Com muito prazer que li Mário Quintana e após, olhando para a sua foto, comecei a rir. Isto, pelo fato de me lembrar de palestra de eminente orador espírita, referindo-se aos preto-velhos, que formam uma linha de trabalho dentro da Umbanda. Em determinada hora este palestrante abordou que no mundo espiritual não existiam os preto-velhos ou branco-velhos ou de qualquer outra cor. Mas, sim, espíritos evoluídos e outros em marcha para a sua evolução espiritual. Grande Verdade! Sabemos que os espíritos não têm cor e idade é algo que inexiste. Simplesmente, somos eternos.
A verdade é que esta denominação, para os que verdadeiramente estudam a formação da Umbanda é fruto de uma época. Refiro-me as realidades vividas no Brasil no fim do século dezenove. Quando em solo tupiniquim os habitantes de cor escura e com idades avançadas e recém-libertos da escravidão eram conhecidos, em grande parte deles, como pessoas extremamente bondosas e humildes. (Não confundir aqui o termo humildade como significado de pobreza, pois sabemos que há muitos pobres extremamente orgulhosos.). Ao mesmo tempo, tendo que a libertação dos escravos ocorreu em 1888, numa época em que os costumes e tradições não se alteravam de um momento para outro. Foi por este motivo que houve a necessidade de a Umbanda surgir para contribuir na alteração destes conceitos equivocados que o povo brasileiro vivia. E é por esse motivo que observamos, então, dentro dela o surgimento de linhas de trabalho com denominações tais como:
Preto-Velho: Simbolizando os espíritos que pela grande quantidade de amor que possuem e serem mais afeiçoados a trabalhos que necessitem da ação deste sentimento. Não quer dizer, em momento algum, que sejam necessariamente espíritos que tiveram em sua existência a passagem na Terra como provenientes de raças africanas ou seus descendentes.
Lembremo-nos: são linhas de trabalho e não linhas de suas condições físicas em passagem pela Terra.
Caboclos: (Que dentro da Umbanda simbolizam os índios)
São aqueles que se afeiçoam a tipos de trabalhos que exigem uma maior dose de energia. Força. Novamente, entre os Caboclos, podemos encontrar entre eles muitos que nunca foram indígenas.
Sintetizando: Dizer que nas linhas de trabalho da Umbanda há inexistência de espíritos que outrora passaram pela Terra como africanos trazidos para o Brasil, bem como na linha dos Caboclos não existam índios. Está errado, tanto quanto errado é o dizermos que que os espíritos procedentes de encarnações em outras raças não possam, igualmente, se encontrarem como trabalhadores destas. Se no passado isto não foi exposto é pelo fato de que a Umbanda veio, inicialmente, para alterar as tradições maléficas e que estavam impregnadas nos costumes dos brasileiros (de todas as religiões). Pois se nas senzalas não mais haviam escravos cativos, nas concepções da sociedade a superioridade dos homens brancos ainda estava plena, sobre todas as demais raças.
Esta matéria é muito confusa, em especial, pois mesmo dentro da Umbanda há uma grande quantidade de religiosos que por falta de estudos sérios desta religião mantem-se com o equivocado conceito de que as linhas de trabalho são formadas através da condição física que este ou aquele espírito teve, em sua encarnação anterior. Há muitos casos que isto se observa, mas não podemos afirmar que para um espírito poder se enquadrar em uma linha de trabalho, dentro da Umbanda, ele obrigatoriamente tenha de ter uma passagem física como afrodescendente ou como silvícola.
Matéria complementar abaixo, fragmento do assunto: A IMPLANTAÇAO DA UMBANDA NO BRASIL
A todos o meu abraço fraternal.
Marcílio F. da Costa Pereira - 21/04/2012.
Zélio Fernandino de Morais:
Natural do distrito de São Gonçalo/RJ. Extremamente jovem no ano de 1908, então com dezessete anos de idade, preparando-se para o ingresso na carreira militar na Marinha de Guerra Brasileira. Foi acometido por inexplicáveis problemas não debelados pela medicina. Certo dia ergueu-se no leito, declarando: "Amanhã estarei curado!" No dia seguinte levantou-se normalmente e voltou a caminhar, como se nada houvesse ocorrido. Sendo, dessa forma, que acabou fundando a Umbanda. Religião de origem 100% nacional.
Faleceu no dia 3 de outubro de 1975 em Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro. Sua atividade profissional era como comerciante. Sendo que no ano de 1924, tornou-se vereador. Três anos depois foi reeleito e trabalhou como secretário do Legislativo Gonsalense. No poder público dedicava-se à difusão de escolas públicas. Tal a sua preocupação que criou escola gratuita de curso primário em seu centro religioso para atender as crianças de Neves.
Pesquisa: Lucilia Guimarães e Eder Longas Garcia
Fonte: Terreiro do Pai Maneco – Curitiba\PR.
Escrever sobre Umbanda sem citarmos Zélio Fernandino de Moraes é praticamente impossível. Ele, assim como Allan Kardec, foram os intermediários escolhidos pelos espíritos para divulgar a religião aos homens. Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, quando estava se preparando para servir as Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade.
A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, Diretor do Hospício de Vargem. Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, também um padre da família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.
Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio.
Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade. O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não frequentar nenhum centro espírita , já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita . No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, sentaram-se à mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde realizava-se o trabalho.
Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou:
" Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"
Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:
" Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"
Ele responde:
Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
O vidente ainda pergunta:
" Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?"
Novamente ele responde;
Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."
Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação foi o Padre Gabriel Malagrida.
No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 · Neves · São Gonçalo · RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita , parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto:
Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo".
Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras:
Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem as horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai".
Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão. Caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que havia neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras: "- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá". Após insistência dos presentes fala:
Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo".
Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:
Minha caximba, nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá".
Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de"Guia de Pai Antonio".
No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dado como loucos foram curados. A partir destes fatos fundou-se a Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.
Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes:
· Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia
· Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição
· Tenda Espírita Santa Bárbara
· Tenda Espírita São Pedro
· Tenda Espírita Oxalá
· Tenda Espírita São Jorge
· Tenda Espírita São Jerônimo