer servir e honrar o sacerdócio que abraçam, indiferentes,
porém, aos problemas dos clientes, protelando suas soluções a custa de largas somas com que
constroem sólidas fortunas, apesar de transitórias; os que espalham ondas de inquietação,
urdindo tramas que aliciam outros partidários de emoção afetada; os que traem os afetos que
lhes dedicam confiança e respeito; os maus administradores, que malversam os valores públicos
e deles se utilizam a benefício próprio, dos seus êmulos e pares; os que conspiram, à socapa,
contra as obras de benemerência e amor; e muitos, muitos outros que são arrolados como
dignos de bom conceito e que, certamente, não cairão incursos nas legislações humanas,
porque disfarçados de homens probos, bem aceitos e acatados...
Eles, todavia, sabem das próprias culpas, que dissimulam com habilidade.
A consciência despertará, por mais se demore em conivência com a má aplicação dos
recursos da inteligência e da saúde de que se fazem dotados.
Não lograrão fugir de si mesmos, nem se liberarão dos conflitos que se lhes instalaram na
alma.
Resguarda-te do contágio da delinqüência, preservando os teus valores morais, mesmo que
sejam de pequena monta; a tua posição social, embora não tenha realce público; a tua situação
econômica, apesar de caracterizada pela pobreza; as tuas aspirações, mesmo que de pequeno
porte, ligando-te em pensamento, ao compromisso do bem, que se irradia do Cristo, que
programou para o homem e a Terra, em nome do Pai, a felicidade e a harmonia, através de
métodos de dignificação, únicos aliás, que compensam em profundidade e perenemente.
Os frutos da delinqüência são a loucura de largo porte, o sofrimento sem conforto, o suicídio,
a morte violenta, nefasta.
Vive, desse modo, as diretrizes do Evangelho e nunca te esqueças que, ao defrontar um
delinqüente, seja em qual circunstância for, será muito melhor ser-lhe a vítima do que seu algoz,
conforme o próprio Mestre nos ensinou com o exemplo na Cruz.
Joanna de Ângelis
30
Delinqüência, Perversidade e Violência
A onda crescente de delinqüência que se espalha por toda a Terra assume proporções
catastróficas, imprevisíveis, exigindo de todos os homens probos e lúcidos acuradas reflexões.
Irrompendo, intempestivamente, faz-se avassaladora, em vigoroso testemunho de barbárie, qual
se loucura de procedência pestilencial se abatesse sobre as mentes, em particular grassando na
inexperiente Juventude, em proporções inimagináveis, aflitivas.
Sociólogos, educadores, psicólogos e religiosos preocupados com a expressiva mole de
delinqüentes de toda lavra, especialmente os perversos e violentos, aprofundam pesquisas,
improvisam soluções, experimentam métodos mal elaborados, aderem aos impositivos da
precipitação, oferecem sugestões que triunfam por um dia e sucumbem no imediato, tudo
prosseguindo como antes, senão mais turbulento, mais inquietador.
Os milênios de cultura e civilização parece que em nada contribuíram a benefício do homem,
que, intoxicado pela violência generalizada, adotou filosofias esdrúxulas, em tormentosa busca
de afirmações, mediante o vandalismo e a obscenidade, em fugas espetaculares para as
“origens”.
Numa visão superficial das conseqüências calamitosas desse estado sócio-moral
decorrentes, asseveram alguns observadores que a delinqüência, a perversidade e a violência
fluem, abundantes, dos campos das guerras sujas e cruéis, engendradas pela necessidade da
moderna tecnologia em libertar os países super-desenvolvidos do excesso de armamentos
bélicos e dos equipamentos militares ultrapassados, gerando focos de conflitos a céus abertos
entre povos em fases embrionárias de desenvolvimento ou subdesenvolvidos, martirizados e
destroçados às expensas dos interesses econômicos alienígenos, dominadores arbitrários, no
entanto, transitórios...
Indubitavelmente, a Humanidade vê-se compelida a responder por esse pesado ônus, fruto
do egoísmo de homens e governos impenitentes, que fomentam as desgraças imediatas,
geratrizes de males que tais...
O homem condicionado à técnica da matança desenfreada e selvagem, atormentado pelo
medo contínuo, submetido às demoradas contingências da insegurança, incerteza e angústia
disso resultantes, adestrado para matar antes e examinar depois, a fim de a si mesmo pouparse,
obrigando-se a cruciais situações, ingerindo drogas para sustentar-se, açular sensações,
aniquilar sentimentos, só, mui dificilmente, poderá reencontrar-se mesmo que transladado dos
campos de combate para as comunidades pacíficas e ordeiras.
A simples injunção de uma paz assinada longe do caos dos conflitos onde perecem vidas,
ideais e dignidade jamais conseguirá transformar de improviso um “veterano” num pacato
cidadão.
Além desse fator odioso, com suas intercorrências, referem-se os estudiosos aos da injustiça
social vigente entre as diversas classes humanas, de que padecem os proletários e os menos
favorecidos sempre arrojados às posições subalternas ou nenhures, mal remunerados, ou sem
salário algum, subnutridos, abandonados. Atirados aos redutos sórdidos das favelas, guetos e
malocas, vivendo de expedientes, dependentes uns dos outros, em aventuras, urdem na mais
penosa miséria econômica, da qual se derivam as condições mesológicas deploráveis — causas
de enfermidades orgânicas e psíquicas de diagnose difícil quão ignorada; geradoras de ódios,
brutalidades e sevícias, nos quais se desarticulam os padrões dos sentimentos substituídos por
frieza emocional resultante de inditosa esquizofrenia paranóide — os desforços contra a
Sociedade indiferente que os relega a estágio primitivo, sub-humano.
Ás vezes sobrevivem alguns descendentes, vítimas inermes do meio-ambiente, cujos hábitos
e costumes arraigados jungem-os a viciações de erradicação difícil, quando não perturbante, de
que não se conseguem libertar, estiolando-se, mais tarde...
Todavia, devemos considerar, à margem das respeitáveis opiniões dos técnicos e
especialistas no complexo problema, as condições morais das famílias abastadas — tendo-se
em conta que a delinqüência flui, também, abundante e referta, assustadora e rude, em tais
meios assinalados pela linhagem social e pela tradição — cujos exemplos nem sempre
salutares, substituem o cumprimento dos retos deveres pelo suborno ou os transferem para
realização a servos e pedagogos remunerados, enquanto os pais se permitem desconsiderações
recíprocas, desprezo a leis e costumes, impondo seus caprichos e desaires como normas
aceitas, convenientes, sobre as quais estatuem as diretrizes do comportamento, agindo de
maneira desprezível, apesar da aparência respeitável...
A leviandade de mestres e educadores imaturos, não habilitados moralmente para os
relevantes misteres de preparação das mentes e caracteres em formação, contribui, igualmente,
com larga quota de responsabilidade no capítulo da delinqüência juvenil, da agressividade e da
violência vigentes, ameaçadoras, câncer perigoso a dizimar com crueldade o organismo social
do Planeta.
Experiências em laboratórios com ratos hão demonstrado que a superdensidade de
espécimes em área reduzida torna-os violentos, após atravessarem períodos de voracidade
alimentar, de abuso sexual até a exaustão, fazendo-os, depois perigosos e agressivos,
indiferentes às outras faculdades e interesses. Crêem os especialistas em demografia, que o
problema é semelhante no homem que vive estrangulado nos congestionados centros urbanos,
onde as cifras da delinqüência se fazem superlativas, cada dia ultrapassando as anteriores.
Destaquemos, aqui, a falência das implicações morais e da ética religiosa do passado, que
depois da constrição proibitiva a todos os processos evolutivos viam-se ultrapassadas, sentindo
necessidade de atualização para a sobrevivência, saltando do estágio primário da proibição pura
e simples para o acumpliciamento e acomodação a pseudos valores novos, não comprovados
pela qualidade de conteúdo. A permissividade total concedida por alguns receosos pastores, em
caráter experimental, contribuiu para a morte do decoro e a vigência da licenciosidade que
passou a vulgarizar a temática evangélica em indesculpável servilismo das paixões
dominantes...
O delinqüente, no entanto, padece, não raro, de distúrbios endógenos ou exógenos que o
impelem ou predispõem à violência, que se desborda ante os demais contributos sociais,
econômicos, mesológicos...
Sem qualquer dúvida, a desarmonia endócrina, resultante da exigência hereditária, as
distonias psíquicas se fazem vigorosos impositivos para a alienação e a delinqüência. Muitos
traumas psicológicos e recalques que procedem do próprio espírito aturdido e infeliz espocam
como complexos destrutivos da personalidade expulsandoos para porões do desajuste da
emoção e para a rebeldia sistemática a que se agarram, buscando sobreviver, não raro
enlouquecendo pela falta de renovação e pela intoxicação dos fluidos e miasmas psíquicos que
cultivam.
Além disso, os distúrbios orgânicos, as seqüelas de enfermidades várias, os traumatismos
ocasionados por golpes e quedas são outra fonte de desarranjos do discernimento, ensejando a
fácil eclosão da violência e da agressividade.
Pulula, ainda, nos complexos mecanismos da reencarnação em massa destes dias,
mergulho no corpo somático de Espírito primário nos quadros da evolução, necessitados de
progresso e ajuda para a própria ascensão que, não encontrando os estímulos superiores para o
enobrecimento, são, antes, conduzidos à vivência das sensações grosseiras em que transitam,
desbordando os impulsos agressivos e os instintos violentos com que esperam impor-se e
usufruir mais fogosas cargas de gozos em que se exaurem e sucumbem. Aderem à filosofia chã
de viver intensamente um dia, a lutarem e viverem todos os dias.
A simples preocupação dos interessados — e a questão nos diz respeito a todos nós —, não
resolve, se medidas urgentes e práticas, mediante uma política educativa generalizada, não se
fizerem impor antes da erupção de males maiores e das suas conseqüências em progressão,
apavorantes. Teríamos, então, as cidades transformadas em imensos palcos para o espetáculo
cada vez mais rude da delinqüência e dos seus famigerados comparsas.
Tem-se procurado reprimir a delinqüência sem se combaterem as causas fecundas da sua
multiplicação. Muito fácil, parece, a tarefa repressiva, inútil, porém, quando não se transforma
em um fator a mais para a própria violência.
A terapêutica para tão urgente questão há de ser preventiva, exigindo dos adultos que se
repletem de amor nas inexauríveis nascentes da Doutrina de Jesus, a fim de que, moralizandose,
possam educar as gerações novas propiciando-lhes clima salutar de sobrevivência psíquica
e realização humana.
A valorização da vida e o respeito pela vida conduzirão pais, mestres, educadores, religiosos
e psicólogos a uma engrenagem de entendimento fraternal com objetivos harmônicos e
metódicos — exemplos capazes de sensibilizar a alma infantil e conduzi-la com segurança às
metas felizes que devem perseguir.
Por coerência, espiritualmente renovado e educado, o homem investirá contra a chaga
vergonhosa da injustiça social, contra os torpes métodos que fomentam a miséria econômica e
seus fâmulos, contra o inditoso e constritivo meio-ambiente pernicioso, contra o orgulho, o
egoísmo e a indiferença.
Os portadores de perturbação psíquica de qualquer procedência e violentos serão amados e
atendidos por uma Medicina mais humana e mais interessada nos pacientes que preocupada em
auferir lucros e homenagens com que muitos dos seus profissionais se envilecem, na tortuosa
correria para a fama e o poder...
O homem iluminado interiormente pela flama cristã da certeza quanto à sobrevivência do
Espírito ao túmulo e da sua antecedência ao berço, sabendo-se herdeiro de si mesmo, modificase
e muda o meio onde vive, transformando a comunidade que deixa de a ele se impor para dele
receber a contribuição expressiva, retificadora.
Os homens são, pois, os seus feitos.
A sociedade são os homens que a constituem.
A vida humana resulta dos Espíritos que a compõem. Com sabedoria incontestável elucidou
Jesus, o Incomparável Psicólogo, que prossegue vitorioso, não obstante os séculos
transcorridos: “Busca, primeiro, o reino de Deus e Sua Justiça e tudo mais te será
acrescentado”, demonstrando que, em o homem se voltando para a Pátria Espiritual — a
verdadeira — e suas questões, de fundamental importância, os demais interesses serão
resolvidos como efeito natural das aquisições maiores.
Nesse cometimento todos estamos engajados e ninguém se pode omitir, porqüanto somos
igualmente responsáveis pelas ocorrências da delinqüência, perversidade e violência - esses
teimosos remanescentes da natureza animal do homem em luta consigo mesmo para insculpir o
bem e libertar dos grilhões do primarismo terreno a sua natureza espiritual.
Toda contribuição de amor como de paciência, toda dádiva de luz como de saber são valiosa
oferenda para o amanhã de paz e ventura que anelamos.
Joanna de Ângelis
31
Alucinógenos, Toxicomania e Loucura
Dentre os gravames infelizes que desorganizam a economia social e moral da Terra atual,
as drogas alucinógenas ocupam lugar de destaque, em considerando a facilidade com que
dominam as gerações novas, estrangulando as esperanças humanas em relação ao futuro.
Paisagem humana triste, sombria e avassaladora, pelos miasmas venenosos que distilam
os grupos vencidos pelo uso desregrado dos tóxicos, constitui evidência do engano a que se
permitiram os educadores do passado: pais ou mestres, sociólogos ou éticos, filósofos ou
religiosos.
Cultivado e difundido o hábito dos entorpecentes entre povos estiolados pela miséria
econômica e moral, foi adotado pela Civilização Ocidental quando o êxito das conquistas
tecnológicas não conseguiu preencher as lacunas havidas nas aspirações humanas — mais
ampla e profunda integração nos objetivos nobres da vida.
Mais preocupado com o corpo do que com o espírito, o homem moderno deixou-se
engolfar pela comodidade e prazer, deparando, inesperadamente, o vazio interior que lhe resulta
amarga decepção, após as secundárias conquistas externas.
Acostumado às sensações fortes, passou a experimentar dificuldade para adaptar-se às
sutilezas da percepção psíquica, do que resultariam aquisições relevantes promotoras de
plenitude intima e realização transcendente.
Tabulados, no entanto, programados por aferição externa de valores objetivos,
preocuparam-se pouco os encarregados da Educação em penetrar a problemática intrínseca dos
seres, a fim de, identificando as nascentes das inquietações no espírito imortal, serem solvidos
os efeitos danosos e atormentadores que se exteriorizam como desespero e angústia.
Estimulado pelo receio de enfrentar dificuldades, ou motivado pela curiosidade decorrente
da falta de madureza emocional, inicia-se o homem no uso dos estimulantes —sempre de
efeitos tóxicos —, a que se entrega, inerme, deixando-se arrastar desde então, vencido e
desditoso.
Não bastassem a leviandade e intemperança da maioria das vítimas potenciais da
toxicomania, grassam os traficantes inditosos que se encarregam de arrebanhar catarmas que
se lhes submetem ao comércio nefando, aumentando, cada hora, os índices dos que sucumbem
irrecuperáveis.
A má Imprensa, orientada quase sempre de maneira perturbante, por pessoas
atormentadas, colocada para esclarecer o problema, graças à falta de valor e de maior
conhecimento da questão por não se revestirem os seus responsáveis da necessária segurança
moral, tem contribuído mais para torná-lo natural do que para libertar os escravizados que não
são alcançados pelos “slogans” retumbantes, porém vazios das mensagens, sem efeito positivo.
O cinema, a televisão, o periodismo dão destaque desnecessário às tragédias, aumentam a
carga das informações que chegam vorazes às mentes fracas, aparvalhando-as sem as
confortar, empurrando-as para as fugas espetaculares através de meandros dos tóxicos e de
processos outros dissolventes ora em voga...
Líderes da comunicação, ases da arte, da cultura, dos esportes não se pejam de revelar
que usam estimulantes que os sustentam no ápice da fama, e, quando sucumbem, em estúpidas
cenas de auto-destruição consciente ou inconsciente, são transformados em modelos dignos de
imitados, lançados como protótipos da nova era, vendendo as imagens que enriquecem os que
sobrevivem, de certo modo causadores da sua desgraça...
Não pequeno número, incapaz de prosseguir, apaga as luzes da glória mentirosa nas furnas
imundas para onde foge: presídios, manicômios, sarjetas, ali expiando, alucinado, a leviandade
que o mortificou...
As mentes jovens despreparadas para as realidades da guerra que estruge em todo lugar,
nos países distantes e nas praias próximas, como nos intrincados domínios do lar onde grassam
a violência, o desrespeito, o desamor arrojam-se, voluptuosas, insaciáveis, ao prazer fugidio, à
dita de um minuto em detrimento, afirmam, da angustiosa expectativa demorada de uma
felicidade que talvez não fruam...
Fixando-se nas estruturas mui sutis do perispírito, em processo vigoroso, os estupefacientes
desagregam a personalidade, porqüanto produzem na memória anterior a liberação do
subconsciente que invade a consciência atual com as imagens torpes e deletérias das vidas
pregressas, que a misericórdia da reencarnação faz jazer adormecidas... De incursão em
incursão no conturbado mundo interior, desorganizam-se os comandos da consciência,
arrojando o viciado nos lôbregos alçapões da loucura que os absorve, desarticulando os centros
do equilíbrio, da saúde, da vontade, sem possibilidade reversiva, pela dependência que o próprio
organismo físico e mental passa a sofrer, irresistivelmente...
Faz-se a apologia de uns alucinógenos em detrimento de outros e explica-se que povos
primitivos de ontem e remanescentes de hoje utilizavam-se e usam alguns vegetais portadores
de estimulantes para experiências paranormais de incursão no mundo espiritual, olvidando-se
que o exercício psíquico pela concentração consciente, meditação profunda e prece conduzem a
resultados superiores, sem as conseqüências danosas dos recursos alucinatórios.
A quase totalidade que busca desenvolver a percepção extra-sensorial, através da usança
do estupefaciente, encontra em si mesmo o “substractum” do passado espiritual que se
transforma em fantasmas, cujas reminiscências assomam e persistem, passada a experiência,
impondo-se a pouco e pouco, colimando na desarmonização mental do neófito irresponsável.
Vale, ainda, recordar que, adversários desencarnados, que se demoram à espreita das suas
vítimas, utilizam-se dos sonhos e viagens para surgirem na mente do viciado, no aspecto
perverso em que se encontram, causando pavor e fixando matrizes psíquicas para as futuras
obsessões em que se repletarão emocionalmente, famelgas da infelicidade em que se
transformam.
A educação moral à luz do Evangelho sem disfarces nem distorções; a conscientização
espiritual sem alardes; a liberdade e a orientação com bases na responsabilidade; as disciplinas
morais desde cedo; a vigilância carinhosa dos pais e mestres cautelosos; a assistência social e
médica em contribuição fraternal constituem antídotos eficazes para o aberrante problema dos
tóxicos — auto-flagelo que a Humanidade está sofrendo, por haver trocado os valores reais do
amor e da verdade pelos comportamentos irrelevantes quão insensatos da frivolidade.
O problema, portanto, é de educação na família cristianizada, na escola enobrecida, na
comunidade honrada e não de repressão policial...
Se és jovem, não te iludas, contaminando-te, face ao pressuposto de que a cura se dá
facilmente.
Se atravessas a idade adulta, não te concedas sonhos e vivências que pertencem à infância
já passada, ansiando por prazeres que terminam ante a fugaz e enganosa durabilidade do
corpo.
Se és mestre, orienta com elevação abordando a temática sem preconceito, mas com
seriedade.
Se és pai ou mãe não penses que o teu lar estará poupado. Observa o comportamento dos
filhos, mantém-te, atento, cuida deles desde antes da ingerência e do comprometimento nos
embalos dos estupefacientes e alucinógenos, em cuja oportunidade podes auxiliá-los e
preservá-los. Se, porém, te surpreenderes com o drama que se adentrou no lar, não fujas dele,
procurando ignorá-lo em conivência de ingenuidade, nem te rebeles, assumindo atitude hostil.
Conversa, esclarece, orienta e assiste os que se hajam tornado vítimas, procurando os recursos
competentes da Medicina como da Doutrina Espírita, a fim de conseguires a reeducação e a
felicidade daqueles que a Lei Divina te confiou para a tua e a ventura deles.
Joanna de Ângelis
32
Viciação Alcoólica
Sob qualquer aspecto considerado, o vício — esse condicionamento pernicioso que se impõe
como uma “segunda natureza” constritora e voraz — deve ser combatido sem trégua desde
quando e onde se aloje.
Classificado pela leviandade de muitos dos seus aedos como de pequeno e grande porte,
surge com feição de “hábito social” e se instala em currículo de longo tempo, que termina por
deteriorar as reservas morais, anestesiando a razão e ressuscitando com vigor os instintos
primevos de que se deve o homem libertar.
Insinuante, a princípio perturba os iniciantes e desperta nos mais fracos curiosa necessidade
de repetição, na busca enganosa de prazeres ou emoções inusitados, conforme estridulam os
aficionados que lhe padecem a irreversível dependência.
Aceito sob o acobertamento da impudica tolerância, seu contágio destrutivo supera o das
mais virulentas epidemias, ceifando maior número de vidas do que o câncer, a tuberculose, as
enfermidades cardiovasculares adicionados... Inclusive, mesmo na estatística obtuária dessas
calamidades da saúde, podem-se encontrar como causas preponderantes ou predisponentes as
matrizes de muitos vícios, que se tornaram aceitos e acatados qual motivo de relevo e
distinção...
Os vitimados sistemáticos pela viciação escusam-se abandoná-la, justificando que o seu é
sempre um simples compromisso de fácil liberação em considerando outros de maior seriedade
que, examinados, a sua vez, pelos seus sequazes, se caracterizam, igualmente, como
insignificantes.
Há quem a relacione como de conseqüência secundária e de imediata potência aniquilante.
Obviamente situam suas compressões, como irrelevantes em face de “tantas coisas piores”... E
argumentam: “antes este”, como se um mal pudesse ter sopesadas, avaliadas e discutidas as
vantagens decorrentes da sua atuação...
Indiscutivelmente, a ausência de impulsão viciosa no homem dá-lhe valor e recursos para
realizar e fruir os elevados objetivos da vida, que não podem ser devorados pela irrisão das
vacuidades.
A vinculação alcoólica, por exemplo, escraviza a mente desarmonizando-a e envenena o
corpo deteriorando-o. Tem início através do aperitivo inocente, quão dispensável, que se repete
entre sorrisos e se impõe como necessidade, realizando a incursão nefasta, que logo se
converte em dominação absoluta, desde que aumenta de volume na razão direta em que
consome.
Os pretextos surgem e se multiplicam para as libações:
alegria, frustração, tristeza, esperança, revolta, mágoa, vingança, esquecimento... Para uns se
converte em coragem, para outros em entusiasmo, invariavelmente impondo-se, dominador
incoercível. Emulação para práticas que a razão repulsa, o alcoolismo faz supor que sustenta os
fracos, que tombam em tais urdiduras, quando, em verdade, mais os debilita e arruina.
Não fossem tão graves, por si só, os danos sociais que dele decorrem, transformando
cidadãos em párias, jovens em vergados anciãos precoces, profissionais de valor em trapos
morais, moçoilas e matronas em torpes simulacros humanos, aceitos e detestados, acatados e
temidos nos sítios em que se pervertem a caminho da total sujeição, que conduz, quando se
dispõe de moedas, a Sanatórios distintos e em contrário, às sarjetas hediondas, em ambos os
casos avassalados por alienações dantescas —, culmina em impor os trágicos autocídios, por
cujas portas buscam, tais enfermos, soluções insolváveis para os problemas que criaram
espontaneamente para si próprios...
Não acontecendo a queda espetacular no suicídio, este se dá por processo indireto,
graças à sobrecarga destrutiva que o alcoólatra ou simples cultivador da alcoolofilia depõe sobre
a tecelagem de elaboração divina, que é o corpo. E quando vem a desencarnação, o que é
também doloroso, não cessa a compulsão viciosa, nascendo dramas imprevisíveis do outro lado
do túmulo, em que o espírito irresponsável constata que a morte não resolveu os problemas nem
aniquilou a vida...
Nesse capítulo convém considerarmos que a desesperada busca ao álcool — ou
substâncias outras que dilaceram a vontade, desagregam a personalidade, perturbam a mente
— pode ser, às vezes, inspirada por processos obsessivos, culminando sempre, porém, por
obsessões infelizes, de conseqüências imprevisíveis.
A pretexto de comemorações, festas, decisões não te comprometas com o vício.
O oceano é feito de gotículas e as praias imensuráveis de grãos.
Liberta-te do conceito: “hoje só”, quando impelido a comprometimento pernicioso e não te
facultes: “apenas um pouquinho”, porqüanto, uma picada que injeta veneno letal, não obstante
em pequena dose, produz a morte imediata.
Se estás bafejado pela felicidade, sorve-a com lucidez.
Se te encontras visitado pela dor, enfrenta-a, abstêmio e forte.
Para qualquer cometimento que exija decisão, coragem, equilíbrio, definição, valor,
humildade, estoicismo, resignação recorre à prece, mergulhando, na reflexão, o pensamento, e
haurirás os recursos preciosos para a vitória em qualquer situação, sob qual seja o impositivo.
Nunca te permitas a assimilação do vício, na suposição de que dele te libertarás quando
queiras, pois que se os viciados pudessem querer não estariam sob essa violenta dominação.
Joanna de Ângelis
33
Entrevistas
PERGUNTA:
O adultério, como entendo, é coabitar com alguém e aventurar-se simultaneamente
com outrem. Certo?
DIVALDO:
Sim.
PERGUNTA:
Não se pode ter dois parceiros ao mesmo tempo?
DIVALDO:
Não nos parece legal nem moral esse comportamento.
PERGUNTA:
O que aqui se faz aqui se paga?
DIVALDO:
Sim. Desrespeitando-se as leis, estas, em desarmonia, giram em torno dos infratores, até
que eles venham reorganizá-las. Todo mal que fazemos émal que produzimos a nós mesmos.
Os erros que aqui engendramos nos perturba e devemos resgatálos aqui mesmo, na Terra,
reeducando-nos.
PERGUNTA:
Como proceder no caso de criança de 12 anos que manifesta ódio extremado pelos
pais?
DIVALDO:
Quando estiver dormindo, que os pais tentem conversar com ela, que falem com ternura,
procurem dizer-lhe que a amam. Porque embora o corpo esteja repousando, o Espírito está
vigilante. Pode tal situação ter origem no passado espiritual ou na atualidade carnal. Muitas
vezes, quando nasce o nosso filho, utilizamos de palavras impróprias, temos uma reação
negativa dizendo que o menino é feio ou que aguardávamos um ser mais bonito, queríamos uma
filha, ou vice-versa. O Espírito ouve, magoa-se e pode criar ressentimento. Então, a melhor
terapêutica, no caso, é envolver essa criança em vibrações de ternura, de amor, e quando esteja
dormindo falar-lhe de que a ama e amá-la realmente.
PERGUNTA:
Uma criança recém-nascida e totalmente deformada tem uma vida vegetativa. A
pena serve para quem reencarnou nessa criança ou para os que convivem com ela?
DIVALDO:
Para ambos. Principalmente para quem está reencarnando. Possivelmente aquela
criança deformada foi um suicida. Mas os pais atuais ou aqueles com quem ela convive podem
ter sido os autores intelectuais do suicídio ou equivalente. Talvez sejam aqueles que lhe
desrespeitaram os valores morais ou então os responsáveis negativos do pretérito que volvem
para ajudá-la a suportar as circunstâncias.
PERGUNTA:
No caso de criança adotada existe pré-determinação do plano espiritual para que
seja acolhida naquele lar?
DIVALDO:
Nesse caso, a criança que recebemos hoje de outra maternidade é o filho que atiramos
fora, no passado.
PERGUNTA:
Como o espírita vê o divórcio?
DIVALDO:
Nós o vemos como uma necessidade para os problemas existentes. O ideal seria sempre
que os indivíduos se amassem a ponto de não necessitarem da separação legal, porque no
momento em que desaparece o amor, desaparecem os vínculos exteriores. Como vivemos
numa sociedade constituída por estatutos e leis, é mister que respeitemos estas normas. No
entanto, quando o casal não consegue mais se suportar, a fim de evitar males maiores, o
divórcio é uma fórmula para ajudar na recuperação da vida de ambos, bem como para atender
aos aspectos moral e legal da nova situação.
PERGUNTA:
Quer dizer que essa história de almas irmãs morreu?
DIVALDO:
Quando o matrimônio ocorre entre almas afins não sucedem tais dificuldades. Segundo a
teoria das “almas gêmeas”, as várias uniões pelo matrimônio, quando não bem-sucedidas,
tornam-se provas recíprocas, preparando-as para futuros cometimentos ditosos.
PERGUNTA:
Divaldo, uma questão sobre comportamento. Qual deve ser a posição do jovem
espírita perante a prática sexual antes do casamento?
DIVALDO:
É uma questão muito controvertida, porque é um problema de consciência. Por mais
amplitude que me permita, não consigo conceber o sexo como parte de uma vida promíscua. O
estômago, quando se come demais, tem indigestão. Qualquer órgão de que se abusa, sofre o
efeito imediato. O problema do sexo é a mente. Criou-se o mito que a vida foi feita para o sexo, e
não este para a vida. Depois da revolução sexual dos anos 60, o sexo saiu do aparelho genésico
para a cabeça. Só se pensa, fala, respira sexo.
E quando não funciona, por exaustão, parte-se para os estimulantes, como mecanismos de fuga,
o que demonstra que o problema não é dele, e sim, da mente viciada. Se o problema fosse do
sexo, as pessoas “saciadas” seriam todas felizes, o que, realmente não se dá. Ou a criatura
conduz o sexo, ou este a arruina. Ou se disciplina o estômago, ou se morre de indigestão.
Tenho aprendido, com a experiência pessoal e com a adquirida em nossa comunidade, que o
sexo antes do casamento constitui um mecanismo de desequilíbrio. Mesmo porque, com tanto
sexo antes do casamento, já não se faz necessário casamento depois do sexo. Acho
perfeitamente natural, embora não justifica que nem estimule, que a pessoa, num arrebatamento
afetivo, em um momento, realize uma comunhão sexual. Não encaro isso como escândalo,
porque o sexo, como qualquer departamento orgânico, é setor de vida.
O que me parece grave, é que a esse momento de arrebatamento se sucederão outros, como a
sede de água do mar, que, quanto mais se bebe mais sede se tem. Conheço casos de
frustrações sexuais terríveis, de neuroses, psicoses, porque as pessoas foram traidas nos seus
sentimentos profundos, pelo abandono a que foram relegadas. Sugiro ao jovem espírita a atitude
casta. Uma atitude casta não quer dizer isenta de comunhão carnal, mas sim, de respeito, de
pureza. Colocar o sexo no lugar e o amor acima do sexo, que moralizado pelo amor, sabe-se
quando, como e onde atuar.
Quando se ama, não se atira o outro na ruína. O sexo, antes do matrimônio, deve ser
muito bem estudado, porque, sob a alegação de que se “tem necessidade” dele, não se o torne
vulgar. Cada consciência eleja para o próximo o que gostaria que o próximo elegesse para si.
PERGUNTA:
As crianças que estão sendo evangelizadas, de que maneira podem os pais ajudálas,
a fim de que a evangelização continue no lar?
DIVALDO:
Aos pais compete a observação das tendências, das naturezas dos seus filhos para bem
orientá-los e despertarem nos mesmos as qualidades que se contrapõem aos defeitos.
Entretanto, isto deve ser feito quando os filhos são muito pequenos, e é justamente quando os
pais são mais inexperientes, menos maduros. Então, quando vemos os resultados, o tempo já
passou. Como agir? por mais imaturos que sejam os pais, há, entre eles e os filhos, o largo
período que já viveram. Nesse período, adquiriram as experiências das suas próprias vivências.
Há, em todo indivíduo, a tendência para o bem, porque somos lucigênitos. Esse
heliotropismo divino nos leva sempre a discernir entre o que é certo e o que é errado. Se, por
acaso, por inexperiência, não orientamos bem o filho na primeira infância, é sempre tempo de
começar, porque estamos sendo educados até a hora da própria desencarnação. Os pais que
não lograram encaminhar bem os seus filhos, porque lhes faltava o equilíbrio do discernimento,
quando se estava no período da formação da personalidade, podem recomeçar em qualquer
instante, de maneira suave, perseverante e otimista afravés do exemplo e da vivência do amor.
Os pais podem ajudar a evangelização no lar, sobretudo pela exemplificação. E a exemplificação
a melhor metodologia para que se inculquem as idéias que desejamos penetrem naqueles que
vivem conosco.
Se examinarmos Jesus, Ele disse muito menos do que viveu e viveu muito mais do que
nos falou. A mim, me sensibiliza muito uma cena que me parece culminante na vida do Cristo.
Quando Ele estava com Anás¹, o Sumo Sacerdote, que Lhe perguntou sobre Sua doutrina
ao que respondeu Jesus, que nada falara em oculto e que ele deveria perguntar aos que o
ouviram.
Um soldado que estava ao lado do representante de César, agrediu-O, esbofeteandolhe
a face.
Para mim, este gesto é dos mais covardes: bater na face de um homem atado.
Então Jesus não reagiu. Agiu com absoluta serenidade.
Pacifista por excelência, voltou-se para o agressor e lhe perguntou: Soldado, por que me
bateste? Se errei, aponta-me o erro, mas, se eu disse a verdade, por que me bateste?
É uma lição viva, porque Ele poderia apelar ali para a justiça do representante de César;
poderia ter-se encolerizado; ter tido um gesto de reação, mas Ele preferiu agir.
1ª epístola a João, capítulo 18 versículos 19 a 23.
O lar é a escola do exemplo, onde, lamentavelmente, se vive reagindo. Vive-se de
reações em cadeia, raramente se pára para agir.
Chega o filho da aula de evangelização e encontra os pais em casa irritados, reclamando,
blasfemando, atritando. Lentamente considera que aquilo que acaba de ouvir na Escola Espírita,
que é o Centro, é uma teoria agradável como toda e qualquer outra, mas tão inócua que não
modificou aqueles que o levam a recebê-la, não tendo forças para praticá-la.
Daí, o lar é um laboratório de exemplificação daquilo que o Centro Espírita ensina.
Para o lar transferimos a vivência, a fim de que um dia, no Centro Espírita e na
comunidade, possamos exemplificar o que aprendemos na evangelização.
PERGUNTA:
Por que a mediunidade começa cedo no jovem, principalmente quando não é
espírita?
DIVALDO:
Ela se manifesta, quiçá, cedo, porque a mediunidade é uma faculdade do Espírito que se
exterioriza pelo organismo.
Allan Kardec, no capítulo 14º de O Livro dos Médiuns, afirma que todo aquele que sente
em determinado grau a presença dos Espíritos é, por isso mesmo, um médium.
A faculdade é do Espírito e o instrumento é o corpo. Naturalmente se manifesta cedo qual
ocorre com a memória, a inteligência, as aptidões. Por um lado, isto é uma forma providencial,
porque ao se apresentar cedo no homem, ela abre um elenco de oportunidades edificantes,
cerceando-lhe o direito de assumir compromissos negativos que seriam difíceis de erradicados
mais tarde. Convidado no exercício saudável da mediunidade na juventude, o indivíduo tem a
oportunidade de pautar a vida nas linhas do equilíbrio, que lhe facilitará exercê-la com elevação
e sabedoria, antes que os problemas de vária ordem, atormentando-o, torne-lhe o exercício
nobre mais difícil, porque vinculado a débitos desta existência e conectado a mentes perversas
que procedem da Erraticidade inferior, o adulto tem muito mais dificuldade de reeducar-se, de
modificar a paisagem íntima a fim de assumir as tarefas que lhe são propostas pela vida. Deste
modo, é uma bênção que a mediunidade se revele em plena idade juvenil, como também surge
noutros períodos da vida. Há indivíduos que passaram a registrá-la melhor na fase da razão. E
outros até mesmo na terceira idade, sem nenhum prejuízo para a desincumbência das tarefas
que a mediunidade impõe.
PERGUNTA:
O que fazer quando o jovem adolescente desiste de estudar a Doutrina apesar de
os pais continuarem? O jovem vem freqüentando desde pequeno.
DIVALDO:
Á nossa existência é feita de períodos. Há um no qual o jovem tem necessidade de viver
as suas próprias experiências, eleger aquilo que lhe parece melhor. Se este jovem teve, na
infância e no primeiro período da adolescência, um bom embasamento doutrinário, ele vai
realizar outras experiências. E, naturalmente aquilo que está ensementado nele terá ocasião de
oportunamente germinar, crescer e frondejar, albergando-o nas horas mais difíceis da sua
existência.
Se a pergunta parte dos pais, convém que instem para que o filho prossiga na
participação das atividades doutrinárias. Instar sem impor. Insistir sem violentar, tendo porém, a
preocupação de continuarem a dar os melhores exemplos, aqueles que são compatíveis com o
que se ensina na Casa Espírita.
As vezes, ocorre que o jovem, quando vai chegando à idade da reflexão e examina a
conduta da família diante dos postulados que a Doutrina ensina, constata que algo está errado:
ou o Espiritismo não é legítimo, porque não logrou modificar a família, ou a família não é
honesta, porque não assimilou os postulados que diz abraçar. Assim, resolve pela realização
das suas próprias buscas.
Passado o período em que ele parece ter-se libertado do compromisso semanal que
mantinha com a Casa Espírita, vale considerar que isto não nos deve constituir motivo de pesar
nem de desânimo, pelo contrário, deve emular-nos a acender mais a luz da esperança, e agora,
ao invés de impor-lhe o estudo da doutrina, provar-lhe a excelência da vivência espírita.
PERGUNTA:
Como educar os nossos filhos com relação a casamento civil e religioso, se eles,
apesar de não serem malcomportados em relação a casamento, passam por cima de
todas as convenções? A minha filha perguntou se eu queria vê-la casada ou feliz. Isso
porque eu não estava aprovando a união dela com um jovem desquitado.
DIVALDO:
Em Doutrina Espírita não temos casamento religioso, que é uma criação eclesiástica,
teológica, para realizar um culto externo sem maior significado na área emocional da criatura.
Lendo o Capítulo 22º, Allan Kardec escreveu em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a respeito
do matrimônio, explicando que o importante não é a fórmula com a qual se regularizam a
herança e o respeito social diante das leis.
O casamento surgiu como uma necessidade de evitar a poligamia, a corrupção sexual, a
variação de parceiros, fazendo que o indivíduo se vincule a outro até quando o amor estiver
presente, exigindo o respeito dos cônjuges. Jesus chegou a dizer que no começo não era assim,
não havia uma fórmula. O casamento é uma conquista sócio-cultural da legalização de um
sentimento existente. Nós, espíritas, somente consideramos o casamento através do ato civil,
porque o importante é a eleição dos sentimentos de profundidade.
Ocorre que a dissolução dos costumes faz que se elejam pessoas, graças à ação da
libido em nosso comportamento emocional. E o prazer do sexo, o tormento do sexo que se
busca aplacar e atender através das fórmulas das uniões apressadas, e, como é natural, das
desuniões desesperadas. Porque, passado o ardor, acabado o combustível que mantém a
labareda do desejo, acaba o interesse. Desde que não houve o sentimento de amor nem de
respeito, a amizade não perdura. O que mantém o casamento depois das emoções, é o respeito
entre os dois indivíduos, que se fundamenta na amizade que estrutura os sentimentos de união.
Eu responderia à minha filha, que eu a desejava feliz e casada. Por que ela tem que ser
feliz e descasada? Por que elegendo um rapaz desquitado, que não tem outro compromisso, ele
não terá o direito de se consorciar, já que as leis o permitem? Se ela serve para ser
companheira, por que não servirá para ser esposa? Ainda mais num momento em que as leis
permitem dissolver o vínculo matrimonial! Sempre digo aos meus filhos, que- os prefiro casados
e felizes. A conduta que hoje, certa parte da sociedade se permite, e não são apenas os jovens
mas, também os adultos, é a da libertinagem disfarçada de liberação dos costumes.
Ontem, casualmente, assisti a um programa de televisão, no qual se apresentava uma
jovem, modelo fotográfico, que está acostumada a viver despida. Alguns adultos, que
constituíam o júri, perguntaram, se ela não ficava constrangida de despir-se para ser
fotografada. Ela respondeu que sim; mas, como a sua profissão era essa, ela pagava o tributo,
porque isso fazia parte do seu trabalho. Uma resposta perfeitamente sensata. Então despiu-se
quase totalmente. Uma senhora idosa, que estava no júri, falou que lhe indagam porque os
modelos não se desnudavam completamente, então ela respondeu que iria propor essa
condição. Ao concluir, foi um aplauso espetacular do auditório, de velhos e velhas algo
decadentes. Uns dois ou três jovens, que aliás já estão cansados de tais cenas ficaram
indiferentes, o que me pareceu surpreendente.
E a moça, que é modelo, teve o pudor de não se despir.
O entrevistador, que é muito falante e pensa ser atraente, afirmou que estava de acordo e
ajudaria a jovem a desnudar-se, e ela recusou-se, porque ela sabe que, afinal, a sua profissão
permite-lhe mostrar o corpo, mas não a obriga a ser vulgar nem venal. A vulgaridade e a
venalidade eram das criaturas que ali estavam, em declínio físico e moral.
Daí não podermos acusar os jovens. Eles são o que lhes temos feito e serão o que lhes
fizermos.
PERGUNTA:
Hoje é muito grande o envolvimento do jovem na política. Preocupado com as
leis humanas, indiferente às Divinas. É um processo educacional? Como conciliar as duas
coisas?
DIVALDO:
Ocorre que o jovem padece constrição de uma sociedade que não tem sido justa para
com os seus membros. Ele não tendo recebido no lar a formação de uma educação nas bases
reencarnacionistas, assim, tem buscado uma forma de cortar os efeitos através de leis que,
infelizmente, não alcançam a causalidade. É perfeitamente justa a necessidade e a busca de
engajamento do jovem na política, para eqüacionar o problema que ele apenas vê nos
resultados negativos. A maneira de conciliar a situação é educá-lo para um saudável
engajamento, não através do jogo dos interesses imediatos, mas ensinando-o a ser bom eleitor.
Politizá-lo, conscientizá -lo. Dizer-lhe que numa sociedade democrática, o voto é a grande arma
do cidadão. No momento que ele esgrimir essa arma, não venderá a consciência aos corruptos,
pelo contrário, os eliminará.
No mesmo programa, já referido, ouvi a resposta de um advogado, que me sensibilizou
muito pela justeza da colocação. Ele falava de corrupção. e dizia que só há corruptos porque há
corruptores. Aqueles que se vendem, fazem-no a alguém que é pior do que eles. Os corruptores
quase nunca são justiçados, porque não denunciam a desonestidade, pois que ela é boa para
acobertar-lhes as indignidades.
Da mesma forma, porque há o receptador, existe o ladrão. Este furta um aparelho, porque
há alguém que o compra por qualquer preço. Não se pode punir o primeiro sem alcançar o outro.
Aquele que não denuncia o ladrão e aceita-lhe o fruto da rapina, também furta. O ladrão no
oferecer ao receptador uma peça valiosa e ele a compra por valor inferior, então, está furtando
do assaltante, de um outro delinqüente. Não tem interesse de denunciar o delinqüente, porque
também o é.
Assim, devemos politizar a mentalidade jovem, para que não venda o seu voto a amigos,
a conhecidos, nem àqueles que se utilizam de expedientes escusos. Anunciam os expertos em
política que a candidatura de um Deputado Federal está custando, no Brasil, em São Paulo,
aproximadamente cinqüenta milhões de dólares. A pessoa toma posse e trabalha quatro anos.
Nesse período, suponhamos que ganhe legalmente, de salário dois milhões de dólares, mas
gasta cinqüenta milhões. Não é necessário mostrar que, de algum lugar, surge esse valor e que,
de alguma forma, retornará multiplicado. Está aí o quadro da desonestidade. Iremos
conscientizar os jovens, a fim de que não se vendam, votando com a consciência. Na Mansão
do Caminho nós somos apolíticos. A nossa é a política do Evangelho. Procuramos educar de
forma que as pessoas tenham consciência do seu voto. Lá não permitimos que se faça
campanha eleitoreira.
Teremos que ensinar a atual geração, a fim de que ela que vai chegar, esteja equipada
para enfrentar a corrupção que se tornou clássica em a natureza humana. Não só no Brasil,
porém em a natureza humana, em toda a parte.
PERGUNTA:
Qual deverá ser a atitude de um evangelizador ao deparar-se com um jovem com
tendências homossexuais, sabendo que o mesmo se encontra nessa situação sentindo
amor por outro do mesmo sexo?
DIVALDO:
O problema é de ordem íntima. Não temos o direito de invadir a privacidade de ninguém,
a pretexto de querer ajudar os outros.
Há uma preocupação em nós, de querermos salvar os outros, antes de nos salvarmos a
nós mesmos. Devemos sempre ensinar corretamente o que a Doutrina nos recomenda. Se
alguém vier pedir-nos ajuda, estendamo-la sem puritanismo, sem atitudes ortodoxas, porque o
problema posto em pauta e de muita profundidade para uma análise de natureza superficial.
Se notamos que um dos nossos condiscípulos está numa fase de transição — e a
adolescência, além de ser um período de formação da personalidade, é também de bipolaridade
sexual — procuremos estimulá-lo para que canalize corretamente as suas emoções para a ação
do bem, mas também sem castrar-lhe as manifestações do sentimento. Façamo-lo de uma
forma edificante, e, quando as circunstáncias nos permitirem, falemos que as Divinas Leis
estabeleceram, nas duas polaridades — a masculina e a feminina — o equilíbrio para a perpetuação
da espécie.
O sexo foi feito para a vida, não a vida para o sexo.
Daí, o indivíduo que sinta qualquer distúrbio na área do comportamento sexual, considere
que se encontra em um educandário da vida, para corrigir desequilíbrios que devem ser
conduzidos para as disciplinas de uma vida feliz, deixando que cada qual faça a sua opção, sem
o puritanismo que tudo condena e sem o modernismo que tudo alberga, porque cada um vai
responder pelo uso que faz da existência conforme as suas resistências.
É muito fácil propor a alguém que suba a montanha, sem saber até onde vão as suas
forças. Em Doutrina Espírita ninguém vive as experiências alheias, como em nenhuma outra.
PERGUNTA:
Como o evangelizador pode contribuir para a evolução espiritual de uma criança
excepcional?
DIVALDO:
Inicialmente, a criança excepcional não estará na classe das crianças normais, suponho.
Porque não lhe será o lugar adequado, porque ela irá perturbar o trabalho junto as crianças
consideradas normais.
Teremos que criar uma classe especial para ministrarmos, quanto possível ao grau de
entendimento do excepcional, o conhecimento da realidade do Espírito.
Mas teremos em vista que a excepcionalidade não é do Espírito. São limites orgânicos impostos
pelas próprias dívidas ao ser em evolução. Toda instrução que lhe dermos será arquivada no
perispírito e irá beneficiar o Espírito. Ainda que na Terra, acalmando-se, a criança que estiver
num quadro neuropatológico muito acentuado, tendo melhores momentos de lucidez, avançará
mais na área da razão. E quando se libertar da injunção expiatória, recobrará o patrimônio
recém-adquirido. Essas patologias graves, que chegam a deformar, como o mongolismo e
outras, estão enqüadradas no capítulo das expiações, defluentes de suicídios ou de crimes de
largo porte que não foram alcançados pela justiça terrestre e a consciência culpada insculpiu no
hoje organismo deficiente. O nosso trabalho é de amor!
Quando encontro a mãe de um excepcional, sempre a parabenizo. Digo-lhe — porque ela
priva muito mais com o filho limitado que o pai, que normalmente tem atividades externas e,
nesse sentido, há pais, masculinos, que são de uma abnegação comovedora que o suicídio
cometido por esse Espírito, é fruto de um relacionamento pais-e-filho no passado, que não deu
certo. E acrescento que os pais de hoje, quiçá, hajam sido os autores intelectuais daquele gesto
tresloucado. De acordo com o grau de limitação da excepcionalidade, faço o seguinte paralelo.
Imagine que vocês pertenceram a uma classe abastada socialmente, por genealogia ou clã, e
seu filho ou sua filha se apaixonou por alguém de uma classe denominada inferior; ou tomou determinada
atitude que vocês enfrentaram com rebeldia, levando o ser, por capricho de vocês, a
uma atitude de fuga.
Adveio o suicídio. O desesperado foi a mão que a intolerância da família armou.
Então é natural que ele, tendo sido vítima das circunstâncias, renasça nos braços
daqueles que o levaram ao ato desesperador, para que o amor a todos santifique, diminuindo os
efeitos e as bases afetivas se refaçam nesse inter-relacionamento evolutivo.
Assim, eu parabenizo e acrescento: Não posso avaliar o que é ter um filho com problemas
nervosos. Uma criança que bate no rosto da mãe toda hora, que morde, que escouceia, que
grita toda a noite e que cala todo o dia. Ser pai e mãe de um filho assim credencia-os a
parabéns, porque é um resgate que os liberará de dores muito mais terríveis no além da morte.
Daí, a criança excepcional deve receber um tratamento evangélico-espírita em caráter de
excepcionalidade, com muito amor, com muita ternura e, sobretudo, com a terapia psíquica da
boa palavra, estimulando-a a liberar-se do cárcere para que guarde as informações e seja feliz
além da vida.
PERGUNTA
Qual o papel dos treinamentos em meditação para o aperfeiçOamento da criança e
do jovem?
DIVALDO:
Preponderante. Se não ensinarmos a meditar, a reflexionar, a concentrar, teremos uma
idade adulta doudivanas, porque o tempo nos é tomado depois, sem espaços para esse nobre
fim. É necessário criarmos o hábito da meditação. Todos temos, aliás, o hábito da meditação e
da concentração nas coisas erradas, negativas. Se alguém nos diz um desaforo, temos
dificuldade de o tirar da cabeça. Ficamos dias e dias atormentados, fixando-o.
Quando se trata de coisas positivas, tem-se dificuldade de reter, reflexionar, porque não se
tem espaço mental, já que todo ele está reservado para as coisas irrelevantes. Concentrar é fixar
a mente em algo. Para conseguir-se, basta o exercício e treinamento.
Somos, às vezes, infelizes, porque cultivamos as horas negativas. As boas não,
esquecemo-las. Se temos um momento feliz, participamos daquela hora e ficamos indiferentes
ou pensamos que nos irá acontecer alguma coisa negativa com certeza, porque todo bem que
nos vem, logo ocorre alguma coisa para nos desagradar. Não é uma atitude correta. Devemos
cultivar os momentos bons, felizes. Quando alguém nos ofende, queixamo-nos a muitos, falamos
sobre o assunto. No momento feliz somos egoístas, nada falamos. O que se dá? Fixamos o
momento mau e não retemos o momento bom. É uma questão de memória. Dilatemos o
momento feliz e o fruamos. Meditemos diariamente num texto evangélico, em uma ação que
iremos desenvolver com otimismo. Digamos — Que maravilhoso dia de sol! Isto vai dar certo!
Maravilhoso é olhar as coisas com otimismo. E a meditação nos prepara para uma vida
saudável e otimista.
PERGUNTA:
Por que tantas crises nos lares? Por que tanto desamor?
DIVALDO:
O homem está doente e como efeito, neste período de transição, ele exterioriza os estados
de desequilíbrio. Á ciência e a tecnologia, que tanto contribuíram para o progresso intelectual e
para as conquistas pessoais do homem e da sociedade, não eqüacionaram o problema da
consciência, o problema do ser.
Depois de mais de seis mil anos de pesquisas na área da ciência logramos atingir o ápice.
Mas ainda não tivemos a coragem de atingir o ego, de criar uma transformação real, profunda.
Porque o progresso ético-moral é vertical, exige muito, enquanto que o progresso intelectual é
horizontal, poderemos realizá-lo através da absorção de experiências e conhecimentos pela
repetição, pelo exercício; mas o progresso moral através da reencarnação, em que corrigimos
uma aresta, adquirimos uma experiência para corrigir uma outra faceta em um outro detalhe,
caindo e levantando. Daí a grande crise que em nós registramos e na sociedade: é a crise do
homem perante si mesmo. A Doutrina Espírita faz uma proposta: você é um ser imortal, despido
da transitoriedade carnal. Considere a vida física, a existência corporal uma experiência breve
como um bloco de neve que a luz do dia vai derreter. Observe que a sua vida não encontra
causalidade real no berço, nem terminará na injunção cadavérica. É nesse contexto que você
está, no meio de duas experiências: a do passado e a do presente, vivendo hoje o que fez de si
ontem, trabalhe agora porque você pretende ser alguém. Atenda esse real interesse pela transformação
legítima de seus objetivos, pensando diariamente em si, amando-se. Porque se criou
um conceito falso de amar ao próximo esquecido do como a si próprio se deve amar, de perdoar
aoç outros como a si próprio se deve perdoar.
O indivíduo castrado por religiões do passado, a porta da Doutrina Espírita com inúmeros
conflitos de comportamento e de consciência, ele não se perdoa ser gente, ser humano, falhar.
Ele não se perdoa porque se equivocou ou bloqueia a consciência para não pensar nisso e
aliena-se ou faz uma consciência de culpa marchando para os estados paroxísticos da
depressão ou da exaltação, tombando em estados ainda alienantes. Ou então ele adquire uma
postura de cinismo, até o momento em que a consciência rompe as barreiras do bloqueio e ele
se descobre frustrado, marchando para o suicídio indireto, quando não diretamente. O
Espiritismo, atualizando o pensamento de Jesus, diz que temos o direito de errar. O erro é uma
experiência que não deu certo e nos ensina que não devemos mais tentar aquela experiência.
Afirmava Confúcio: “Com os bons aprendemos virtudes, com os maus aprendemos a não fazer
as atitudes negativas que eles mantêm “. Logo temos o dever de nos amarmos, porque quando
apenas amamos aos outros, projetamos a sombra, a imagem.
Estamos fugindo de nós e não estamos a amar, estamos transferindo biótipos, modelos
exigindo que os outros sejam aquilo que nós somos. Então o Espiritismo diz: ame-se a si
mesmo, dê-se a oportunidade de ser feliz. Torne-se feliz, viva hoje, aqui e agora. Aproveite cada
instante de vida, lembrando-se que o ponteiro do relógio volta ao 1º lugar nunca mais na mesma
circunstância. Cada momento tem a sua significação. O ser é o objetivo essencial.
E então o homem moderno apresenta-se aturdido por conflitos que a Psicologia desenvolve
muito bem, as causas que os desencadeiam, mas que na visão espírita reduz-se ao desamor
por si mesmo.
E então nós deveremos amar. E se alguém disser que é necessário desprezar o corpo,
desprezar a vida, não se vestir, não se calçar, não tomar banho isso é estado paranóico. Temos
que viver consoante os modismos, usar o que a sociedade coloca em nossas mãos para formar
o progresso, mas considerar que nós usamos mas não somos isso. Como muito bem disse um
amigo um dia em que lhe perguntei: Olá Dr. como está? — Estou Dr. logo mais quando eu
desencarnar eu não serei mais nada. Portanto, nós não somos isso, estamos trabalhando para
ser a realidade do espírito que navega em águas de possibilidades para o futuro.
Fim.